ORIENTAÇÕES RITUALÍSTICAS
(republicação)
Em 01/06/2016 o Respeitável Irmão José Ferreira Rocha, Loja Segredo e
Paz, Secretário Estadual Adjunto de Or∴ Ritualística, REAA, GOB-PB, Oriente
de João Pessoa, Estado da Paraíba, formula as seguintes questões:
jofero1@ig.com.br
Com o objetivo de tentar unificar
a prática ritualística (REAA) nas Lojas da Jurisdição do GOB-PB estou
realizando palestras e alguns Irmãos sempre questionam a Legalidade de algumas
orientações que tenho dado baseado, nas suas considerações publicadas no JB
News.
A pergunta constate é: Isso é
Legal já que no Ritual de Aprendiz (pág. 12) diz que "... é proibida
a inclusão de cerimônias,
palavras, expressões...?"
Diante do exposto, repasso as
perguntas que me foram feitas para que o Poderoso Irmão possa me ajude a
respondê-las:
1 – Onde diz que o Mestre de
Cerimônias e o Hospitaleiro devem colocar o saco do lado esquerdo?
2 – Onde diz que o Ir∴ pode pedir que a palavra voltasse à sua coluna para falar e
que o Venerável, se autorizar, faça o giro completo iniciando pela coluna do
Sul ou diretamente ?
3 – Onde diz que durante a
circulação do Saco de Propostas e Beneficência quando passarem até pelo
Cobridor Interno, volta para o Oriente iniciando a coleta pelas autoridades
sentadas aos lados do Venerável para depois os demais mestres do Oriente?
4 – Onde diz que o Venerável tem
a prerrogativa de mandar o Ir∴ desfazer o Sinal de Ordem?
5 – Onde diz que para pedir a
palavra aos Vigilantes o Irmão tem que levantar o braço, bater palma...
6 - Onde diz que toda vez que o
Irmão for falar tem que saudar iniciando pelas Luzes, Autoridades, Mestres...?
Dede já antecipo meus
agradecimentos.
CONSIDERAÇÕES:
Em primeiro lugar eu gostaria de salientar que muitos
Irmãos precisam entender que alguns aspectos ritualísticos e litúrgicos
dizem respeito às tradições, usos e costumes de um Rito em particular e
outros à Maçonaria em Geral. Assim também ocorre com as normas
consuetudinárias da Ordem que, em seus pormenores, do mesmo modo não são
encontradas facilmente – como os verdadeiros Landmarks, esses costumes são
imemoriais, espontâneos e universalmente aceitos.
Em segundo lugar, precisamos
aprender a se desvencilhar dessa conotação peripatética da Maçonaria latina
com seus carimbos e convenções, onde a maior parte dos assuntos
questionáveis não está na essência da dúvida, porém no viciado argumento
do “onde está escrito?” – não importa se está certo ou errado, o que importa
é onde está escrito. Pura inversão de valores, ora bolas!
Considere-se também que
autênticos rituais não são escritos para detalhar práticas ritualísticas.
Eles existem sim para mencionar as diretrizes e dirigir o andamento sadio e
puro da liturgia, da ritualística e da cultura do Rito, entretanto sua
prática, como um todo, é particularidade haurida do conhecimento do maçom –
em Maçonaria nem tudo está ou pode
estar escrito.
Seguem as respostas aos seus
questionamentos:
1) A prática no REAA∴, rito de origem francesa, vem da antiga tradição pela qual o esmoler, na
França, recolhia donativo nas portas das igrejas munido de uma grande bolsa
presa a tiracolo da direita para a esquerda. O gesto e o costume viriam
alcançar inclusive alguns ritos maçônicos por influência da própria igreja
do século XVIII. Assim a prática maçônica, eivada pela discrição, acabou
envolvendo, além da beneficência desinteressada, também o recolhimento de propostas
nos trabalhos da Loja (gesto sem bisbilhotar). Assim, a Maçonaria, adotando
uma bolsa menor, faz com que o Oficial ao recolher propostas ou o óbolo, imita
o gesto ancestral do esmoler. Essa é a razão da condução da bolsa junto ao
lado esquerdo do quadril.
2) Evidentemente a prática é produto cultural de alguns ritos maçônicos. A regra de se voltar
a Palavra fazendo novamente o seu giro completo está com obviedade ligada ao
bom senso e a justiça, já que se autorizado o retorno da mesma, todos (não
apenas um) têm o direito de falar outra vez se assim desejarem. Quanto à
volta da Palavra, sua autorização é de competência do Venerável Mestre e
isso é prática do seu ofício como dirigente da Loja. Está inclusive
prevista no RGF. Sinceramente, eu penso que isso não precisa estar escrito – é prática usual, espontânea e universalmente aceita pelos
ritos que a praticam.
3) O giro da Bolsa exige antes no
REAA que sejam primeiras abordadas as cinco Dignidades (as Luzes da Loja
somadas ao Orador e o Secretário). Em seguida, pela ordem de importância do
cargo, o Cobridor, já que sem esse Oficial não é permitido abrir os
trabalhos de uma Loja, pois o Cobridor é o digno representante de um dos
Landmarks da Ordem – o Sigilo. Esses seis cargos, mais o Mestre de Cerimônias,
compõem os sete Mestres necessários para a abertura de uma Loja no Rito
Escocês Antigo e Aceito.
