Julis Orácio Felipe, M∴M∴
A∴R∴L∴S∴Jack Matl n 49
Or∴ Rio Negrinho – SC
A crise trouxe para o mundo um pouco mais que o desemprego e o fechamento de empresas com conseqüências sociais. Trouxe o pós-crise. Numa avassaladora determinação de amenizar os vales nos fluxos de caixa pessoais e das empresas uma pressa e um ritmo frenético instalaram-se. Até então algo normal. Para recuperarmos terreno por obstáculos inesperados corremos mais. Todavia, nesta corrida em especial está havendo um importante fenômeno, a tentativa da comoditização do ser humano, da sua robotização e especialização.
Trata-se de uma orientação de eficiência e padronização, a fim de reduzir custos e despesas. Nada mais natural em se tratando de atividades empresariais, cuja função é manter-se viva pelo lucro gerando emprego e renda. O fenômeno, que parece inofensivo e natural, trouxe uma situação acessória evidente: a desumanização.
O ser humano está deixando de viver seu dia, observar os detalhes que acompanham a sua vida, tornando-se embrutecido e beligerante.
A felicidade consiste em viver o presente em toda sua plenitude. Como disse Honoré de Balzac, em sua descomunal obra O Pai Goriot, “o parisiense não vê mais a torre Eifell”.
Não vivemos mais o nascer e o por do sol, o cantar dos pássaros pela manhã, não apreciamos a chuva, não apreciamos o dia ensolarado, não cumprimentamos as pessoas e algumas vezes até os colegas de trabalho, não observamos a arte, a poesia, enfim, não vivemos realmente e por conta disso não somos felizes e o vazio existencial instala-se.
Tal vazio conduz, numa espiral descendente, ao vício, aos maus hábitos e ao desespero, que muitas vezes culmina com o uso de drogas e com a violência. Estamos nos isolando, fechando praças, eliminando espaços de convivência e traindo com isso nosso próprio bem estar atual e futuro. Como podemos então recuperar isso? O primeiro passo é reconhecermos que estamos num frenesi desmedido, conhecendo-nos como dizia o filósofo Sócrates (nosce te ipsum – conhece a ti mesmo) e, conscientes, ajustarmos nosso comportamento pela nossa livre vontade. O segundo passo é um retorno a sacralização das coisas da natureza e seus detalhes. Conforme dito por um pensador, Deus está nos detalhes. O terceiro passo é apoiar-se na beleza, traduzida nas artes de maneira geral.
A força, a pujança e a sabedoria sem a beleza não fazem do Homem a verdadeira imagem e semelhança do Criador, porque ele não criou as coisas brutas e sim com detalhes enriquecedores. Deus não foi utilitarista, se tivesse sido, não seria Deus.
É um momento difícil que passa a humanidade, mas pode tornar-se ainda mais difícil se o Homem esquecer definitivamente que é uma centelha do espírito divino.
Fonte: JBNews - Informativo nº 299 - 23.06.2011
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