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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A PRANCHETA

A PRANCHETA
Ir∴ Hercule Spoladore

É uma das três jóias fixas ou imóveis de uma loja que aparece no painel simbólico de cada rito. Sabemos que as outras duas são a Pedra Bruta que corresponde ao aprendiz e a Pedra Cúbica que corresponde ao companheiro.

A Prancheta é um símbolo que pertence ao Mestre tem diferentes nomes conforme o Rito, mas trata-se do mesmo símbolo, com o mesmo significado.

Trata-se de um símbolo que aparece nos painéis dos Ritos REAA, Rito Brasileiro e Rito Adonhiramita em seus rituais do primeiro e segundo graus, mesmo sendo um símbolo do Mestre. No REAA ela tem o nome de Prancheta.

No Rito Adonhiramita no ritual do segundo grau nas instruções aparece com o nome de Pedra de Riscar, fazendo-se alusões às três pedras, bruta, cúbica e a de riscar.

No Rito Moderno ou Francês no ritual do terceiro grau em suas instruções é citada como Pedra de Traçar.

O Rito de Schröder possui em seu Tapete ou seu painel simbólico, o qual é único para os três graus, a 47ª Proposição de Euclides que é considerada simbolicamente no Rito como a Prancheta. Segundo instruções do Rito o Venerável Mestre de uma Loja Operativa preparava os planos através da Prancheta que era usada na Inglaterra antes de 1723 e que segundo os mentores atuais do Rito era baseada por analogia na famosa proposição citada. Referências sobre a Prancheta existem nos rituais dos graus um e três do Rito.

No Rito de Schröder o ritual do terceiro grau o Venerável pergunta: Onde trabalham os Mestres?
Resposta: Na Prancheta para com a Régua da Verdade, o Esquadro do Direito e o Compasso da Obrigação executarem seus projetos.

Simbolicamente na Prancheta, ou Prancha a traçar, os mestres gravam ou traçam os planos estabelecidos, bem como as lições para os aprendizes e companheiros. Gravar ou traçar quer dizer escrever. No Rito de Schröder a Prancheta não traz como no REAA a chave do alfabeto maçônico.

A Prancheta ou Prancha a traçar, ou seus sinônimos em outros Ritos aparece no painel simbólico do grau de aprendiz e de companheiro ao alto onde se observa um retângulo no qual figuram dois sinais. 

Em loja, o símbolo deve estar no Oriente feito de madeira ou outro material em cima de um cavalete ou adaptado em um local à direita de quem está sentado nas cadeiras do Oriente. Ele é um retângulo que representa uma prancha de desenhar, traçar ou gravar na qual, está inserido dois sinais, uma cruz quádrupla (quatro cruzes latinas cristãs) constituídas por duas paralelas cruzadas, símbolo do limitado e também daquilo que homem pode realizar e também uma cruz de ângulos opostos pelos vértices símbolo das díadas e também do infinito. Esta cruz é em forma de X (xis) também é conhecida como cruz de Santo André. Esta cruz para os maçons esotéricos simboliza a união a união do mundo superior com o mundo inferior.

A cruz tem este nome porque segundo a história, Santo André teria sido supliciado numa cruz com esta forma.

A Prancheta é um símbolo que como tal, significa que os mestres simbolicamente guiam os aprendizes e companheiros na sua caminhada, traçando os trajetos a serem percorridos por estes para que progridam na Maçonaria.

A Prancheta apesar de ser um símbolo do mestre, aparece no painel simbólico do aprendiz e do companheiro e também dentro da loja como símbolo no Oriente devendo o aprendiz e companheiro apenas tomar conhecimento da sua função, ou seja, simbolicamente saber que são ensinados e instruídos pelos Mestres através da Prancheta.

Este símbolo também contém a chave do alfabeto maçônico, o qual todos os maçons deveriam conhecê-lo e usa-lo. A cruz representada por duas paralelas cruzadas dá as posições das primeiras dezoito letras e a cruz em X dá a posição das quatro últimas letras.

Todas as letras do alfabeto maçônico têm a forma de esquadro, o qual se relaciona com a matéria não sendo visto o círculo que é o símbolo do espírito, o qual não aparece no alfabeto maçônico, isto segundo Boucher que afirma que o espírito é invisível e desta maneira o maçom se vê convidado a se libertar da letra para abordar o espírito.

