Páginas

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A REPÚBLICA, COMO FOI PROCLAMADA

(republicação)
Hercule Spoladore –
Loja de Pesquisas Maçônicas “Brasil”

As causas principais que levaram o Império a cair foram:

Abolição dos Escravos com a expropriação dos donos de escravos que não receberam a indenização do investimento financeiro que haviam feito.

Centralismo econômico-financeiro, o qual era normal enquanto a Província do Rio de Janeiro era o guindaste da economia nacional, tendo como base a plantação de café. Porem, com o enfraquecimento dos seus solos, e quando as outras Províncias começaram a produzir, principalmente São Paulo passaram a exigir outro tratamento por parte Imperador o qual sempre se negou a atender os seus interesses, centralizando tudo no Rio de Janeiro, quando a realidade nacional já era bem outra.

Militares. Emergentes da Guerra do Paraguai tornaram-se indisciplinados e poderosos. Apareceu uma geração de altos oficiais que foram promovidos de forma rápida e que começaram a ocupar os espaços dos velhos marechais e outras oficialidades e entre eles os de Caxias e Osório já falecidos.

Esta nova geração, esquecendo seus postos de soldados, começou a protestar e criticar tudo e ainda se imiscuir em problemas da nação que não lhes dizia respeito. Começaram os jovens oficiais a se pronunciar contra o poder civil abertamente. As escolas militares passaram a politizar demais seus alunos constando em seus currículos alem das teorias de guerra, que eram absolutamente necessárias na formação dos soldados, ensinavam positivismo, neo-sociologismo e outras idéias avançadas. Não resta dúvidas, que a constante escaramuça entre o poder militar e o poder civil, especialmente contra o Ministério da Guerra sempre sob o comando de um civil, e em permanente regime de confronto, não havendo habilidade para tratar os militares, punindo-os, quando em certas situações as soluções poderiam ser mais políticas.

Alem destes fatores haviam outros de menor importância, como a Questão Religiosa , a possível ascensão ao poder do Conde D’Eu( maçom), esposo da beata Princesa Isabel, não muito apreciado pelos brasileiros, além da economia obsoleta e estagnada do Império quando a situação internacional exigia novos modelos econômicos. Já estávamos em plena era industrial

E não podemos deixar de mencionar a participação e luta dos republicanos, que desde o Manifesto de 1870 estavam difundindo a nova doutrina. A quase totalidade dos republicanos eram maçons e estes se não foram os responsáveis diretos, pelos menos fizeram a diferença nos últimos estertores da monarquia decadente. Houve a participação de maçons e não da Maçonaria.

Estava preparado o palco dos acontecimentos.

No dia 07/06/1889 tornou-se chefe do 36º Gabinete do 2° Império, o monarquista convicto, Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto (iniciado na “Loja Amizade” – São Paulo) que trazia um programa mais liberal de governo tais como extensão do direito de voto, maior autonomia municipal, casamento civil e liberdade de cultos.

Ouro Preto estava firme na proposição de impedir o movimento dos republicanos através de algumas reformas e também combater a indisciplina militar.

Como a Câmara dos Deputados não aceitou o plano de reformas imposto pelo Gabinete Liberal, esta foi dissolvida no dia 17/06, sendo convocada novamente somente em 20/11.

Entre as várias causas que estavam alimentando uma provável conspiração, esta veio agravar ainda mais.

Os conspiradores militares desde o final de Outubro de 1889, estavam se articulando e ao mesmo tempo entrando em confronto com o Gabinete Ministerial, sempre em função das suas rusgas com o dito Ministério, cujo titular era o visconde de Ouro Preto.

Não esqueçamos que apesar do grande poder do Imperador, o Brasil era governado por uma monarquia constitucional.

O maçom e positivista Benjamin Constant era para ser o líder do levante. Mas ele próprio admitia que era necessário para ocupar este cargo um militar de carreira e que Deodoro reunia todas qualidades que resumiam a angustia, o protesto dos militares.

No dia 04/11, o maçom Deodoro da Fonseca (iniciado na Loja “Rocha Negra“ São Gabriel RS e pertenceu posteriormente à Loja “02 de Dezembro” – Rio de Janeiro), apesar de doente, pois tinha uma dispnéia que o perseguia há tempos de origem cardíaca, inclusive com edema das extremidades, tendo que se acamar com freqüência, recebeu em sua residência, um grupo de oficiais e estes disseram a Deodoro que Ouro Preto pretendia reorganizar a extinta Guarda Nacional e fortalecer a Polícia no Rio para fazer frente ao Exército.

