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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A FAIXA DO MESTRE. SEU USO: COM TERNO OU COM BALANDRAU?

(republicação)
Em 11/04/2018 o Respeitável Irmão Marcos José Thebaldi, Loja Suprema Harmonia, 3.858, Rito Brasileiro, GOSP-GOB, Oriente de Jaú, Estado de São Paulo, apresenta a seguinte questão:

FAIXA DO MESTRE

Você sabe me dizer se há alguma distinção em usar ou não a faixa de Mestre Maçom quando se usa balandrau?

Ouvi dizer que só usa a Faixa de Mestre quando estiver usando o traje completo, ou seja, o terno.

CONSIDERAÇÕES:

A faixa do Mestre é um dos elementos que compõem os paramentos do Mestre Maçom em alguns ritos. Sua origem, sobretudo na vertente latina da Maçonaria é uma das reminiscências do talabarte usado da direita para a esquerda cujo qual suportava o coldre que acondicionava a espada. 

A galante Maçonaria francesa instituiu o uso da espada como símbolo de igualdade, já que no século XVIII, principalmente na França, a espada era também símbolo de nobreza. 

No intuito de reprimir qualquer distinção social no seio da Maçonaria, adotava-se então o uso indistinto da espada entre os Mestres Maçons na Loja. 

Nesse sentido, alguns ritos maçônicos no decorrer do tempo substituíram a espada, propriamente dita, por uma joia distintiva para o Mestre, a qual vai apensa a uma faixa em tecido vestida a tiracolo da direita para a esquerda simbolizando o antigo talabarte. Foi assim que apareceu a faixa como parte da indumentária do Mestre Maçom nos ritos que comportam esse simbolismo.

Só para citar como exemplo, a faixa do Mestre do REAA utilizada no GOB prevê nela, além da joia, também um dispositivo (argola de metal) que serve para acondicionar uma espada, embora essa não esteja prevista para uso indistinto entre os Mestres, salvo aqueles oficiais que utilizam a espada como objeto de trabalho.

Quanto a sua questão propriamente dita, o uso da faixa nada tem a ver com o uso do balandrau. Como ela é um elemento componente das insígnias do Mestre, tanto faz. 

De balandrau ou de terno, salvo se o ritual previr o contrário, seu uso é obrigatório. 

É preciso que alguns entendam que o terno nada tem a ver com os paramentos de um maçom. Ele é apenas um elemento secundário que obviamente supre a necessidade e a maneira de se vestir que as Obediências adotam.

T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

O SIGNIFICADO MAÇÔNICO DO SILÊNCIO

Autor desconhecido

A palavra silêncio é derivada do latim “silentiu” e significa interrupção de ruído ou estado de quem se cala. Na Maçonaria, o silêncio tem um rico significado e é sobre este aspecto que nós o estudaremos.

Desde as primeiras civilizações, notadamente as que tinham sociedades iniciáticas, o silêncio é um importante elemento cultural, imposto drasticamente para salvaguardar seus segredos.

Em quase todas, é representado por uma criança com o dedo sobre os lábios.

Constitui-se uma exceção, o antigo Egito, onde existia um "Deus" do silêncio, chamado Harpócrates, com a mesma posição já descrita.

Entre os magos e sacerdotes egípcios, os iniciados assumiam um estado de silêncio total, a fim de se manterem os segredos e incitá-los à meditação, regra que seria adotada por todas as sociedades iniciáticas posteriormente.

Buda, em 500 a. C., também valorizava o silêncio como condição para a contemplação.

Os Essênios tinham como principais símbolos um triângulo contendo uma orelha e outro contendo um olho, significando que a tudo viam e ouviam, mas não podiam falar, por não terem boca.

Dentre os mistérios gregos, encontramos o de Orfeu, que com a magia de seu canto e de sua música executada numa lira, silenciava a natureza e a tudo magnetizava.

Eurípides, no verso 470 de sua obra "Os Bacantes" diz que verdadeiros são os mistérios submetidos à lei do segredo.

A palavra mistério deriva de "myein" que significa "boca fechada".

Pitágoras criou a escola Itálica e seus discípulos se distinguiam em 3 graus, sendo o 1o o "acústico", assim chamado porque era destinado aos aprendizes que só deviam ouvir e abster-se de manifestação.

Para os Talhadores de Pedras, o segredo e o silêncio sobre sua arte era uma questão de sobrevivência, constituindo-se inclusive num salvo-conduto.

Os monges da Ordem de Císter tinham como uma de suas principais regras o silêncio para a reflexão. A G∴L∴U∴da Inglaterra adotou, após sua unificação, a legenda "AUDI, VIDE, TACE", ou seja, "Ouça, Veja, Cale".

Como pudemos perceber, temos inúmeros exemplos da importância do silêncio ao longo da história.

Os primeiros catecismos maçônicos do século XVIII diziam que os 3 pontos particulares que distinguiam o Maçom eram a Fraternidade, a Fidelidade e Ser Calado que representavam o amor, a ajuda e a verdade entre os Maçons.

As "Old Charges" ou Antigas Obrigações pregavam o silêncio, a circunspeção e a compostura durante os trabalhos.

A constituição de Anderson pregava a prudência e o silêncio, notadamente em relação aos profanos.

Nos Landmarks de Mackey, o de no. 23 se refere ao sigilo que o Maçom deve conservar sobre todos os conhecimentos que lhe são transmitidos e dos Trabalhos em Loja, sendo que as cartas constitutivas de todas as Obediências contêm referências com o mesmo sentido.

A Lei do Silêncio é a origem de todas as verdadeiras Iniciações.

Segundo Oswald Wirth o ensino deve ser pelo silêncio, nada de palavras que podem faltar com a verdade.

É na Câmara de Reflexão que o silêncio assume sua maior importância, pois o candidato talvez não tenha há muito tempo uma oportunidade igual de ficar a sós, em atitude contemplativa, em meditação, para que possa ocorrer a maturação silenciosa de sua alma.

Ao longo do cerimonial, durante os interrogatórios, poderemos encontrar por diversas vezes pausas silenciosas para que o candidato possa refletir sobre aquilo que acabou de ouvir.

Voltaremos a deparar com o silêncio ao realizarmos uma das viagens, feita com absoluto silêncio. E será ainda o mote principal do juramento que realizamos na Iniciação.

Na abertura dos Trabalhos ouvimos o 2o Diác∴ responder ao V∴M∴ que deve zelar para que os Irmãos se mantenham em suas colunas com respeito, disciplina e ordem.

No transcorrer dos Trabalhos, os VVig∴ anunciarão o silêncio das colunas, o que significa que democraticamente foi concedido o direito à palavra.

Por fim, encerramos a Sessão jurando pelo silêncio sobre tudo o que foi visto e falado em Loja.

A Lei do Silêncio nada mais é do que um perpétuo exercício do pensamento. Calar não consiste somente em nada dizer, mas também em deixar de fazer qualquer reflexão dentro de si, quando se escuta alguém falar.

Não se deve confundir silêncio com mutismo. Segundo Nicola Aslan o primeiro é um prelúdio de abertura para a revelação, o segundo é o encerramento da mesma.

O silêncio envolve os grandes acontecimentos, o mutismo os esconde. Um assinala o progresso, o outro a regressão.

Dizem as regras monásticas que o silêncio é uma grande cerimônia, pois Deus chega à alma que nela faz reinar o silêncio, mas torna mudo que se distrai em tagarelices.

Os mistérios na Maçonaria devem ser velados em silêncio, pois em relação ao mundo profano nossos segredos existem com o objetivo de não poluí-los pelos que não se encontram preparados para entendê-los, e nada mais perigoso do que a verdade mal compreendida.

Somente o homem capaz de guardar o silêncio será disciplinado em todos os outros aspectos de seu ser, e assim poderá se entregar à meditação.

Enfim, o silêncio é a virtude maçônica que desenvolve a discrição, corrige os defeitos, permite usar a prudência e a tolerância em relação aos defeitos e faltas dos semelhantes.

Para encerrar, os Maçons se reúnem em Templos, e "O Templo representa a fortaleza da paz e do silêncio". (Isaías, cap. 30 v. 15).

