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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

MAÇONARIA - UM OLHAR SOBRE O PASSADO

MAÇONARIA - UM OLHAR SOBRE O PASSADO

 "O passado é um caminho por onde o presente corre para alcançar o futuro". (I.J. Viégas)

Estabelecer as origens da Maçonaria é tarefa ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil, se admitirmos que desde o instante em que o homem fixou entre os seus anseios o da liberdade do altruísmo, aí repousa o traço de luz inspiradora dos primeiros Iniciados. Difícil, se quisermos estabelecer uma data e um local certos para o seu surgimento. (Marcelo Caracas Linhares in História da Maçonaria).

Na China milenar, os mais antigos dos livros já exaltavam o valor simbólico do Compasso e do Esquadro.

No Egito, o sacerdote ensinava as ciências e as artes; aos Iniciados era dado o saber da construção e os artesãos trabalhavam sob suas ordens sem o direito a qualquer iniciativa.

Hiparco nos dá conta de que a ciência dos Assírios era mais adiantada do que a do tempo em que ele vivia.
 
Pitágoras, quatrocentos anos antes de Cristo, expunha aos seus discípulos a teoria heliocêntrica. Aristóteles já ensinava a forma esferoidal da Terra. No decorrer da história das diversas idades do mundo, os "Mistérios" abraçavam todos os conhecimentos morais e científicos. De onde vieram os Mistérios? Da lendária Atlântida ou da Grande Pirâmide? De Atlântida ainda pouco sabemos e da Grande Pirâmide podemos inferir usando o que nos deixou o profeta Isaias, no Cap.19 versículo 19 "Naquele dia o Senhor terá um altar no meio da terra do Egito, e uma coluna se erguerá ao Senhor na sua fronteira".

Na antiga Pérsia, alguns sábios - persas, caldeus e hebreus estabeleceram uma instituição mística denominada de Magos.

A instituição dos Magos tinha por objetivo não só conservar secretos os vestígios das artes e das ciências dos tempos primitivos, mas também a formação de um dogma religioso, que sem atemorizar os espíritos fracos, pudesse conter a força bruta dos primeiros homens.

Para que a instituição dos Magos pudesse conservar as tradições intelectuais e doutrinárias de uma ciência secreta, nasceu a necessidade da criação de certos símbolos que eram transmitidos aos Iniciados, na medida dos seus conhecimentos. Dessa maneira os Magos com os conhecimentos científicos de que eram depositários, souberam bem governar, atravessando milênios, transmitindo a Palavra Sagrada com que se reconheciam nas suas assembléias místicas.

Assim, de Iniciação em Iniciação, os Mistérios dos Magos foram sendo transmitidos até que há cerca de 5.000 anos, antes da nossa era, chegaram à Índia.

O homem deixara de ser nômade, tomando-se sedentário e formando uma Sociedade estratificada. Surgiram os profissionais dedicados à arte da construção, os quais foram se aperfeiçoando, não só no levantamento de casas de residências, mas, também, na de Templos, de obras públicas e obras de arte. Embora tivessem entre si, certa camaradagem e um sentimento de agregação, não havia uma organização que os reunisse, que regulasse a sua atividade e que lhes desse um maior sentido de responsabilidade profissional.

Foi no Império Romano do Ocidente, da Roma conquistadora, que em função da própria atividade bélica, surgiu, no século VI a.C. a primeira associação organizada de construtores, os COLLEGIA FABRORUM.

Como a conquista das vastas regiões da Europa, da Ásia e do norte da África, levava à destruição, os COLLEGIA TI acompanhavam as legiões romanas, para reconstruir o que fosse sendo destruído pela guerra.

Essa organização era dotada de forte caráter religioso e dava ao trabalho, a maneira sagrada de um culto às divindades.

Na idade Média é que iria florescer, através do poder da Igreja, a hoje chamada Maçonaria Operativa, ou Maçonaria de Oficio, para a preservação da Arte Real entre os mestres construtores da Europa.

As associações monásticas, formadas principalmente por clérigos, a partir do século VI, dominavam o segredo da "Arte de Construir" que ficou restrito aos Conventos, quando a Europa estava em ruínas, graças às constantes invasões dos bárbaros, e, quando as guerras, os roubos e os saques eram frequentes e até encarados como fatos normais, os artistas e arquitetos encontraram refúgio seguro nos Conventos.

Posteriormente, pela necessidade de expansão, os frades construtores começaram a preparar e adestrar os leigos, proporcionando, a partir do século X, a organização das Confrarias Leigas, que embora formadas por leigos, recebiam forte influência do clero, do qual haviam aprendido a arte de construir e o cunho religioso dado ao trabalho.

