O IRMÃO LUIZ GAMA*
Um Venerável Mestre negro lutando por negro.
Negro diante das leis, para que o negro tivesse direitos.
Negro falando, em época que o negro gemia...
Luiz Gonzaga Pinto da Gama, “advogado dos escravos”, precursor do Abolicionismo e Venerável da Loja Maçônica “América”.
Luiz Gama nasceu na Bahia a 21 de junho de 1830. Filho natural de uma africana livre, Luiza Mahin, da nação Nagô, e de um fidalgo, que arruinado por dívidas de jogo vendeu o próprio filho a um comerciante de escravos. O nome do genitor jamais foi mencionado pelo filho lançado fora.
Luiz Gama foi revendido no Rio de Janeiro a um outro comerciante de São Paulo, o alferes Antonio Pereira Cardoso, que o levou a Santos, e, posteriormente, a pé, com a idade de 10 anos, juntamente com um lote de escravos, a Campinas.
Outro ponto obscuro na vida de Luiz Gama é o fato de ter obtido a prova de que tinha nascido livre, após o seu retorno à cidade de São Paulo. Antes de sua liberdade, aprendeu vários ofícios na casa do alferes. Em 1848 abandonou a casa do seu antigo senhor para sentar praça na Força Pública de São Paulo.
Amigo do professor de Direito, Dr. Furtado de Mendonça, assimilou grandes conhecimentos jurídicos que o transformaram num notável advogado, orador eloqüente e um dos mais devotados lutadores da causa do negro: valores que, sem a menor dúvida, justificam o título de “advogado dos escravos”. Poeta, publicou poesias satíricas, como a memorável sátira contra os brancos: “A Bodarrada”. Também é de sua lavra: “Primeiras Trovas Burlescas de Getulino”.
Ingressou no jornal “O Ipiranga” como aprendiz de tipógrafo, depois para a redação do “Radical Paulista” que tinha como colaboradores Rui Barbosa e Castro Alves. Seu nome consta da fundação do Partido Republicano de São Paulo, pobre, mas com a cidade toda enlutada e o seu ataúde carregado à mão pelo povo. Perdia o abolicionismo um dos seus mais importantes próceres.
Luiz Gama desenvolveu intensa atividade jurídica para libertar os seus irmãos forçados à escravidão, até a sua morte.
Luiz Gama chegou a ocupar o lugar de Venerável da Loja Maçônica “América” de São Paulo a 1o de agosto de 1870; em 1872 e 1873. como 2º Vigilante e Venerável Mestre no ano de 1874. Em 1868 recebe o Grau 18, Príncipe Rosa Cruz.
No dia 25 de agosto de 1882 foi sepultado Luiz Gama no Cemitério da Consolação, na Rua A, Nr. 17, na ocasião, com 52 anos de idade.
Seu testamento de Fé e de Amor está transcrito na carta que endereçou ao seu filho e publicada por Pedro Calmon no “Jornal do Comércio”, do Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1930. Assim aconselhou:
Meu filho.
Dize a tua mãe que a ela cabe o rigoroso dever de conservar-se honesta e honrada; que não se atemorize da extrema pobreza que lego-lhe, porque a miséria é o mais brilhante apanágio da virtude.
Tu evita a amizade e as relações dos homens; eles são como o oceano que se aproxima das costas para corroer os penedos.
Sê republicano como o foi o Homem-Cristo Faze-te artista; crê, porém, que o estudo é o melhor entretenimento, e o livro o melhor amigo.
Faze-te apóstolo do ensino, desde já. Combate com o ardor o trono, a indigência e a ignorância. Trabalhe por ti e com esforço inquebrantável para que este país em que nascemos, sem rei e sem escravos, se chame Estados Unidos do Brasil.
Sê cristão e filósofo; crê unicamente na autoridade da razão, e não te alie jamais a seita alguma religiosa. Deus revela-se tão-somente na razão do homem, não existe em Igreja alguma do mundo.
Há dois livros cuja leitura recomendo-te: a “Bíblia Sagrada” e a “Vida de Jesus” por Ernesto Renan.
Trabalha e sê perseverante.
Lembra-te que escrevi estas linhas em momento supremo, sob a ameaça assassinato. Tem compaixão de teus inimigos, como eu compadeço da sorte dos meus.
Teu pai Luiz Gama.
*(transcrito do livro O Despertar para a Vida Maçônica, de Valdemar Salomão, Editora Maçônica A Trolha)
Fonte: JBNews - Informativo nº 156 - 30/01/2011
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