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quinta-feira, 30 de junho de 2011

OS INIMIGOS DA LUZ

Ir∴ Paulo Moura, de Teresina

Dizem que o poeta alemão J. W. von Goethe, no leito de morte, reuniu o que lhe restavam de forças para pronunciar suas últimas palavras, que ficariam para a posteridade: "Luz, quero luz!" Perdoem-me a imprecisão histórica quando escrevo "dizem" mas de imprecisões a História está repleta, malgrado o esforço de homens sérios e comprometidos com a honestidade dos fatos.

Também em Maçonaria as imprecisões históricas avultam e não é tarefa fácil
separar o joio do trigo. Entretanto, cabe ao Maçom a compreensão e o entendimento da Ordem a qual pertence, tornando-se um eterno buscador da Verdade. A Verdade é, filosoficamente, contestável, mas nem por isso desprovida de existência real. Buscar a Verdade é um impulso instintivo do Homem e mesmo que não a busque conscientemente, será guiado por forças da sua mente inconsciente – que Jung chamou de "tendências instintivas" – que se manifestará nos sonhos como fantasias reveladas através de imagens simbólicas. É imperioso sair do mundo das sombras - tão bem simbolizado por Platão no "Mito da caverna" – e ir ao encontro da Luz.

Assim nos encontrávamos na Cam∴ de Ref∴ Imersos na escuridão, batíamos profanamente à porta do Templo consagrado ao G∴A∴D∴U∴, na esperança de sermos admitidos nos AAug∴ MMist∴ Buscávamos a Luz.

O primeiro ato da Criação Divina, o "Fiat Lux", mostra-nos que a Luz precede a existência do mundo das formas; é a origem comum a todas as coisas. Não podemos deixar de fazer a relação entre o texto do Gênesis: 1, 1-3 com a revolucionária Teoria Geral da Relatividade, enunciada pelo gênio Albert Einstein, em 1905: E=M.C² (energia é igual a massa vezes velocidade da luz ao quadrado). Grosso modo, seria o mesmo que dizer que matéria é energia coagulada. Afinal, tanto a Religião quanto a Ciência chegaram à conclusão de que tudo é Luz.

Simbolicamente, a Luz representa o conhecimento; a revelação dos mistérios das Leis Divinas; a sabedoria imanente; a libertação das amarras da ignorância pela compreensão de quem somos, de onde viemos e para onde vamos.

Na cerimônia de Iniciação, pede-se a Luz para o neófito e a Luz lhe é dada. A partir de então, o neófito passa à condição de Iniciado e cabe-lhe envidar todos os esforços para se melhorar. A jornada começa com o desbaste das arestas morais, num esforço para vencer suas paixões inferiores, lapidando-se paciente e diuturnamente com o concurso da vontade firme e da inteligência, representados pelo cinzel e pelo maço. Nesse esforço, cumpre-lhe trabalhar sem descanso para livrar-se das suas imperfeições. É uma tarefa individual, porém, não prescinde da colaboração dos IIr∴ que o ajudam com lições, conselhos e orientações lastreados em suas experiências e vivências maçônicas. Essa ajuda faz parte do processo de aprendizagem, concretizando um dos nossos mais sublimes preceitos: a Fraternidade.

Tudo que devemos aprender, e fazer, encontra-se no Ritual de Aprendiz, dizem- nos os Mestres mais experientes. É verdade. Está tudo no Ritual e basta uma reflexão profunda com o sincero interesse em adquirir instrução. Tomemos um exemplo:

O Ven.˙. M.˙. pergunta ao Ir∴ 1° Vig.˙. , na abertura ritualística:

" -Para que nos reunimos aqui, Ir      v 1° Vig.˙.?

- Para combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros. Para glorificar a Verdade e a Justiça; para promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade, levantando templos à Virtude e cavando masmorras ao vício". Vamos refletir sobre cada frase.

Combater o despotismo – Pela definição do Dicionário Houaiss, despotismo é "o poder isolado, arbitrário e absoluto de um déspota". O déspota, ainda na definição do Houaiss significa "que ou quem age tiranicamente, embora não detenha o poder absoluto". O despotismo deve ser combatido onde quer que este se encontre: dentro ou fora do Templo.

A ignorância – é a causa de vários males que afligem a Humanidade. Ignorância é viver imerso em sombras, desconhecendo as Leis Morais que governam a todos, favorecendo a harmonia geral. O estudo sério e metódico é uma das formas mais eficazes de combatê-la. Erra demasiadamente o Maçom que não é dado ao estudo, à pesquisa e à inquirição da Verdade. A Maçonaria não revela seus segredos àqueles que cultivam, com zelo, a preguiça mental e abdicam do sagrado direito de pensar por si próprios.

Os preconceitos e os erros – Imaginemos os preconceitos e os erros como filhos diletos da Ignorância, donde retiram o seu alimento e o sustento para crescerem fortes. Desde que se combata a Ignorância, exterminando-a, condenam-se os preconceitos e os erros a morrerem de inanição.

Glorificar a Verdade e a Justiça – Ao compreender a Verdade e a Justiça como atributos Divinos, torna-se dever do Maçom glorificá-las, nunca esquecendo de aplicá-las no convívio com os seus semelhantes. Quem combate a ignorância com as luzes da Sabedoria conhece a Verdade; quem conhece a Verdade é Justo. Tal é a perfeição do ensinamento.

Promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade – Todo conhecimento adquirido só tem sentido, se compartilhado. Age maçonicamente quem é consciente de seu papel como cidadão brasileiro e como cidadão do mundo, fazendo todo esforço para melhorar a existência, contribuindo para a Obra da Luz.

Levantando templos à Virtude – É trabalho de construção. Nós, Maçons, somos construtores sociais e a nossa obra maior consiste na edificação das virtudes em nós mesmos.

Cavando masmorras ao vício – Ao mesmo tempo que erigimos nosso Templo Interior, para a glória do G∴A∴D∴U∴, suplantamos os vícios de que somos portadores, dominando-os e torturando-os até a extinção.

Eis o porque de nos reunirmos em Loja aberta.

Quem agir com despotismo querendo impor a sua vontade, cerceando a liberdade e as iniciativas benfazejas dos IIrm∴...

Quem desejar manter-se e manter os IIrm∴ na ignorância, descuidando ou desmerecendo as iniciativas que promovam o estudo e a prática da Sagrada Maçonaria...

Quem, por misoneísmo, rechaçar as ações inovadoras e as ideias progressistas apenas para manter uma tradição obsoleta ou o status quo...

Quem esquecer que a Verdade e a Justiça são atributos do G∴A∴D∴U∴ e delas fizer pouco caso, disseminando a mentira e promovendo injustiças...

Quem não se comprometer com o bem-estar de seus IIrm∴, da sua família, da sua cidade, do seu país e do mundo...

Quem persistir nos vícios e desregramentos morais e tornar-se um estorvo no caminho dos IIrm∴ que buscam melhorar-se, envolvendo-o em intrigas, calúnias e difamações, atacando-os em suas ausências e maquinando para vê-los cair...

Quem assim proceder, a despeito de ser Iniciado, não é Maçom. É um simulacro de homem; é um espectro danado que nos espreita.

É mais um inimigo da Luz.

Fonte: JBNews - Informativo nº 307 - 30 de Junho de 2011

TUDO QUE É SÓLIDO SE DESMANCHA NO AR...

Davys Sleman de Negreiros
B∴L∴S∴Loja Thêmis & Ágora nr. 20 – Rolim Moura/RO GLOMARON

Embora muitas outras ciências diferentes da Sociologia se ocupem de aspectos sociais do homem, nenhuma delas tem o fato da convivência e das relações interhumanas como tema central de estudo, por esse fato, a acreditamos ser interessante utilizarmos os conceitos e instrumentais sociológicos para analisarmos e compreendermos o processo da Iniciação Maçônica.

Conquanto cada uma das outras ciências toquem nos aspectos sociais da vida do homem, nenhuma delas tem como tema próprio e específico o fato social como tal. Pelo contrário a Sociologia é a única ciência que quer estudar o fato social especificamente, o fato da convivência, das atividades e relações interhumanas.

"Como sociólogos, estamos interessados nas relações sociais, não porque tais relações sejam econômicas, ou políticas, ou religiosas, mas sim porque são ao mesmo tempo sociais. Se duas pessoas se encontram no mercado, não são por isso meramente dois “homens econômicos”, mas sim dois seres humanos, e entram em relações que não são meramente econômicas. A vida do homem é multilateral." (MACIVER, 1950:05)

Efetivamente, a vida do homem tem dimensões e várias funções: religiosa, moral, jurídica, política, econômica, artística, etc. Pois bem, todas essas dimensões ou funções ocorrem e se desenvolvem na existência social do homem, isto é, do homem enquanto tem relações com seus próximos. Os homens mantêm relações uns com os outros. Assim ocorre, porque são essencialmente sociáveis, seja dito de passagem, não só pelos motivos que já Aristóteles expusera, "o homem por si só, é uma animal social", mas também por razões muito mais profundas: a sociabilidade é um componente essencial da vida humana, a tal ponto que esta seria impossível e mesmo inconcebível sem sua componente social.

Desse modo, o estudo sociológico deparará em seu caminho, fatores e fatos psíquicos, com crenças religiosas, com fenômenos políticos, com processos econômicos, com estruturas jurídicas..., e nada disso poderá ser abstraído e deixado inteiramente de lado. Porém o estudo sociológico não se interessa pelo psicológico enquanto psicológico, nem pelo religioso enquanto religioso, nem pelo político enquanto político, nem econômico enquanto econômico, nem pelo jurídico enquanto jurídico..., e sim se interessa por esses aspectos somente na medida em que a consideração dessas atividades e obras culturais possa lançar alguma luz sobre os fatos, relações e processos sociais, enquanto tais, e na medida em que a índole desses conteúdos culturais influa sobre a estrutura das relações e sobre os caracteres dos processos sociais.

Apesar de ser a compreensão dos fatos sociais um elemento essencial e indispensável do estudo da Sociologia, este mesmo estudo não se esgota nela. Requer, além da compreensão, que procedamos também à explicação, porque os fatos humanos, conquanto tenham sentido, não são puros sentidos abstratos, mas sim realidades concretas, no espaço e no tempo, realidades essas que possuem um sentido. Porque o Rito de Iniciação Maçônico e as variadas Instruções nos respectivos graus têm um sentido, é necessário que tentemos compreendê-las.