Fonte: Revista Arte Real nº 7

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

TRANSMISSÃO DA PALAVRA SEMESTRAL

(republicação)
Questão apresentada pelo Respeitável Irmão Antonio Raia, GOB, Oriente de Recife, Estado de Pernambuco.
antonio_raia@hotmail.com 

Aconteceu no Oriente de Recife, após o comunicado pelo Venerável, na Ordem do Dia, que iria transmitir a Palavra Semestral, e conforme anunciado foi feita a Cadeia de União, transmissão da Palavra certa, incinerada, retiro como manda o ritual. Na reunião seguinte, após a leitura da Ata onde o Irmão Secretário leu que a palavra semestral havia sido dada, o Irmão Orador falou que não era para constar em ata, pois se tratava de um ato “litúrgico” e não administrativo. Em continuidade do Ritual, quando a Palavra a Bem da Ordem em Geral foi dada, em uma das Colunas um Irmão que não estava presente na reunião em que foi dada a Palavra, solicitou para recebê-la. O Venerável, sendo o Primeiro Vigilante, pois o titular não estava presente, e não sendo Mestre Instalado, pediu ao Irmão Orador sua opinião como Guarda da Lei, a qual foi autorizada pelo Irmão Orador, explicando que o Irmão Vigilante poderia transmiti-la, pois estava representando o Venerável Mestre. Estaria o Irmão Orador certo nos dois fatos? 

CONSIDERAÇÕES:

A Cadeia de União no Rito Escocês Antigo e Aceito é formada exclusivamente para a transmissão da Palavra Semestral que é transmitida apenas e tão somente para os Irmãos do quadro da Loja. Nesse sentido ela é realizada após o encerramento dos trabalhos. 

Esse procedimento é dado para que visitantes já tenham se retirado e o Cobridor possa dela participar (um Cobridor em Loja aberta nunca deixa o seu posto). Assim, mesmo a Cadeia sendo realizada após o encerramento dos trabalhos, o Secretário ao elaborar a Ata da Sessão deve fazer uma observação. Exemplo: “Após o encerramento dos trabalhos foi transmitida a Palavra Semestral na forma de costume”. 

Entendo que o Orador nesse caso está equivocado, pois à bem da Ordem e da história da Loja os acontecimentos devem ser fielmente registrados, mesmo que sucintos. 

No caso da sessão seguinte quando o Primeiro Vigilante substituía precariamente o Venerável o ato é perfeitamente exequível, posto que a Palavra já seja de domínio da Loja devido a sua transmissão anterior.

Assim nada impede que o substituto do Venerável dessa maneira proceda, todavia ele deve observar que a Palavra somente é transmitida nesse caso através da Cadeia de União. 

Nesse sentido, após o encerramento dos trabalhos, forma-se novamente a Cadeia para transmissão da Palavra ao Irmão que esteve ausente, com a diferença de que não haverá incineração da mesma por motivos óbvios. 

A transmissão da Palavra Semestral em Cadeia de União tem o objetivo de dar conhecimento sigiloso da mesma àquele que, tendo direito, ainda não a conhece, o que se diferencia de se pedir a Palavra em um telhamento para receber a sua transmissão de maneira a contento. 

T.F.A. 
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.046- Florianópolis (SC) – segunda-feira, 15 de julho de 2013

PÍLULAS MAÇÔNICAS

nº 36 - Loja Regular

Segundo Mackey, na “Encyclopedia of Freemansory” está definido o que segue abaixo:

“uma Loja trabalhando sob autoridade de uma Carta Constitutiva legal, é dita regular. Essa palavra foi primeiramente usada nas Constituições de Anderson, em 1723.”

Alec Mellor complementa:

“a noção de Regularidade aplica-se às Potencias, às Lojas e aos Maçons. Um Maçom é regular quando ele passa por uma Iniciação em uma Loja justa, perfeita e regular.”

Percebe-se claramente que somente é “regular” a Potencia que tem a chancela da Inglaterra, ou então, a chancela da Maçonaria Norte Americana (que a Maçonaria Inglesa teve que aceitar, muito a contragosto).

No mundo, hoje, conforme relatado no livro “Ramos da Acácia”– Editora A Trolha, existem dois blocos maçônicos: o “bloco regular” que são reconhecidos pela Grande Loja Unida da Inglaterra, ou pelas Grandes Lojas dos EUA, e o “bloco irregular”, no caso de não ser reconhecido.

Desse modo, a Inglaterra, por ter sido a primeira obediência institucionalizada, arroga-se o direito de ser a única do poder de emitir Warrants de reconhecimento, aceitando, por tabela, que a poderosa Maçonaria Norte Americana, que também os emita.

No Brasil, a única Potência Maçônica reconhecida pela Maçonaria Inglesa é o GOB (em 06 de maio de 1935). As Grandes Lojas (1927) são tidas como “regulares” através das Grandes Lojas Americanas.


E, para finalizar e para que cada um tire as suas próprias conclusões, vou citar mais um parágrafo do “Ramos da Acácia”, citado acima, na sua página 38:

“Na Maçonaria, a norma fundamental é a Constituição de Anderson (1723) e suas fontes são os Landmarks, institutos nos quais foi baseada. Os antigos postulados, as Old Charges, os Landmarks, são anteriores à norma fundamental (Constituições) e não expressam qualquer noção de submissão a qualquer instituição e nem mesmo nas Constituições inexistem afirmativas de que uma Loja Regular é aquela que pertença à Grande Loja de Londres. Portanto, a Maçonaria Regular, do ponto de vista LEGAL, é a que observa, imperativamente, os critérios tradicionais. Já a Maçonaria "Regular", politicamente, é aquela que tem o tratado de reconhecimento com a Grande Loja Unida da Inglaterra.”

Fonte: pilulasmaconicas.blogspot.com

AS LOJAS E A GRANDE LOJA: CONCEÇÃO BASISTA - E SUA CRÍTICA

Rui Bandeira
Em 24 de junho de 1717, quatro Lojas maçónicas londrinas reunidas na taberna Goose and Gridiron decidiram associar-se numa Grande Loja e eleger um Grão-Mestre que a todos os seus obreiros representasse. Foi assim que, em síntese, James Anderson registou o nascimento da primeira Grande Loja macónica, hoje normalmente designada por Premier Grand Lodge. Este é o facto que se convencionou constituir o nascimento da Maçonaria Especulativa.

Foram quatro Lojas que se associaram e decidiram constituir uma Grande Loja. Foram essas quatro Lojas e os seus respetivos obreiros que decidiram eleger um Grão-Mestre. São as Lojas que dão origem às Grandes Lojas. São os maçons que escolhem o Grão-Mestre. Esta inegável verificação constitui a base fundamentadora da conceção basista do relacionamento entre as Lojas e as respetivas estruturas agregadoras (Grandes Lojas ou Grandes Orientes).

Para esta conceção basista, a origem do poder está nas Lojas e nos respetivos obreiros, tanto assim que são as Lojas quem cria as Grandes Lojas e os obreiros quem elege o Grão-Mestre, diretamente ou por representação das respetivas Lojas, consoante os sistemas de eleição do Grão-Mestre em vigor em cada Obediência maçónica. Em consequência, a Grande Loja só exerce as competências que lhe são delegadas pelas Lojas e o Grão-Mestre exerce apenas o poder que lhe é delegado pelos seus eleitores. O essencial da Maçonaria está nas Lojas. As Grandes Lojas são meras estruturas administrativas e de coordenação. Mas a prevalência está nas Lojas. Estas é que mandam na Grande Loja. Não o inverso.

Sendo histórica e iniciaticamente correto afirmar-se que são as Lojas que originam a Grande Loja e não o inverso, sendo inquestionável que a legitimidade dos Grão-Mestres assenta na sua eleição pelos Mestres de toda a Obediência, no entanto a adoção pura e dura desta conceção basista da subordinação das Grandes Lojas às Lojas não é razoável e conduz a resultados perversos. Como em tudo na vida, a absolutização desta conceção é perniciosa e - goste-se ou não - não espelha a realidade. Não se trata de conflito entre o que deve ser e o que é. Trata-se do respeito da natureza, do lugar e das tarefas que devem ser assumidas por uma e outra estruturas.