Deodoro teria comentado que só mudando a forma de governo e ao mesmo tempo deu o seu aval o grupo para conseguir mais adeptos.

Estes procuraram entre os civis da causa republicana os maçons Quintino Bocaiuva, Aristides Lobo e em São Paulo, Manoel Ferraz de Campos Sales, também maçom e que pôs ao par da provável sedição, todos os republicanos paulistas.

Só que os civis falavam de República e os militares ainda falavam na queda do Gabinete de Ouro Preto, que os perseguia.

Tanto é verdade que no dia 09/11, enquanto a Monarquia se deliciava em seu famoso e último baile na Ilha Fiscal, com convite para 4.500 pessoas, o Clube Militar se reunia e ninguém pronunciou o termo república. O próprio Benjamin Constant não disse o “nome”. Em seu discurso para mais de cem militares, foi enfático, afirmando solenemente que se dentro de um prazo de oito dias não fosse resgatada a honra castrense, ou seja, a honra militar, iria para a as ruas quebrar a espada e derramar sangue.

No dia 10/11 já havia sido decidido na residência de Benjamin Constant, que o Império seria derrubado, numa reunião na qual participaram Quintino Bocaiúva, Campos Salles, Francisco Glicéreo e Aristides Lobo que no dia seguinte estariam presentes em outra reunião na casa de Deodoro.

Somente no dia 11/11 foi falado abertamente com Deodoro sobre a República. Deodoro relutou muito, pois respeitava muito D.Pedro II. Tiveram que usar de toda a persuasão possível para convence-lo. Mas mesmo assim ele talvez pensasse apenas em derrubar o Gabinete Ouro Preto.

Quando Bocaiúva, Rui Barbosa, Aristides Lobo Campos Sales, Frederico Solon Sampaio Ribeiro Francisco Glicério chegaram a residência de Deodoro, encontraram lá o almirante Eduardo Wandenkolk (maçom) que foi o primeiro oficial da Marinha a aderir à conspiração.

Benjamin Constant também presente foi muito transparente quando afirmou que seria necessário proclamar a República. Deodoro ouviu a todos e referiu ser muito amigo do Imperador. Ainda Benjamin disse do seu receio à respeito de Floriano Peixoto(maçom), que era então ajudante-general do gabinete ministerial. Deodoro acalmou os presentes afirmando que na hora exata, Floriano estaria do lado dos militares.

Entretanto de qualquer forma Floriano era uma figura enigmática e seu comportamento até a deposição do Gabinete foi um tanto ambíguo, pelo menos aparentemente.

No dia 14/11 o major Frederico Solon Sampaio Ribeiro, maçom, saiu do Campo da Aclimação, deslocando o 9º Batalhão de Cavalaria e 2º Regimento de Artilharia para o da Praia Vermelha.

Ele era de opinião que o levante deveria ocorrer imediatamente, porem o tenente coronel Benjamin Constant, líder dos cadetes da Escola Militar, não achava prudente, porque haviam muitos oficiais que ainda não estavam convencidos.

Solon estava desesperado porque tinha em mãos, os dois melhores regimentos, os mais preparados e engajados contra o Governo de Ouro Preto e estes estavam sendo transferidos para um local mais distante.

Solon achava que a revolução se diluiria se os regimentos fossem transferidos para a Praia Vermelha. Foi aí que teve uma idéia bastante original.

Espalhou o boato por todo o Rio de Janeiro que o Governo ordenara a prisão de Deodoro e Benjamin Constant e que vários regimentos estavam sendo deslocados para o interior do país e quem manteria a ordem seria a Guarda Negra, fundada pelo vereador, maçom José do Patrocínio, grande abolicionista, porem fiel à Princesa Isabel. Esta guarda era composta de capoeiristas, considerados na época maus elementos e até de alguns bandidos e como tal não se dava bem com os republicanos. Interessantes são os caminhos da História , eis que no dia da Proclamação da República, Patrocínio aderiu à mesma.

No dia 14/11 chegou às mãos do Ministro da Guerra, uma carta de Floriano onde ele referia que “que tramam algo”, mas que isso não tinha importância porque conhecia a fidelidade dos chefes.

Ouro Preto que já tinha percebido há muito tempo que alguma coisa estava prestes a acontecer, reuniu o seu Gabinete neste mesmo dia. Seu Ministro da Guerra, o visconde de Maracajú ( Rufino Enéias Gustavo Galvão), afirmou que a ordem pública seria mantida que qualquer forma. Ouro Preto quis saber do envolvimento de Deodoro e lhe foi respondido que nada constava contra Deodoro, o qual inclusive achava-se enfermo.