Mas, porque são realidades produzidas por causas e geradoras de efeitos, é necessário que, além disso, tratemos de explicá-las quanto a seu processo causal, ou seja, cumpre que indaguemos de suas causas e de seus efeitos individuais e coletivos.

I - MODOS COLETIVOS DE CONDUTA: OS RITOS

Um dos componentes fundamentais dos grupos e das sociedades humanas é o processo ritual. Os ritos e as cerimônias (significa qualquer procedimento estabelecido para dar dignidade e solenidade a um ato social, e ressaltar desse modo, sua importância ou transcendência) permeiam todo o grupamento social, desde as sociedades primitivas até as modernas sociedades pós-industriais. Os sociólogos contemporâneos afirmam que temos um comportamento ritual quando amamos e fuzilamos, quando nascemos e morremos, quando noivamos ou casamos, quando ordenamos e oramos. Os rituais revelam os valores mais profundos do comportamento humano e o estudo dos ritos torna-se estrategicamente a chave para compreender-se a constituição essencial das sociedades humanas.

Estudam-se hoje os ritos como um fenômeno social que possui um espaço independente, isto é, como um objeto dotado de uma autonomia relativa em termos de outros domínios do mundo social, e não mais como um dado secundário, uma espécie de apêndice ou agente específico e nobre dos atos classificados como mágicos pelos estudiosos.

Assim, designa-se rito a uma série de atos dispostos em procedimentos rítmico, dirigidos ao mesmo fim e repetidos sem variação de umas formas instituídas em certas ocasiões. Podem existir ritos individuais relacionados com atividades rotineiras da vida cotidiana, como por exemplo na ordem dos atos de vestir-se, pentear os cabelos ou na arrumação de um aposento, etc. Mas a maior parte dos ritos são sociais – e são estes os que aqui daremos o nosso foco -, os quais têm como sentido e objeto dar uma solenidade especial ao cumprimento de modos coletivos de vida, solenidade essa que infunda respeito e suscite emoções comuns nos membros do grupo reunidos. Existem ritos religiosos que, além de seu caráter sacro, contribuem para infundir devoção, reverência, sentimento de dependência, correntes emocionais de fusão com a comunidade dos fiéis, etc. Existem ritos políticos ou meramente sociais – como os praticados em certas reuniões de confraternidades – agrícolas, mercantis – principalmente em sociedades primitivas ou antigas, etc.

O rito contribui para delimitar com mais precisão e rigor o grupo e o círculo social, fundindo emocionalmente aos seus membros, e, os diferenciando de outras pessoas não membros, que costumam permanecer frias ante os atos que, ao contrário, suscitam fortes emoções nos participantes; como também, os ritos são meios poderosos para manter vivo o sentimento de pertença a um grupo, para conservar a adesão aos seus modos coletivos, para unir mais estreitamente os seus membros, e para afirmar e reforçar sua significação e sua estrutura, que podem era verificadas pela existência das insígnias, dos trajes cerimoniais, das solenidades, que mantém a distância entre os dirigentes e o público, e a hierarquia, que é a base da organização do grupo. (ORTEGA & GASSET, 1959; LIENHARDT, 1974; VAN GENNEP, 1978; CASSIRER, 1986; ULLMANN, 1991; ELIADE, 1993)

Explicitando a complexidade dos ritos, dentre os quais vamos enfatizar os chamados ritos de passagem, que nada mais são que celebrações em que se coloca em relevo a mudança de um estado para outro (por exemplo a passagem de profano em neófito). Podemos dizer ainda, serem ritos em que se destaca a transição de alguém da sociedade profana para uma sociedade sagrada. "Procuram assegurar a transição para o ignoto, o novum" (CASSIER, 1986:64). Por outro lado, antologicamente os ritos de passagem podem ser vistos sob três grandes subdivisões: ritos de separação, ritos de margem e ritos de agregação. Segundo Van Gennep (1978:31) "essas três categorias secundárias não são igualmente desenvolvidas em uma mesma população nem em um mesmo conjunto cerimonial".

Os ritos de separação, referindo-se às cerimônias funerais e à separação dos noivos de sua casa paterna, quando contraem matrimônio; fala-se em ritos de agregação quando trata do casamento. Utilizam-se os termos ritos de margem, ao enfocar os ritos respeitantes, diretamente, à iniciação como tal, em que o indivíduo ou os indivíduos são colocados, temporariamente, à margem do grupo, para receber instruções especiais, dentro duma sistemática tradicional. Se, por conseguinte, o esquema completo dos ritos de passagem admite em teoria ritos preliminares (separação), liminares (margem), e pós-liminares (agregação), na prática estamos longe de encontrar a equivalência dos três grupos, quer no que diz respeito à importância deles quer no grau de elaboração que apresentam. Além disso, em certos casos, o esquema se desdobra, o que acontece quando a margem é bastante desenvolvida para constituir uma etapa autônoma. Assim é que o noivado constitui realmente um período de margem entre a adolescência e o casamento.

Mas, a passagem da adolescência ao noivado comporta uma série especial de ritos de separação, de margem e de agregação à margem. A passagem do noivado ao casamento supõe uma série de ritos de separação da margem, de margem e de agregação ao casamento. Esta mistura é também verificada no conjunto constituído pelos ritos de gravidez, do parto e do nascimento. Embora procuramos agrupar todos esses ritos com a maior clareza possível facilitando a análise do ponto de vista didático, tratando-os como atividades, não se pode chegar nestas matérias a uma classificação tão rígida.

II - SÍMBOLOS E UNIDADE COLETIVA

A adequação da conduta aos modos coletivos e o reconhecimento da autoridade não chegaria a vingar, os ritos e as cerimônias careceriam de sentido, se não fosse pelo fato de que o homem social possui a capacidade de criar e usar símbolos.

"Todo comportamento humano consiste no uso de símbolos, ou depende disto. Comportamento humano é comportamento simbólico, e, comportamento simbólico é comportamento humano. O símbolo é o universo da humanidade." (WILLEMS, 1962:234)

Alguns sociólogos observam que diferentemente do animal, o homem não vive num mundo de fatos crus e somente ao compasso de suas necessidades e desejos imediatos, mas, além disso, e principalmente, vive num mundo de símbolos. A linguagem, a religião, a arte, a política, os grupos sociais, constituem parte desse mundo simbólico, formam os diversos fios que tecem a rede simbólica. O homem não se enfrenta com a realidade de um modo imediato e direto; não a costuma ver face a face. Envolve-se a si mesmo em formas lingüísticas, em imagens artísticas, em símbolos, de tal modo que vê as coisas por meio da interposição dessa trama de símbolos. Um símbolo, diz Titiev (1972), é a representação externa de um sentido ou de um valor, que, por associação, transmite uma idéia ou estimula um sentimento, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. A unidade do grupo, como também, os seus valores culturais, costumam expressar-se simbolicamente. Assim, por exemplo, na nação, por meio da bandeira, do escudo, do hino nacional...

O símbolo, como já foi comentado, é alguma coisa cujo o valor ou significado é atribuído pelas pessoas que o usam. Dizemos "coisa" porque um símbolo pode assumir qualquer forma física; pode ter a forma de um objeto material, uma cor, um som, um cheiro, o movimento de um objeto, um gosto. É importante frisar, que o significado ou valor de um símbolo não deriva nunca, nem é determinado pelas propriedades intrínsecas de sua forma física: a cor apropriada para o luto pode ser amarelo, verde ou outra qualquer; a púrpura não é necessariamente a cor da realeza; entre os governantes Manchu da China, por exemplo, era o amarelo. O significado dos símbolos é derivado e determinado pelos organismos que os usam; sentidos são atribuídos pelos seres humanos a formas físicas que então se tornam símbolos.

Estas considerações nos levam a definir do seguinte modo o nível da realidade social que estamos discutindo: os símbolos sociais são signos (isto é, substitutos conscientes ou presenças intencionalmente introduzidas e invocadas para indicar ausências) que não exprimem senão parcialmente os conteúdos significados e que servem de mediadores entre os conteúdos de um lado, e os agentes coletivos e individuais que os formulam e para os quais estão dirigidos, de outro, consistindo a mediação em impelir, para uma participação mútua, os agentes aos conteúdos e os conteúdos aos agentes.

Apresentado esta parte mais conceitual primeiramente, trataremos agora de aplicar tais instrumentos ao Rito de Iniciação e aos aspectos provenientes da primeira Instrução.

III - COMPREENDENDO O RITO DE INICIAÇÃO PELA ÓTICA SOCIOLÓGICA

A par daqueles conceitos anteriormente discutidos, concluímos que todo o processo da Cerimônia de Iniciação, pelo qual recentemente passamos, é, assim, um rito de passagem do mundo profano ao mundo sagrado. Afinal, pelas leituras que temos realizado, pelas discussões e bate-papos com os IIr∴ mais iluminados, uma vez ocorrida a iniciação, nós AApr∴ vamos passar por todo um processo de nos evadirmos pouco a pouco de um mundo essencialmente profano e iremos ingressar numa área um pouco mais sagrada, buscando dia-a-dia alcançar o grau de Companheiro, para finalmente atingirmos a chamada plenitude maçônica. "A senda em busca de apaziguar esta ânsia do sagrado prossegue nos altos graus e por que não dizer só termina com a morte". (ADOUM, 1987:79). Todo este período, que vai da iniciação até a morte terrena, pode ser chamado de um rito de margem ou de liminaridade, pois o processo de aprendizagem e maturação só encontrará o seu final, para efeito de análise, na morte terrena. Dentro desse período de margem de longo prazo, participaremos se assim o G∴A∴D∴U∴ nos iluminar, dos mais diversos ritos de passagem, ou seja, de um grau para o outro.

Nesse momento peço a permissão para me dirigir na primeira pessoa, como forma de demonstrar o sentimento vivenciado. Relembrando a minha preparação como neófito: Meu padrinho foi me buscar em casa com o seu carro, eu estava de terno, sapatos, meias e gravata preta, além da camisa branca como ele me havia solicitado, percorremos alguns quilômetros, quando de repente ele parou ao lado de uma frondosa árvore. Perguntei-lhe. Houve algum problema? Respondeu-me.

Não, a partir de agora irá comigo com os olhos vendados e deitado no banco traseiro, sem questionar realizei o que foi me pedido. Durante todo o trajeto, ouvi dele a seguinte explicação: a sua iniciação está começando aqui nesse momento, um Maçom deverá sempre confiar em seu Irmão, e deverá ser sempre um bom guia não só dos seus Irmãos, mas, também, de todos os homens na face da terra.

