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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

ORIENTAÇÕES RITUALÍSTICAS

ORIENTAÇÕES RITUALÍSTICAS
(republicação)

Em 01/06/2016 o Respeitável Irmão José Ferreira Rocha, Loja Segredo e Paz, Secretário Estadual Adjunto de Or∴ Ritualística, REAA, GOB-PB, Oriente de João Pessoa, Estado da Paraíba, formula as seguintes questões: jofero1@ig.com.br

Com o objetivo de tentar unificar a prática ritualística (REAA) nas Lojas da Jurisdição do GOB-PB estou realizando palestras e alguns Irmãos sempre questionam a Legalidade de algumas orientações que tenho dado baseado, nas suas considerações publicadas no JB News.

A pergunta constate é: Isso é Legal já que no Ritual de Aprendiz (pág. 12) diz que "... é proibida
a inclusão de cerimônias, palavras, expressões...?"

Diante do exposto, repasso as perguntas que me foram feitas para que o Poderoso Irmão possa me ajude a respondê-las:

1 – Onde diz que o Mestre de Cerimônias e o Hospitaleiro devem colocar o saco do lado esquerdo?
2 – Onde diz que o Ir pode pedir que a palavra voltasse à sua coluna para falar e que o Venerável, se autorizar, faça o giro completo iniciando pela coluna do Sul ou diretamente ?
3 – Onde diz que durante a circulação do Saco de Propostas e Beneficência quando passarem até pelo Cobridor Interno, volta para o Oriente iniciando a coleta pelas autoridades sentadas aos lados do Venerável para depois os demais mestres do Oriente?
4 – Onde diz que o Venerável tem a prerrogativa de mandar o Ir desfazer o Sinal de Ordem?
5 – Onde diz que para pedir a palavra aos Vigilantes o Irmão tem que levantar o braço, bater palma...
6 - Onde diz que toda vez que o Irmão for falar tem que saudar iniciando pelas Luzes, Autoridades, Mestres...?

Dede já antecipo meus agradecimentos.

CONSIDERAÇÕES:

Em primeiro lugar eu gostaria de salientar que muitos Irmãos precisam entender que alguns aspectos ritualísticos e litúrgicos dizem respeito às tradições, usos e costumes de um Rito em particular e outros à Maçonaria em Geral. Assim também ocorre com as normas consuetudinárias da Ordem que, em seus pormenores, do mesmo modo não são encontradas facilmente – como os verdadeiros Landmarks, esses costumes são imemoriais, espontâneos e universalmente aceitos.

Em segundo lugar, precisamos aprender a se desvencilhar dessa conotação peripatética da Maçonaria latina com seus carimbos e convenções, onde a maior parte dos assuntos questionáveis não está na essência da dúvida, porém no viciado argumento do “onde está escrito?” – não importa se está certo ou errado, o que importa é onde está escrito. Pura inversão de valores, ora bolas!

Considere-se também que autênticos rituais não são escritos para detalhar práticas ritualísticas. Eles existem sim para mencionar as diretrizes e dirigir o andamento sadio e puro da liturgia, da ritualística e da cultura do Rito, entretanto sua prática, como um todo, é particularidade haurida do conhecimento do maçom – em Maçonaria nem tudo está ou pode
 estar escrito.

Seguem as respostas aos seus questionamentos:

1) A prática no REAA∴, rito de origem francesa, vem da antiga tradição pela qual o esmoler, na França, recolhia donativo nas portas das igrejas munido de uma grande bolsa presa a tiracolo da direita para a esquerda. O gesto e o costume viriam alcançar inclusive alguns ritos maçônicos por influência da própria igreja do século XVIII. Assim a prática maçônica, eivada pela discrição, acabou envolvendo, além da beneficência desinteressada, também o recolhimento de propostas nos trabalhos da Loja (gesto sem bisbilhotar). Assim, a Maçonaria, adotando uma bolsa menor, faz com que o Oficial ao recolher propostas ou o óbolo, imita o gesto ancestral do esmoler. Essa é a razão da condução da bolsa junto ao lado esquerdo do quadril.

2) Evidentemente a prática é produto cultural de alguns ritos maçônicos. A regra de se voltar a Palavra fazendo novamente o seu giro completo está com obviedade ligada ao bom senso e a justiça, já que se autorizado o retorno da mesma, todos (não apenas um) têm o direito de falar outra vez se assim desejarem. Quanto à volta da Palavra, sua autorização é de competência do Venerável Mestre e isso é prática do seu ofício como dirigente da Loja. Está inclusive prevista no RGF. Sinceramente, eu penso que isso não precisa estar escrito – é prática usual, espontânea e universalmente aceita pelos ritos que a praticam.

3) O giro da Bolsa exige antes no REAA que sejam primeiras abordadas as cinco Dignidades (as Luzes da Loja somadas ao Orador e o Secretário). Em seguida, pela ordem de importância do cargo, o Cobridor, já que sem esse Oficial não é permitido abrir os trabalhos de uma Loja, pois o Cobridor é o digno representante de um dos Landmarks da Ordem – o Sigilo. Esses seis cargos, mais o Mestre de Cerimônias, compõem os sete Mestres necessários para a abertura de uma Loja no Rito Escocês Antigo e Aceito.