Esta descrição tem valor para o REEA, que emprestou do Trabalho de Emulação (Emulation Working) que é o nome correto usado na Inglaterra e não Rito de York como se costuma erradamente a chamá-lo aqui no Brasil. Não existe Rito de York na Inglaterra. Existe sim, o Rito de York, mas este é americano. Os demais ritos simplesmente copiaram o painel do REAA, o qual copiou do painel do Trabalho de Emulação.

Castellani considera a Prancheta como Tábua de Delinear (tracing board) e seria para ele no REAA todo o painel do grau no REAA, igual ao Trabalho de Emulação.

Entretanto, outros autores acham que somente o símbolo Prancheta constante do painel simbólico e a sua representação física no oriente seria a Prancheta em si e não Tábua de Delinear. A tradução de prancheta do inglês para o português segundo Anatoli Oliynik seria clip board e não tracing board.

Será descrito a seguir como é a Tábua de Delinear no Trabalho de Emulação, fazendo-se algumas comparações necessárias com os demais ritos.

A Tábua de Delinear (Tracing Board) é todo o seu painel com os símbolos inseridos nele.

Já no REEA no Brasil, algumas potências adotam o painel simbólico e o alegórico.

O painel alegórico do REAA é cópia da Tábua de Delinear do Trabalho de Emulação.

Todavia, é no painel simbólico do REEA e não no alegórico que aparece a Prancheta.

O Painel do Trabalho de Emulação que é chamado de Tábua de Delinear ou tracing board é um todo e não apenas um símbolo isolado como nos demais ritos onde este é mostrado como um retângulo onde estão gravadas as já citadas duas cruzes. A Tábua de Delinear é, portanto, todo o painel no Trabalho de Emulação.

A Tábua de Delinear dos ingleses serviu de modelo para o REAA acrescentar como um dos seus símbolos constantes do Painel do primeiro e segundo graus a Prancheta. Aliás, diga-se de passagem, que o REEA copiou praticamente toda a Tábua de Delinear do Emulação com exceção de alguns símbolos que foram acrescentados e outros retirados, e hoje é conhecido como painel alegórico no REAA.

Escritores de renome na Maçonaria, não esclareceram bem este detalhe.

Este assunto ainda não está bem elucidado.

Deixaram os leitores confusos, tratando ambos os símbolos como se fossem a mesma coisa, ou seja, Prancheta e a Tábua de Delinear e a realidade não é bem essa. Castellani não deu a interpretação correta. Ele considerava a Prancheta e a Tábua de Delinear como a mesma coisa.

Será escolhida a descrição da Tábua de Delinear (Tracing Board) na linguagem da forma de trabalhar da maçonaria inglesa no Trabalho de Emulação em razão de todos os ritos menos o de Schröder terem copiado e adaptado os primeiros painéis os quais foram todos oriundos do Trabalho de Emulação.

Ele mostra simbolicamente todo o interior de uma loja.

A Tábua de Delinear representa a forma de uma loja que é a de um paralelepípedo com comprimento que vai de leste a oeste e largura de norte a sul. A altura até os céus. As lojas estão situadas do oriente para o ocidente.

Aparece o Sol a Lua e as sete estrelas. A forma da Lua neste rito é a de lua cheia e não quarto crescente como nos demais ritos.

As três grandes colunas que sustentam a loja representam Salomão, Hiran, rei de Tiro e Hiran Abif, respectivamente Sabedoria Força e Beleza, sendo as colunas pela ordem Jônica, Dórica e Coríntia. Estas colunas têm as suas miniaturas expostas nos Pedestais do 1º Vigilante, a Dórica, e do 2º Vigilante a Coríntia, fazendo parte da ritualística do grau. No pedestal do Venerável não há uma coluneta representando a Sabedoria

O Círculo com um ponto central gravado no móvel que está suportando o Volume da Lei Sagrada (Bíblia) em cima do qual está representada a Escada de Jacó, a qual tem muitos degraus, tantos quantos forem as virtudes morais necessárias a serem alcançadas pelo maçom no seu progresso na Ordem, mas as três virtudes principais são a Fé, Esperança e Caridade, representadas por uma cruz, um cálice e uma âncora e em cima da Escada de Jacó uma estrela de sete pontas.

O interior de uma loja é composto de ornamentos, mobiliário e jóias.

Os ornamentos de uma loja são: Pavimento Mosaico, a Estrela Brilhante e a Moldura Denteada ou marchetada.

Os mobiliários da loja são: o Livro das Sagradas Escrituras (Bíblia), o Compasso e o Esquadro.

