Páginas

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

BENEFICÊNCIA MAÇÔNICA

BENEFICÊNCIA MAÇÔNICA
Ir∴ Aldery Silveira Júnior
V∴M∴ da Loja Fraternidade Brasiliense – no 2.300
Membro da Loja de Pesquisas Maçônicas do Distrito Federal
Membro da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal – Cadeira nº 8

RESUMO:

Análise da beneficência no seio da Maçonaria, com algumas divagações e questionamentos sobre a forma de praticá-la.

Inicialmente, discute-se a forma como a beneficência é praticada atualmente no seio da Maçonaria. Em seguida, apresenta algumas digressões sobre o redirecionamento da atuação contemporânea da Maçonaria por meio da implementação de ações de grande vulto, impulsionadas pela beneficência. Por fim, o autor apresenta um ensaio propositivo sobre a reorientação da prática da beneficência na Maçonaria brasileira.

1 – INTRODUÇÃO

A Maçonaria tem seus fundamentos basilares apoiados em três grandes colunas: a Filosofia, a Fraternidade e a Beneficência. A prática da beneficência é fundamental para o aperfeiçoamento moral e espiritual do Maçom, razão pela qual a ela estão obrigados todos os membros de nossa Instituição.

A beneficência coloca o ser humano acima das diferenças étnicas, sociais ou políticas e embora a beneficência não seja a razão de existir da Maçonaria, ela é uma conseqüência de se ser Maçom.

O presente trabalho aborda a beneficência no seio da Maçonaria, com algumas divagações e questionamentos sobre a forma de praticá-la.

2 – A PRÁTICA DA BENEFICÊNCIA

A prática da beneficência pelo Maçom pode perfeitamente ser entendida como uma forma de sua integração à sociedade, não como participante passivo, mas sim como vetor de mudanças e de melhorias, bem como o exercício da mais pura fraternidade e da caridade, uma vez que visa o efetivo bem de outrem.

Por outro lado, fazemos coro com o Ir∴ José Mayr Bonassi, quando afirma, em seu trabalho O ser Maçom no século XXI, que: Muito mais que a caridade, a Beneficência maçônica deve dosar com sabedoria e discrição, desde pequenas ações de auxilio fraterno e humanístico, até ações grandiosas de educação, política, legislação e apoio a entidades filantrópicas e sociais. Muito mais do que aparecer, a Beneficência maçônica deve influenciar e efetivamente contribuir para a melhoria da humanidade, quer seja do ponto de vista da satisfação de suas necessidades básicas até a ajuda para vencer as dificuldades de desenvolvimento e satisfação da plenitude humana.

No entanto, o que se verifica na Maçonaria brasileira, via de regra, é a prática da beneficência em “conta gota” e, por conseqüência, as mudanças e as melhorias patrocinadas são em doses homeopáticas, visto que ela não se processa em bloco, mas sim de forma bastante segmentada.

Todas as Lojas praticam a sua beneficência, conforme determina os ditames da Maçonaria, mas o fazem de forma tímida, com o fruto do tronco de beneficência (salvo algumas poucas e honrosas exceções) aplicado em programas e projetos sociais de pequeno vulto, como ajuda a creches, asilos, orfanatos, etc., ou ainda em ações sociais isoladas, também de pequeno vulto, como a ajuda a alguém que esteja passando por necessidade financeira.

Ora, mas será que essas ações podem ser consideradas como um vetor de mudança e de melhoria na qualidade de vida de algumas pessoas? Certamente que sim, embora microscopicamente falando, pois o seu alcance é limitado.

E haveria outra forma de tratar a beneficência? Seria possível transformar o microscópio em lente de aumento? Entende-se que sim. E como se faria isto?

Despulverizando-a, direcionando-a para uma única ação ou para poucas ações.

Desparticularizando-a, ou seja, transformando-a de ações isoladas das Lojas para ações concentradas da Maçonaria como um todo.

Seria factível tal proposição? Obviamente que sim, bastaria uma decisão de cúpula e uma inversão do entendimento de como deve ser praticada a beneficência maçônica: de doses homeopáticas para doses cavalares. Algo como: em vez de dar pequenas ajudas esporádicas a instituições de caridades, formar um Fundo com a beneficência de todas as Lojas de um determinado Estado, construir e operar uma Instituição de Caridade, e carrear a beneficência mensal de todas as Lojas do Estado para a manutenção dessa Instituição. Desta forma sim, estar-se-ía promovendo uma mudança palpável e promovendo uma significativa melhoria na qualidade de vida de algumas pessoas, inclusive de próprios Maçons e seus familiares, no caso de virem a serem atendidos por tal Instituição.

Mas que tipo de Instituição seria essa? Existem vários tipos de Instituições que podem ser adotadas pela Maçonaria, tais como: um Lar para idosos desamparados, uma Creche para filhos de pais com poucos recursos financeiros, um Lar para crianças desamparadas, uma Clínica para recuperação de drogados, um Abrigo para mães solteiras e desamparadas, um Hospital direcionado para o tratamento de determinada enfermidade, etc., etc., etc. Oportunidade para se proceder a uma beneficência efetiva e consistente não falta.