Hoje, com os olhos vendados, você passará simbolicamente por todas as provas que os nossos antepassados passaram, irá sentir o ranger dos dentes, a violência do trovão, a força de um mar revolto, o calor do fogo e o tilintar do ferro. Será convidado a tomar uma taça de um doce vinho que poderá se transformar em amargo veneno se perjuro estiver cometendo. Tudo isto fará parte das viagens simbólicas que você realizará num local apropriado. Irá subir escadas, atravessará por estreitos túneis, saltará de um monte, mas não se preocupe você estará sempre amparado por aqueles que te escolheram como Ir.'.. O Ir.'. Terrível te guiará durante todo esse período, portanto, confie nele, assim como confia em mim, afinal, dessa data em diante, esse deverá ser o procedimento que deverá nortear toda a tua existência.

Eu nada podia ver, porém, sentia cada momento como se uma imensa luz estivesse a me iluminar, sentia o seu calor, e com os olhos do espírito comecei enxergar, da minha infância até hoje, como um filme repassei cada momento, esta imensa luz colocava tudo em uma balança, confesso, o lado dos vícios ficou muito mais pesado do que os da virtude, compreendi então porque G∴A∴D∴U∴ ali me havia colocado e me dado essa oportunidade.

De repente o carro foi diminuindo a velocidade e parou, eu ouvi o barulho de abertura de um portão, parecia de ferro, algo pesado, observando o meu semblante de apreensão e interrogativo, o meu Padrinho falou: estamos chegando... te entregarei a comissão encarregada da sua iniciação que depois de recolhido os seus metais (relógio, pulseira, aliança, anel, dinheiro) te entregarão de volta a mim para que eu então, te entregue ao Ir∴ Terrível, e a partir desse momento, nem mesmo eu você identificará entre os que estarão a sua volta, porém, volto a frisar, você estará protegido pelos IIr.'. aqui presentes e por todos os Irmãos em todos os Continentes Conhecidos e Desconhecidos.

Antes de me entregar ao Ir∴ Terrível definitivamente, o meu Padrinho fez as últimas considerações: esperamos que você venha compreender o significado de tudo por que irá passar, se você perder um só momento, se desviar a tua atenção mental, se estes momentos não penetrarem no teu espírito como ferro em brasa penetra na carne, cuja cicatriz se perpetua por toda a eternidade, jamais será um iniciado, e tão somente um Maçom. Até porque, hoje, você matará o homem velho e nascerá como um homem novo, cujo objetivo maior será sempre o de LEVANTAR TT∴ À VIRTUDE E CAVAR PROFUNDAS E ESCURAS MASMORRAS AO VÍCIO.

Denota-se já até esse momento de prepação um rito de separação:

1 - Os olhos vendados querem exprimir o estado de cegueira em que nos encontramos ainda como candidatos à Nossa Ordem. Este estado significa e simboliza as trevas, onde ainda como Profanos, nos encontramos porque ainda não recebemos a luz, ou melhor, materialmente significa a privação da vista, mas, espiritualmente, alude à cegueira que estamos enquanto iniciados e a necessidade que teremos de um guia que nos oriente em direção à Luz. "(...) Luz esta que nos guiará na estrada da vida maçônica, nos caminhos da virtude..." (CASTELLANI, 1985:174), como também, a venda dos olhos simboliza a morte de um órgão vital e estratégico que deverá renascer em um novo estágio de consciência compatível com um recinto mais sacralizado, ou seja, é a condução ao conhecimento por uma iluminação interna, afinal, acredita-se que dentro da noite das nossas consciências, há uma centelha que nos basta atiçar para transformá-la em Luz esplêndida, onde a via intuitiva parece primordial para partirmos nesta marcha ascensional em direção à Luz. Assim, a venda que ao mesmo tempo nos priva de nossa visão física, nos reduz, alegoricamente, ao estado de natureza, no nosso primórdio primitivo;

2 - Fomos separados dos nossos metais, talvez simbolizando o despojamento de nossas riquezas do mundo profano, ou como o nos foi explicado naquele dia, que procedendo assim era como praticássemos o abandono voluntário de toda e qualquer paixão, de tudo quanto há de fictício e vão, no mundo profano; recordo também que nos explicaram que ali estávamos para conquistar a Liberdade e que o homem, que aspira ser livre, deve aprender a se desprender das coisas fúteis e a reduzir as suas necessidades ao mínimo necessário; e acrescentaram que o despojamento de nossos metais representava, alegoricamente, o esquecimento das riquezas e dos preconceitos da sociedade profana. "Agora despojados de vossos metais, é como se estivésseis em estado de necessidade integral". (VASSAL, 2005:23);

3 - Continuaram a nos despir. Nos tiraram o lado esquerdo de nossa camisa, deixando descoberto o peito e o braço esquerdo, depois pediram que descalçássemos o pé esquerdo, e, finalmente nos arregaçaram a perna direita de nossa calça, deixando a descoberto nosso joelho direito - "nem nu, nem vestido", alegoricamente simbolizando o desnudamento das vestes profanas, pedindo humildemente o ingresso no sagrado. Vejamos e relembremos, estávamos com o coração a descoberto o que evidenciava que não fazíamos qualquer restrição egoísta e oferecíamos nosso próprio coração à nossa Ordem. O joelho direito descoberto destinava-se a nos colocar em contato com o solo sagrado, quando ajoelhamos diante dos altares. O pé esquerdo descalço é uma tradição do Oriente e da África, onde as pessoas se descalçam, antes de pisarem num solo considerado sagrado. "Na realidade, assim posto, quando o candidato se ajoelha, colocando o joelho direito em terra, a sua perna esquerda, posta em esquadria, o pé descalço funciona como o pólo oposto".  (VASSAL, 2005:27) Outrossim, como em outras culturas, o joelho direito descoberto é a alegoria do sentimento de humildade, no ato de genuflexão e no esforço de pesquisa da Verdade. Assim, todos os nossos atos de adoração, além de se revestirem numa maior sinceridade, de se prestarem a imantação, por sua postura, tem como significado expressarem um profundo respeito pelo solo sagrado, que se palmilha.

A Câmara de Reflexões, o Testamento, enfim, a Prova da Terra foram, mais uma vez, o exercício para a morte do homem profano para um renascimento mais consciente em outra esfera do sagrado. Simbolicamente esta descida aos infernos ou pelo menos às profundezas da terra, como nos antigos mistérios greco- orientais, das remotas iniciações, do fundo dos milênios, pode ser considerado um rito de separação para uma longa viagem.

Assim preparados, fomos entregues ao Ir∴Exp∴ Ele nos bateu, levemente, no ombro e disse: - "Sou o vosso guia; tende confiança em mim e nada receeis". E nos deu várias voltas pelo edifício, até que perceberam que já havíamos perdido o sentido de orientação. Então, fomos introduzidos, cada um individualmente, na Câmara de Reflexões. O Ir∴ Exp∴, dando à sua voz uma inflexão um pouco fúnebre, disse: - "Profano, deixo-vos entregue às vossas reflexões. Não estareis sozinho. Deus, que tudo vê, será testemunha da vossa sinceridade". E tirou a nossa venda. Lembro-me que me causou uma má impressão aquele lugar, um quarto fechado, uma espécie de caverna pintada de preto, sem janelas e ilustrada por símbolos de morte. Tendo como base o conhecimento de outras culturas que se utilizam em seus processos iniciáticos de objetos alegóricos, após alguns momentos sozinho naquele local, passei a compreendê-los e identificar os objetivos da sua existência. Por essa descrição consegui compreender a mensagem iniciática "SOMOS PÓ E AO PÓ REVERTEREMOS", ela explica a idéia da caverna e o sentido essencial da iniciação, ou melhor, aquela Câmara, impenetrável à luz do dia, cercada de emblemas fúnebres, vem representar alegoricamente o seio da Terra, ao qual baixamos.

Na realidade, ali somos mantidos, simbolicamente como sepultados, afinal qualquer iniciação é uma morte, seguida de um renascimento, ou, tudo ali não passa de um convite para nos induzir a meditar sobre os transcendentes problemas da vida e da morte. Assim sendo, na Câmara existia: uma mesinha, um tamborete, uma vela que pouco iluminava, naquela escuridão total de túmulo, um crânio (símbolo da morte e do renascimento para a vida espiritual, ou seja, normalmente também se utiliza desse objeto no intuito de nos advertir que devemos nos despojar de nossa personalidade, afim de prepará-la para o renascimento que normalmente se ambiciona), um galo (representando o despertador da esperança e o anunciador da ressurreição, ou em outras palavras, é ele que anuncia todos os dias com o seu canto o aparecer do dia, a luz), acima dele uma frase num papel "Vigilância e Perseverança" (somente trabalho contínuo e a paciente perseverança nos levará a alcançar a Iniciação), uma ampulheta, uma foice, um caixão, (vem nos lembrar que a obra do tempo domina e sobrepuja as formas transitórias), gravadas em branco algumas frases agressivas, acredito que destinadas a nos provocarem impacto e bem a minha frente uma sigla que após passar todo esse processo, admito que fiquei curioso e fui buscar a sua explicação: V.I.T.R.I.O.L., "Visitas o interior da terra, retificando, encontrarás a pedra oculta", já que a alegoria fundamental da iniciação é a morte, preliminar de uma nova vida, que originará o renascimento iniciático, V.I.T.R.I.O.L., pode ser assim analisado: que devemos descer às profundezas do nosso eu interior e, retificar o nosso ponto de vista, no silêncio e na meditação, afinal, até porque somente dentro de cada um de nós, encontraremos a sabedoria.

Após um determinado tempo, o Ir∴ Terrível, encapuzado, voltou ao nosso encontro, ingressou em nosso túmulo e disse: - Profano, a Associação de que desejas fazer parte, pede para respondas às perguntas que te apresento. As tuas respostas não nos ofenderão, mas delas dependerá a nossa aceitação ou a nossa rejeição? E nos entregou o impresso de nosso Testamento, mas não era qualquer documento, era um testamento filosófico, do qual acredito seremos executores testamentários, haja vista que aquele testamento não era para a morte, mas um testamento para a nova vida a que nos propomos.