Absolutizar a conceção basistas do relacionamento entre as Lojas e a Grande Loja conduz, por exemplo, à aceitação, quiçá promoção, da existência de Lojas selvagens. Se a legitimidade reside absolutamente na Loja, então esta pode, a todo o tempo, decidir desligar-se da Grande Loja e atuar por si só, em absoluta independência. No entanto, sabemos que - particularmente na Maçonaria regular - tal não é, hoje em dia, considerado aceitável.

Ao constituir uma Grande Loja, ao integrar uma Grande Loja ou ao criar-se no âmbito de uma Grande Loja, a Loja maçónica procede à tal delegação de competências suas na Grande Loja, mas simultaneamente renuncia ao direito de retirar as competências delegadas. As competências essenciais de regulação, de coordenação, de representação, de ordenação, que as Lojas delegam na respetiva Grande Loja ou no respetivo Grande Oriente, uma vez atribuídas não são retiráveis.

Com a constituição de uma Grande Loja fez-se nascer uma nova entidade. Entidade detentora de direitos, obrigações, atribuições e competências que, uma vez originariamente nela objeto de delegação, quem assim delegou não tem já o direito de retirar.

Pelo facto de a Loja constituir, aderir ou criar-se no âmbito de uma Grande Loja, automaticamente renunciou à absolutização do seu poder, pois decidiu partilhá-lo com a estrutura que criou, a que aderiu ou em cujo âmbito se criou.

Assim, reconhecendo-se a natureza originária do poder residindo nas Lojas, não é, porém, correta a conceção basista do relacionamento entre as Lojas e a respetiva Grande Loja ou o respetivo Grande Oriente. A natureza da criação, existência e relacionamento de ambas as estruturas irrecusavelmente fez nascer uma mútua obrigação inderrogável de partilha de atribuições e competências.

Na definição, fixação e medida dessa partilha é obviamente importante o reconhecimento de que a origem está na Loja, que a legitimidade assenta na escolha dos obreiros. Mas tal reconhecimento não admite a absolutização ou, sequer, uma insensata prevalência de um basismo, que seria inconsequente, inoportuno e, afinal, contrário aos interesses das Lojas e dos respetivos obreiros.

A pura e dura conceção basista do relacionamento das Lojas e da Grande Loja não é, assim, o entendimento acertado. No próximo texto, procurarei expor - e igualmente criticar - a conceção inversa.

Fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.com.br

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

AVISO

Prezados leitores:

Em forma de comentário às postagens do Blog, tenho recebido muitas perguntas, principalmente sobre temas ritualísticos.

Não tenho o propósito e nem o conhecimento para formular respostas ou dirimir dúvidas.

Assim sendo, no topo da página inseri o seguinte texto:

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk”. Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou 
http://pedro-juk.blogspot.com.br

SINAL ANTES DE SENTAR-SE

Em 25/02/2024 o Respeitável Irmão Derick Hudson Machado de Souza, Loja Mestre Rivadávia Siqueira Lima, 2.906, REAA, GOB-MS, Oriente de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul, apresenta a dúvida seguinte:

SINAL – FAZER OU NÃO?

Tenho uma dúvida, que é muito recorrente as nossas sessões. Qualquer um que por ventura tiver que andar no templo, ao levantar ou sentar, deve-se fazer o Sin∴ de Ord∴? Por exemplo: O Ir∴ Hospitaleiro, ao fazer o seu giro, ao sentar, ele deve fazer o Sin∴ de Ord∴ Temos essa dúvida, alguns IIr∴ fazem, outros não, e fica muito confuso.

CONSIDERAÇÕES:

Infelizmente esse tem sido um costume equivocado e que possui profundas raízes no REAA. Penso que por mera falta de esclarecimento.

Assim, nesse contexto há questões a se considerar. Uma delas é a de alguém que vindo de deslocamento pela Loja, chegando ao seu lugar tome assento imediatamente. Nessa oportunidade não precisa fazer sinal antes de sentar, pois não há razão para isso, visto que fazer o Sin∴ nessa ocasião não corresponde a uma saudação como muitos pensam. É oportuno lembrar que saudações em Loja, conforme prescreve o ritual de Aprendiz Maçom em vigência, somente são previstas para se saudar ao Venerável Mestre na entrada e saída do Oriente, ou às Luzes da Loja após a Marcha do Grau em entrada formal, ou ainda às Luzes da Loja quando alguém for se retirar definitivamente antes do encerramento dos trabalhos.

Outra situação é a de quando um Ir∴ estiver à Ord∴ em Loja aberta, e for romper caminhada ou prosseguir em deslocamento. Nessa condição ele deve imediatamente desfazer o Sin∴ de Ord∴ pelo Sin∴ Pen∴ antes de começar a sua perambulação. Observe-se, mais uma vez, que isso não é saudação, porém é uma regra de que não se anda (fora a Marcha do Grau) com o Sin∴ composto.

Ainda nessa condição, observe-se o caso de um Irmão que à Ord∴, no seu lugar, estiver usando da palavra e depois volte a sentar-se. Nesse caso sim, ou seja, antes dele tomar assento deve antes desfazer o Sin∴ de Ord∴, e assim cumprir a regra de que no REAA ninguém compõe ou faz o Sin∴ sentado.

É bom que se diga que todas as saudações em Loja previstas pelo ritual se dão apenas pelo Sin∴ Pen∴ do Grau - obviamente se o obreiro não estiver segurando (empunhando) um objeto de trabalho, fato que nessa condição ele fará apenas uma parada rápida e formal.

Nesse sentido, o Sin∴ Pen∴, além do seu significado iniciático, é utilizado para fazer a saudação pelo Sin∴ e para se desfazer o Sin∴ de Ord∴ quando composto nas situações que o exijam.

Nessa conjuntura, vale também lembrar que o Sin∴ do Grau é composto por duas partes distintas. A primeira delas é a estática (parada) e é o ato de primeiramente se compor o Sin∴ de Ord∴; é a preparação para a execução da p∴simb∴. A segunda delas é a dinâmica (movimento) e é o ato de executar a p∴simb∴ pelo Sin∴ Pen∴, no caso, o Gut∴.

À vista de tudo isso, não procede que alguém em deslocamento, voltando para o seu lugar, faça Sin∴ antes de sentar-se. Até porque isso não é saudação, pois o protagonista vem direto de um deslocamento para o seu lugar em Loja, ou seja, ele não está parado à Ord∴. Então, compor o Sin∴ e desfazê-lo por quê? Se nem mesmo nesse momento existe saudação.

Concluindo, esses esclarecimentos farão parte do novo ritual do REAA que será editado nesse ano.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

A BUSCA DA VERDADE E O PROCESSO DE INTERFERÊNCIA CIENTÍFICA

Ir∴ Paulo Sergio da Silva Borges*

1. Introdução

Esta Peça de Arquitetura refere-se à Terceira Instrução Clássica do Grau de Companheiro Maçom. O tema do trabalho é A Busca da Verdade e o Processo de Inferência Científica. Tendo refletido sobre que tipo de trabalho poderia ser considerado apropriado, pensei que uma peça examinando alguns tópicos fundamentais do método de inferência científica e sua associação com a busca da verdade seria válido, pois traria ao exame e à discussão assuntos que estão na base da aquisição humana de conhecimento, ou na contínua busca da verdade. Nesse particular, considero que os assuntos enfocados estão abrangidos pelos complementos à 3a. Instrução.

Um dos desafios sentidos ao longo da preparaçao deste trabalho foi escolher quando e onde parar na apresentação e discussão de cada matéria. Todos os tópicos propiciam tanto extensões em profundidade como múltiplas conexões com outros quesitos.

O verdadeiro significado do que é, do sentido, e de como funciona a inferência científica tem tudo a ver com a busca da verdade. Por outro lado, tendo por base conhecimentos acadêmicos, a experiência parece demonstrar que é comum existir, por parte de muitos, uma certa pressa em chegar-se, o quanto antes, a decisões conclusivas a partir de dados levantados. Com isso, ficam para trás muitas questões de extrema importância, entre elas o entendimento de como operam os métodos empregados e sua influência nos resultados que se obtém da análise da informação levantada.