Nestas alturas o boato espalhado por Solon já estava surtindo os seus efeitos.

Neste dia Benjamin Constant, vindo da casa de Deodoro, encontrou-se com Aristides Lobo e Francisco Glicério. Ele estava desanimado com o estado de saúde de Deodoro, inclusive achando até que este viesse a falecer. Eles não sabiam que o boato estava tomando corpo.

A notícia da prisão eminente dos correligionários chegou aos ouvidos de Quintino Bocaiúva e este mandou saber no Clube Naval, onde se achava Benjamin Constant se tudo estava bem com ele. O mensageiro voltou dizendo que sim, e que o levante havia sido adiado para o dia l7/11. Quintino Bocaiúva assustou-se com a perspectiva de adiamento, procurou o major Solon e os dois deliberaram que apesar da doença de Deodoro, a sorte da sedição estava em jogo e marcaram para o dia 15 onde jogariam tudo ou nada. Sim, no dia 15 de Novembro, sexta-feira.

Uma vez estando tudo definido, necessário se torna , analisar alguns pontos.

A Proclamação da República acabou acontecendo em meio a uma série de trapalhadas, desencontros entre os lideres, confusões, boatos e com Deodoro relutante até o fim quanto à proclamação de um novo regime ou não, já que ele era monarquista e estava indeciso, e ainda a República aconteceu praticamente sem derramamento de sangue.

As tropas rebeladas estavam em São Cristóvão, nos quartéis e na Escola Militar. O marechal Deodoro que havia passado o dia na casa de seu irmão recuperando-se, voltou à sua residência, um sobrado no Campo de Santana.

Ouro Preto, estava em sua residência próxima a Estação São Francisco quando foi avisado da revolta, mais ou menos um pouco antes da meia-noite do dia 14. Em seguida dirige-se a Secretaria de Polícia. Ouro Preto teve a desdita de perceber que a resistência aos sediciosos não havia começado ainda. O Ajudante-General Floriano Peixoto apresentou novamente um comportamento um tanto estranho e incoerente.

Floriano soubera da sublevação da 1ª Brigada através do capitão Godolfin, que viera lhe falar em nome do tenente coronel João Batista da Silva Telles e não o pendera. Alegou para Ouro Preto que se o prendesse, logo o saberiam, e poderiam ataca-los militarmente.

Ouro Preto convoca imediatamente uma reunião ministerial e manda um telegrama à D.Pedro II relatando o ocorrido, o qual só é recebido pela manhã do dia 15. Este, continua a sua rotina normal, escreveu seus dois sonetos diários, praticamente não tomando conhecimento.

Floriano vai para Quartel General no Campo de Santana. Lá recebe o tenente coronel Silva Teles, comandante da 2ª Brigada, limitando-se a aconselha-lo a ter cuidado a não se precipitar e referiu ao mesmo que gostaria de falar com Deodoro e Benjamin Constant.

Ouro Preto por sugestão de seu Ministro da Guerra, visconde de Maracajú se transfere com todo o Ministério para o Quartel General, chegando lá mais ou menos às 7 horas.

Seguindo os acontecimentos, os Oficiais da 2ª Brigada, acharam por bem avisar a Benjamin Constant que a revolução estava em andamento, uma vez que ele, pensava que ela seria deflagrada somente no domingo, dia 17. Ele foi acordado de madrugada.

Benjamin Constant, enviou seu cunhado, o capitão Bittencourt Costa a casa de Deodoro, avisa-lo, e juntamente com seu irmão carnal major Botelho de Magalhães, foram sublevar os cadetes da Escola Militar na Praia Vermelha.

Deodoro, estava dormindo, pensou ser uma cilada do Governo levantou-se com extrema dificuldade, sob os protestos de sua esposa, e só depois de saber pelo mensageiro que fora Benjamin Constant que o estava informando, fardou-se, colocou um revolver no bolso, colocou os arreios de sua montaria em um saco de lona, não levou a espada por não poder suportar o seu peso, tomou um tilburi e seguiu para São Cristóvão.

Constant chegou antes de Deodoro e dirigiu-se à Escola Superior de Guerra onde foi verificar se tudo estava pronto. Todos os cadetes já estavam em armas. Os três Regimentos da 2ª Brigada, também.

Então iniciou-se a famosa marcha que derrubaria o 2º Império.

O únicos civis a seguirem com os sediciosos, que se tem notícia, foram o maçom Quintino Bocaiúva e o cidadão Antônio Rodrigues Campos Sobrinho, funcionário público que “engajou” no 2° Regimento de Artilharia.