Ainda faltavam outras três provas (do ar, água, fogo, ressaltamos que a da terra ocorreu na Câmara das Reflexões), realizadas já no interior do templo e novamente vendados, que podem ser interpretadas como ritos de aprofundamento de passagem, de purificação crescente. Podem ser analisadas como ritos de margem neste vestibular espiritual para uma esfera mais sagrada. Neste processo de alquimia mental e espiritual estaria se matando, homeopaticamente, o profano para o renascer, simbolicamente doloroso e ao mesmo tempo glorioso, do Apr∴

E aqui nos socorremos de Mircea Eliade (1993:12) quando diz que:

"(...) a maior parte das provas iniciáticas implicam de maneira mais ou menos transparente, uma morte ritual se seguiria uma ressurreição ou novo nascimento. O momento central de toda iniciação vem representado pela cerimônia que simboliza a morte do neófito e sua volta ao mundo dos vivos. Mas o que volta à vida é um homem novo, assumindo um modo de ser distinto. A morte iniciática significa ao mesmo tempo o fim da infância, da ignorância e da condição profana. "

O batismo de sangue significa o começo de um ritual de agregação, algo que na Igreja Católica se chama de Comunhão dos Santos, isto é, qualquer iniciante depois de purificado pelas provas começa a participar, a ser agregado simbolicamente à comunhão de todos os Maçons.

O juramento teria algo do rito de margem, pois o iniciante, já agora menos poluído pelo mundo profano e mais ciente do sagrado, passa a ter então os pré- requisitos mínimos para um juramento mais consciente.

O nascimento pode ser analisado como o nascer biológico do novo ser, um rito de agregação ao mundo da Luz e da comunidade dos IIr∴, que, em seguida, é batizado pelo ritual de iniciação propriamente dito. Nasce-se e imediatamente se é iniciado, sem perda de tempo, em suma, um rito sumário de agregação, a culminância do processo iniciático. A passagem dos segredos de reconhecimento pode ser entendida como um reforço do ritual de agregação, um modo e um processo de comunicação rápido e instantâneo para melhor agregar a comunidade dos eleitos.

E por último, mas não menos importante e como tal não poderíamos deixar de lembrar, o banquete, que não fazendo parte direta da cerimônia do templo, insere- se num contexto de um ritual de re-agregação. Aqui, já se está de volta ao mundo profano, mas como alguém que circulou pela esfera do sagrado e volta ao mundo profano aureolado pela sacralidade. É como uma espiral; deu-se um giro de 360º, mas num outro nível, outro em outro patamar; está-se no mundo profano mas como um ser consagrado.

IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, tendo como ponto de partida os conhecimentos advindos da nossa formação de Cientista Social e esperando ter conseguido contribuir humildemente com os IIr∴ com as nossas reflexões, compreendemos que em todas as escolas Herméticas há um processo de Iniciação, caracterizado exotericamente através de uma Cerimônia de Iniciação. Este procedimento, longe de ser entendido como um importante processo iniciático, é um ato muito significativo, cujo valor está oculto sob a verdadeira aparência de um véu exterior. Por isso, avaliamos que para descortinarmos o aspecto esotérico, é preciso que nos afastemos dos conceitos profanos, muitas vezes contaminados pela dicotomia maniqueísta do bem e do mal, herança de dogmas religiosos e de falsas construções ideológicas, que somente desse modo, poderemos vir a entender o simbolismo desse "desbastar a pedra bruta", como uma forma de amoldar o espírito, desvencilhando-se dos defeitos e paixões. Nesse prisma, é de se lembrar que a busca do justo e perfeito é a caminhada na direção da construção moral e essa construção inicia-se pelo lapidar de uma pedra... que somos cada um de nós.

Referências Bibliográficas:
ADOUM, Jorge. “Grau de aprendiz e os seus mistérios”, São Paulo:Editora Pensamento, 1987.
CASSIRER, Ernst. “Linguagem e Mito”, São Paulo: Perspectiva, 1986.
CASTELLANI, José. “Liturgia e Ritualística do Grau de Aprendiz Maçom (em todos os ritos)”, São Paulo: A Gazeta Maçônica, 1985.
DURKHEIM, Émile. “As Regas do Método Sociológico”, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1992.
ELIADE, Mircea. “Tratado de historia de las religiones”, Madrid: Ed. Cristiandad, 1993.
GENNEP, Arnold Van. “Ritos de Passagem”, Petrópolis-Rio de Janeiro: Vozes, 1978.
LINHARDT, Godfrey. “Antropologia Social”, Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
MACIVER, R. M. “Society: An Introductory Analysis”, New York: Rinehart, 1950.
ORTEGA & GASSET, José. “El hombre y la gente (Obras Inéditas), Revista de Ocidente, Madrid, 1959.
TITIEV, Mischa. “Introdução à Antropologia Social”, Lisboa: Fundação Gulbenkian, 1972.
ULLMANN, Reinholdo Aloysio. Antropologia: O homem e cultura”, Petrópolis- Rio de Janeiro: Vozes, 1991.
VASSAL, Pierre-Gérard. “Curso Completo de Maçonaria: História geral da iniciação”, São Paulo: Madras, 2005.
WILLEMS. Emílio. “Antropologia Social”, São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962.

Fonte: JBNews - Informativo nº 307 - 30 de Junho de 2011

OS TRÊS PONTOS MAÇÔNICOS

Ir.·. Jellis Fernando de Carvalho

O estudo da maçonaria esotérica repousa em grande parte no conhecimento do ternário. Os três pontos usados após o nosso nome representam o maior emblema entregue ao aprendiz na sua iniciação e que o acompanhará por toda a vida e em qualquer grau que ele venha a alcançar no futuro. Eles resguardam um profundo e infinito segredo, onde estão guardadas as respostas para o mistério de todo o universo: a origem de todas as coisas e de todos os seres. Por conseguinte, de sua significação esotérica, nos mostram e nos orientam sobre quais atitudes e comportamentos que o sincero e mais abnegado franco maçom deve empreender em sua vida, a fim de que possa entender a verdades contidas em seus ensinamentos.

Esta pequena peça arquitetônica, longe, encontra-se de sintetizar todo o significado dos três pontos maçônicos; porém tenta-se discorrer um pouco sobre o seu simbolismo e nos chama a atenção para o valor oculto das coisas que não podem ser esquecidas pelo iniciado na ordem maçônica.

A origem do ternário tem seu início a partir do binário. Este, por sua vez, constitui uma manifestação do princípio da Unidade, do todo, segundo os antigos "E n to Pan"- "Uno o Todo". O todo é Uno em sua realidade, em sua essência e substância, tudo vem da Unidade, que está contido e é sustentado por si mesmo. Sua representação é o ponto, origem da linha reta, do círculo. Deste círculo, parte a linha reta, cuja representação é a força que impõem direção rumo ao progresso retilíneo, como resultado de uma força individual centrada no ponto ou centro de nosso ser. Como manifestação humana podemos traduzi-la pelo desenvolvimento progressivo e progressista das potencialidades latentes nas virtudes ou poderes ativos.

Como resultado dessa necessidade de expressão, a unidade possui realidade. Essa manifestação da mesma, toma-se forma como manifestação da unidade. Daí surge como dualidade deste processo, o segundo ponto. Esse caráter dual aparece em várias formas, entrelaçadas em pares opostos. Esta propriedade marca o mundo dos efeitos(sua expressão) e a lei que governa toda a manifestação ( a unidade). A dualidade expressa-se de várias maneiras no mundo profano: temos dois olhos para dois ouvidos aos quais correspondem dois hemisférios cerebrais(instrumentos orgânicos da inteligência); duas mãos e dois pés, instrumentos de nossa vontade. No mundo esotérico: o bem e o mal, as duas colunas, o princípio da vida sob o aspecto do pai e da mãe, o espaço e tempo, o céu e a terra, o esquadro e o compasso e o ângulo, no qual duas linhas diferentes partem de um único ponto, divergindo-se e prolongando-se à medida que se afastam das origem.

A manifestação da dualidade em sua atividade de pares opostos, assim como a luz se opõe às trevas; o calor e o frio ou complementar, encontra um terceiro elemento, o intermediário ou equilibrante ou princípio da harmonia. No caso das idéias, após examinarmos a tese e a antítese, temos a conclusão de tal situação, que é a síntese dos argumentos favoráveis e dos contrários. Todo ternário nasce da dualidade acrescida de uma nova unidade. Os três pontos maçônicos constituem o mais simples e característico emblema do ternário. O ponto superior representa a unidade fundamental, o absoluto. Os dois pontos inferiores são a imagem da dualidade, as duas colunas, cuja união de múltiplas ações e reações é produzida a multiplicidade fenomênica do universo. Se traçarmos duas linhas entre o ponto superior e os dois inferiores, temos um ângulo que expressa a dualidade dos dois princípios, oriundos da emanação de um só princípio. Ao traçarmos uma linha que uma os dois pontos inferiores, teremos o triângulo, representando o terceiro que aparece como novo aspecto da unidade absoluta. Isoladamente, os três pontos mostram os três princípios que constituem a unidade e a dualidade da manifestação. O ponto superior corresponde ao Oriente e ao mundo absoluto da realidade. Os dois inferiores ao Ocidente, ou seja, o mundo relativo, o mundo da aparência. Na loja, às duas colunas emblemáticas da dualidade.

Como pequena síntese do ternário e sua respectiva aplicação na vida maçônica dos iniciados, empreende-se que o progresso pessoal dentro da maçonaria requer que a inteligência se erga sobre o domínio da mente concreta (aspectos da dualidade e dos opostos),os dois pontos inferiores, situando-se no sentimento e na consciência da Unidade( ponto superior), chegando-se na essência de todos os seres através das faculdades superiores da mente que se baseiam na unidade,assim como a mente concreta baseia sua lógica e suas conclusões no sentido da dualidade. A iluminação maçônica se faz quando progredimos desde o Ocidente, que é o reino da ilusão, da multiplicidade e da aparência, em direção ao Oriente, o reino do real, da unidade e do ser. Passa-se a reconhecer no Ocidente o uno em diversos seres e coisas; no Oriente temos a Unidade na multiplicidade.

Fonte: JBNews - Informativo nº 307 - 30 de Junho de 2011

PALÁCIO MAÇÔNICO DE NITERÓI

Ir∴ Bruno Rodriguez Paura 
Presidente do Palácio Maçônico de Niterói 
Venerável da Loja Fraternidade • N0 2765

Escrever história é um ato heroico, árido e bastante difícil. No entanto, a história é uma das áreas do conhecimento humano que tem uma importância fundamental para o desenvolvimento que nos faz passar de Nação até a nossa condição de Instituição nos mais diversos níveis. Não apenas isso: nós, homens, realmente sempre gostamos de saber do nosso passado, o que nada mais é do que saber da nossa história

No ano de 1972, na rua Visconde do Uruguai, N0 117, centro, Niterói, funcionava o Grande Oriente do Estado do Rio de Janeiro Federado ao Grande Oriente do Brasil. Em boletim quinzenal da Grande Secretaria daquele órgão, foi divulgado o seguinte:

“NOVO TEMPLO. Inaugurar-se em dia 1o de outubro na sede do GOERJ, na Rua Visconde do Uruguai, N0 117, um Novo Templo destinado a abrigar os altos corpos maçônicos e as Lojas que ainda não possuem Templo, no Oriente de Niterói.”