2. Construção de teorias

Para que se possa extrair conclusões úteis a respeito de problemas do mundo real, é necessário que se possuam teorias que expliquem, de forma coerente e satisfatória, a ocorrência de fenômenos de interesse.

Quando uma teoria é considerada errada e é substituída por outra, a nova teoria deve suprir previsões corretas aos quesitos responsáveis pela rejeição da antiga. Além disso, a nova versão deve ter maior “conteúdo empírico”1 e ser mais aberta à refutação, e não menos. Isso significa que é cientificamente inválido impor restrições a uma nova teoria de modo que ela não possa ser rejeitada.

De acordo com o filósofo David Hume2, há duas formas básicas pelas quais sabe-se (ou imagina-se que sabe-se) coisas: A primeira é a dedução, que extrai conclusões lógicas a partir de regras e fatos previamente conhecidos. A segunda é a indução, um processo de generalizar-se conclusões com base no conhecimento parcial de algum fenômeno.

3. Dedução

3.1 Silogismos e sorites

Na dedução, as declarações que correspondem ao conhecimento prévio dos fatos são chamadas premissas, e a forma de raciocínio ou argumento que faz o encadeamento das premissas à conclusão é denominado silogismo.

O silogismo contém três proposições:

i. premissa maior;
ii. premissa menor
iii. conclusão.

Admitida a coerência das premissas, a conclusão se infere da maior por intermédio da menor. Exemplo:

i) Todos os seres vivos são mortais;
ii) Um cão é um ser vivo;
iii) Um cão é mortal.

Quando há mais de duas premissas, o silogismo em cadeia resultante é chamado sorites, com uma conclusão, que pode ser verdadeira ou falsa.

Sorites aristotélicos ou progressivos são aqueles em que o predicado de cada premissa é o sujeito da seguinte. A conclusão é formada pelo sujeito da primeira e o predicado da última, como exemplificado a seguir.

Premissas: i - vi

i) O bisbilhoteiro é um intrigante;
ii) O intrigante é um semeador de discórdia;
iii) Um semeador de discórdia é um promotor de desordem;
iv) Um promotor de desordem é um sabotador do progresso;
v) Um sabotador do progresso é um inimigo do povo;
vi) Um inimigo do povo é um antipatriota;

Conclusão: vii

vii) O bisbilhoteiro é um antipatriota.

Nos sorites Goclecianos ou regressivos o sujeito de cada premissa é o predicado da seguinte, e a conclusão é formada pelo sujeito da última e o predicado da primeira. Exemplo:

Premissas: i - iv

i) O animal é um irracional;
ii) O mamífero é um animal;
iii) O primata é um mamífero;
iv) O ser humano é um primata;

Conclusão: v

v) O ser humano é irracional.

Há muitos tipos de problemas que podem ser resolvidos logicamente por dedução. Toda a geometria Euclidiana, por exemplo, pode ser deduzida de um conjunto de cinco axiomas. O matemático e filósofo René Descartes desejou fazer o mesmo com os fatos do mundo real, a partir da identificação de fatos primários tidos como absolutamente verdadeiros. Estes seriam os axiomas - premissas - sobre os quais todo o conhecimento posterior poderia ser construído. O problema com este método é que todas as declarações sobre o mundo real possuem um componente de dúvida3.

Pode-se dizer que grande parte do conhecimento científico fundamenta-se em deduções através de sorites, que são capazes de prover uma grande massa de informações a partir de algumas regras gerais. Além disso, as sorites permitem uma economia de experimentações, visto que muitos fatos observados podem ser diretamente aplicados, por via da generalização, a outros fenômenos. William Poundstone [POUN88] exemplifica esse ponto de vista argumentando que “...quase certamente nunca alguém realizou um experimento para verificar se um corvo consome oxigênio. Outras experiências mostraram que diversas espécies de animais necessitam de oxigênio, e se houvesse alguma razão para se crer que corvos são criaturas anaeróbicas, esta contingência teria sido testada.”

3.2 Silogismos fortes: modus ponens e modus tollens

O raciocínio lógico dedutivo pode ser sintetizado pela aplicação repetida de dois silogismos poderosos4
[JAYN93], cujas regras de implicação têm um antecedente "Se ... " (premissa) e um consequente "Então ... " (conclusão):

 Modus Ponens (afirmação do antecedente)
Se A é verdadeiro, então B é verdadeiro
(implicação original)

A é verdadeiro (premissa = afirmação do antecedente )
Portanto, B é verdadeiro (conclusão deduzida)

 Modus Tollens (negação do consequente)
Se A é verdadeiro, então B é verdadeiro
(implicação original)

B é falso (premissa = negação do consequente)
Portanto, A é falso (conclusão deduzida)

A realização de experimentos controlados - onde as causas são isoladas e associadas aos efeitos - significa uma busca de relações gerais do tipo “todos os X’s são Y’s”, pois as mesmas possibilitam deduções diretas e rápidas. Embora pretendidas e desejáveis, os tipos de relações acima não são usualmente autorizados pelas informações disponíveis ou conseguidas experimentalmente. Isso conduz a formas menos categóricas de silogismos, pertencentes aos tipos descritos na sequência.

3.3 Silogismos fracos

 Afirmação do consequente
Se A é verdadeiro, então B é verdadeiro (implicação original)

B é verdadeiro (premissa = afirmação do consequente)
Portanto, A torna-se mais plausível (conclusão deduzida)

A afirmação do consequente - que corresponde à conclusão da implicação - como condição suficiente para estabelecer a verdade (no sentido absoluto) do antecedente - premissa - é uma falácia comum. Sob o ponto-de-vista da lógica bivalente (que admite apenas falso OU verdadeiro), esse tipo de inferência dedutiva é vedada. A constatação de que “B é verdadeiro “não implica necessariamente em “A é verdadeiro“. Isso equivale a admitir que a ratificação de consequências pode sempre trazer maior confiança à veracidade de A.

 Negação do antecedente
Se A é verdadeiro, então B é verdadeiro (implicação original)
A é falso (premissa = negação do antecedente)
Portanto, B torna-se menos plausível. (conclusão deduzida)

Como uma das razões para que B seja verdadeiro foi eliminada pela evidência “A é falso“, acontece uma redução na plausibilidade de B. Segundo a lógica, uma premissa falsa implica em qualquer conclusão. Assim, a evidência “A é falso“ não prova que “B é falso“, apenas diminui sua plausibilidade.

 Implicação atenuada
Se A é verdadeiro, então B torna-se mais plausível (implicação original)
B é verdadeiro (premissa)
Portanto, A torna-se mais plausível (conclusão deduzida)

Jaynes5 observa que os silogismos acima referem-se tão-somente a implicações lógicas, e não a relações físicas de causa e efeito.

4. Indução

Nenhuma regra de indução deve permitir que conclusões mutuamente incompatíveis possam ser extraídas do mesmo conjunto de evidências.

Na dedução o ponto de partida é uma teoria geral ou um conjunto de axiomas assumidos como verdadeiros, e verifica-se quais são os teoremas que se conformam com as regras. Diferentemente, a indução pretende estabelecer um modelo geral, uma teoria, a partir de dados particulares observados. Apenas a dedução é rigorosa, pois é impossível provar uma lei geral por meio de instâncias confirmadoras da mesma - amostras parciais - ou seja, a indução é a base do método científico, mas não é rigorosa nem definitivamente conclusiva.

Alguns filósofos e cientistas rejeitam a indução com base no argumento de que não há qualquer forma de prová-la absolutamente certa. Todavia, a função da indução não é o estabelecimento de quais previsões estão corretas, mas quais são aquelas que derivam do estado de conhecimento disponível no momento. Se as previsões mostram-se satisfatórias no cotejo com a realidade, a tendência é se ter maior confiança naquilo que a teoria preconiza, mas - e aqui está a sutileza - não houve acréscimo de conhecimento.

Em suma, é impossível construir uma teoria única, exclusiva e absolutamente verdadeira com base em um número finito de observações.