É dessa época aquela que é considerada a primeira reunião organizada de operários construtores: a Convenção de York, ocorrida em 926 e convocada por Edwin, filho do Rei Athelstan para reparar os prejuízos que as associações tiveram com as sucessivas guerras de invasões. Nessa reunião foi apresentado para apreciação e aprovação, um estatuto, que, dali em diante deveria servir como lei suprema da confraria e que é, geralmente, chamada de Carta de York.

A partir do século XII aparecem as associações religiosas que formam corpos profissionais: as Guildas. A elas se deve o primeiro documento em que é mencionada a palavra "LOJA", para designar uma corporação e o seu local de trabalho. As Guildas e sua contemporânea, as organizações dos Ofícios Francos, foram as principais precursoras da moderna Maçonaria. O nome "GILD" de origem teutônica, deriva do título dado, na antiga região da Escandinávia, a um ágape religioso, durante o qual, numa cerimônia especial, eram despejados três copos de chifres conforme o uso da época, cheios de cerveja, sendo um em homenagem aos deuses, outro, pelos antigos heróis, e o último em homenagem aos parentes e em memória dos amigos mortos; ao final da cerimônia, todos os participantes juravam defender uns aos outros, como irmãos, socorrendo-se mutuamente nos momentos difíceis.

As Guildas caracterizavam-se por três finalidades principais: auxílio mútuo, reuniões em banquetes e atuação por reformas políticas e sociais. A Igreja não via com bons olhos a prática do banquete das Guildas, por suas origens pagãs e a pretensão de reformas políticas e sociais, que pudessem, eventualmente, contribuir para diminuir os seus privilégios. Assim, para evitar a hostilidade da Igreja, cada Guilda era organizada sob a proteção de um monarca ou sob o nome de um santo protetor.

No século XII apareceu também outra organização de operários alemães, os STEINMETZEN, ou seja, canteiros, trabalhadores, ou esquadrejadores de pedra, os quais, sob a direção de ERWIN DE ESEINBACH, alcançariam notoriedade quando conseguiram a aprovação de seus planos para a construção da catedral de Estrasburgo e deu um novo sentido de organização aos seus obreiros.

Também no século XII iria florescer a associação considerada a mais importante desse período operativo, os Ofícios Francos ou Franco-Maçonaria, formados por artesãos privilegiados, com liberdade de locomoção e isentos das obrigações e impostos reais, feudais e eclesiásticos. Era uma organização de construtores categorizados, diferentes dos operários servos, que ficavam presos a uma mesma região e a um mesmo feudo à disposição de seus senhores.

Na Idade Média a palavra Franco designava não só o que era livre, em oposição ao que era servil, mas, também todos os indivíduos e todos os bens que escapavam aos direitos senhoriais. Esses artesãos privilegiados eram, então, os pedreiros-livres, franco-maçons, para os franceses, ou freemasons, para os ingleses. Esse privilégio era concedido pela Igreja, que era o maior poder político da época, com grande ascendência sobre os governantes.

No século XIII, em 1220, era fundada na Inglaterra, durante o reinado de Henrique III, uma corporação de pedreiros de Londres que tomou o nome de THE ROL Y CRAFT AND FELLOWSIP OF MASONS, ou seja, Santa Arte e Associação dos Pedreiros e que segundo alguns autores, seria o germe da moderna Maçonaria.

Em 1275 houve a convenção de Estrasburgo, convocada por ERWIN DE STEINBAC mestre dos canteiros, para terminar a construção da obra do Templo que fora iniciada em 1015 e precisava ser ampliado. A essa convenção ocorreram os mais famosos arquitetos da Inglaterra da Alemanha e da Itália que criaram uma Loja, para as assembleias e discussão sobre o andamento dos trabalhos e elegeram ER WIN como mestre da Cátedra. Essa Loja era para tratar apenas dos assuntos da construção.

Para outras reuniões, inclusive com obreiros de outras corporações, eram utilizados os recintos de tabernas e hospedarias, principalmente no solo inglês.

A palavra Loja, designava para os artesãos, o lugar da exposição de seus trabalhos e de suas mercadorias. Para os pedreiros, Loja era o local, de trabalho, o que hoje é para nós, numa construção, o canteiro de obras.

No século XIV começava, também a atuação do COMPAGNONNAGE (companheirismo) criado pelos Cavaleiros Templários.

No século XVI, as corporações passaram a sofrer perseguições - principalmente por parte do clero - e diante da evolução social européia, começavam a entrar em declínio. Em 1535 realizava-se em Colônia, uma convenção que fora convocada para refutar as calúnias dirigidas pelo clero contra os Franco Maçons. Essa assembléia não teve o mesmo brilho das anteriores.