Era o início de um novo tempo que se iniciava na Maçonaria Niteroiense, e conforme o anúncio do Boletim do antigo GOERJ, hoje denominado GOB-RJ, as LOJAS LIBERTAÇÃO, PORPHYRIO SECCA E ARARIBOIA, para lá se transferiram.

Em 1988, as três lojas citadas acima efetuaram a compra do prédio, tornando-se o anelo de todos os irmãos a nova propriedade, um Templo Novo. A Carta de Convenção foi providência do Irmão GERALDO DOS REIS SOBRINHO, que ocupava o cargo de Venerável Mestre da LOJA LIBERTAÇÃO, sendo Veneráveis Mestres das Lojas POPHYRIO SECCA E ARARIBÓIA, respectivamente os Irmãos CALOS PRESTE CARDOSO e WALLACE LOMBA AZEVEDO.

Assim, o Grande Oriente do Estado do Rio de Janeiro foi transferido para a cidade do Rio de Janeiro.

Em 19 de Janeiro de 1991, o Palácio Maçônico de Niterói, adquiriu o status de Utilidade Pública Municipal.

Em agosto de 1995, deu-se início às obras do templo superior do, sendo na ocasião o Presidente SÉRGIO CARLOS BUSQUET PEREZ da Loja LIBERTAÇÃO, o irmão EZEQUIEL GONÇALVES FILHO Loja PORPHYRIO SECCA como Diretor Tesoureiro, e o Irmão SEBASTIÃO JUSTO FLHO da Loja ARARIBÓIA, como Diretor Secretário.

A inauguração deu-se em 21 de agosto de 1997, com a Sagração do Templo, inauguração da Secretaria, Consultório Médico, Vestuário, Biblioteca, Salão Social, e teve a presença do Soberano Grão – Mestre Geral da Ordem Irmão FRANCISCO MURILO PINTO e o Grão-Mestre Estadual JOSÉ COELHO DA SILVA.

Em 18 de Novembro de 2003, a Loja FRATERNIDADE efetua a compra das cotas do PALÁCIO MAÇÔNICO DE NITERÓI, tornando-se co-proprietária, onde a sessão foi um acontecimento marcante, em uma reunião magnífica.

Após a efetiva compra das cotas do PALÁCIO MAÇÔNICO DE NITERÓI pela Loja FRATERNIDADE no ano de 2003, novas obras se faziam necessárias para levarem a bom termo, tão elevado empreendimento, dois quais hoje temos orgulho de pertencer. O então Presidente do Palácio, ASSIS DE OLIVEIRA BASTOS da Loja LIBERTAÇÃO, nomeou uma comissão de obras, sendo composta pelos irmãos GIOVANNI PAURA da Loja FRATERNIDADE, SÉRGIO CARLOS BUSQUET PEREZ da Loja LIBERTAÇÃO, EZEQUIEL GONÇALVES FILHO

Loja PORPHYRIO SECCA, tendo como arquiteto o irmão Jorge Nemer.

No ano 2007, o Irmão JOSÉ LUIZ DE SEJUS SÉRGIO da Loja FRATERNIDADE, assume a Presidência do PALÁCIO MAÇÔNICO DE NITERÓI, onde através de seu empenho, dedicação, e muito trabalho, efetuou diversas obras para o nosso prédio, melhorando ainda mais nossas instalações, deixando em sua administração o Palácio completamente saneado.

Temos hoje como atual presidente do PALÁCIO MAÇÔNICO DE NITERÓI o Irmão BRUNO RODRIGUEZ PAURA, assumindo o cargo em 22 de julho de 2009, onde vem fazendo um brilhante trabalho não só no melhoramento nas dependências do prédio, como também elevou no nome do Palácio, não só dentro da Maçonaria no Estado do Rio de Janeiro, como também no mundo profano, sendo hoje, o Palácio Maçônico de Niterói, o maior complexo maçônico de Niterói e São Gonçalo, funcionando 11 lojas maçônicas, abrigando cerca de 450 maçons.

O Irmão BRUNO RODRIGUEZ PAURA, assumiu o malhete da Loja Fraternidade N0 2765, se tornando o Venerável Mestre mais novo dentro do Grande Oriente do Brasil no Rio de Janeiro, dando um dinâmico exemplo como modelo de Maçom a ser seguido.

Além do Irmão BRUNO RODRIGUEZ PAURA da Loja FRATERNIDADE como Presidente, a administração é composta pelos Irmãos: AROLDO ESTEVES DE SOUZA FILHO da loja PORPHIRIO SECCA, como Diretor Secretário, ADOLFO JUNIOR LACERDA HIPÓLITO, da loja ARARIBOIA, como Diretor TESOUREIRO, e FERNANDO GUEDES DE AZEVEDO, da Loja LIBERTAÇÃO, como Diretor de Patrimônio, onde foram empossados conforme os artigos 10 e 80 da Convenção.

FORAM PRESIDENTES DO PALÁCIO MAÇÔNICO
  • 1989 a 1991 – JOSÉ CARLOS FRIELD
  • 1991 a 1993 – RUI SÉRGIO XAVIER DOS SANTOS
  • 1993 a 1995 – SEBASTIÃO GETÚLIO
  • 1995 a 1999 – SÉRGIO CARLOS BUSQUET PEREZ
  • 1999 a 2001 – JAIRO DA SILVA MELO
  • 2001 a 2003 – REGINALDO DOS S. L. DE OLIVEIRA
  • 2003 a 2005 – ASSIS DE OLIVEIRA BASTOS
  • 2005 a 2007 – LUIZ ROMERO CRESPO VELOSO
  • 2007 a 2009 – JOSÉ LUIZ DE SEJUS SÉRGIO
  • 2009 a 2011 – BRUNO RODRIGUEZ PAURA
LOJAS QUE FAZEM PARTE DO PALÁCIO MAÇÔNICO
  • ARARIBOIA Nº 1698
  • FRATERNIDADE Nº 2765
  • LIBERTAÇÃO Nº 1720 P
  • ORPHIRIO SECCA Nº 1592
  • DESEMBARGADOR NAVEGA CRETON Nº 3960 
  • ESTRELA DE ITAIPU Nº 3591
  • GUARDIÕES DA CHAMA SAGRADA Nº 3916 
  • LIBERTA SUB-LEGES Nº 40
  • NOVA ALIANÇA Nº 2134 
  • ORDEM E TRABALHO Nº 1214 
  • RAUL ABOT ESCOBAR Nº 4020
(*) Enviado pelo Ven∴Ir∴ Jorge Tavares Vicente Aug∴Resp∴Fid∴Gr∴Ben∴ Loja Maçônica Evolução Nº 2 Or∴ de Niterói – RJ

Fonte: JBNews - Informativo nº 306 - 30 de Junho de 2011

TOLERÂNCIA?

Ir∴ Roberto Donato MM.

A tolerância sendo uma virtude é, portanto, um valor. Valores, como é sabido, não podem ser definidos, entretanto, podem ser descritos e analisados de acordo com comportamento dos integrantes de uma sociedade.

A idéia de tolerância somente pode ser analisada, com certa precisão, se estiver interada socialmente, pois está indissoluvelmente atrelada ao agir das pessoas nesta mesma sociedade.

Para abordar esse tema tão subjetivo por se tratar de uma virtude e também, sendo um dos valores da nossa Ordem, deixo duas perguntas para a nossa reflexão: “Julgar que há coisas intoleráveis é dar provas de intolerância?” Ou, de outra forma: “Ser tolerante é tolerar tudo?” Em ambos os casos a resposta, evidentemente é não, pelo menos se queremos que a tolerância seja uma virtude.

Partindo da afirmação que Filosofar é pensar sem provas, somente espero não ter indo longe demais nas minhas divagações filosóficas.

No opúsculo O que é Maçonaria, temos a seguinte frase: “A Maçonaria é eminentemente tolerante e exige dos seus membros a mais ampla tolerância.

Respeita as opiniões políticas e crenças religiosas de todos os homens, reconhecendo que todas as religiões e ideais políticos são igualmente respeitáveis e rechaça toda pretensão de outorgar situações de privilégio a qualquer uma delas em particular”.

A definição acima aborda a tolerância maçônica no seu aspecto religioso e político que, sendo um valor é muito mais abrangente, discutível e contestável do que os apresentados.

Quem tolera a violação, a tortura, o assassinato deveria ser considerado virtuoso? Quem admite o ilícito com tolerância tem um comportamento louvável? Mas se a resposta não pode ser negativa, a argumentação não deixa de levantar um certo número de problemas, que são definições e limitações. Nem tão pouco podemos deixar de considerar às questões sobre o sentido da vida, a existência do G\A\D\U\e o valor dos nossos valores.

Tolerar é aceitar aquilo que se poderia condenar, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater? É, portanto, renunciar a uma parte do nosso poder, desejo e força! Mas só há virtude na medida em que a chamamos para nós e que ultrapassamos os nossos interesses e a nossa impaciência.

A tolerância vale apenas contra si e a favor de outrem. Não existe tolerância quando nada temos a perder e menos ainda quando temos tudo a ganhar, suportando e nada fazendo. Tolerar o sofrimento dos outros, a injustiça de que não somos vítimas, o horror que nos poupa não é tolerância, mas sim egoísmo e indiferença. Tolerar Hitler é tornar-se cúmplice dele, pelo menos por omissão, por abandono e esta tolerância já é colaboração. Antes o ódio, a fúria, a violência, do que esta passividade diante do horror e a aceitação vergonhosa do pior.

É o que Karl Popper denomina como “o paradoxo da tolerância”: “Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo com os intolerantes e não defendermos a sociedade tolerante contra os seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados e com eles a tolerância”.