Na frente das tropas, marchou o 1º Regimento de Cavalaria, comandado pelo tenente-coronel João Batista da Silva Telles. Logo atrás, dois pelotões da Escola Superior de Guerra, liderados pelo tenente Pedro Paulino da Fonseca. A seguir o 2º Regimento com 16 canhões comandados pelo major João Carlos Lobo Botelho.

Fechando este contingente, vinha o 9º Regimento de Cavalaria, comandado pelo major Solon Sampaio Ribeiro. O regimento marchou a pé, por falta de eqüinos, porem trazia munições em carroças atrás da tropa. Estavam trazendo carabinas Winchester, as quais eram munições novas no Exército e os soldados ainda não estavam treinados suficientemente para usa-las.

As forças reuniam em torno de 450 praças e 50 Oficiais, mais os cadetes, perfazendo mais ou menos um total de 600 homens. A maioria dos soldados, mal armados, não sabia que estavam marchando para derrubar a monarquia. Ainda para piorar, a oficialidade que estava junto com as tropas, era de média patente. Os comandantes na sua maioria eram monarquistas e não estavam presentes.

Vendo que com aquele contingente, os revoltosos não iriam muito longe, Benjamin Constant, o cérebro da revolução, mandou o tenente Lauro Müller(Loja “Dois de Dezembro” Rio de Janeiro e “Acácia Itajaiense” SC) ir a casa de Deodoro para saber onde ele estava. Deodoro já estava a caminho, e encontrando os revoltosos mais a frente, a altura do Gasômetro do Mangue ainda dentro do tílburi, foi aplaudido freneticamente por toda a tropa.

O velho marechal ordenou que a tropa continuasse avançando e com muita dificuldade saiu da condução em que estava e montou num cavalo.

Quando chegou à saida da Rua Visconde de Itauna que vai dar no Campo de Santana, encontrou as forças da Marinha e da Polícia, prontas para dar combate aos sublevados.

Quando as duas frentes se encontraram, houve hesitação por parte das forças fiéis ao Império, disso se aproveitando Deodoro com muita autoridade e habilidade. “Então não me prestam continência?” Marinheiros e policiais em resposta apresentaram as armas. Graças a astúcia, liderança e respeito que tinham por Deodoro, a revolta ganhava aí a primeira parte da luta, sem disparar um tiro sequer.

Entretanto, dentro do Quartel General estavam 2000 soldados, bem armados.

Apesar de ter um contingente de soldados bem maior e bem mais equipado que os revoltosos, segundo o Barão de Ladário ( José da Costa Azevedo), estas tropas não eram confiáveis.

Ouro Preto, vendo um destacamento avançado e fazendo reconhecimentos, comandados pelo capitão Godolfin e mais oito soldados e que ninguém foi prende-los, achou muito estranho, e fala com Floriano, o 2º em comando no Ministério e este não tomou qualquer providência. Acabou ordenando ao general José de Almeida Barreto ( maçom), que fosse capturar o referido destacamento. Este se havia comprometido dias antes com os sediciosos, porem na última hora ficou do lado de Ouro Preto.

Interessante que o general simulou que prenderia os soldados mas não o fez, e ainda ficou hesitante relutando em colocar suas tropas sob o comando de Deodoro. Refere a História que Deodoro usou um xingamento de baixo calão contra Almeida Barreto naquele momento.

Dentro do Quartel General todos estavam nervosos, porem Floriano permanecia impassível, aparentando calma.

A situação continuou sem definição até as oito horas da manhã do dia 15, quando então Deodoro coloca suas tropas em frente aos portões do quartel, e enviou o tenente-coronel João Batista da Silva Teles para levar um recado à Floriano, dizendo que queria conferenciar. Floriano com seu estado maior montados em cavalos sai para palestrar com Deodoro.

Neste momento o barão de Ladário vindo em direção à Deodoro, salta de um cupê ministerial da Marinha, de revolver em punho atira em direção de Deodoro, errando o alvo. Atira de novo, e também não acerta. Neste momento os tenentes Müller e Adolfo Pena atiraram em Ladário, ferindo-o e acertando um dos tiros na região glútea. A pedido de Deodoro, não mataram o barão. Este foi o único sangue derramado na Proclamação de nossa República. Por sinal o barão de Ladario foi o único membro do governo que enfrentou as tropas rebeldes. Se o barão de Ladário tivesse matado Deodoro, não se pode prever quais seriam as conseqüências.