Consta, embora essa afirmativa seja contestada, que nessa assembléia teria sido redigido um manifesto onde era estabelecido o principio de patentes que seriam introduzidos por questões políticas.

Em 1539, o rei da França, Francisco I, revogava os privilégios concedidos aos Francos - Maçons, abolindo as Guildas e demais fraternidades e regulamentando as corporações de artesãos.

Em 1548 era concedido aos operários construtores, de maneira geral, o livre exercício de sua profissão, em toda Inglaterra; um ano depois, por exigência de Londres, era cassada a autorização concedida.

Em 1558, ao assumir o trono da Inglaterra, a rainha Elisabeth I, renovava uma ordenação de 1425 o que proibia qualquer assembleia ilegal sob pena de ser considerada rebelião.

Mesmo com a proibição, três anos depois, em 1561, os Franco-Maçons ingleses anunciaram a realização de uma convenção em YORK, durante a festividade de São João Evangelista. Elisabeth ordenou a dissolução da assembleia, decretando a prisão de todos os presentes a ela; a ordem só não foi confirmada porque o lorde Thomas Sackville, adepto da arte da construção, estando presente, demoveu a rainha de seu intento, fazendo com que em 1562, ela revogasse a ordenação de 1425.

Em 1563, a Convenção de Basiléia, feita por iniciativa da Confraria de Estrasburgo, organizava um código para os Franco Maçons alemães.

Iniciava-se a transformação da• Confraria. As corporações passaram a admitir pessoas selecionadas entre os homens conhecidos pelos seus dotes culturais, pelo talento e pela condição aristocrática que poderiam dar projeção à confraria submetendo-se, todavia, aos seus regulamentos. Era a tentativa de sustar o visível declínio da Confraria dos pedreiros livres.

Por que a nossa confraria passou a ser chamada de Maçonaria?

No idioma francês, a palavra "Maçon" é o designativo do homem que trabalha na construção de casas, templos, muros, etc. Usando para isso, pedras, tijolos, argamassa e outros produtos, é o pedreiro. Posteriormente, os franceses passaram a usar a palavra "Maison" designando uma nobre residência o que para nós é uma Mansão.

O pesquisador alemão Lessing atribui a palavra inglesa "Masonry" (Maçonaria) a um engano de interpretação. Existia um velho termo inglês "MASE" que significa "Missa", reunião à mesa. Uma tal sociedade de mesa ou reW1ião de comensais, poderia ser encontrada em Londres, no século XVII, nos moldes dos Cavaleiros da Távola Redonda, do Rei Artur. Essa sociedade se reunia nas proximidades da Catedral de São Paulo, quando Sir Christofher Wren, o construtor da Catedral, tornou-se membro desse círculo, julgou-se que se tratava de uma sociedade dos construtores, que estabelecia uma ligação de mestres construtores e obreiros; dessa suposição é que teria se originado o termo "Masonry", para designar a Sociedade dos Construtores.

Nessa fase primitiva, quando não existiam as hoje chamadas Lojas, não se podia falar em Maçonaria, no sendo que ela adquiriu na fase moderna e não era considerada como uma sociedade secreta.

O segredo não era mais que o processo pelo qual um dos membros da irmandade reconhecia o outro e esse segredo é o que persiste até hoje.

Com o passar do tempo, o mundo ia se modernizando. Surgia uma nova maneira de construir. O estilo Gótico, eleito pela Renascença.

A estrutura ogival das abóbadas - próprias da arte dos Franco- Maçons medievais - que tinham as características da arte greco romana estava ultrapassada. Era notado o declínio da Confraria dos Franco-Maçons.

A Franco-Maçonaria perdendo o seu objetivo inicial e transformando-se em sociedade de auxílio mútuo resolveu permitir a entrada de homens não ligados, à arte de construir, que passaram a ser chamados de maçons aceitos. Com isso iniciava-se uma grande transformação na Confraria. Agora estavam reunidos na mesma Loja, os Maçons Antigos e os Aceitos.

Depois do processo de aceitação iniciado na Escócia, iria se espalhar por todos os lugares fazendo com que no final do século, o número de Aceitos já ultrapassasse largamente, o de Franco Maçons operativos.

Entre os aceitos, os mais famosos iniciados da época foram: Willian Wilson, aceito em 1622; Robert Murray, Tenente-General do exército escocês tomando-se posteriormente, o Mestre Geral de todas as Lojas do Exército; coronel Henry, recebido em 1646 e o antiquário e alquimista Elias Ashmole.

