Ir∴ Francisco Geraldo Fernandes de Almeida
Colaboração Ir∴ Deusdeth de Menezes Costa (Rio Branco)
Lembrava daquela forte dor no peito. Como viera eu parar aqui? O ambiente me era familiar. Já estivera aqui, mas quando?
Caminhava sem rumo. Pessoas desconhecidas passavam por mim, contudo, não tinha coragem de abordá-las. Mas espere! Que grupo seria aquele reunido e de terno preto?
Lógico! Não estariam indo e vindo de um enterro; hoje em dia não é tão comum pessoas irem a velório com roupa preta. É claro! São irmãos! Aproximei-me do grupo. Ao me verem interromperam a conversa.
Discretamente executei o sinal de Aprendiz, obtendo resposta.
A alegria tomou conta de mim. Estava entre amigos.
Identifiquei-me.
Perguntei ansioso o que estava acontecendo comigo.
Responderam-me com muito cuidado e fraternalmente que havia desencarnado.
Não tinha mais dúvidas. Estava no Oriente Eterno.
Fiquei assustado.
E a minha família, meus amigos, todos, como estavam?
- Estão bem, não se preocupe. No seu devido tempo você os verá, responderam.
Ainda assustado indaguei sobre o motivo de suas vestes.
- Estamos nos encaminhando ao nosso Templo Maçônico, foi a resposta.
- Templo Maçônico? Vocês tem um?
- Sim claro, por que não?
Senti-me mais à vontade, afinal, sou um grande ins[petor geral e com certeza receberei as honras devidas a meu grau.
Pedi para acompanhá-los, no que fui atendido.
Ao fim de pequena caminhada divisei o Templo. Confesso que fiquei abismado, sua imponência era enorme. As Colunas do Pórtico eram majestosas, nunca vira nada igual. Imaginei como deveria ser seu interior e como me sentiria tomando parte nos trabalhos.
Caminhos em silêncio. Ao chegar no salão de entrada verifiquei grupos de irmãos conversando animadamente, porém, em tom respeitoso.
O que parecia o líder do grupo que me acompanhava chamou um irmão que estava adiante:
- Irmão Experto! Acompanhai o irmão recém chegado e com ele aguarde.
Não entendi bem. Afinal, tendo mostrado meus documentos, esperava, no mínimo, uma recepção mais Calorosa.
Talvez estejam preparando uma surpresa à minha entrada. Para um irmão Grau 33, não poderia se esperar nada diferente.
Verifiquei que os irmãos formavam o cortejo para entrada no Templo.
À distância, não pude ouvir o que diziam, no entanto, uma luminosidade esplendorosa cercou a todos.
Adentraram silenciosamente no Templo. Comigo ficou o Irmão Experto.
De tanta emoção não conseguia dizer nada. O tempo passou...não pude medir quanto.
A porta do Templo se entreabriu e o Irmão Mestre de Cerimônias encaminhando-se a mim comunicou que seria recebido. Ajeitei o paletó, estufei o peito, verifiquei se minhas comendas não estavam desleixadas e caminhei com ele.
Tremia um pouco, mas quem não o faria em tal circunstância?
Respirei fundo e adentrei ritualisticamente no Templo.
Estranho...esperava encontrar luxuosidade esplendorosa, muito ouro e riqueza. Verifiquei, rapidamente, no entanto, uma simplicidade muito grande. Uma luz brilhante, vinda não se sabe de onde, iluminava o ambiente.
Cumprimentei o Venerável Mestre e os Vigilantes na forma usual.
Ninguém se levantou à minha entrada. Mantinham-se calados e respeitosos.
Não sabia o que fazer...aguardava ordens...e elas vieram na voz firme do Venerável Mestre:
- Sois Maçom?
Reconhecendo a necessidade do telhamento em tais circunstâncias, aceitei respondê-lo.
Estufei o peito, estiquei o corpo e respondi:
- MM∴II∴C∴T∴M∴RR∴
Aguardei, seguro, a pergunta seguinte. Em seu lugar o Venerável Mestre dirigindo-se aos presentes perguntou:
- Os Irmãos aqui presentes o reconhecem como Maçom?
Assustei-me. O que era isso? Por que tal pergunta? O silêncio foi total.
Dirigindo-se a mim, o Venerável emendou:
- Meu caro irmão visitante, os irmãos aqui presentes não o reconhecem como Maçom.
- Como não? Disse eu. Não vêem as minhas insígnias? Não verificaram os meus documentos?
- Sim, caro Irmão, retrucou solenemente o Venerável Mestre, Contudo não basta ter ingressado na Ordem, ter diplomas ou insígnias. Para ser um Maçom é preciso, antes de tudo, ter construído o “seu Templo”.
E verificamos que tal não ocorreu com o Irmão. Observamos, ainda, que apesar de ter tido todas as oportunidades de estudo e de ter galgado ao maior dos graus, não absorveu seus ensinamentos. Sua passagem pela Arte Real foi efêmera.
Não pude agüentar mais. Retruquei:
- Como efêmera? Vocês que tudo sabem não observaram minhas atitudes fraternas? Fui interrompido.
- Irmão, vejamos então sua defesa...
Automaticamente desenhou-se na parede algo parecido com uma tela imensa de televisão e na imagem reconheci-me junto a um grupo de irmãos tecendo comentários desairosos contra a administração de minha loja. Era verdade. Envergonhei-me, Tentei justificar, mas não encontrava argumentos. Lembrei-me então, de minhas ações beneficentes.
Indaguei-os sobre tal.
E mudando a imagem como se trocassem de canal, vi-me colocando a mão vazia no tronco de beneficência. Era fato e, costumeiramente, o fazia por achar que o óbulo não seria bem usado.
Por não ter o que argumentar me calei e lágrimas de remorso brotaram-me nos olhos, iniciei a retirar-me cabisbaixo e estanquei ao ouvir a voz autoritária e ao mesmo tempo fraterna do Venerável.
- Meu Irmão, reconhecemos suas falhas quando pó orbe terrestre e na Maçonaria, contudo, reconhecemos, também, que o irmão foi iniciado em nossos augustos mistérios. Prometemos em suas iniciações protegê-lo e o faremos.
O Irmão terá a oportunidade de consertar seus erros, afinal, todos nós aqui presentes já os cometemos um dia.
Descanse neste plano o tempo necessário e, ao voltar à matéria para novas experiências, nós o encaminharemos novamente para a ordem Maçônica.
Sua nova caminhada com certeza será mais promissora e útil.
Saí decepcionado, mas estranhamente aliviado.
Aquelas Palavras parecem ter me tirado um grande peso. Com certeza ali eu desbastara um pedaço de minha pedra bruta.
Acordei, sobressaltado e suando.
Meu coração disparado.
Levantei-me assustado com certa alegria no peito. Havia sonhado!
Dirigi-me ao guarda-roupa. Meu terno ali estava.
Instintivamente retirei do paletó as medalhas e insígnias e as guardei em uma caixa, para nunca mais usar.
Ainda emocionado e com os olhos molhados de lágrimas dirigi-me à minha mesa e com as mãos trêmulas e cheio de uma alegria enlevante, indescritível, retirei o Ritual de Aprendiz-Maçom e decidi começar tudo de novo.
Devemos fazer de tudo, meus irmãos, para que esse pesadelo não se transforme em realidade na outra dimensão!!!
Fonte: JBNews - Informativo nº 103 - 16/12/2010
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ResponderExcluirJ.'. E perfeito. 🔨🔨🔨
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