Uma virtude não pode ocultar-se atrás de posturas condenáveis e contestáveis: aquele que só com os justos é justo, só com os generosos é generoso, só com os misericordiosos é misericordioso, não é nem justo, nem generoso e nem misericordioso. Tão pouco é tolerante aquele que o é apenas com os tolerantes. Se a tolerância é uma virtude, como creio e de um modo geral, ela vale, portanto por si mesma, inclusive para os que não a praticam. É verdade que os intolerantes não poderiam queixar-se, se fôssemos intolerantes com eles. O justo deve ser guiado “pelos princípios da justiça e não pelo fato de o injusto poder queixar-se”. Assim como o tolerante, pelos princípios da tolerância.

O que deve determinar a tolerabilidade deste ou daquele indivíduo, grupo ou comportamento, não é a tolerância de que dão provas, mas o perigo efetivo que implicam: uma ação intolerante, um grupo intolerante, etc., devem ser interditos se, e só se, ameaçam efetivamente a liberdade ou, em geral, as condições de possibilidade da tolerância.

Numa República forte e estável, uma manifestação contra a democracia, contra a tolerância ou contra a liberdade não basta para a pôr em perigo: não há, portanto, motivos para a proibir e faltar com tolerância. Mas se as instituições se encontram fragilizadas, se uma guerra civil ameaça, se grupos pretendem tomar o poder, a mesma manifestação pode tornar-se um perigo: pode então vir a ser necessário proibi-la ou impedi-la, mesmo à força e seria uma falta de prudência recusar-se a considerar esta possibilidade.

Estando diante de mais um paradoxo sobre a tolerância, para entende-la entramos por um caminho não muito claro e como não poderia deixar de ser exato, Karl

Popper acrescenta: “Não quero com isto dizer que seja sempre necessário impedir a expressão de teorias intolerantes. Enquanto for possível contrariá-las à força de argumentos lógicos e contê-las com a ajuda da opinião pública, seria um erro proibi-las. Mas é necessário reivindicar o direito de fazê-lo, mesmo à força, caso se torne necessário, porque pode muito bem acontecer que os defensores destas teorias se recusem a qualquer discussão lógica e respondam aos argumentos pela violência. Haveria então de considerar que, ao fazê-lo, eles se colocam fora da lei e que a incitação à intolerância é tão criminosa como, por exemplo, a incitação ao assassínio. Democracia não é fraqueza. Tolerância não é passividade”.

Moral e politicamente condenáveis, a tolerância universal não seria, nem virtuosa e nem viável. Ou por outras palavras: existe, de fato, coisas intoleráveis, mesmo para o tolerante! Moralmente condenado é o sofrimento de outrem, a injustiça, a opressão, quando poderiam ser impedidos ou combatidos por um mal menor.

Politicamente é tudo o que ameaça efetivamente a liberdade, a paz ou a sobrevivência de uma sociedade.

Como vimos, o problema da tolerância só se põe em questões de opinião. Ora, o que vem a ser uma opinião senão uma crença incerta. O católico bem pode estar subjetivamente certo da verdade do catolicismo. Mas, se for intelectualmente honesto (se amar mais a verdade do que a certeza), deverá reconhecer que é incapaz de convencer um protestante, ateu ou muçulmano, mesmo cultos, inteligentes e de boa-fé. Por mais convencido que possa estar de ter razão, cada qual deve, pois, admitir que não pode prová-lo, permanecendo assim no mesmo plano que os seus adversários, tão convencidos como ele e igualmente incapazes de convencê-lo. A tolerância, como virtude, fundamenta-se na nossa fraqueza teórica, ou seja, na incapacidade de atingir o absoluto. “Devemos tolerar-nos mutuamente, porque somos todos fracos, inconseqüentes, sujeitos à variação e ao erro.

Humildade e misericórdia andam juntas e levam à tolerância”.

Um outro ponto a ser considerado prende-se mais com a conduta política do que com a moral, mais com os limites do Estado do que com os do conhecimento.

Ainda que tivesse acesso ao absoluto, o soberano seria incapaz de impô-lo a quem quer que fosse, porque não se pode forçar um indivíduo a pensar de maneira diferente daquela como pensa, nem a acreditar que é verdadeiro o que lhe parece falso. Pode impedir-se um indivíduo de exprimir aquilo em que acredita, mas não de pensar.

Para quem reconhece que valor e verdade constituem duas ordens diferentes, existe, pelo contrário, nesta disjunção uma razão suplementar para ser tolerante: ainda que tivéssemos acesso a uma verdade absoluta, isso não obrigaria a todos a respeitar os mesmos valores, ou a viverem da mesma maneira. A verdade impõe-se a todos, mas não impõe coisa alguma. A verdade é a mesma para todos, mas não o desejo e a vontade.

Esta convergência dos desejos, das vontades e da aproximação das civilizações, não resulta de um conhecimento: é um fato da história e do desejo dessas civilizações.

Podemos perguntar, finalmente, se a palavra tolerância é, de fato, a que convém. Tolerar as opiniões dos outros não é considerá-las como inferiores ou faltosas?

Temos então um outro paradoxo da tolerância, que parece invalidar tudo que vimos anteriormente. Se as liberdades de crença, de opinião, de expressão e de culto são liberdades de direito, então não precisam ser toleradas, mas simplesmente respeitadas, protegidas e celebradas.

A palavra tolerância implica muitas vezes, na nossa língua, na idéia de polidez, de piedade ou ainda de indiferença. Em rigor, não se pode tolerar senão o que se tem o direito de impedir, de condenar e de proibir. Mas acontece que este direito que não possuímos nos inspira no sentimento de possuí-lo.

Não temos razão de pensar o que pensamos? E, se temos razão, os outros não estariam errados? E como poderia a verdade aceitar – senão, de fato, por tolerância – a existência ou a continuação do erro? Por isso damos o nome de tolerância àquilo que, se fôssemos mais lúcidos, mais generosos, mais justos, deveria chamar- se de respeito, simpatia ou de amor. Se, contudo, a palavra tolerância se impôs, foi certamente porque nos sentimos muito pouco capazes de amar ou de respeitar quando se tratam dos nossos adversários.

“Enquanto não desponta o belo dia em que a tolerância se tornará amável”, conclui Jankélévitch, “diremos que a tolerância, a prosaica tolerância é o que de melhor podemos fazer! A tolerância é, pois uma solução sofrível; até que os homens possam amar, ou simplesmente conhecer-se e compreender-se, podemos dar-nos por felizes por começarem a suportar-se”.

A tolerância, portanto, é um momento provisório. Que este provisório está para durar, é bem claro e, se cessasse, seria de temer que lhe sucedesse a barbárie e não o amor! É apenas um começo, mas já é algum. Sem contar que é por vezes necessário tolerar o que não queremos nem respeitar e nem amar. Existem, como vimos, coisas intoleráveis que temos de combater. Mas também coisas toleráveis que são, no entanto, desprezíveis e detestáveis. A tolerância diz tudo isto, ou pelo menos autoriza.

Assim como a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria a dos santos, a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles – todos nós – que não são nem uma nem outra coisa.

Fonte: JBNews - Informativo nº 306 - 30 de Junho de 2011

O PODER DO VERBO


Ir∴ Rudi Petri Gautério de Antoni 
A∴R∴L∴S∴ Guardiões do Templo Nº 225 • Rito Schröder

O Verbo é criador. O G∴A∴D∴U∴ criou o universo e os seres vivos por meio da vibração. Por isso que se diz que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era o próprio Deus”

Se o Verbo é a origem, a consequência é a existência humana e sendo assim fica caracterizado que o verbo possui poder e reside em cada ser humano.

Deus, quando no processo de criação do universo, usou o poder do Verbo (vibração) para materializar a sua vontade. Dessa forma, os homens também podem usar o poder que emana do chakra da garganta (que é o chakra do poder e da manifestação), para contatar as esferas superiores.

O poder mágico do verbo ou palavra está presente principalmente naquilo que emitimos no dia a dia.

O poder da palavra falada é mágico, transformador e trasmutador de nossas vidas. Pelo fruto se reconhece a árvore é pelo modo que se usa a palavra no dia a dia que se reconhece um maçom.

No antigo Egito, não se falava aleatoriamente sobre catástrofes e doenças.

Especialmente em templos sagrados, que são verdadeiros geradores e canalizadores de energias poderosíssimas.

Para os Hierofantes Egípcios, falar não é somente pronunciar ideias. Verbalizar é irradiar toda a energia que temos potencializada em nosso interior. Por isso diziam que quando alguém verbaliza lembranças de desgraças, elas voltam poderosamente a quem as proferiu.

Isso ocorre por meio do verbo concentrado que mais cedo ou mais tarde gera reação (Lei da ação e reação) naquele que a direcionou.

No plano físico, sabemos que temos em nosso interior os mesmos elementos que existem na natureza (ar, fogo, água e terra), Quando pronunciamos uma palavra, uma frase, uma oração ou uma maldição, pelo principio da vibração fazemos vibrar primeiro em nosso interior um desses quatro elementos para em alguns milésimos de segundos após exteriorizar essa palavra.

O M∴M∴ Jorge Adoum afirma em seu livro, Do Mestre Eleito dos 9 “O homem fala como age, age como pensa e pensa como sente”.

Portanto, tudo o que falamos tem em sua essência um pouco do poder de nossa mente e de nossas emoções.

Podemos afirmar que uma única palavra pode salvar um país, uma única palavra pode destruir uma nação.

Por isso o mestre BUDA sempre falava a seus seguidores cuidarem das palavras. Ele dizia; “É extremamente fácil dizer a coisa errada. E extremamente difícil concertar o que falou, não é mesmo?”

As quatro transgressões da boca:
  • A Mentira
  • A Duplicidade
  • As Palavras ásperas
  • As Palavras vãs
A mentira é extremamente repreensível porque além de não condizer com os preceitos da Ordem é uma arma que contribui para a o fortalecimento da ilusão. Em que as pessoas que se prendem a mentiras ficam vivendo em um mundo fora do real um mundo de ilusões que não lhes deixa ver a verdadeira verdade.

O ensinamento iniciatico visa despertar a consciência e o aperfeiçoamento do iniciado por isso devemos repudiar a mentira.

A duplicidade é dizer uma coisa a uma pessoa e outra a outra pessoa. Falar algo, pensar outra coisa totalmente diferente. Com a duplicidade enganamos e prejudicamos emocionalmente a outra pessoa e a nos mesmos. As energias negativas da adulação e do embuste geram deformações na moral de quem as profere. Quem sorri e elogia e pelas costas pensa e fala o contrário, incorre em um erro grave para própria consciência. Seja verdadeiro no falar, sem ser áspero.

