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terça-feira, 23 de março de 2021

COLUNAS ZODIACAIS

COLUNAS ZODIACAIS
(republicado)

Pergunta apresentada em 30/08/2011 pelo Respeitável Irmão Laurindo Gutierrez, Loja Regeneração 3ª – Grande Oriente do Paraná - COMAB, Rito Escocês Antigo e Aceito, Oriente de Londrina, Estado do Paraná.
laurindo@sercomtel.com.br 

Quero desde já fazer uma pergunta ao Bro. Juk, em sua nova coluna. Aqui está: As 12 Colunas do Zodíaco fincadas nas Lojas brasileiras não existem em Loja alguma no mundo. Por que adotamos as Colunas, por invencionice ou por desconhecimento?

CONSIDERAÇÕES:

Essa afirmativa de que “não existem em Loja alguma no mundo” me parece um pouco precipitada.

Ocorre que todo o arcabouço simbólico do Rito Escocês Antigo e Aceito na Loja Simbólica viria ocorrer paulatinamente a partir do segundo quartel do Século XIX, já que o primeiro ritual do simbolismo no Rito em questão viria aparecer por ocasião da fundação da Grande Loja Geral Escocesa em 1.804, em solo francês, sob a égide do Grande Oriente da França, cuja data também revela o primeiro ritual do Rito, já que o mesmo originalmente somente era praticado do Grau quatro para cima, enquanto que os três primeiros graus eram praticados nas Lojas Azuis do Rito de York (americano).

Somente após a fundação do Segundo Supremo Conselho na França, já que o primeiro fora fundado nos Estados Unidos da América do Norte em 1.801, é que houve a preocupação de se redigir um ritual específico para o simbolismo escocês. Bem esse não é o mote da questão, todavia cabe aqui como introdução no tema.

Para que haja melhor compreensão, há que se considerar que existem praticamente dois sistemas de Maçonaria no mundo – o inglês e o francês (corrente anglo-saxônica e latina).

Nesse sentido, embora o objetivo seja o mesmo, os sistemas doutrinários se diferem. No caso do Rito Escocês Antigo e Aceito, filho espiritual da Maçonaria francesa, esse adota um contexto mais Deísta do que Teísta e assim associa a transformação do “Homem” como matéria prima elementar do Especulativo e da Maçonaria Moderna, aos ciclos transitórios da Natureza.

Por assim serem, as Colunas Zodiacais são elementos fundamentais para a explicação desse apólogo natural. 

Ao bem da verdade, as colunas em si não são tão importantes sob o ponto de vista decorativo, porém o que elas verdadeiramente representam ao indicarem a revolução anual do Sol e os seus ciclos produtivos das estações do ano - emblemas alusivos às constelações pelos quais o Sol passa e se alinha (sob o ponto de vista da Terra) no tempo e espaço de um ano. 

Esse grupo de constelações e suas faixas correspondentes recebe o nome de Zodíaco e aqui nada tem a ver com adivinhações e previsões astrológicas. 

Pela maior e menor inclinação no plano de órbita, o Planeta Terra se desloca no espaço (translação) por um período que determinamos de um ano e aí se produz as ocasiões por nós conhecidas como as quatro estações do ano, ou os ciclos da Natureza. 

Esse movimento produz a sua renovação, ápice e morte a cada período completado. Fora dessa observação humana básica que se originariam os cultos solares da antiguidade como elemento fundamental e embrionário da grande maioria das religiões terrenas. 

Associado ao movimento anual do Sol, concomitante está à alegoria maçônica que trata do “nascimento, juventude, maturidade e morte” expressada na lição moral de renovação (a morte do profano e o renascimento para a Luz) cíclica proposta na Iniciação e complementada nos dois outros graus imediatamente subsequentes do aperfeiçoamento humano – Primavera, Verão (Aprendiz e Companheiro), Outono e Inverno (Companheiro e Mestre), ou infância, juventude, maturidade e morte. 

Toda essa alegoria simbólica está geograficamente em consonância com Hemisfério Norte, berço da Maçonaria. 

As Colunas Zodiacais colocadas no topo do Norte e do Sul em um Templo do simbolismo escocês, nunca no Oriente, divididas em grupos de três (meses), representam as estações terrenas que simbolicamente se constituem nas etapas da vida humana. 

Partindo do Norte, próximo ao primeiro Vigilante o primeiro grupo (Aries, Touro e Gêmeos) associam-se à Primavera no Hemisfério Norte (renovação da Natureza, ressureição após o império das trevas do Inverno); o segundo grupo (Câncer, Leão e Virgem) o Verão; o terceiro grupo, já no Sul (Libra, Escorpião e Sagitário) o Outono e por fim o quarto grupo (Capricórnio, Aquário e Peixes) o Inverno. Obviamente, essas constelações e alinhamentos em Maçonaria não se constituem em doutrina astrológica que venha exarar, ou possa influenciar a vida humana propondo previsões futurólogas, adivinhações e outras coisas do gênero. Sob a óptica do ecletismo maçônico, a alegoria dos ciclos naturais também está associada à observação humana ao longo dos tempos que agregou esse alinhamento sol–constelação, às etapas da Natureza – calor e frio; noites e dias mais longos ou mais curtos; dias e noites iguais em sua duração, etc. (solstícios e equinócios). 