Feita essa primeira circulação (seis primeiros cargos), segue-se pela
ordem, os dois que porventura estejam ocupando lugares ao lado do Trono e todos
os demais do Oriente; continua-se a coleta com os Mestres do Sul e do Norte,
Companheiros e Aprendizes e, por fim, do próprio Oficial encarregado da
missão.
Pela razão prática de que a
coleta se iniciou no Oriente, cumpridos os seis primeiros cargos mencionados,
volta-se ao Oriente para se coletar dos demais, e assim por diante (Sul e Norte).
Quando mencionei cinco
Dignidades, o fiz com base na tradição do REAA∴, já
que equivocadamente, o GOB trata Tesoureiro e Chanceler, que são cargos
eletivos, como Dignidades. A prática desse formato de giro com a bolsa é
também exercício universalmente aceito nos ritos que o praticam – não
precisa estar escrito para justificar a prática.
4) O Venerável é o dirigente maior da
Oficina. Dependendo da situação, se o procedimento realmente assim exigir
obviamente que ele pode dar essa autorização. Essa é outra atitude que depende
de situação momentânea, desse modo não carece também estar escrita para
ser praticada.
É notória também a autoridade legal do
Venerável Mestre. Ela é amplamente conhecida nos meios maçônicos e historicamente a mesma
sempre existiu. Se a sua autoridade é imemorial, tal será que ela não pode
eventualmente autorizar alguém a desfazer um Sinal?
5) Ora isso é mais uma regra universal e
consuetudinária nos ritos que adotam esse procedimento. A propósito, o
protagonista não bate palma, porém dá primeiro com a sua mão direita
espalmada uma pancada no dorso da sua mão esquerda para chamar atenção e
mantém o braço direito levantado à frente para se identificado. Agora, ter
que constar isso por escrito no ritual, realmente não merece nem comentário
(identifica-se esse e outros procedimentos pela frase “pela forma de costume”).
6) Isso não está escrito em
lugar nenhum, mesmo porque não é saudação coisa nenhuma. Quem vai falar
fica à Ordem e, protocolarmente, menciona as Luzes da Loja sem a necessidade
deter que citar nome por nome de autoridades que porventura estejam presentes.
Terminando a sua fala, ele desfaz o Sinal e senta-se. Como dito, isso não é saudação. Como bem diz ritual, saudações
em Loja são feitas ao Venerável Mestre ao se entrar e sair do Oriente, ou às
Luzes da Loja na entra formal (após a Marcha do Grau). Há então que se
considerar que nem sempre quem está à Ordem estará saudando alguém, embora
toda saudação em Loja seja feita pelo Sinal.
Já que essa “estória” é o “de onde está
escrito”, eu sugiro pesquisa em autores autênticos e confiáveis como José
Castellani, Francisco de Assis Carvalho, Theobaldo Varolli Filho, Allec Mellor,
Bernard Jones, Harry Carr, Renné Bongard, Jules Boucher, Nicola Aslan, René
Joseph Charlier, etc. Sugiro também que se consultem manuais e monitores franceses
a partir do primeiro Ritual do REAA em 1.804 e alguns monitores brasileiros, a
exemplo dos Procedimentos Ritualísticos do GOB-PR edição revisada em 2016.
A despeito do que aqui mencionei,
devo alertar que as coisas não estão tão prontas assim na Maçonaria,
portanto o pesquisador necessita de um método acadêmico de pesquisa e o trato
com documentação confiável. Há muita bobagem escrita por aí, sobretudo por
inventores e achistas, sem contar com os que “acham bonito” e propagam miscelânea
de práticas de diversos ritos em um só.
Devo salientar que existem muitos
manuais de orientação ritualística confiáveis. A questão é filtrar os
limpos separando-os da água suja. Há sim carência de um Manual de Dinâmica
Ritualística editado pelo Poder Central. Enquanto lá estive como Secretário
Geral, alertei para o fato, todavia nunca me foi dado ouvido. Aliás, não é
só de Manual de Dinâmica que o GOB precisa, urge também uma repleta revisão dos rituais, entretanto por
Irmãos que comprovadamente entendam de liturgia e ritualística na sua
essência e na sua história.
No tocante ao “onde está
escrito”, vejo a questão como subjetiva, já que eu poderia então perguntar:
“onde está escrito o contrário”.
Por fim, alerto aos incrédulos
que a Sublime Instituição mantém sua característica de discrição perante
aos não iniciados, todavia é obrigação das Lojas, através dos seus Mestres
instruírem para tornar perenes as verdadeiras tradições maçônicas, dentre
as quais, usar do bom senso, já que os símbolos e as alegorias maçônicas
falam por si e estes não carecem de dissertações escritas, até porque
alguns fatos têm se apresentado como óbvios e ululantes. Tenho dito que a
questão não é de estar ou não escrita, a questão é se compreender o
porquê da sua existência.
T.F.A.
Pedro Juk - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.297 –
Florianópolis (SC), sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
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