4.1 Modelos de investigação científica

A classificação de modelos descrita a seguir [BHAT92] foi apresentada por Churchman [CHUR71], que em seu trabalho emprega os conceitos primitivos de idéias inatas e entradas do sistema. O primeiro conceito refere-se a certos princípios acerca de verdades da natureza em que o investigador crê, enquanto que as entradas significam as observações que provêm de experimentos efetuados pelo investigador. Uma rede de fatos contingentes é então construída pela interconexão das idéias inatas e entradas através de um conjunto de operadores.

4.2 O Sistema Leibniziano

Dentro deste modelo, o objetivo é construir uma rede ótima - suposta existente -  de fatos para uma dada situação. A prática da ciência pode ser considerada como um sistema Leibniziano, pois cada nova descoberta é uma entrada que é associada à rede de fatos anterior. Se o campo de conhecimento é regido por uma teoria, esta provê os operadores e relações para a inclusão dos novos resultados, de tal forma que o produto final corresponda às idéias inatas do investigador. Enquanto um resultado obtido que esteja fora da amplitude da rede global é descartado, uma outra descoberta que possibilite a conexão de subtrechos da rede ainda não interligados é recebida com entusiasmo. O sistema Leibniziano assume a existência a priori de um modelo - que pode ser o conjunto de idéias inatas ou uma teoria - que explique uma situação, e seu esforço é no sentido de buscar uma configuração de entradas que se adapte ao modelo pré-concebido.

4.3 O Sistema Kantiano

No sistema Kantiano, a existência prévia de um modelo - único e ótimo - para a situação não é assumida. Em vez disso, a investigação Kantiana considera um conjunto de modelos independentes, cada qual composto de suas próprias idéias inatas, noções primitivas, axiomas e regras de inferência. O investigador seleciona um dos modelos e constrói uma rede de fatos Leibniziana com as idéias inatas do modelo escolhido e as entradas disponíveis. Uma medida de quão satisfatória a rede de fatos resulta é assessada, de acordo com algum critério estabelecido. O modelo que conduz à rede mais satisfatória torna-se a solução da investigação. Um exemplo de aplicação deste método é a pesquisa em ciências sociais, onde tenta-se encontrar um modelo teórico que acomode convenientemente as informações obtidas.

4.4 O Sistema Hegeliano

Este método busca enquadrar as mesmas entradas em diferentes modelos ou enfoques. Assim como no sistema Kantiano, um conjunto de modelos está disponível, havendo um conjunto de proposições possivelmente verdadeiras sobre a situação em análise, chamado de conjunto de informação. Uma regra de relacionamento - operador - interpreta fatos através de cada modelo disponível obtendo um conjunto de informação composto de teses. O melhor modelo que concilie os conflitos detectados entre as teses é chamado de modelo síntese da situação.

4.5 A escolha de um Sistema

O domínio do problema em análise é fundamental para a escolha do sistema de investigação mais promissor. O conhecimento de que se dispõe e a convicção sobre onde reside a verdade da situação é que vai sugerir a linha de investigação a se adotar.
 

O desenvolvimento do raciocínio na investigação da verdade científica pode então ser condensado como abaixo6:

 Dados:
 Os aspectos acessados do problema, traduzidos por eventos observados - entradas (inputs);
 O campo de conhecimento - domínio do problema - que supre os fatos básicos para a construção dos modelos factíveis para o domínio considerado;
 Determinar:
- Um modelo compatível com os eventos observados e que satisfaça algum critério de relevância quanto ao enfoque de interesse para a questão. O modelo é obtido de acordo com algum dos sistemas descritos - Leibniziano, Kantiano ou Hegeliano;

- Uma inferência a respeito dos aspectos não-observados da situação dentro da estrutura do modelo selecionado.

5. Conclusão

Colocada a questão do raciocínio da forma exposta, parece que o assunto esgota-se pela aplicação da metodologia descrita. Sabe-se, porém, que a verdade está distante disso, e as dificuldades para consolidar-se o conhecimento de maneira sistemática, precisa e robusta são enormes. Em grande parte das situações reais, não se tem a informação relevante necessária, e frequentemente os dados de que se dispõe são incompletos7, incertos8 ou imprecisos9.

Todavia, a mera verificação da veracidade de uma consequência de uma hipótese em conjunto com alguma condição inicial pode ser totalmente incapaz de trazer qualquer credibilidade à hipótese. Considere-se o seguinte exemplo, equivalente a um outro similar atribuído a Bertrand Russell[RUSS48]10:

I. Hipótese: Pessoas cegas apreciam ballet clássico.

II. Condição inicial (fato observado): Pessoas cegas são seres sensíveis.

III. Consequência esperada como verdadeira de I e II conjuntamente: Apreciadores de ballet clássico são pessoas sensíveis.

IV. Evidência: Constata-se que muitos apreciadores de ballet clássico são pessoas de elevada sensibilidade.

V. Conclusão: Dadas as condições iniciais, a evidência encontrada é confirmadora da hipótese (?!).

O que há de errado aqui? O que está levando - indevidamente - à confirmação da hipótese é a “afirmação do consequente” (em III), deduzindo a verdade das premissas através da ratificação da conclusão11. O problema é que isso não pode ser feito automaticamente em toda e qualquer situação.

Algumas propriedades fundamentais das relações dedutivas são totalmente inválidas quando aplicadas à lógica da confirmação, em vez de somente à lógica dedutiva.

Notas

1 Definição atribuída a Karl Popper [POPP94].
2 Nascido na Escócia (1711-1776) [HUME86]
3 Descartes terminou por concluir que a única coisa de que alguém poderia estar absolutamente certo seriam suas próprias sensações subjetivas.
4 Como já constava do Organon de Aristóteles, séc. IV A.C.
5 Op. Cit. [JAYN93].
6 Op. Cit, [BHAT92], pp. 34.
7 Conhecendo-se, por exemplo, um conjunto de sintomas médicos, estes podem não ser suficientes para se determinar o processo fisiológico exato responsável pelo encadeamento ou associação entre eles.
8 A incerteza refere-se ao grau com que se admite que alguma teoria ou idéias inatas a respeito de algum fenômeno sejam verdadeiras.
9 A imprecisão relaciona-se com o nível de detalhe, expresso em termos numéricos, que se pode admitir para a mensuração de uma variável qualquer, esteja esta contida nos dados observados (entradas) ou ainda como componente da teoria, na forma de uma constante ou parâmetro.
10 No exemplo de Russell, a hipótese considerada era “Porcos têm asas”, cuja substituição pela apresentada no texto e sugerida pelo autor deste trabalho, tem caráter apenas estético.
11 Apreciadores de ballet - pessoas sensíveis; pessoas sensíveis - apreciadores de ballet (aqui foi feita a afirmação do consequente, o que é inválido); pessoas cegas - seres sensíveis; Falácia: pessoas cegas são apreciadoras de ballet.

Bibliografia

Fonte Principal de Consulta
"Probabilidade, Inferência e Decisão: Um Ensaio sobre o Método Científico" Tese Inédita de Concurso para Professor Titular, UFSC 1998 - 115 páginas - Autor Paulo Sergio da Silva Borges.

Referências citadas no texto

[BHAT92] Bhatnagar, R. E Kanal, L. N.: “Models of Enquiry and Formalisms for Approximate Reasoning”, em Fuzzy Logic for the Management of Uncertainty, pp. 29-54 - John Wiley & Sons, ed. Lotfi Zadeh e Janusz Kacprzyk, EUA, 1992.

[CHUR71] Churchman, C. W.: “The Design of Inquiring Systems: Basic Concepts of Systems and Organization”, Basic Books, NY, 1971.

[HUME86] Hume, David: “A Treatise of Human Nature”, Penguin Books, NY, 1986.

[JAYN93] Jaynes, E. T.: “Probability Theory: The Logic of Science” – cap. 1, pp. 101-104 - Fragmentary edition www, Washington University, setembro1993. http://omega.albany.edu:8008/JaynesBook.html.

[POPP94] (O progresso do conhecimento científico). Brasília, Editora da UNB, 1994.

[POUN88] Poundstone, William: “Labyrinths of Reason”, pp. 96 - Anchor Books, NY, 1988.