Feita essa primeira circulação (seis primeiros cargos), segue-se pela ordem, os dois que porventura estejam ocupando lugares ao lado do Trono e todos os demais do Oriente; continua-se a coleta com os Mestres do Sul e do Norte, Companheiros e Aprendizes e, por fim, do próprio Oficial encarregado da missão.

Pela razão prática de que a coleta se iniciou no Oriente, cumpridos os seis primeiros cargos mencionados, volta-se ao Oriente para se coletar dos demais, e assim por diante (Sul e Norte).

Quando mencionei cinco Dignidades, o fiz com base na tradição do REAA, já que equivocadamente, o GOB trata Tesoureiro e Chanceler, que são cargos eletivos, como Dignidades. A prática desse formato de giro com a bolsa é também exercício universalmente aceito nos ritos que o praticam – não precisa estar escrito para justificar a prática.

4) O Venerável é o dirigente maior da Oficina. Dependendo da situação, se o procedimento realmente assim exigir obviamente que ele pode dar essa autorização. Essa é outra atitude que depende de situação momentânea, desse modo não carece também estar escrita para ser praticada.

É notória também a autoridade legal do Venerável Mestre. Ela é amplamente conhecida nos meios maçônicos e historicamente a mesma sempre existiu. Se a sua autoridade é imemorial, tal será que ela não pode eventualmente autorizar alguém a desfazer um Sinal?

5) Ora isso é mais uma regra universal e consuetudinária nos ritos que adotam esse procedimento. A propósito, o protagonista não bate palma, porém dá primeiro com a sua mão direita espalmada uma pancada no dorso da sua mão esquerda para chamar atenção e mantém o braço direito levantado à frente para se identificado. Agora, ter que constar isso por escrito no ritual, realmente não merece nem comentário (identifica-se esse e outros procedimentos pela frase “pela forma de costume”).

6) Isso não está escrito em lugar nenhum, mesmo porque não é saudação coisa nenhuma. Quem vai falar fica à Ordem e, protocolarmente, menciona as Luzes da Loja sem a necessidade deter que citar nome por nome de autoridades que porventura estejam presentes. Terminando a sua fala, ele desfaz o Sinal e senta-se. Como dito, isso não é saudação. Como bem diz ritual, saudações em Loja são feitas ao Venerável Mestre ao se entrar e sair do Oriente, ou às Luzes da Loja na entra formal (após a Marcha do Grau). Há então que se considerar que nem sempre quem está à Ordem estará saudando alguém, embora toda saudação em Loja seja feita pelo Sinal.

Já que essa “estória” é o “de onde está escrito”, eu sugiro pesquisa em autores autênticos e confiáveis como José Castellani, Francisco de Assis Carvalho, Theobaldo Varolli Filho, Allec Mellor, Bernard Jones, Harry Carr, Renné Bongard, Jules Boucher, Nicola Aslan, René Joseph Charlier, etc. Sugiro também que se consultem manuais e monitores franceses a partir do primeiro Ritual do REAA em 1.804 e alguns monitores brasileiros, a exemplo dos Procedimentos Ritualísticos do GOB-PR edição revisada em 2016.

A despeito do que aqui mencionei, devo alertar que as coisas não estão tão prontas assim na Maçonaria, portanto o pesquisador necessita de um método acadêmico de pesquisa e o trato com documentação confiável. Há muita bobagem escrita por aí, sobretudo por inventores e achistas, sem contar com os que “acham bonito” e propagam miscelânea de práticas de diversos ritos em um só.

Devo salientar que existem muitos manuais de orientação ritualística confiáveis. A questão é filtrar os limpos separando-os da água suja. Há sim carência de um Manual de Dinâmica Ritualística editado pelo Poder Central. Enquanto lá estive como Secretário Geral, alertei para o fato, todavia nunca me foi dado ouvido. Aliás, não é só de Manual de Dinâmica que o GOB precisa, urge também uma repleta revisão dos rituais, entretanto por Irmãos que comprovadamente entendam de liturgia e ritualística na sua essência e na sua história.

No tocante ao “onde está escrito”, vejo a questão como subjetiva, já que eu poderia então perguntar: “onde está escrito o contrário”.

Por fim, alerto aos incrédulos que a Sublime Instituição mantém sua característica de discrição perante aos não iniciados, todavia é obrigação das Lojas, através dos seus Mestres instruírem para tornar perenes as verdadeiras tradições maçônicas, dentre as quais, usar do bom senso, já que os símbolos e as alegorias maçônicas falam por si e estes não carecem de dissertações escritas, até porque alguns fatos têm se apresentado como óbvios e ululantes. Tenho dito que a questão não é de estar ou não escrita, a questão é se compreender o porquê da sua existência.

T.F.A.
Pedro Juk - jukirm@hotmail.com 
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.297 – Florianópolis (SC), sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

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