As palavras ásperas não são somente palavras vulgares e de baixo calão, mas principalmente aquelas que magoam alguém. Se nos auto-observarmos, poderemos conter esses tipos de palavras que às vezes inconscientemente jogamos ao vento.

Um texto tântrico afirma:

As pessoas nascem com um machado dentro da boca e com ele se cortam a proferir palavras ásperas. O resultado desse comportamento volta-se contra elas e assim, lhes é impossível conhecer a felicidade.

As palavras vãs podem ser palavras verdadeiras proferidas no momento errado. Palavras verdadeiras que causam sofrimento a outrem. Palavras verdadeiras sem começo nem fim, palavras verdadeiras que são desorganizadas ou apresentadas de forma insensata.

Podemos estudar o verbo sob a visão social, psicológica, mágica, moral ou espiritual.

Quando usamos a régua durante as 24 horas do dia e temos controle sobre as palavras que saem de nossa boca, sabemos nos controlar verbalmente, conhecemos, direcionamos e aplicamos a energia da palavra e não somente seus fonemas, nos tornaremos pedras polidas prontas para erguermos templos a virtude e masmorras ao vício.

“Palavras bem ditas tornam-se benditas, e, mal ditas tornam-se malditas”!

Bibliografia:
Apostila, Curso de Gnose, Esoterismo e Autoconhecimento (apostila retirada do site Gnosis on line, http://www.gnosisonline.org) – Livro, Do Mestre Eleito dos 9, Autor Jorge Adoum. Sites: (www.espirito.org.br), (http://somostodosum.ig.com.br) e (http://luzvital.blogspot.com).

Fonte: JBNews - Informativo nº 306 - 30 de Junho de 2011

quarta-feira, 29 de junho de 2011

SER APRENDIZ


Fábio Teddy Moreira 
A∴R∴L∴S∴ Ordem e Progresso 133
Belo Horizonte MG

Ser Aprendiz Maçon é receber um convite de um amigo, responder questionários durante sindicâncias, sofrer angustiosamente o comunicado de aprovação para seu ingresso na maçonaria.


Ser Ap∴M∴ é vestir seu terno preto, chegar a um local estranho, cheio de pessoas desconhecidas, e, logo na entrada, ter vendado a sua visão, ser despojado de todos os seus metais, ter despido o lado esquerdo do seu peito, sua perna até joelho e seu pé; ser colocado sozinho com seus pensamentos, paixões, vaidades e vícios.

Ser Ap∴ M∴ é esperar um longo período, quase uma eternidade, e subitamente ser colocado em um cômodo pequeno, conhecido como câmara de reflexão, cheio de objetos e inscrições sugestivas, com um questionário e um testamento a ser preenchido na suas mãos, realizando a sua primeira viagem.

Ser Ap∴ M∴ é ser guiado com olhos vendados, semi nu e sem metais por um estranho que bate em uma porta e pede sua entrada, é ser interrogado sobre seus deveres com Deus, para consigo e para com a humanidade.

Ser Ap∴ M∴ é humildemente, confiando em seu guia, viajar por mais três vezes, a primeira e mais difícil aprendendo a vencer os obstáculos, a segunda ser batizado pela água e a terceira ser batizado pelo fogo. É provar o doce e o amargor, é ser colocada à prova toda a sua vontade de ser realmente um M∴. É doar seu próprio sangue a causa sagrada da maçonaria.

Ser Ap∴ M∴ é ajoelhar-se e jurar silêncio sobre o que escutar, jurar não escrever, gravar ou formar nenhum sinal que possa revelar a palavra sagrada, jurar sua união eterna com a fraternidade, comprometendo-se a ajudar seus irmãos a qualquer momento. É ser digno de receber a luz, é nascer para a vida maçônica.

Ser Ap∴ M∴ é consagrar-se com palavras e ter acima da sua cabeça a Espada Flamejante, sendo tocada por três vezes pelo V∴M∴. É ser recebido por pessoas antes desconhecidas, e agora, seus verdadeiros irmãos, dispostos a ajudá-lo. É aprender a dar os primeiros golpes para o desbaste da pedra bruta e receber a verdadeira veste maçônica, o avental.

Ser Ap∴ M∴ é aprender o sinal da ordem, o sinal gutural, o aperto de mão com os devidos toques, a palavra sagrada, a semestral e a de convivência. É aprender andar no Templo, sempre do ocidente para o oriente, do norte para sul sempre saudando o Delta, quando de sua passagem pelo Equador.

Ser Ap∴ M∴ é entrar na sala dos passos perdidos, passar pelo átrio e, após entrar no templo, sempre com seu avental com a abeta voltada para cima, sentar-se no topo da coluna do norte e observar o templo com sua forma de quadrilongo, com o chão quadriculado, a entrada no ocidente tendo acima da porta a chama votiva, rodeado pela corda de 81 nós, as colunas zodiacais, sua abóboda celeste, com suas constelações, as colunas de bronze com a esfera celeste e as 3 romãs ( mostrando pela sua divisão interna, os bens produzidos pela influência das estações, representando as LL∴ e os MM∴, espalhados pela superfície da Terra e ainda assim, constituindo uma e mesma família ), observar os 4 degraus que levam ao oriente (Força, Trabalho, Ciência e Virtude ), e acima do trono do V∴ M∴ o delta luminoso sempre ladeado pelo sol e pela lua, o altar dos perfumes defronte ao altar do V∴ M∴, o altar dos juramentos com seus paramentos (o livro da lei sagrada, representando o Código da Moral, o compasso, sempre com as pontas ocultas sob o esquadro: que só se mostram unidos em loja representando a medida justa que deve presidir todas as nossas ações), ladeado por 3 castiçais (sabedoria: para orientar-nos no caminho da vida, força: para nos animar e sustentar em todas as dificuldades e beleza: para adornar as nossas ações, nosso caráter e nosso espírito), os ornamentos (o pavimento mosaico, representando a fraternidade; a estrela flamejante, representando a caridade e a orla dentada, representando o amor).

Ser Ap∴ M∴ é observar o altar que o V∴ M∴ tem assento, colocado sempre no Oriente sob o dossel e sobre 3 degraus (Pureza, Luz e Verdade), ladeado por 2 cadeiras: para o ex - V∴ M∴ à esquerda, e para a maior autoridade presente à direita, com o candelabro à frente, ainda no oriente e ao norte, o altar do orador, ao sul, o altar do secretário. No ocidente e a esquerda da coluna B e sobre 2 degraus o altar do 10º vigilante, a pedra bruta, o maço e o cinzel,e, a esquerda da coluna J e no meio, sob a Estrela Flamejante com a letra G no centro, e sobre 1 degrau, o altar do 2º vigilante, com pedra cúbica, ambos com os seus candelabros.

Observar também, logo após a coluna do norte, a direita do orador e por fora da balaustrada, o altar do tesoureiro e simetricamente a esquerda o altar do chanceler. No meio dia ( sul ), ao norte e no oriente os bancos colocados longitudinalmente em linha paralelas, onde ficam os aprendizes no norte, os companheiros ao sul e os mestres nas cadeiras da primeira fila.

Ser Ap∴ M∴ é começar a conhecer o Rito Escocês Antigo e Aceito, visitar outras lojas, conhecer outros MM∴ fora de sua loja, é assistir uma iniciação e compreender o que está passando com o neófito, é assistir a uma filiação e vislumbrar a felicidade do Irmão.

Ser Ap∴ M∴ é receber ensinamentos, conceitos e experiências de seus irmãos, é estudar para alcançar progressos na maçonaria. É começar a utilizar seus instrumentos de trabalho: a régua de 24 P∴ P∴ para planear suas atitudes, representando a sabedoria; o maço para aplicar toda a energia, representando a força e o cinzel para polir seus vícios, vaidades e paixões, representando a beleza. É compreender que todos começam sua vida na maçonaria como a Pedra Bruta e deve determinar suas ações, aplicar toda sua energia e ver todas as suas faculdades, desenvolvendo-as, educando-as e temperando-as para lavrar a pedra bruta, tornando-se uma Pedra Polida ou Cúbica, ou seja, dominando a si mesmo, aperfeiçoando-se moralmente e espiritualmente.

Ser Ap∴ M∴ é conhecer as jóias fixas da loja: a prancheta, representando o mestre guiando os aprendizes; a pedra bruta e a pedra polida cúbica . É conhecer as jóias móveis: o esquadro representando o estatuto da ordem e decorando o V∴ M∴; o nível representando a igualdade social e decorando o 10º vigilante e o prumo representando a retidão do maçon e decorando o 2º vigilante.

Ser Ap∴ M∴ é honrar e venerar o G∴A∴D∴U∴, ter a honra de saber guardar o segredo, preferindo ter a sua G∴ C∴ a revelar nossos mistérios, é estudar para vencer a ignorância, é aprender a combater o fanatismo e a superstição. É ser solidário aos irmãos que respeitam suas responsabilidades morais, sociais e de honra, em tudo que for justo e perfeito. É educar-se para corrigir seus defeitos e ser tolerante com as crenças religiosas e políticas de cada um.

Ser Ap∴ M∴ é aprender o simbolismo dos números, sendo que o número 1 significa a unidade se tiver efeito sobe ele o número 2, senão representa o todo; o número 2 significa a dúvida, a divisão, o desequilíbrio. O antagonismo do número 2 cessa quando se acrescenta mais uma unidade, formando o número 3, que representa a unidade da vida e as 3 qualidades indispensáveis do maçon : vontade, amor ou sabedoria e inteligência.

Ser Ap∴ M∴ é aprender a marcha ritualística, mesmo que ainda arrastando o pé direito, demonstrar retidão decisão e discernimento, estar sempre disposto a galgar os 14 degraus da escada de Jacó e alcançar a estrela de sete pontas, ou seja, o último estágio da evolução maçônica simbólica, o Mestre.

Ser Ap∴ M∴ é ser homem livre e de bons costumes, e após receber a luz, poder caminhar sozinho no templo e, embora auxiliado pelos conselhos dos IIr∴ e pela experiência dos MM∴ sentir-se responsável por si mesmo e saber que seus pensamentos, palavras e atitudes devem representar sempre a consciência de seu juramento ao ingressar no Templo, e, após trabalhar simbolicamente por três anos do meio dia à meia noite, humildemente, solicitar o seu primeiro aumento de salário.