[RUSS48] Russell, Bertrand: “Human Knowledge: Its Scope and Limits”, parte 5, cap. 3 – Simon & Schuster, NY, 1948.

*O Ir∴ Paulo Sergio da Silva Borges à época da feitura do presente trabalho era C∴M∴ (Or∴de Florianópolis, 13 de maio de 2010) da A∴R∴L∴S∴TEMPLÁRIOS DA NOVA ERA N. 91.
Hoje é Mestre de Harmonia da Loja.

Fonte: JBNews - Informativo nº 233 - 18.04.2011

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

ESQUADRO E O COMPASSO - POSIÇÃO EM LOJA FECHADA

(republicação)
Em 06/04/2018 o Irmão Ederson Chivelas Souza, Aprendiz Maçom da Loja Cidade de Cachoeirinha, 202, REAA, Grande Loja do Estado do Rio Grande do Sul, Oriente de Cachoeirinha, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a questão seguinte:

ESQUADRO E O COMPASSO – POSIÇÃO EM LOJA FECHADA

Primeiramente gostaria de agradecer pelo conhecimento disponibilizado, é de grande valia e muito apreciado. Eu e alguns irmãos iniciamos uma discussão acerca da ritualística da posição do Esquadro e Compasso sobre o Livro da Lei, uma vez que o instrumento que dispomos possui um dos lados maior que o outro. Essa questão já foi sanada pelo senhor mesmo, em um escrito que tive a sorte de encontrar. 

No entanto resta outra dúvida que acredito pelo bom senso seguir a mesma resposta da anterior. É discutido sobre a posição de "descanso", ou seja, em Loja fechada, do Esquadro e do Compasso ao lado do Livro da Lei. Alguns irmãos afirmam que existe lado correto e posição, que o Esquadro deve ficar à esquerda do Livro da Lei, para quem abre a loja, e consequentemente o compasso à direita. Fora esse detalhe, por vezes vejo irmãos reposicionando o Esquadro, antes da abertura da Loja, para que o angulo interno do mesmo fique em direção ao Livro da Lei, exatamente como uma letra L maiúscula. Peço desculpas se a pergunta parecer banal ou ridícula, mas às vezes somente uma opinião de um irmão experiente e especialista no assunto pra elucidar uma questão dessas.

CONSIDERAÇÕES:

Não há o que se desculpar. A busca pelo esclarecimento nunca é banal e nem ridícula, desde que o estudante aprenda e pratique o conhecimento adquirido. Inconcebível mesmo é não querer aprender e apresentar desculpas metafóricas daquelas do tipo de “somos eternos aprendizes”. Eu diria para esses: eles são mesmo “eternos preguiçosos”. Geralmente os que se utilizam desse subterfúgio capenga, nunca aprenderam mesmo é nada de Maçonaria.

No que diz respeito à sua questão sobre as Luzes Emblemáticas, não existe nenhuma posição ou ordenamento de colocação das suas posições quando a Loja não estiver aberta. Encerrados os trabalhos é suficiente que o Livro da Lei esteja fechado e o Esquadro e o Compasso (fechado) colocado sobre o Altar juntos ao Livro, à direita ou à esquerda e sem nenhuma ordem de precedência.

Essa história de se colocar os objetos ali ou acolá é pura filigrana que não faz sentido nenhum à iniciática maçônica. Isso é pura bobagem. Basta que após ser fechado o Livro da Lei, os instrumentos permaneçam junto a ele à disposição para que na próxima sessão sejam utilizados na forma de costume.

Destaque-se que unidos e de acordo com o Grau, o emblema do Esquadro e o Compasso, nos ritos que assim procedem, possuem elevado significado simbólico quando dispostos sobre o Livro das Sagradas Escrituras. 

Encerrados os trabalhos, eles, como Luzes Emblemáticas não fazem sentido algum, portanto não há posicionamento específico para os mesmos em Loja fechada.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

DESAFIOS QUE A MAÇONARIA DEVE VENCER


Fábio Cyrino, M.I. 33° REAA
Harmonia e Concórdia 3522
Oriente de São Paulo (SP) – Grande Oriente do Brasil/ GOSP

Ao longo de sua história, a Maçonaria, não aquela das lendas e tradições românticas, de tempos imemoriais, das guildas de ofício que pretendiam manter uma reserva intelectual de mercado, mas sim a Maçonaria como Instituição, fruto de um momento social iluminista originada ao longo do final do século 17 e início do 18, sempre enfrentou oposição do chamado “mundo profano”, principalmente por seu caráter sigiloso, reservado, secreto até.

Nestes quase 300 anos de existência oficial a ser completada em 2017, a Maçonaria se deparou com fortes movimentos que pretenderam controlá-la e até mesmo suprimi-la, com a eliminação de suas estruturas, a prisão e mesmo a condenação à morte de seus integrantes.

Desde a emissão da Bula In Eminenti Apostolatus Specula, por parte do papa Clemente XII, em 28 de abril de 1738, uma das primeiras tentativas de sua supressão, até os fortes ataques sofridos ao longo do século 20 por nações totalitárias, de caráter fascista, mesmo assim a Maçonaria sempre representou ao mesmo tempo um farol de conquistas sociais de Liberdade e Igualdade entre os Homens e uma ameaça aqueles que pretendiam a perpetuação de um status quo baseado no controle do Estado e da Sociedade por poucos, uma elite perversa que visava ao controle do conhecimento, aos meios de produção, às liberdades individuais.

Nestes últimos 300 anos, em suas fileiras, a Maçonaria abrigou líderes políticos, libertadores, intelectuais, filósofos, cientistas e artistas: de Saint-Martin e Washington; de Voltaire a Franklin; de Mozart e Puccini a Montaigne e Fleming.

A Maçonaria sofreu e sobreviveu, sempre permanecendo imune aos ataques externos e internos à sua estrutura globalizada, em uma época em que o termo ainda nem sequer havia sido cunhado.

Nestes 300 anos, lutou-se pela Liberdade social, pelo acesso universal à instrução, pelo direito de acesso aos meios de produção, pela liberdade política, pela defesa dos Estados laicos e pela comunhão entre os povos.

Lutou-se pelo fim do Absolutismo; pelo fim da Escravidão; pela eliminação das oligarquias na sociedade; pela eliminação do totalitarismo de Hitler, de Mussolini e de Franco, exemplos de Estados onde a Maçonaria foi perseguida e praticamente eliminada, com a morte de aproximadamente 400.000 maçons em campos de extermínio, conforme os registros oficiais apontam; lutou-se pelo fim da Ditadura do Proletariado nas quatro décadas após o término da Segunda Guerra Mundial e tem se lutado ainda pela supressão das injustiças sociais e econômicas.

Agora nestas primeiras décadas do século 21, a Maçonaria, de uma maneira geral, enfrenta um inimigo maior que todos aqueles que já a confrontaram: a indiferença.

A indiferença por parte de seus integrantes de que não há mais batalhas a serem vencidas; a indiferença e a acomodação por parte de seus integrantes de que as grandes causas se resumem a encontros sociais e a discursos vazios desassociados da realidade prática de um mundo em transformação, um mundo que exige respostas rápidas para questões cada vez mais complexas; a indiferença por parte de seus integrantes com relação aos equívocos internos e à luta insana por um poder sem poder algum; a indiferença diante de grupos que simplesmente se esquecem dos compromissos assumidos no instante de suas iniciações.

Portanto, o maior inimigo da Maçonaria não está somente no crescimento de movimentos antimaçônicos, no crescimento de teorias de conspirações, nos ataques de grupos extremistas que tem se infiltrado dentro da Ordem, com o intuito de se valer da “proteção” de seus templos para fins menores e escusos.

O maior inimigo da Maçonaria está na constituição, internamente, em nossas fileiras, de grupos de interesses particulares, na construção de uma oligarquia, de um governo de poucos, por si só perverso, com pretensões de se perpetuar no poder da Instituição, transformando-se numa autocracia ou mesmo numa plutocracia.

O que se tem visto de uma forma generalizada é que os interesses maiores, os interesses sociais e culturais de grande parte da sociedade profana e maçônica, foram deixados de lado, em troca de uma política feita para se garantir regalias efêmeras e reuniões festivas sem significados maiores.