No interior do Quartel General, Ouro Preto, quis fazer valer sua última chance, ordenando a Floriano que enviasse um destacamento e tomasse à baioneta os canhões( “bocas de fogo”) de Deodoro, dizendo que no Paraguai os soldados brasileiros haviam se apoderado da artilharia paraguaia em piores condições. Floriano respondeu: “Sim, mas as bocas do Paraguai eram inimigas e que aquelas que V. Excia está vendo, são brasileiras e eu sou antes de tudo um soldado da nação”.

Neste momento, Ouro Preto viu que estava tudo perdido.

Restava aos sediciosos entrarem no Quartel General e isso foi facilitado por um mais um sobrinho militar de Deodoro, o capitão Pedro Paulo da Fonseca Galvão que estava lá dentro. Referem que Deodoro ao entrar naquele reduto, teria dito “Viva Sua Majestade, o Imperador”.

Apesar de muitos republicanos desmentirem, o alferes Cândido Rondon presente ao ato, que o Brasil haveria de conhecer seus feitos indianistas futuros, afirmou que ele realmente pronunciou tal frase.
Deodoro logo após entrar conversou de forma íntima com Floriano e foi convidado a subir até o 1º andar, onde estava o Chefe de Gabinete a ser deposto.

Deodoro, ao chegar lá, cumprimentou seu primo, o visconde de Maracajú, Ministro da Guerra e após um silêncio natural que acontece nestes momentos, disse a Ouro Preto: “Vossa Excelência e seus colegas estão demitidos por haver perseguido o Exército”

Estando assim demitido todo o ministério, com Ouro Preto e Cândido de Oliveira, Ministro da Justiça, considerados presos e seriam deportados. Entretanto, Deodoro se referiu a D.Pedro II da seguinte maneira: “quanto ao Imperador tem a minha dedicação, sou seu amigo, devo-lhe favores, seus direitos serão respeitados e garantidos”. Referiu também que enviaria uma lista com nomes do novo ministério.

Concluído o fato, Deodoro, desceu para se regozijar e confraternizar junto às tropas e os civis republicanos que se aglomeravam no Campo de Santana.

O capitão Antonio Adolfo Menna Barreto deu tantos “vivas” à República que até teve um mal súbito, perdendo os sentidos. Entretanto em nenhum momento, Deodoro proclamou de peito aberto, a República. Após um tenente ter notado este fato e dito à Benjamin Constant, este disse em voz baixa a Deodoro que aquele momento, era a hora certa de dize-lo. Deodoro mandou tranqüilizar o tenente, alegando que a “nossa causa triunfou” e que se deixasse para o povo esta manifestação.

O major Solon notou que a derribada da monarquia não estava a contento, teria dito a Deodoro que só embainharia a espada se ele proclamasse a república.

Os amigos de Deodoro afirmam que nesta hora ele teria dado “vivas” ao novo regime, mas não se comprovou.

A seguir, Deodoro diante de suas tropas com Quintino Bocaiúva, cavalgando ao seu lado, tomaram o rumo do centro da cidade; Benjamin Constant e Aristides Lobo, foram à pé.

O povo, atônito, e até assustado não sabia o que estava se passando.

Nestas alturas, os sintomas do seu problema cardíaco estavam se agravando, uma provável insuficiência cardíaca congestiva, ele mal podia manter-se ereto na montaria, ainda assim quis ir até o Arsenal da Marinha para conferir “in loco” se tudo estava em ordem. Uma vez constatando que tudo estava bem, dirigiu-se até sua casa e acamou-se imediatamente.

Mais ou menos às treze horas, isto é no inicio da tarde, se para os militares tudo estava resolvido e a honra militar havia sido resgatada, para os republicanos, a situação não estava muito transparente, pois até parecia que o movimento estava derrotado.

D.Pedro retornou ao Rio de Janeiro, vindo de Petrópolis, por cerca das quinze horas, dirigindo-se ao seu palácio.

Nesta mesma hora, percorrendo as ruas da cidade, Benjamin Constant, futuramente considerado o Pai da República, o articulador, o republicano por excelência achava muito estranho tudo o que estava acontecendo. Encontrando com o jornalista republicano Anibal Falcão, incitou que ele imediatamente agitasse o povo, alegando que a República ainda não estava proclamada.

Falcão juntou-se aos republicanos Pardal Mallet e Silva Jardim e se dirigiram a Câmara Municipal. Procuraram o vereador monarquista José do Patrocínio, até então detestado pelos republicanos, mas que neste dia ele fez a sua profissão de fé republicana, e na condição de vereador mais jovem convocou uma sessão da Câmara imediatamente.