Em 1666 os Franco-Maçons iriam recuperar parte do antigo prestígio, diante do grande incêndio que a 2 de setembro daquele ano, aconteceu em Londres, destruindo cerca de quarenta mil casas e oitenta igrejas. Nessa ocasião, os maçons acorreram para participar do esforço de reconstrução, sob a direção do renomado mestre arquiteto Sir Christopher Wren, que em 1688 viu aprovado o seu plano para reconstrução da cidade, sendo nomeado arquiteto do rei na cidade de Londres.

A obra principal de Wren foi a reconstrução da Catedral de São Paulo em cujo terreno, em 1691 desenvolveria uma Loja de fundamental importância para a história da Maçonaria moderna: a loja São Paulo, em alusão à Catedral, ou Loja da Taberna " O Ganso e a Grelha", em alusão ao local em que se realizavam suas reuniões de caráter informal e administrativo.

A reconstrução da cidade foi um sucesso. Londres ficou pronta em 1710.

A transformação da Maçonaria dos Aceitos estabeleceu o seu caráter social, moral e político pouco tempo depois da Renascença e assinalou a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna.

A retomada dos estudos artísticos e literários da antiguidade clássica marcou o enfraquecimento do poder papal, com o fim do feudalismo e o início do capitalismo.

Os homens brilhantes procuraram a Confraria dos pedreiros por três motivos: Forma lícita de associação; a proteção de pessoas influentes e a livre manifestação do pensamento que lhes proporcionava a universalidade dos conhecimentos e intercâmbio de idéias.

A Maçonaria passou a lutar pelas grandes reformas sociais e participou dos grandes movimentos de libertação humana e na solução dos grandes problemas internacionais.

Como na época não existiam templos maçônicos - o primeiro só foi inaugurado em 1776• - os pedreiros reuniam-se em tabernas, que tinham na Inglaterra uma função social muito grande, como local de reunião e troca de idéias de intelectuais, artífices e obreiros de mesmo Oficio.

O ponto de encontro na Taberna O ganso e a Grelha ou Loja de São Paulo, proporcionou a Grande reunião de obreiros que se reuniam em outras Tabernas.

A 7 de fevereiro de 1717 Desaguliers conseguiu reunir as quatro Lojas metropolitanas para traçar planos referentes à alteração da estrutura da Confraria. Nessa ocasião foi convocada uma reunião geral para o dia 24 de junho daquele ano - 1717. Essa reunião foi realizada na Taberna "A macieira" com a presença das Lojas" A Coroa" "O copázio de Uvas" e "O Ganso e a Grelha".

No dia 24 de junho de 1717 as quatros Lojas implantaram um sistema obediencial com as Lojas subordinadas a um poder central sob a direção de um Grão Mestre, já que antes, eram independentes quando era comum se dizer "Maçom livre em Loja livre".

A criação do Grão-Mestrado foi o divisor de águas, um marco histórico entre a Antiga e a Moderna Maçonaria ou seja entre a Operativa e a Especulativa.

Nesse mesmo dia - 24 de junho - durante o terceiro reinado de George I houve a Assembléia e a festa dos maçons Livres Antigos e Aceitos, na Taberna "O Ganso e a Grelha". Antes do jantar, o mais antigo mestre construtor que presidia a reunião, propôs uma lista de candidatos. Os obreiros levantaram as mãos e designaram Sir Anthony Sayer, gentil-homem, Grão Mestre dos Franco-Maçons; Jacob Lamball, Carpinteiro e Joseph Elliot, capitão, Grandes Vigilantes.

O Grão Mestre foi investido com as insígnias de Oficio e do poder e instalado no cargo.

A única referência desse acontecimento está perpetuado no relatório do pastor James Anderson, publicado na edição de 1738 da Constituição Maçônica por ele elaborada.

- 24 de junho de 1717 - Estava assim constituída a Grande Loja Maçônica da Inglaterra e inaugurada para a eternidade, a Maçonaria Especulativa, composta por Maçons Livres, Antigos e Aceitos.

Bibliografia
1. Gustavo Barroso - Protocolos dos Sábios de Sião Editora Revisão – 1991
2. Jorge Adoum - Rumo dos Mistérios Editora Goiânia – 1997
3. José Castellani - A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial. Editora Landmark – 2001
4. Léo Apostel - Maçonaria - Um Ensaio Filosófico - Editora A Trolha - 1989
5. Marcelo Caracas Linhares - História da Maçonaria - Editora A Trolha - 1992

Irmão Innocêncio De Jesus Viégas MI 33º
Membro da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal;
E das Lojas Renascença Maranhense nº 621,
Jeremias Pinheiro Moreira nº 2099 e Acácia da Montanha nº 3249.

Fonte: JB News – Informativo nr. 1.881

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