3 – O REDIRECIONAMENTO DA AÇÃO MAÇÔNICA

Costuma-se ressaltar o papel importante da Maçonaria nos momentos decisivos que marcaram a história do Brasil, como a independência de Portugal, a proclamação da república e a libertação dos escravos, entre outros. No entanto, chega a parecer que a Maçonaria está preocupada apenas em enaltecer o seu papel marcante em ações responsáveis pela formação da nacionalidade brasileira. Não seria o momento de buscarmos alternativas para marcar a ação contemporânea da Maçonaria brasileira?

Entendemos que sim, assim como também entendemos que a atuação contemporânea da Maçonaria pode perfeitamente ser marcada por ações de grande vulto impulsionadas pela beneficência.

A implementação de ações do tipo das exemplificadas no item anterior promoveria, de forma marcante, a consecução de, pelo menos, três objetivos marcantes: mudança social, exaltação da ação maçônica contemporânea e oportunidade de trabalho par Maçons e seus familiares.

A mudança social seria atingida com a atuação proativa da Maçonaria em áreas não satisfatoriamente atendidas pelo poder público, como saúde, educação e assistência social. Tal atuação, levada a efeito com o fruto concentrado da beneficência maçônica seria, indiscutivelmente, um marco da ação maçônica contemporânea. Por outro lado, empreendimentos dessa natureza poderiam ser revertidos em benefícios diretos para alguns Maçons e/ou familiares destes, a partir da prioridade que fosse dada aos mesmos para trabalhar na operacionalização dessas Instituições.

Somem-se a isso outros benefícios indiretos, tais como: i) maior visibilidade da ação maçônica por parte da sociedade e, por conseguinte, contribuindo para a promoção do respeito e da admiração dos profanos pela Ordem maçônica, além de também contribuir para a desmistificação da Maçonaria; e ii) o orgulho e a satisfação que provocaria nos Maçons por estarem contribuindo, de forma direta, para a consecução de uma ação social grandiosa.

4 – CONCLUSÃO

Apresentou-se no presente texto alguns questionamentos sobre a forma de se praticar a beneficência maçônica, assim como também foram apresentadas algumas divagações sobre uma possível forma proativa de praticá-la. Obviamente que são apenas digressões, não se constituindo em proposições concretas, haja vista que para colocá-las em prática seriam necessários estudos aprofundados sobre a eficácia e a pertinência das mesmas, seguidos da elaboração de projetos consistentes e exeqüíveis.

No entanto, tais digressões refletem a posição e o ponto de vista do autor a respeito da prática da beneficência maçônica, da forma de como potencializa-la, em termos de resultado concreto, bem como de utilizá-la como instrumento para enaltecer a atuação da maçonaria perante a sociedade brasileira.

Por outro lado, considerando que o Grande Oriente do Brasil fechou o ano de 2008 com mais de 2.400 lojas e cerca de 64.000 obreiros, podemos perfeitamente imaginar o quão grande e quão significativo seria se pudéssemos canalizar a beneficência de todas essas lojas e obreiros para objetivos ou projetos comuns.

Assim como também igualmente significativo seria se canalizássemos a beneficência das lojas de cada Estado da federação para projetos específicos estaduais, de acordo com as suas respectivas demandas e necessidades.

Vale salientar, também, que nada nos impede de sonhar com uma ação conjunta das lojas do GOB com lojas de outras potências, como os Grandes Orientes Independentes e as Grandes Lojas, irmanadas na consecução de projetos específicos e comuns, lastreados com a beneficência maçônica de seus obreiros.

Por fim, apesar de entender que as proposições discutidas no presente trabalho são um tanto utópicas, deixa-se aqui, a título de ensaio propositivo para as autoridades maçônicas, a semente embrionária.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BONASSI, José Mayr. Como ser Maçom no século XXI. Santana de Parnaíba: Loja Fraternidade Alphaville, 2004. Disponível em http://www.arls396.com.br/seculoxxi.htm, acessado em outubro em 08-10-2008.

CARVALHO, Francisco de Assis. A Maçonaria: usos e costumes. Londrina: A Trolha, 1999.

CARVALHO, Francisco de Assis. A descristianização da Maçonaria. Londrina: A Trolha, 1997.

DIAS, Oswaldo Generoso. Tronco de Beneficência. Revista A Trolha, Fev/99. Londrina: A Trolha, 1999.

ESTEVAM, Estadão. O trabalho externo da Maçonaria. Disponível em http://breviariobarreirense.blogspot.com/2007/04/o-trabalho-externo-da-aonaria.html, acessado em 30-09-2008.

GODOI, Antonio Carlos de Souza. O Maçom e a Solidariedade. Disponível em http://www.samauma.biz/site/portal/conteudo/opiniao/acsg1116macomsolidariedade.htm, acessado em 26-08-2008.

Fonte: JBNews - Informativo nº 107 - 16/12/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário