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sábado, 10 de outubro de 2020

ESPADA FLAMEJANTE E SAGRAÇÃO

ESPADA FLAMEJANTE E SAGRAÇÃO
(republicação)

Em 15/04/2016 o Respeitável Irmão Paulo Assis Valduga, Loja Luz Invisível, REAA, GORGS (COMAB), Oriente de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul, formula a seguinte questão que ele intitula de “conversa fiada”:
paulovalduga@gmail.com

No JBNEWS 2022 (15/abril) o Irmão faz um comentário em resposta ao questionamento do Respeitável Irmão Emilson Alano Carvalho sobre o substituto do Venerável Mestre, tema que tratamos a fundo em passado recente e o Irmão foi realmente esclarecedor e suas respostas enviei ao GORGS e a PALM, bem como levei ao conhecimento das Lojas de São Borja e Itaqui (sou membro honorário) de forma infrutífera... Porém tem um detalhe na sua sábia explanação que escapa a minha tosca (ou tansa) compreensão: porque o substituto do Venerável Mestre, no caso de Sessão Magna (iniciação, elevação, exaltação) tem que ser Mestre Instalado, ou melhor: porque só um MI pode empunhar a Espada Flamejante?

O Irmão já se posicionou sobre isso e estou sendo importuno trazendo à luz novamente o assunto: por quê? Só porque era um atributo do Grão-Mestre dos Cavaleiros Templários, bem como de reis e soberanos? O que a Maçonaria dos dias atuais tem a ver com os Cavaleiros Templários? Ou, com a monarquia? A Maçonaria não é evolutiva? Não se trata apenas de misticismo?

Quando eu fazia parte do quadro do GOB existia um pavor por parte de alguns Irmãos que não chegavam nem perto da Espada Flamejante, que na época nem Flamejante era (a Espada Flamejante fui esta anta que mandou fazer aqui mesmo em São Borja por um faqueiro artesanal. Nesta época já era membro do GORGS e o Templo do GORGS era utilizado pela Loja Aparício Mariense da Silva, hoje com Templo próprio), de forma que, sem querer ser contestador ou enxerido, fica esta minha colocação de inconformidade, embora tenha consciência de que nada irá mudar principalmente no GORGS em que: o substituto do Venerável Mestre, ou seja, o 1° Vigilante tem que ser Mestre Instalado; agora é Lei... CARÁCOLES. E a nossa Loja de Pesquisas Maçônicas - a Chico da Botica - nem foi consultada!

Lamentavelmente venceu a eleição para Grão Mestre o atual, ou seja: o GORGS perdeu uma excelente oportunidade de mudar seu perfil com a eleição perdida do Resp∴ Ir∴ Fernando Móttola, que entende de Maçonaria, principalmente do REAA, em virtude estou pedindo meu quite-placet, uma vez que a tolerância já está me escapando pelos dedos e não quero ser aborrecido para meus Irmãos.

CONSIDERAÇÕES:

A Espada Flamejante como arma, ou objeto simbólico, traduz, embora muito de longe, um costume Templário no que tange à conferência de dignidade ao Candidato (isso não afirma nenhuma origem templária à Maçonaria).

Essa Espada não é unânime em toda a Maçonaria Universal, visto que ela se coaduna apenas com alguns ritos de origem francesa, e que desempenham na sua liturgia costumes hauridos da Ordem da Milícia do Templo.

É oportuno salientar que essas invocações alegóricas não podem ser confundidas com fatos oriundos da academia da história, senão símbolos e alegorias que compõem um arcabouço idealizado para doutrina.

Muito comum no simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito, a Espada Flamejante tornou-se uma espécie de símbolo do poder e da justiça, cabendo o seu manuseio restrito àqueles que são ou já estiveram revestidos no cargo de Venerável Mestre de uma Loja.

Como aqui no Brasil “inventaram” a cerimônia de Instalação e o título honorifico de Mestre Instalado no REAA para o Venerável, prática também extensiva aos ex-Veneráveis (no GOB desde 1.968), o uso dessa Espada na liturgia maçônica para sagração ficou restrita aos detentores desse título honorífico (MM∴II∴). Daí a obrigatoriedade de ser um Mestre Instalado para poder empunhar uma Espada Flamejante.

A Espada Flamejante como símbolo maçônico tem sido tomada de modo diferenciado no que condiz com a sua origem. Sob a aparência de interpretação bíblica, diz-se baseada na expulsão de Adão do Paraíso (Gênese, 3 – 24): E expulsou-o; e colocou, ao oriente do Jardim do Éden, querubins armados de uma espada flamejante, para guardar a árvore da vida.

Já sob o ponto de vista de um símbolo do poder, essa Espada só pode ser empunhada por um Venerável Mestre que, por extensão, tem sido na Maçonaria brasileira um Mestre Instalado.

Dado a esse peculiar uso, a Espada Flamejante também adquiriu interpretação fundamentada na mitologia grega, já que pelas ondulações no formato da sua lâmina, ela lembra a representação de um raio, atributo do principal deus do Olimpo, Zeus (Júpiter para os romanos); assim a Espada Flamejante, que só pode ser empunhada pelo Venerável, ou um ex- Venerável, não pode ser embainhada (simbolicamente porque seria impossível se embainhar o fogo) e nem encostada no candidato durante a sagração, pois simbolicamente ela, pela representação do raio, poderia o fulminar. 

Assim, graças a esse mito é que se adquiriu a cômica crendice e o pavor de alguns quando no trato com esta Espada – puro engodo, já que o raio jupteriano representado pela lâmina da espada se refere mesmo ao poder da majestade, nunca a uma fantasia truanesca (referência para esse estudo in Dicionário Etimológico Maçônico – José Castellani).

Ainda na relação bíblica dessa Espada e a Maçonaria temos também a influência da Igreja nas Corporações de Ofício medievais, ancestrais da Moderna Maçonaria.

Sob o aspecto da Espada e a sagração, essa prática nada tem a ver com o serviço divino religioso ou o de santificar alguém, ou alguma coisa. Em Maçonaria o ato de sagrar (consagrar) é o modo de investir numa dignidade por meio de uma cerimônia específica o Obreiro no Grau. Ligada a isso é que existe a prática do Venerável em empunhar a Espada acima da cabeça do candidato e nela dar a bateria com o malhete – ato da sagração.

Em resumo o termo “sagrar” (verbo transitivo direto – tornar venerado ou consagrado), nesse particular, significa investir numa dignidade, nunca o ato de se santificar alguém ou alguma coisa como infelizmente alguns Irmãos ainda teimam em imaginar.

É desse modo que a Espada Flamejante passou a fazer parte do relicário simbólico de alguns ritos maçônicos, cuja particularidade representativa da faculdade do poder, do domínio, da força deu ao artefato o uso exclusivo pelo Venerável Mestre ou àqueles que já exerceram esse cargo – Mestres Instalados.

Algumas Obediências, como é o caso do GOB, tornaram obrigatória a inteira direção dos trabalhos de uma Sessão Magna que envolva a prática da sagração (conferir dignidade) apenas aos detentores do título honorífico de M∴ I∴. Outras, entretanto, deixam apenas a obrigatoriedade para o ato de sagração propriamente dito no caso de ausência do dirigente titular da Loja.

Sob o ponto de vista emblemático da Espada Flamejante ela, por não poder ser embainhada (raio), e nem empunhada por outro que não seja um M∴I∴, fica descansada sobre uma almofada ou dentro de um escrínio (estojo), já que o seu condutor, o Porta-Espada, quando a conduz o faz tomando a almofada ou o escrínio às mãos, fato que não obriga necessariamente ser ele um M∴ I∴, pois ele não toca na Espada, senão no artefato que serve de descanso para a dita.

Dando enfim por concluídas as resumidas considerações, são essas as razões e as particularidades mais significativas relacionadas à Espada Flamejante na Maçonaria, cujo símbolo nunca teve a pretensão de ser uma arma fulminante à moda daquela empunhada pelo famoso personagem integrante da conhecida película rodada nos anos 80: “A Guerra nas Estrelas”.

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.233– Florianópolis (SC) – sexta-feira, 11 de novembro de 2016

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