Os republicanos arregimentaram as pessoas que puderam e na Câmara foi referendada uma moção que Aníbal Falcão havia escrito.

O povo reunido isto é, mais ou menos cerca de 100 pessoas ouviu a aprovação da Câmara a moção “ O povo reunido em massa na Câmara Municipal, fez a proclamação da República na forma lei ainda vigente, pelo vereador mais moço, após a revolução que aboliu a monarquia do Brasil, o governo republicano”.

A moção ainda referia para quem de direito proclamasse a República de fato.

Foi feito um abaixo assinado representando o povo do Rio de Janeiro. De posse deste documento, os manifestantes foram se postar em frente à casa de Deodoro.

Deodoro, por estar se sentindo mal, foi representado por Benjamin Constant (sempre ele), que da sacada do sobrado onde Deodoro morava afirmou ao grupo que um Governo Provisório convocaria uma Assembléia Constituinte para que a nação pudesse deliberar definitivamente a respeito de uma nova forma de governo.

Esta vacilação de Constant talvez se devesse ao fato dele ser um homem pacifista, positivista de longa data e possivelmente não quisesse que o Exército tivesse um papel tão importante na administração de um novo regime, preferindo que uma Constituinte decidisse sobre como seria um novo regime.

Entretanto, graças às atitudes de tomadas a seguir por D.Pedro II e pelo visconde Ouro Preto, o regime escolhido acabou mesmo sendo a República.

D.Pedro chegando ao Rio logo que se instalou no seu palácio aceitou com relutância a demissão de Ouro Preto e concordou com nome indicado para substitui-lo, o senador Gaspar Silveira Martins( maçom, grau 33 Ex-Grão-Mestre do Grande Oriente do Passeio). O senador gaúcho estava fora do Rio, só chegaria no dia 17. Isto tornaria mais caótica ainda a situação, pois o país estava em plena vigência uma revolução, e alem do mais, o senador Gaspar era inimigo antigo e declarado de Deodoro. Detestavam-se, simplesmente.

Já era quase noite, quando Deodoro ficou sabendo que o senador Gaspar tinha sido indicado para a vaga de Ouro Preto. Esta foi a gota d’água para a decisão final de Deodoro.

Não se tem provas cabais que o senador tenha sido realmente indicado para chefiar o Gabinete por indicação do Imperador. Há uma outra versão, a qual talvez seja a mais provável que tenha acontecido, como sendo uma estratégia de Benjamin Constant, que quando percebeu a hesitação de Deodoro, inclusive podendo pôr tudo a perder, teria usado o nome do senador Gaspar Martins como provável futuro chefe de Gabinete, fato este que Deodoro jamais toleraria. Eram inimigos há muito tempo.

D.Pedro II foi persuadido a nomear outro político, o maçom e Conselheiro José Antônio Saraiva.

Saraiva enviou através do capitão Roberto Trompowisky uma carta à Deodoro, porem este disse ao capitão: “Já é tarde, a República está feita e os principais culpados são o conde D’Eu visconde de Ouro Preto. O último por perseguir os militares e o primeiro por consentir nesta perseguição”.

Como vimos o prestígio, a liderança a confiabilidade num líder como todo o Exército teve em Deodoro, naquele dado momento de nossa História, foi o maior em todos os tempos que um líder já teve neste país.

Ele proclamou a República na hora que achou melhor, porem poderia permitir a constituição de um novo Gabinete com continuidade da monarquia se assim ele o quisesse. Isto significa que naquele dia, naquela hora, ele tinha a liderança total de um povo nas suas mãos, fato este que desde então jamais foi registrado no Brasil. Liderança total.

Mas não esqueçamos que Benjamin Constant, foi o maestro, foi o articulador o homem que cuidou de todos os detalhes, por menores que fossem, que ele cuidou de improviso de acertar todos os erros que seus companheiros cometeram de última hora, que ainda teve o vislumbre de achar que o Exército, deveria passar a parte política administrativa à civis, enfim foi o homem certo na hora certa, podendo os brasileiros com toda razão, chama-lo de o Pai da República.

Sabendo que o soldado puro Deodoro era uma Pedra Bruta em matéria de política, sempre esteve ao seu lado para lapida-lo com conselhos e orientações e também para protege-lo.

Agora com a anuência total de Deodoro em se instituir a República, Aristides Lobo, Francisco Glicério e Benjamin Constant se reuniram para instituir o governo republicano e preparar os primeiros decretos. O primeiro Gabinete do Governo Provisório foi constituído somente por republicanos maçons.

No dia seguinte, ou seja dia 16, num sábado Deodoro ordenou que a Família Real fosse deportada e enviou o major Solon para comunica-los. O major Solon, ficou todo embaraçado com o peso da decisão dos revoltosos que levava ao ex-monarca, tratando-o de Vossa Excelência, Alteza, Majestade e ainda após dar-lhe a notícia, solicitou licença para se retirar.

O maçom, grau 33, e coronel João Francisco da Costa, foi encarregado de vigiar e proteger a Família Real até que esta partisse para o exílio.

E assim terminou o longo reinado de D.Pedro II, sem que seus barões, condes e viscondes, protegidos e toda aristocracia o preservassem ou defendessem. Ressalte-se que dentro desta aristocracia existiam muitos maçons sérios, que eram opositores aos maçons republicanos.

O número dois está em realce, o famoso número dos contrários. Haviam pois, maçons republicanos e monarquistas.

Está certo que foi um golpe militar, mas talvez o próprio povo foi conivente, pois não admitia que o maçom Conde D'Eu, apesar de príncipe consorte, seria o governante de fato, já que o Imperador velho e doente, com uma diabetes progressiva, não teria muito tempo de vida.

Mas o Império caiu porque, em realidade, o país estava antiquado e exaurido economicamente e já não tinha condições de oferecer uma perspectiva melhor, especialmente no sentido de aumentar a liberdade e o direito dos cidadãos. Foi a última monarquia da América do Sul a ruir.

Entretanto, ressalte-se que alguns bons amigos da Família Real, como o Barão e a Baronesa de Loreto, seu médico particular, o Conde Mota Maia, o Barão e a Baronesa de Muritiba alem do engenheiro abolicionista André Rebouças o acompanharam espontaneamente na viagem pelo vapor “Alagoas” para a Europa sem que tivessem sido presos ou deportados.

Foi triste o acaso do monarca. Talvez, D.Pedro II merecesse melhor sorte. E o povo que tanto o amava, facilmente o esqueceu.

Tivemos um paranaense participando ativamente dos eventos da Proclamação da República.

Ele talvez foi o maior militar por seus feitos, que o Paraná já teve na sua História. Não só pela participação na Proclamação da República em si, mas sim pela sua conduta como soldado e artilheiro na Revolução Federalista que ocorreria daí há 4 anos.

Trata-se do então jovem José Cândido da Silva Muricy que um dia seria general e que estava cursando a Escola Superior de Guerra na Praia Vermelha no Rio de Janeiro como cadete por ocasião dos eventos da Proclamação da República.

Republicano e de total confiança de seus superiores tomou parte em algumas reuniões onde foram detalhados os planos da derrubada da Monarquia e foi um dos elementos de ligação, que transmitia as ordens aos diversos corpos da guarnição e na Escola Militar.

Ele foi um dos soldados que marcharam junto com a tropa para o Campo de Santana no dia 15/11. Incorporou-se à coluna do capitão Hermes da Fonseca (maçom), sobrinho de Deodoro, que lhe emprestou a espada e estava portando naquele momento uma clavina Comblain . Estas duas armas o acompanhariam por toda a sua vida, como recordação.

Ele foi iniciado na Loja “Ganganelli” – Rio de Janeiro e teve posteriormente destacada atuação na maçonaria paranaense.

BIBLIOGRAFIA
Castellani, José “A Maçonaria e o Movimento Republicano Brasileiro” Traço Editora – São Paulo – 1989
Castellani, José “Os Maçons que fizeram a História do Brasil” Editora A Gazeta Maçônica – São Paulo- sem data
Prober, Kurt “Achegas para a História da Maçonaria no Brasil” São Paulo, 1968
Kurt, Prober “Catálogos dos Selos Maçônicos Brasileiros” Paquetá –Rio de Janeiro, 1984
Machado,Manoel L. “Sangue e Bravura” (romance histórico). Oficinas Gráficas da Penitenciária do Paraná – Curitiba, 1944
Martins, Romário “História do Paraná” Editora Rumo Limitada – Curitiba - 1939
Vernalha Milton Miró “Do Império à República” Editora Litero Técnica – Curitiba – 1989
Grande Enciclopédia Delta Larousse
Dicionário-Histórico-Biográfico do Estado do Paraná Editora “Livraria do Chain” Banestado– Curitiba – 1991
Revista “A Trolha” nº 228 – Outubro 2005 – Artigo “Campos Salles, Um Maçom Ilustre” – Autor:Mario Name