Mas quais desafios a Maçonaria deve vencer?

Antes de qualquer ação concreta, antes de se voltar à sociedade profana, a Maçonaria deve se re-inventar, não no sentido de se criar um novo padrão de atuação, mas sim de se retornar aos princípios defendidos e elaborados por aqueles que “inventaram” a Instituição; uma reformulação da “ética maçônica” com vias ao re-exame dos hábitos dos maçons e do seu caráter em geral, de modo a se evitar o desmoronamento dos pilares de sustentação da Instituição; um re-exame das reais necessidades da Maçonaria, principalmente com relação àqueles que pretendem ocupar a liderança e a representação de nossa Ordem, guindando-se aos seus maiores postos, não só o mais carismático, mas também aquele que seja mais preparado do ponto de vista ético, intelectual e moral.

Necessitamos de um novo padrão de comportamento, não o comportamento vigente, voltado para a auto-promoção e a perpetuação de privilégios, mas sim um novo padrão para se vencer os desafios referentes à construção de uma sociedade profana baseada nos princípios fundamentais defendidos pela Ordem, ou seja a formação de Homens preparados para a diminuição das diferenças existentes entre as classes, não somente sob a ótica econômica, mas também do ponto de vista cultural e educacional.

O que devemos ter em mente e plenamente consciente que a Maçonaria é a Instituição onde o mundo deve se espelhar e não o contrário.

Que os exemplos de valorização do Homem, da História e da Cultura que sempre foram os grandes pilares da Maçonaria iluminem o mundo de trevas profano a partir de nossas fileiras e não o oposto, pois não podemos permitir que as trevas desse mesmo mundo obscureçam as Colunas de nossa Instituição.

Devemos ser vaidosos não por aquilo que pretendemos ser, mas sim, orgulhosos por toda ação e comportamento que nos identifiquem e reconheçam como Homens preparados para transformar o Mundo.

Fonte: bibliot3ca.com

domingo, 25 de fevereiro de 2024

TEMPO DE ESTUDOS E LOJA EM FAMÍLIA

(republicação)
O Respeitável Irmão Claudio Rodrigues, Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Oriente de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais solicita comentário sobre texto publicado denominado “Pílula Maçônica” abordando o Tempo de Estudos e Loja em Família.
voclarodrix@yahoo.com.br 

Loja “em família” no Tempo de Estudos. 

No R∴E∴A∴A∴ está virando tradição, no Tempo de Estudos, quando se faz a apresentação das peças de arquitetura, os Obreiros da Loja se reunirem no Ocidente. Ali, o palestrante apresenta seu Trabalho, ao fim do qual, perguntas e comentários são feitos a respeito do tema apresentado. Desse modo, de maneira mais racional e com melhor aproveitamento de tempo, o Venerável Mestre bate o Malhete e declara estar a Loja “em família” a partir daquele momento. Nessa situação, os Obreiros podem pedir a palavra diretamente ao Venerável Mestre para comentar o Trabalho, sem ter que cumprimentar as Autoridades Maçônicas e os Vigilantes. Permite também, que a palavra volte ao mesmo Obreiro, quantas vezes o Venerável Mestre desejar. O debate torna-se fecundo e todos aproveitam muito mais, pois não há perda de tempo com os cumprimentos. Considerando que, para determinados assuntos, 30 a 45 minutos é muito pouco para um bom aproveitamento, nessa alternativa tem-se um melhor rendimento. Findo o debate, o Venerável bate o Malhete, dizendo estar “em Loja”, novamente. Devemos deixar claro que é diferente de colocar a Loja “em recreação”, típico do Rito de York, onde os Obreiros saem da Loja e há uma “ritualística” controlando todo o acontecimento. Inclusive, as finalidades são diferentes. (a) M∴I∴ Alfério Di Giaimo Neto. 

CONSIDERAÇÕES:

Esse termo “em família” é inexistente e enxertado para tentar justificar um desrespeito àquilo que exara um ritual regularmente aprovado. Mesmo na tradição do Rito Escocês Antigo e Aceito o tal termo não é regular. O engraçado mesmo da designação “em família” é a justificativa para um ato como se os Irmãos reunidos em Loja aberta e procedendo com as práticas litúrgicas e ritualísticas não fossem considerados como uma família maçônica. Uma Loja Maçônica somente seria uma família quando fosse declarada em família? Ou estar em família significa não cumprir o ritual? 

Regra e costume de um Rito devem ser implacavelmente cumpridos. Mesmo no debate, se ele exige o giro da palavra, esta tem o objetivo de disciplinar as ações em Loja. Ninguém ao solicitar a palavra precisa necessariamente “cumprimentar” as Luzes e autoridades presentes, até porque esse procedimento costumeiro não é cumprimento, senão a menção clássica de alguns cargos ocupados. 

Nesse particular o usuário da palavra não precisa mencionar uma infinidade de nomes e cargos antes do seu pronunciamento. Para tal bastaria a seguinte menção: “Luzes, autoridades presentes, meus Irmãos”. 

Em assim se procedendo, certamente haveria uma ampla restrição na tal “grande perda de tempo” - não devemos entortar a boca pelo mau hábito do uso do cachimbo. 

Penso que assuntos e peças de arquitetura que mereçam debate deveriam ser previamente agendados e se possível com precedentes em reuniões sem abrir a Loja. Poder-se-ia decorrer ao debate em uma Sessão Administrativa, ou de Instrução. 

Se as instruções e os debates venham porventura merecer votação, então que o resultado destes seja apresentado na Ordem do Dia de uma sessão em Loja aberta para a competente aprovação. Agora, descumprir ritual para melhor aproveitamento tempo é o mesmo que dar mais valor ao molho do que à carne. 

Outro aspecto interessante na “pílula” é o termo “está virando tradição”. Esse é um pensamento equivocado no meu entendimento, até porque não é de boa geometria considerar descumprimento de ritual com virar tradição. Se no rito existe o giro da palavra, certamente nele há um conteúdo doutrinário. 

Para não se ferir esse princípio em nome da “perda de tempo”, basta que a instrução, ou dela outros afins, seja minuciosamente programada. Existem as instruções do grau que em merecendo explicações que as completem podem ser perfeitamente divididas e programadas por tópico para o debate em várias sessões, porém obedecendo sempre a forma de costume. 

Ainda na questão de “perda de tempo” o que tem contribuído, e muito, para esse acontecimento são os intermináveis assuntos mal conduzidos e mal colocados nas Ordens do Dia das nossas sessões. Palavreados inócuos e repetitivos, isso quando o assunto nem mesmo é peculiar ao período. Geralmente o resultado dessa sim “perda de tempo” é aquele monstrinho – pelo adiantado da hora vamos suspender o período de instrução.

No que diz respeito à abordagem do Rito de York, cujo nome correto seria o Trabalho de Emulação, este de fato possui outro procedimento. Aliás, não só esse Trabalho, porém todo o “working” do Craft inglês (na Inglaterra não se reconhecem “ritos”, senão “trabalhos”), pois o costume é completamente diferente sendo que lá não existe o giro da palavra e as sessões somente são abertas por finalidade. 

Os assuntos são apresentados nos respectivos “levantamentos”. Quando há uma instrução sobre a “tracing board” (Tábua de Delinear), por exemplo, a Loja é colocada “em descanso” pelo Mestre da Loja, ilustrando-se que o Esquadro e o Compasso colocados sobre o Livro da Lei Sagrada ficam posicionados sobre a página da direita, não no centro do Livro. Nessa oportunidade, sem desfazer a composição desses instrumentos, o Mestre da Loja fecha o Livro para o período de descanso. Terminada a explanação o Livro é aberto novamente para a continuidade dos trabalhos. 

Nesse caso tudo ocorre dentro da Sala da Loja. Já para a “recreação” existe outra forma de procedimento, quando os Irmãos se retiram temporariamente da Sala por um tempo pré-determinado para diversos afins, inclusive debates instrutivos acompanhados por uma refeição. 