Fonte: JBNews - Informativo nº 0305 - 29 de junho de 2011

UM NÁUFRAGO MAÇOM NA ILHA DAS FLORES (AÇORES)


Esta é uma pequena história com 136 anos de vida, que fala de 12 náufragos e um bloco de pedra com uma inscrição e um símbolo maçónico que durante muito tempo não foi reconhecido por nenhum dos historiadores e curiosos que se debruçaram sobre o assunto. John Coustos, Mestre Maçon, dá mais pormenores. 

“No aprazível local da Fajã do Conde, junto à Ribeira da Cruz, na Ilha das Flores (Açores), entre uma densa e verdejante vegetação, encontra- se um bloco de pedra, de forma mais ou menos cúbica, onde se pode observar a seguinte inscrição:

CAPT. W. H. LANG

AND 11 MEN - LANDED MAY 5 73 FROM BARK MODENA

OF BOSTON MASS. FOUNDERD - APRIL 22

Hoje, sabe-se que esta enigmática inscrição se ficou a dever ao facto da tripulação de uma embarcação americana – registada em Boston pelos proprietários J. Rideout e H. O. Roberts com o nome Modena, de 206 toneladas –, quando se viu em apuros nas águas das Bermudas, ter sido socorrida por uma outra embarcação. Tinha saído da Serra Leoa e dirigia-se para Boston, na costa leste dos Estados Unidos da América.

No dia 9 de Março de 1873 aportara na Bermuda, onde fez escala até ao dia 15 de Abril. Uma semana depois de ter levantado ferro, a 22 de Abril, o seu comandante, o capitão W. H. Lang, ordena o abandono da Modena que se afunda nas águas do Atlântico, entre as Bermudas e Boston, a cerca de 150 milhas a Norte daquelas ilhas. Depois de alguns dias à deriva, o capitão Lang e os seus onze tripulantes são recolhidos, a duas mil milhas dos Açores, por um navio que vinha da América para a Europa. A primeira terra avistada foi decerto a ilhas das Flores, no extremo ocidental do Arquipélago dos Açores, onde no dia 5 de Maio foram “depositados”, no local conhecido por Fajã do Conde.

Sobre a barca Modena, sabe-se ainda que foi construída em Duxbury, Massachusetts (EUA), no ano de 1851, conforme registo em documentação naval. Já em relação à estada destes náufragos na ilha das Flores, o facto é apenas documentado por esta interessante inscrição, só descoberta em 1960. Até ao momento não se encontrou qualquer outro registo que nos ajude a conhecer melhor o destino destes homens que devem ter permanecido naquela ilha algum tempo a aguardar a oportunidade de embarcarem para o seu destino inicial.

A curiosidade desta história reside no facto do capitão W. H. Lang ser maçon, a atestar pelo esquadro e compasso que inscreve na pedra, logo abaixo do seu nome, símbolo que nunca foi reconhecido pelos historiadores e curiosos que descreveram e opinaram sobre a inscrição.

Bibliografia:

BRAGAGLIA, Pierluigi, Concelho de Santa Cruz das Flores: Roteiro Histórico e Pedestre, Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores, 1999, p. 222

GOMES, Francisco António Nunes Pimentel, A Ilha das Flores: Da redescoberta à actualidade (Subsídios para a sua História), Câmara Municipal das Lajes das Flores, 1997, p. 359

TOMÁS, Jacob, Alguns apontamentos sobre naufrágios nas ilhas das Flores e Corvo, in “O Telégrafo”, 2 de Setembro de 1962″

Fonte: JBNews - Informativo nº 0305 - 29 de junho de 2011

POR QUE O "K" ENTRE DOIS NÓS?

Ir∴ Marco Antonio Nunes
Loja Fraternidade Catarinense nr. 9 (GOSC)


Cá entre nós com um “K” entre dois nós, num segmento da corda tão conhecida por todos os Maçons, foi o resultado de uma idéia de escolher um título para uma coluna periódica no antigo Jornal O Vigilante do GOSC. Uma coluna descompromissada com qualquer tentativa de se fazer algo erudito, de leitura leve e coloquial, onde o leitor pudesse sentir-se num mesmo plano, num estado permanente de idéias e opiniões, trocando-se confidências, e estratégias frente às realidades que afloram no nosso dia-a-dia. E tudo num ambiente de descontração, de pura franqueza, de confabulação (aqui o termo é muito propício, já que o dicionário nos diz que significa “trocar idéia a respeito de assuntos secretos” e até mesmo de conspiração. Por que não?

O Jornal O Vigilante já não mais existe, transformando-se em revista mensal e informativa dos eventos do Grande Oriente catarinense. Dessa forma, a coluna adormeceu, calou-se. Mas eis que o JB News achou por bem abrir espaço e aqui vamos tentar divulgar algumas idéias, opiniões, e, principalmente, confabular e conspirar. Com a ajuda de vocês, é claro. Para isso, é fundamental que opinem, ponham em dígitos o que os neurônios produzirem, para que possamos conspirar juntos pela causa da ética e, principalmente, dos bons costumes.

Vamos procurar ajudar no desbaste das pedras brutas que aspiram um lugar na grande obra. Vamos aperfeiçoar as que estão em processo de lapidação e acabamento e, muito importante, vamos dedicar uma atenção toda especial e redobrada com aquelas tidas como perfeitas, geralmente as que mais causam transtornos na consecução da obra.

Fonte: JBNews - Informativo nº 0305 - 29 de junho de 2011

terça-feira, 28 de junho de 2011

PROFANO OU NEÓFITO?

Ir∴ José Aparecido dos Santos
ARLS Frederico Chalbaud Biscaia – Rito Francês 
ARLS Justiça – Rito REAA – Oriente de Maringá

Em uma breve análise sobre a vida profana e a iniciação na maçonaria, cheguei a uma conclusão;

Inicio da Vida Profana: Iniciamos com uma corrida (viagem) de milhões e um somente tem a Graça de Deus de ter um local único, escuro, sem nenhum visão da vida futura e dentro do ventre materno por nove meses e tendo toda afeição e alegria daqueles que querem a sua presença entre eles.

Quando ganhamos a luz, não enxergamos e sim só vemos luz por alguns dias, sem poder decifrar o que virá no futuro, não falamos e sim tentamos balbuciar algumas palavras e sem definições, não caminhamos por vários meses e sim somos levados e carregado por aqueles que devotam amor por nós e a confiança é total naquele que nos carrega por todos os lados.

Não conhecemos e nem temos conhecimento deste ser Supremo (Deus), somos um pequeno pagão por um determinado tempo, até recebermos a luz divina de nosso Pai Maior, do nosso batizado e nos é colocado pela ação divina, ótimos mestres em nossos ensinamentos de vida profana, sendo os nossos pais, avós, que só tendem a nos dar o ensinamento de vida, nos levando a verdade absoluta, nos apresentando ao Ser Supremo (Deus), nos dando o que é bondade, benevolência, atitudes de moral humana, educação e etc.

Iniciamos a vida profana com valorosos mestres e com verdadeiros ensinamentos de vida correta, integra, tendo o crescimento pessoal, moral, intelectual e sempre pelos mestres da vida que nos conduzem para a plenitude do mundo, estes nunca nos deixam, são eternos mestres para com nós.

Inicio da Vida Maçônica: Somos escolhidos no meio de milhões de profanos, e ao sermos iniciados, ficamos de olhos vendados, sem poder ver nada por algumas horas, voltamos ao nosso interior mental, como também voltamos ao interior da terra, representando o ventre materno, depois de algumas horas, com diversas viagens que fazemos pelo interior do Templo e sempre com um mestre que nos dá todo apoio e acreditamos na segurança deste que nos leva.

Depois de muitas idas e vindas (viagens), recebemos a luz, por alguns minutos, temos a visão conturbada e sem reconhecer as pessoas que nos aguardam com alegria, amor, dedicação e nos vendo como um novo irmão que vai iniciar os seus passos e engatinhando na vida maçônica.

Da mesma forma que somos levados pelos nossos pais, avós, na vida profana, também temos excelentes mestres que tendem a nos levar para o aprendizado da maçonaria, aprendendo os passos da vida ereta e doutrinada na verdade, humildade, ser um homem integro em todos os momentos e locais.

No grau de Aprendiz, temos os nossos passos idênticos de uma criança, e nos é ensinado como fazer, como se portar dentro de um Templo e nos sendo ensinado, como devemos nos portar dentro do Templo e como devemos estar paramentados, em seguida partimos para o grau de Companheiro, já podendo mudar os passos, mas tendo que ter os mestres sempre nos apoiando e aprimorando o lado do ser humano e maçom, para que este no futuro próximo, possa dar o ensinamento ao grau de Aprendiz.

Quando temos o grau de Mestre, este sendo o ápice do Grau Simbólico, já tendo o discernimento do que deve fazer na vida maçônica e profana, para não dar maus exemplos aos que estão iniciando na Maçonaria, este pode e tem o domínio de ir para o Oriente e retornar para o Ocidente, já tem o seu lado espiritual e mental eficaz e tendo que ensinar o Aprendiz e Companheiro.

Em todo momento de vida maçônica, temos que ter em mente, que somos homens livres, de bons costumes, podendo errar, não dando continuidade nos mesmos erros, sem sermos soberbos, temos que ter a humildade, integridade, postura pessoal, crença e devoção em Deus não somente para sociedade maçônica, mas continuar na sociedade profana, que nos vê, como homens com diferencial.

É colocado que somos todos iguais, nenhum irmão é melhor que o outro, mesmo que este tenha um grau elevado de cultura e financeira, somos todos iguais não somente dentro dos Templos, mas no dia à dia de nossa vida maçônica e profana, desta forma, não devemos ser soberbos.

Desde aprendiz, companheiro, mestre e do grau 4 ao 33, todos nós estamos em franco estudo maçônico e um tem que dar um pouco de si para ensinar o outro irmão, o que é ser maçom, qual o grau do significado da vida maçônica, sendo através dos estudos, vivência entre todos nós e praticando o nosso ensinamento: “LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNINADADE”, devemos sim, retornar a Câmara de Reflexões, para um exame de consciência e alertar-se de que, na realidade, e Maçom.O diferencial do Homem Maçom, que tem que ter em mente, que todos nós somos iguais e temos que fazer para o outro o que desejamos para nós e nossos familiares, não somos somente irmão de maçonaria, mas temos que ser “AMIGOS e IRMÃOS”!! Ou “IRMÃOS e AMIGOS”?? Se não nos sentirmos como verdadeiros “AMIGOS E IRMÃOS”, qual o motivo de desejarmos em nos tornarmos “MAÇOM”!!??

Fonte: JBNews - Informativo nº 0304 - 28 de junho de 2011