EX-VENERÁVEL DONO DA LOJA
Autor: Hercule Spoladore
Loja de Pesquisas Maçônicas “Brasil”- Londrina–PR.
É uma situação que ocorre com frequência na Maçonaria
brasileira e quiçá na mundial. O que vem a ser esta situação?
Simplesmente, conforme o titulo do trabalho já sugere, é um
Irmão que exerceu sua gestão como venerável de uma loja e que seu desempenho
pode ter sido muito bom ou muito mau,
mas seu mandato se esgotou, e ele esquecendo que já passou o seu momento como
principal gestor da loja e que deveria ficar quieto no seu canto, insiste em se
intrometer nos trabalhos da nova liderança que democraticamente surgiu na sua
loja através do voto.
Apegado ao poder,
chega aos limites da hipocrisia que como se sabe é o ato de fingir qualidades,
ideias ou sentimentos que em realidade ele não teme isso às vezes se torna uma
verdade para ele ainda que falsa, um verdadeiro sofisma, e ele acreditando ser
o que sabe tudo, que sabe mais que os outros, em fim é o dono da verdade.
Ele não sabe se conter, não consegue ficar sem dar palpites,
ou dar ordens ao novo venerável, ou criticar o novo líder, não somando as suas
forças com as da nova gestão, pelo contrário, atrapalhando-a. Se o novo
venerável não for um líder pragmático, pulso forte, que não saiba se impor,
ficará a mercê do antecessor, não podendo exercer a sua gestão a contento como
planejou.
Todavia, numa loja democrática, não faltarão Irmãos que com
coerência e bom senso,tomarão partido do novo líder e os mais habilidosos, chegam
ao ex e com muito jeito, com parcimônia tentam faze-lo compreender a nova
situação, o que às vezes não conseguem havendo até em certos casos uma cisão na
loja. Muitas novas lojas foram fundadas por ex-veneráveis que não souberam
respeitar a nova liderança. Este é um fato inconteste.
Este apego ao poder é algo que o ex-veneráveis às vezes não
pode se controlar, porque ele não estava preparado quando exerceu seu mandato
para um dia deixa-lo. Como só acontece nos regimes democráticos e uma loja
maçônica não tem dono justamente por ser uma democracia. Ele se achou
venerável, e não entendeu que apenas estava venerável. Acha que continua
venerável.
Este tema abre um leque mais profundo em relação a analise
do poder nas lojas e como ele é manipulado.
Este tipo de dono da loja não é o pior entrave para uma
loja. O pior ex-venerável é aquele tipo de irmão matreiro, político, de fala
mansa,que sorri para todo mundo, abraça a todos três vezes e que se derrete em
falsos elogios aos Irmãos do quadro e procede assim porque é uma das suas
estratégias para se manter no poder eternamente. Ele se vale de bonecos ou
títeres para cobrir uma gestão que por imposições das constituições das
potências ele não pode se reeleger mais de uma ou duas vezes.Em seguida ele
volta gloriosamente na próxima. Mas durante a gestão de seu preposto, quem
dirigirá a loja de fato, será ele. Não de direito, mas de fato.Ele tomará todas
as decisões e o venerável de plantão cumprirá rigorosamente o que o seu chefe
determinar. Geralmente ele tem o seu
grupo, formado por comparsas que são coniventes que antecipadamente já decidiu
quem será o venerável para os próximos seis ou oito anos, mas sempre ele
voltando após as gestões de seus substitutos arranjados ou então apenas
preferirá ser o chefe por trás, nos bastidores, mandando em tudo e por muito
tempo.
No fundo a sede de poder, nada mais que uma auto afirmação,
insegurança, incapacidade de ser transparente com seus semelhantes e com o meio
em que vive vaidoso mentiroso geralmente tendo uma visão unilateral dos
processos de interação entres os Irmãos,tornando sua personalidade a de um
verdadeiro psicopata social. Não sabe mais discernir os seus limites. Não tem
sentimentos. Chega a ser uma doença um desvio de personalidade, e de
comportamento.