Na Maçonaria Operativa, por exemplo, esses ciclos se constituíam nas épocas propícias, próprias ou impróprias para a elevação das obras e o corte das pedras. 

Há que se observar que as luzes dos candelabros colocadas sobre o Altar ocupado pelo Venerável e mesas ocupadas pelos Vigilantes, em grupos de três, representam três desses ciclos, ou nove meses, enquanto que as outras três, inexistentes, constituem-se no inverno e a morte do Sol, alegoria básica na Lenda do Terceiro Grau. 

Por aí se vai e esta é a razão de que na doutrina maçônica francesa do Rito Escocês, seus Templos (o melhor seria sala da Loja) possuem simbolismo e elementos característicos que tem elo com esse misticismo. 

Daí o espaço do canteiro (Loja) conter as Colunas Vestibulares no átrio indicando a passagem dos trópicos de Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul; um eixo imaginário (equador) que divide o espaço em dois hemisférios – Colunas do Norte e do Sul; abóbada decorada com o firmamento visto a partir do Hemisfério Norte, dentre outros. Nesse significado, as doze Colunas que o mano se refere estarem “fincadas” (sic), significam exatamente a senda iniciática que deve ser cumprida pelo Obreiro que morre para renascer (Câmara de Reflexão), recebe a Luz tênue e principia a sua jornada como neófito (néo=novo; fiton=planta), justamente no equinócio de primavera (Aries) no hemisfério Norte, passa pelo Meio-Dia (sul) até que, ao final do ciclo, se reportando a sua vida na terra, ele chegue ao Inverno (morte – meia-noite). 

O renascimento da nova vida proposto pela Moderna Maçonaria está todo implícito nessa importante alegoria, já que a imortalidade da vida apresenta-se simbolizada pelas obras deixadas pelo Homem em sua passagem terrena, pois, se queres aproveitar bem a vida, pensai na morte – a semente que cair no chão e não morrer estará fadado ao esquecimento, porém aquela que morrer, certamente reviverá, produzindo bons frutos para permanecer para sempre na mente dos pósteros. 

Como se pode notar existe toda uma articulação iniciática em torno dos símbolos e alegorias, já que em Maçonaria eles falam por si. 

Ainda na questão das Colunas Zodiacais, elas não são obrigatórias, desde que acima da frisa que determina o limite da abóbada com as paredes boreal e austral estejam simetricamente representadas às constelações zodiacais, isto é, os símbolos do zodíaco estariam pintados na base da abóbada, sem que assim houvesse a urgente necessidade de colocação das respectivas Colunas. 

An passant, devo salientar que é muito rara a explicação e a exegese dessa rica simbologia e alegoria. 

Quando muito, se tem lido certas bobagens como a de que as “colunas zodiacais servem para sustentar a abóbada”. 

Ora, essa é uma interpretação leviana, equivocada e irresponsável. 

Se muitos pseudo-ritualistas compreendessem melhor essas nuances nunca estariam divulgando em certos rituais de vertente francesa que o lugar do Aprendiz recém-iniciado é no topo da Coluna do Norte na banda mais próxima da grade do Oriente. Isso não é verdade, pois o seu caminho iniciático verdadeiramente se inicia no topo sim, porém próximo ao Primeiro Vigilante. À medida da sua evolução é que ele vai caminhando pelo Norte até próximo à grade. 

Posteriormente ele cruza para o Sul (Companheiro) e retoma sua jornada pelo topo do Sul até o Ocidente quando dali ele vai ao eixo do Templo (equador) e morre para renascer no Oriente. Já no sistema inglês isso não ocorre, pois nem mesmo existem as Colunas Zodiacais nem decoração da abóbada. 

Para os ingleses a alegoria iniciática relembra o período operativo, já que nesse sistema os Aprendizes sentam na primeira fileira do Norte, pois era no canto nordeste da Obra que se colocava a pedra angular, ou marco inicial para o esquadrejamento da construção. 

Note a inexistência de balaustrada nos Trabalhos Ingleses. 

É isso aí Mano. Minhas escusas por ter me alongado, todavia o tema é apaixonante e merece um mínimo de consideração. Prefiro ser extenso e explicar, a ficar divulgando como muitos por aí o fazem acreditando que os nossos Templos são uma espécie de arquétipo ou estereótipo do Templo de Jerusalém, esquecendo esses e aqueloutros que a Sala da Loja é o espaço representativo e simbólico dos canteiros medievais onde no operativo a pedra era o elemento primário, porém agora, no especulativo, somos nós, os Homens, que substituímos a pedra calcária.*

Um Fraterno Abraço 

PEDRO JUK jukirm@hotmail.com AGOSTO/2011
*direitos autorais resguardados.
Fonte: JB News – Informativo nr. 370 Florianópolis (SC) – sábado, 02 de Setembro de 2011.

Um comentário:

  1. Fiquei engrandecido com a instrução que há muito me perguntava. Carecemos da compreensão da profundidade simbólica e esotérica que oferece nosso templo e nosso ritual. Obrigado pela excelente contribuição para mais conhecimentos, poderoso irmão. TFA

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