Páginas

sexta-feira, 10 de junho de 2011

EXPECTATIVA

Ir∴ Augusto Azeredo Silva
Certo dia, disseram-me que nunca mais estaria sozinho. Gostei da ideia. Achei que estaria sempre cheio de amigos em volta, e que tinha a minha subsistência garantida. Já não precisava temer mais nada. Estria amparado.

O tempo foi passando. Vi que estava mais sozinho ainda! Que minha subsistência dependia unicamente do meu trabalho e deveria amparar quem precisasse. Não consegui entender o paradoxo. Sempre que solicitei fui atendido. Mas não era o que tinha entendido quando fui iniciado. Então percebi que me reeducava. Minha pedra bruta foi adquirindo contornos regulares, ângulos retos e faces lisas, cada vez mais lisas.

Com o maço e o cinzel na mão havia usado o esquadro no meu destino. Entendi o paradoxo. Não precisava dos outros para ter vida própria. Podia fazê-la! Tinha elementos para isto. Era obreiro e tinha meu salário. A luz brilhou!

Não parei mais de trabalhar dentro e fora de mim, erguendo templos às virtudes, cavando masmorras aos vícios e algemas ao crime. Compreendi o significado da escada. Comecei a interpretar o simbolismo com outros olhos. Foquei-me para sempre viver de dentro para fora e ir colocando no lugar as coisas que estavam fora, uma-a-uma.

O ritual do aprendiz tem sido bússola. Consulto-o com frequência. Tudo o que me foi prometido me é dado. E só depende de mim. Continuo a caminhada em meu ritmo. Acho que, em breve, estarei preparado para trabalhar nas coisas da Maçonaria. Tenho coisas mais importantes agora como o de usar as ferramentas da oficina em mim mesmo: esquadro, maço, prumo, nível e cinzel. Com certeza o que aprendi de bom neste ano não o aprendi nos anos de vida anteriores, no mundo.

Tenho sido mais feliz. Para as dificuldades de foro íntimo aplico as ferramentas da oficina. Já não preciso vê-las, elas estão em mim, são parte de minha construção. Percebo progresso virtuoso em meu comportamento e relacionamentos. Fico confortável. Encontrei meios de descobrir onde alavancar a solução de problemas de convivência. Aparando minhas rugosidades parto para a polidez que a Maçonaria mostra como alvo na sabedoria, virtude que conduz à vida e ao caminho de vivência elevada, que conduz a espiritualidade equilibrada. Descobri que o Grande Arquiteto do Universo nos deu o que precisamos para a missão, nem mais, nem menos... Está tudo lá! Basta usar!

O irmão que tenha parado sua caminhada certamente não entendeu o paradoxo. Está tudo dentro da pedra! Talvez porque vive a horizontal de seus egos e comete o erro lógico de buscar no ego a solução dos males produzidos pelo próprio ego. Isto é serviço de remendão! Em sua ansiedade usa camuflar a angústia existencial com ações derivadas de escapismos e artificialidade.

A Maçonaria mostra que a solução vem de cima para baixo, da vertical para a horizontal: do compasso para o esquadro, da luz emitida pela coluna da sabedoria que representa a polidez do Maçom. A pedra polida é a expectativa, ela é um dos símbolos que representam a polidez do maçom dentro da oficina. A expectativa é ver todos os símbolos que emitem a luz que vêm de cima para que a vida faça sentido; busca de paz, alegria e felicidade como fruto da verdade que liberta dos grilhões do ego.

Fonte: JBNews - Informativo nº 255 - 10.05.2011