Ratificando: 1 - Os ritos que demandam nos seus costumes do giro da palavra, devem rigorosamente cumpri-lo, inclusive nos períodos de instrução, de tal modo que se houver necessidade da volta da mesma, o Venerável tem essa prerrogativa, desde que o seu retorno obedeça novamente ao giro completo (sul, norte e oriente). 

2 – O termo “em família” é inexistente no Rito Escocês Antigo e Aceito. É prática ilegal e deve ser coibida pelo Orador. 

3 – Práticas equivocadas não devem ser observadas sob a alegação de “está se tornando tradição”. O erro sem reparo acaba sim por se tornar consuetudinário, todavia quando dele se exige uma explicação na “tradição, uso e costume do Rito” a resposta é muito pouco satisfatória - “para melhor aproveitamento de tempo”. 

4 – O melhor aproveitamento de uma instrução está na forma de como organiza-la e, maçonicamente, seja desprovida de opiniões pessoais. 

5 – No mérito, há que se considerar se a instrução é verdadeiramente maçônica, ou mesmo se o assunto é de interesse da Sublime Instituição. Finalizando: a regra principal é cumprir aquilo que está legalmente aprovado. Se porventura existirem rituais em vigência que preveem “Loja em família”, mesmo não mudando as minhas convicções, reitero a sua irrestrita observação. Infelizmente, dentre tantos, equívoco como esse tem contribuído ao longo dos tempos para que o belíssimo Rito Escocês Antigo e Aceito tenha sido figuradamente denominado como uma colcha de retalhos. 

T.F.A. 
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com 
Fonte: B News – Informativo nr. 1.045- Florianópolis (SC) – domingo, 14 de julho de 2013

A ORAÇÃO

A oração é a única verdadeira e santa magia. A magia cerimonial, demasiadas vezes, acaba por colocar a vontade ao serviço do orgulho. A oração, por outro lado, é uma aspiração muito humilde do finito para o infinito. Uma pessoa rezando assemelha-se a um deserto que se esforça para se tornar um pasto cheio de flores, além disso, ele não demanda, ele pede.

No entanto, os homens comuns ignoram tudo o que envolve a oração. Para a esmagadora maioria, rezar é sinónimo de:

- dizer palavras com os lábios e por vezes com o coração com um ardor correspondente à intensidade dos seus desejos; ou,

- Curvar-se num templo ou oratório a fim de suplicar a um Deus antropomórfico e de acordo com seus próprios desejos presente totalmente materiais como: saúde, riqueza, sucesso ou amor. Assim, oramos hoje como oraram os judeus de outrora, que pretendiam trocar maná por cebolas do Egipto.

Certamente que uma oração pedindo bens neste mundo é naturalmente admissível. Dirigirmo-nos ao Pai misericordioso pedindo-lhe para nos guardar da miséria física é uma homenagem ao Seu poder omnipotente. Esquecemos, porém, demasiadas vezes, as palavras do Evangelho: “buscai primeiro o Reino de Deus e Sua Justiça e tudo o mais vos será dado.”

A oração não deve ser apenas intenção de quebrar o círculo infernal do destino. Ela é muito mais elevada e nobre. É como que um super-homem que descola para o Divino esplendor, ao mesmo tempo que se ajoelha – num indescritível êxtase – perante a inefável caridade.

Para ser capaz de orar desta maneira, é necessário tornarmo-nos interiormente em silêncio. Livrarmo-nos de todos os maus pensamentos, mesmo daqueles simplesmente negativos. É necessário colocar emoção, compreensão e razão em sintonia com o espírito, afim de entrar num estado passivo, de forma a permitir que a actividade Divina seja realizada interiormente.

É necessário abandonar a indiferença e a frieza. Fazer um holocausto do próprio ser. Projectar-se acima de qualquer egoísmo humano; num prodigioso chamamento de amor.

Então, o canal de Beatitude abrir-se-á de forma sublime.

Dois projectos convergirão entre si. O primeiro, ascendente, geralmente leva o homem ao seio de Deus; o segundo, como um rio celeste, desce sobre a terra para fazer com que a alma conceba uma gravidez de eternidade. Desta forma, esse nada, perdido no oceano do Ser sem fronteiras ou morada, é transportado até aos confins do Absoluto, por meio da misteriosa operação, repetida no seu sentido inverso, através da qual uma vez, o Filho de Deus se tornou filho do homem.

A distância torna-se inexistente. A natureza humana, agora transfigurada numa incompreensível união, abraça a Vontade de Deus, a Sua justiça e a Sua misericórdia.

Então a oração atinge um tal cume que não parecem importantes as coisas terrestres! As palavras de Crisóstomo são ardentes e graves: “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade! Riqueza… Vaidade! Honra… Vaidade! Poder dos homens… Vaidade das vaidades! Tudo desaparece sob o sopro ardente do Paracleto.” Nada permanece, excepto a imensa fornalha do amor:

FONS VIVUS – IGNIS – CARITAS

(FONTE VIVA, FOGO, CARIDADE)

Serão só os santos capazes de se perder nesse transporte místico próximo da beatitude? Não.

Se a paz estiver com ele, todo o homem de boa vontade é capaz de chegar lá pois cada oração é santa quando apoiada na fé e na esperança – mesmo quando medida pelos padrões humanos.

Tu que tens o coração humilde e o espírito puro, não desencorajes perante a aparente esterilidade e ineficácia das tuas orações. Se pedires bens temporais, não te admires por nada receberes. O Reino de Cristo não é deste mundo e os teus desejos pouco valem quando comparados com as ofertas eternas que inconscientemente te são concedidas.

Ora, pois, nos cumes do êxtase por ti o pelos outros. Mas acima de tudo ora pelos outros, recordando a última visão de Diniz (frequentemente identificado como Dionísio Aeropagita), que, na véspera de ser torturado, pensava na prisão sobre a salvação da humanidade. Nesse êxtase, acorreu-lhe Jesus para o confortar dizendo-lhe: “Se rezares pelos outros, serás ouvido”. Então, se Deus pode multiplicar por cem a mais pequena oferta dada aos pobres em Seu nome, como te reembolsará ele do fruto das tuas orações?

Traduzido de: L’Initiation, Out. / Nov. / Dez. 1963.

“A virtude da oração é certa, por ela, o homem é colocado na corrente Divina; Orar é trabalhar a alma em direcção ao Sol desconhecido para que nele se possa prender…”

Breviário Rose Croix

Constant Chevillon.

(Constant Chevillon, foi Soberano Grão Mestre da Ordem Martinista, padeceu assassinado em Lyon, França, em 1944, pela Milícia francesa )

Fonte: Facebook_O Templo e o Maçom

sábado, 24 de fevereiro de 2024

GESTO DE SE ABSTER NA VOTAÇÃO

(republicação)
Em 05/04/2018 o Respeitável Irmão Marcelo Rodrigues, Loja Justiça e Perfeição, 1178, REAA, GOB-RS, Oriente de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a seguinte questão:

SINAL DE ABSTENÇÃO

A respeito do Sinal de Abstenção, em deliberações durante a Ordem do Dia, caso um Irmão visitante esteja presente, por ele não pertencer ao quadro da Loja, a forma correta de se abster é a mesma dos obreiros do quadro? Em pé e à Ordem?

Era só essa a dúvida.

Ela existe devido ao fato de eu não visitar muitas Lojas e, atualmente, por força da profissão, estou trabalhando em outra cidade e gostaria de proceder corretamente.

CONSIDERAÇÕES:

Na maioria dos ritos, inclusive no REAA∴, um obreiro querendo se abster durante uma votação, fica à Ordem. Assim posicionado, subentende-se sua decisão de não votar.

Se acontecer de estar presente obreiro de outro rito que assim não proceda para se abster (obreiro Adonhiramita, por exemplo), eu tenho sempre dito, na casa dos outros adaptamo-nos às regras do dono da casa. 

Assim, a Loja anfitriã, antes da votação, prudentemente deve comunicar e ensinar aos visitantes a maneira com a qual alguém deverá se abster se for o caso. 

Concluindo, eu tenho sempre dito, a questão é de bom senso. Eu, por exemplo, ao visitar uma Loja, primeiro me certifico dos seus costumes ritualísticos. Chego adiantado o suficiente para pedir esclarecimentos evitando atropelos de última hora.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br