As jóias são: três móveis e três imóveis ou fixas. As jóias móveis são o Esquadro, Nível e o Prumo.

As imóveis ou fixas são a Tábua de Delinear (eis aqui citada novamente como mais um símbolo dentro do painel) a Pedra Bruta e a Pedra Esquadrada (No REAA é a Pedra Cúbica)

Percebe-se que os ingleses repetem no painel a Tábua de Delinear como uma das jóias imóveis. Mas a Tábua de Delinear é também todo o painel conforme já foi citado, Mas como símbolo representando umas das três jóias imóveis permanece ao lado da Pedra Bruta e da Esquadrada que elas ficam expostas para que os aprendizes e companheiros nela se instruam.

Aparecem ainda a Régua de 24 polegadas, o Escôpro ou Cinzel e o Maço, que são os instrumentos de trabalho do aprendiz neste rito ou trabalho.

Ainda resta comentar um símbolo desconhecido em outros ritos e que se chama Lewis que seria um símbolo triangular, uma espécie de luva de ferro em secções com cunhas ajustáveis e expansíveis, utilizadas para engatar e auxiliar grandes levantamentos. Seria uma ferramenta que levanta grandes pesos com pouca força.

Este termo ainda é usado para o filho de maçom, conhecido no Brasil como lowton.

Pendentes nos quatro cantos da loja estão as Borlas que lembram as quatro virtudes cardeais: Temperança, Firmeza, Prudência e Justiça.

A localização da Tábua de Delinear como jóia imóvel no Trabalho de Emulação está segundo Castellani situada na parte sudoeste do templo à frente do segundo diácono (júnior deacon) o qual está próximo à parede ocidental e não no Oriente como em alguns dos demais ritos.

A Grande Loja Unida da Inglaterra, não está mais usando a Tábua de Traçar desenhada no século XIX pelo Irmão John Harris desenhado especialmente para a “Emulation Lodge of Improvement”; Hoje ela usa a Tabua de Delinear pintada pelo Irmão Esmond Jefferies.

Houve algumas modificações em relação à Tabua de Delinear de Harris.

As colunas mudaram de posição A dórica permaneceu no local em que estava, mas ela deve ficar na mesma linha de perspectiva à esquerda da coluna jônica. Por isso a posição da jônica mudou. A coluna coríntia esta agora à direita isolada.

Na Escada de Jacó, os símbolos da cruz, cálice e âncoras foram substituídos por anjos e a estrela de sete pontas foi substituída por uma estrela muito brilhante.

Foi colocada uma estatua do Rei Hiran sobre a coluna dórica, uma estátua do Rei Salomão sobre a coluna jônica e uma estátua de Hiran Abif em cima da coluna coríntia.

O Pavimento de Mosaico representado no Painel é agora como um tabuleiro de xadrez e não em diagonal como no REAA

Este e é o painel que consta do Emulation Ritual publicado pela Lewis Masonic Publishers Ltd. uma das editoras autorizadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra.

A Prancheta como símbolo faz parte de todos os Ritos e não se chama Tábua de Delinear, nome este que é somente usado pelo Trabalho de Emulação, quando se trata da descrição de todo o painel. Mas dentro do próprio painel do Trabalho de Emulação existe como símbolo a Tabua de Delinear que deveria charmar-se clip board e seria o correspondente à Prancheta, pois o simbolismo é o mesmo. De qualquer forma, tirando estas pequenas diferenças entre os Ritos, ela é um símbolo do Mestre, significando que ele escreve nela os caminhos, os conceitos, os princípios e ensina a ética a serem seguidos pelos Companheiros e Aprendizes.

Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Maçônicas “Brasil" - Londrina-PR
REFERÊNCIAS
BOUCHER, J. A Simbólica Maçônica
. Editora Pensamento – 9ª ed.
. São Paulo, 1993

CASTELLANI. J. Consultório Maçônico IV e V
Editora Maçônica ”A Trolha” Ltda.
. Londrina, 1994 e 1997

NICOLA. A. . Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. . Editora Arte Nova –
. São Paulo, 1975

OLIYNIK, A. Emulação (História, Ritualística e Rituais)
Ed. Gráficas Vicentina
Curitiba, 2004
PIRES. J.S. O Suposto Rito de York e outros Estudos
Editora Maçônica “A Trolha”.
Londrina, 2000

VAROLI T.Fº Curso de Maçonaria Simbólica
II tomo – Ed. Gazeta Maçônica
São Paulo, 1976

Revista “A Trolha” nº 148 – 02/1999

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