PRINCIPAIS MAÇONS REPUBLICANOS HISTÓRICOS QUE TIVERAM PARTICIPAÇÃO DIRETA NA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Américo Brasiliensi de Almeida Melo ( Lojas “Amizade” e “América” - São . Paulo)
Américo Brasilio de Campos ( Lojas “Amizade” e ”América” - São Paulo)
Antonio da Silva Jardim ( Loja “América” - São Paulo)
Aristides da Silva Lobo (não se sabe onde foi iniciado)
Benjamin Constant de Marques Botelho( não se sabe onde foi iniciado)
Bernardino José de Campos ( Lojas “Amizade” - São Paulo – “Trabalho” -. de Amparo e“ Independência ” – Campinas -SP
Carlos de Campos (Loja “Trabalho” de Amparo – SP)
Demétrio Ribeiro (não se sabe onde foi iniciado)
Eduardo Wandelkolk (Loja “Esperança” Rio de Janeiro -RJ)
Fernando Prestes de Albuquerque (Loja “Firmeza” - “Itapetininga” SP)
Francisco Glicério de Cerqueira Leite (Lojas “Independência” - . . . . Campinas SP e “Piratininga” São Paulo .
Francisco Quirino dos Santos (não se sabe onde foi iniciado)
Francisco Rangel Pestana (Lojas “Amizade” e “América” - São Paulo)
Hermes Rodrigues da Fonseca (Loja “Ganganelli” - Rio de Janeiro)
João Tibiriçá Piratininga (Loja “Beneficência Ituana” - Itú- SP)
Joaquim Saldanha Marinho (Grão-Mestre do Grande Oriente dos Beneditinos)
Jorge Tibiriçá (Loja “Amizade” - São Paulo)
José Luiz Flaquer (Loja “América”- São Paulo)
José Gomes Pinheiro Machado (Lojas “América”-São Paulo, “Harmonia . Cruzaltense” - Cruz Alta – RS, “Luz e Fraternidade” – . Santa Maria –RS e “Luz da Serra” – Santo  Angelo -RS
José Maria Lisboa (Loja “Amizade” - São Paulo)
Julio Cesar Ferreira Mesquita (Loja “Amizade” - São Paulo)
Lauro Nina Sodré e Silva (Loja “Harmonia” - Belem – PA.)
Luiz Gama (Loja “América” - São Paulo)
Manoel Ferraz de Campos Salles (Loja “Fraternidade Campineira” - . . Campinas SP. filiado à Loja . . . “Independência” – Campinas - SP . . . . fundador da Loja “Sete de . .. . Setembro” – São Paulo
Manoel de Moraes Barros (Loja “Beneficência Ituana”- Itú, SP e .. fundador da Loja “Piracicaba” – Piracicaba SP
Martinico do Prado (Martinho Prado Jr.) ( Lojas “Amizade” e “América” -. São Paulo)
Nilo Procopio Peçanha (Loja “Ganganelli”- Rio de Janeiro)
Pedro de Toledo (Lojas “Piratininga” e “Amizade” - São Paulo)
Prudente José de Moraes Barros ( possivelmente iniciado na Loja “7 de
. “Setembro pertenceu a Loja “Beneficência
Ituana” - Itú e fundador da Loja “Piracicaba”-SP) .
Quintino de Souza Ferreira Bocaiúva ( Loja “Amizade” - São Paulo Lojas . . “Segredo” e “Comércio” GOU Rio de Janeiro)
Solon Sampaio Ribeiro, major( Loja “Amparo à Virtude”- Rio de Janeiro)
Venâncio Aires ( Lojas “Firmeza” – Itapetininga –SP e “Luz da Serra”- . Santo Angelo RS.)
Ubaldino do Amaral Fontoura- paranaense- ( Lojas “Perseverança III”
e “Constância” – Sorocaba SP e “América” - São Paulo)
 
Tivemos republicanos de última hora, ou últimos dias, como José Carlos do Patrocínio (Loja “União” e Tranqüilidade nº02 – Rio de Janeiro), Rui Barbosa( Loja “América” – São Paulo) Floriano Peixoto ( Loja “Perfeita Amizade”- Maceió- AL ) o próprio Marechal Deodoro da Fonseca (Loja “Rocha Negra” São Gabriel – RS e posteriormente Grão-Mestre do GOB).

Estes foram envolvidos pelas contingências e o fizeram por livre e espontânea vontade e não como a maioria quase que absoluta dos monarquistas, inclusive maçons, que se tornaram republicanos por conveniência, de uma hora para outra engajando-se como puderam no novo regime, sempre tentando tirar proveito próprio.

Um comentário: