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sábado, 18 de novembro de 2023

AO DELTA OU AO VENERÁVEL?

Espedicto Ortega
E ritualística a saudação ao cruzar o eixo da Loja? A quem, saúda, o Venerável (?) ou o Delta Luminoso? Se resposta houvesse, esta poderia ser a de que “Não existe eixo da loja e sim a hipotética linha do Equador”. Se o eixo existe, teria de ser no sentido norte-sul ligando os dois polos pois o piso da oficina se configuraria como a superfície da terra. Ao que se saiba nem na Europa nem nos EEUU se saúda coisa alguma nessa linha central o que tira a condição de se dizer que a saudação pertence ao Rito Escocês Antigo e Aceito. No entanto, existindo esse uso no Brasil ele tem de ter norma ritualística. Assim, é apenas de se lamentar que o nosso ritual (GLESP) seja omisso quanto a quem se deva saudar, se ao Venerável Mestre, ou – como apregoam alguns autores – ao Delta Luminoso. Baseado na ortodoxia maçônica da Grande Loja Unida da Inglaterra onde não existe o delta Sagrado, lá, na iniciação, a exemplo daqui, a saudação é feita ao Venerável Mestre não quando do giro no cruzamento do Esquadro da Loja, mas sim na entrada ritualística, ensinamento esse que é feito de imediato após a iniciação (lá não se gira, se esquadreja). Aliás é lógico que a saudação não seja feita a figura do Venerável e sim a aquilo que ele evoca, qual seja a luz do Saber no Homem como Extensão já que o seu Princípio se supõe divino.

O fato da saudação não poder ser ao Delta é justificável por não haver o sentido cultural religioso numa sessão maçônica. O valor de um símbolo da Onipresença Divina, é poder representar Estar em Deus em todo lugar em  mesmo tempo. O Olho que tudo Vê, é o símbolo dessa evocação, e não pode ser confundido com a figura de um totem, que particulariza a presença de um Deus em lugar específico numa também específica ocasião.

Dizer que o Delta luminoso representa a presença do Grande Arquiteto do Universo na Loja, seria o mesmo que retirar desse símbolo o seu simples “Evocar” transformando-o num tótem, símbolo místico que (voltamos a repetir) particulariza a presença de Deus ou Deuses, em um específico lugar uma específica ocasião. Isto como orientação ritualística redundaria em duplo erro: primeiro pela falsa interpretação e segundo, pela indução a outros de errarem.

O nosso Ritual não é um Culto Místico Religioso e sim um Culto Simbólico Místico Evocativo, invalidando a afirmação de que o Delta representa a presença específica de Deus no Templo. A representação da Onipresença como um atributo de Deus e aceita como verdade, quer Deisticamente pela Razão, ou Teisticamente pela Fé, onde Deus intrinsecamente está em tudo, pode ser evocada pelo “Olho que tudo vê”.

Este é um símbolo de origem Hinduista quando dentro de um triângulo ou Egipciano, quando, exposto como um olho livre = Olho de Isis. Veio para a nossa Ordem pela vertente francesa. O que não se pode é adotar a interpretação acima pelo Delta hebraico com Yod no centro, um símbolo provindo da vertente inglesa. O Tetragrama tenta mostrar Deus como Princípio e Extensão da Obra manifestada. Junto, estes símbolos chocam-se pela providência porém, filosoficamente equivalem-se, numa visão Panteísta.

Na primeira instrução de Aprendiz, (Ritual da GLESP), em se prestando bastante atenção, verificar-se-á que nós somos ao mesmo tempo, o Aprendiz, a Pedra Bruta, o Venerável, o 1º e o 2º Vigilantes e estamos trabalhando em nós mesmos. 

Da maneira antológica, no que saudamos o Venerável Mestre, estamos nos saudando pela posse e continuidade da Luz que Evocamos. 

Numa visão do Humanismo, em colocação “antropocêntrica”, imagina-se que, se existe Criação é porque existe o Criador. Uma grandiosa Obra da Criação, o Sol tem a Luz imanente em si mesmo. A Luz é uma prova complementar da existência dessa luz pelo seu “refletir e não pela sua criação e posse”.

A consciência do Homem, por analogia, do que foi dito entre o Sol e a Lua, é o reflexo da existência de Deus e da sua divina Luz de onde emana a Sabedoria. Na alegoria existente na Loja, se estendermos uma linha ligando o Sol à Luz teremos uma horizontal. Se ligarmos o Olho do Delta (Deus, uma Idéia abstrata) à figura do Venerável (o Homem – figura concreta), teremos não somente uma vertical ativa fecundando uma horizontal passiva (eterno dual da Obra manifestada), como completaremos uma Cruz dentro de um maravilhoso simbolismo onde a Idéia se transforma em realidade, nela se manifestando o saber de Deus através do Homem.

O Cartesiano “Penso, Logo Existo” mostrará que quem tem essa Luz é somente o Homem, a maior Obra do Criador. Eis uma razão bem forte para a saudação ser o Venerável naquilo que ele EVOCA, a Luz da Sabedoria cujo princípio provém do Alto e do qual somente o Homem aqui em baixo, tem consciência e é dela sua continuidade.

Meditemos!

 Ir∴ Espedicto Ortega – ARLS Delta do Limão 445 – São Paulo – Revista O Painel/Agosto 98, p. 29.

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