Isto não é bazofia ou piada. Isto realmente acontece na
Maçonaria brasileira num índice maior do que se pode imaginar, mas não como
rotina. Infelizmente esta situação vem ocorrendo e muitos irmãos fingem não
vê-la ou senti-la, porque os membros das lojas com exceção de verdadeiros
maçons agem passivamente como cordeiros, esquecendo que uma loja aberta em
sessão é uma tribuna livre onde ideias são criadas, sonhos são idealizados que
podem mover o mundo, um verdadeiro laboratório social que pode mudar tudo para
melhor e por isso todos os problemas devem ser discutidos e todos devem
participar.
Mas é bom que se frise que a maioria dos ex-veneráveis não
se enquadram nesta descrição. Existem ainda muitos bons maçons na Ordem.
Felizmente a maioria. São. Irmãos excelentes, preparados, humildes, sabem qual
é o seu lugar dentro de uma loja,bons conselheiros, conhecem o peso de uma
malhete, porque já o manejaram quando foram veneráveis. Aprenderam mais ouvir que falar.
A Maçonaria valoriza a Dialética, que é a arte do dialogo, ou
a discussão, como força de argumentação permite que se contrariem ideias, que
elas sejam discutidas em todos os sentidos e que dessa situação nasça um ideia
concreta, inteligente,e perfeita, uma verdadeira síntese de tudo o que foi
tratado, desde que venha em favor da Ordem e da humanidade. Ela prega a
igualdade e a liberdade de pensamento entre seus adeptos.
Esta situação de dono de loja é uma das causas maiores do
afastamento de muitos honrados irmãos da Ordem. Se um irmão, sem medo, com
coragem falar em nome da democracia e dos verdadeiros princípios da Ordem, e
isto ferir os desígnios destes déspotas, este será marcado, perseguido e
descriminado.
Considerando-se que temos cerca de seis ou sete mil lojas no
Brasil, imagine-se o numero de Irmãos que agem desta forma, considerando-se que
a natureza humana é complexa e estranha, que muitos homens possuem a síndrome
do poder em função de seu DNA animalesco onde um quer ser o dominante sobre o
outro, ou sobre os outros. Geralmente estas pessoas são inseguras, não são
felizes, não estão de bem com a vida e esta forma de querer exercer um suposto
poder sobre os outros é sua maneira de tentar equilibrar seus próprios
defeitos.
A síndrome
do poder também chamado de síndrome do pequeno poder é uma atitude de
autoritarismo por parte de um individuo que recebeu um poder e tenta usa-lo de
forma absoluta e imperativa sem se preocupar com os problemas dicotomizados que
possa vir a ocasionar. A síndrome do pequeno poder pode se tornar uma
patologia, quando se torna crônico. Existem aqueles Irmãos que mesmo longe do
poder pensam que o possui. Quando a realidade lhe é mostrada, entram em
depressão.
Mas a Maçonaria prega justamente o contrário. Ela é
democrática. Quando se fala em vencer as paixões significa que o maçom deve
fazer prevalecer em seu consciente racional sobre as programações erradas de
seu subconsciente, ou seja, sobre a parte ruim que o ser humano tem dentro de
si. Segundo São Francisco de Assis, é o “burro” ou a “besta”que o ser humano
carrega dentro de sua consciência. Uma das condições mais exigidas pelos
princípios maçônicos é justamente você fazer prevalecer seu lado bom, vencendo
o seu lado mau.
A condição para um
irmão ser venerável em primeiro lugar é que ele tenha merecimentos pessoais e que
tenha um conhecimento profundo da ciência maçônica em todos os seus segmentos,
tais como história da Ordem, ritualística, simbologia, administração,
legislação e justiça sendo tudo isso associado à sua capacidade de liderança.
Evidentemente a Maçonaria terá que renovar seus líderes,
para que novas ideias, novos postulados, novos rumos e até novos paradigmas
sejam estudados, adotados e postos em ação.
Todavia correrá o famoso risco: VOCÊ QUER CONHECER UM MAÇOM?
DÊ-LHE PODER.
Por fim, enfatiza-se que este trabalho foi escrito para uma
minoria de Irmãos, que são gananciosos do poder. Ressalve-se aqueles Irmãos
ex-veneráveis pessoas intocáveis que não se enquadram neste contexto.
Felizmente, a maioria. Estes são os sustentáculos da Ordem.
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