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segunda-feira, 20 de março de 2017

GRAUS FILOSÓFICOS NO BRASIL!!!

GRAUS FILOSÓFICOS NO BRASIL!!!
Ir∴ Joaquim da Silva Pires, M∴I∴ 

Foi em uma segunda feira, 29 de abril de 1929, que, na Rua Puteaux, nº 8, em Paris, França, teve início a "Quarta Conferência Nacional dos Supremos Conselhos do Grau o Rito Escocês Antigo e Aceito", cuja Presidência, por indicação unânime, coube ao Ir René Raymond, Soberano Grande Comendador Supremo Conselho da França.

Também, ocuparam posições relevantes o Ir Jacques Marechal (Grande Secretário Geral do Supremo Conselho da França e um dos Três Secretários da mencionada Conferência), Ir Armand Anspach-Puissant (Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Bélgica e ente da Comissão Preparatória da Verificação de Poderes), Ir John Cowles (Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Jurisdição Sul dos Estados Unidos da América, que viria a ser o primeiro nome da Comissão de Legislação e Regularidade dos Supremos Conselhos) e Ir Albert Junod (Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Suíça e Presidente da Comissão Preparatória da Organização dos Trabalhos).

Ficou decidido que as reuniões fossem realizadas em traje de passeio, porém com a exigência de traje a rigor na terça feira (30 de abril de 1929) e na sexta feira (3 de maio de 1929). O uso de insígnias maçônicas ficou restrito à Sessão Solene da manhã de sábado (4 de maio de 1929), data do encerramento da Conferência.

Obviamente, nos estreitos limites deste minúsculo trabalho, desbordam considerações pertinentes aos vários assuntos que foram colocados em foco. O desiderato deste articulista é o de elucidar uma controvérsia que atinge os Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito de nossa Pátria.

Quem não possuir duas mãos, não poderá ser pianista. Quem não possuir serenidade, não poderá ser historiador. Sejamos refratários às análises tendenciosas. Acautelemo-nos contra posições proteiformes. Repudiemos argumentos ditados pelo influxo de exacerbadas paixões. Façamos o estudo, honesto, das provas documentais, onde avulta, indubitavelmente, o precioso (e hoje raríssimo) "Compte Rendu de la Quatrième Conférence International de dês Suprêmes Conseils du 33° degré du Rite Ecossais Ancien Accepté".

Anteriormente, em nosso País, durante histórica sessão, que se realizou em 17 de junho de 1927, em um salão profano (Centro Galego) situado na Rua da Quitanda, nº 32, 1° andar, Rio de Janeiro, o Ir Mário Behring (no cargo de Soberano Grande Comendador) desvinculou, do Grande Oriente, o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito, asseverando que só o referido Supremo Conselho possuía o direito de escolher sua própria Administração.

Todavia, por outro lado, em sessão, também histórica, realizada três dias após (20 de junho de 1927), no Palácio Maçônico situado na Rua do Lavradio, nº 97, Rio de Janeiro, o Ir Octávio Kelly, Grão Mestre Adjunto do Grande Oriente do Brasil, mas no exercício do Grão Mestrado Geral (em face da renúncia do Ir João Severiano da Fonseca Hermes), ponderou que não concordava com o pensamento esposado pelo Ir Mário Behring.

A discordância baseava-se no fato de que, segundo a Constituição do Grande Oriente do Brasil (daquela época, porque hoje é diferente), o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito era subordinado ao referido Grande Oriente. Em sentido contrário, o Ir Mário Behring afirmava que as Leis Internacionais do Rito prevaleciam sobre a citada Carta Magna, e que, de acordo com aquelas Leis, o Supremo Conselho era soberano.

Ora, quem não examinar, cuidadosamente, por inteiro (e não por transcrições fragmentadas), a ata da reunião em 17 de junho de 1927, realizada pelo Supremo Conselho, nem a ata da reunião de 20 daquele mês, realizada a partir de 29 de abril até 4 de maio de 1929, não terá as condições indispensáveis à análise dos acontecimentos em foco.

Considerando que o Ir Mário Behring desvinculou, do Grande Oriente do Brasil, o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito (conforme já ficou esclarecido), o Ir Octávio Kelly organizou um Supremo Conselho com vinculação, em consonância com as diretrizes exigidas pela Carta Magna do referido Grande Oriente. Fê-lo em 1° de agosto de 1927, após as malogradas tentativas de 18, 21 e 26 de junho daquele ano.

Portanto, em nossa Pátria, dois Supremos Conselhos disputavam posição hegemônica. Já vimos que um, presidido pelo Ir Mário Behring, era soberano, e que outro, presidido pelo Ir Octávio Kelly era subordinado ao Grande Oriente do Brasil. Cada um desses Supremos Conselhos pretendia ser o legítimo, o mesmo que havia sido fundado pelo Ir Francisco Ge Acayaba Montezuma (discutivelmente em 12 de março de 1829 ou 12 de novembro de 1832).

Por um excesso de zelo, em comentário supletório, agora elaborado, mencionemos a existência do Supremo Conselho do Rio Grande do Sul, fundado pelo Ir.’. Antônio Antunes Ribas, em 14 de outubro de 1893. Basta a simples menção, pois o citado Alto Corpo do Rito Escocês Antigo e Aceito não disputava posição hegemônica e não possui qualquer liame com os acontecimentos de 1929, em Paris.

Defendamo-nos dos paralogismos e aspiremos, a largos rastos, o vivificante oxigênio da Verdade. Este articulista leu e releu, sem pressa, a convocação (o próprio original, e não uma cópia xerográfica) remetida ao nosso País pelo Supremo Conselho da França, em 10 de setembro de 1928, e pode afirmar que o destinatário foi o Grande Oriente do Brasil, e não um dos Supremos Conselhos. Essa importante destinação levou o Ir Octávio Kelly a acreditar que o Supremo Conselho por ele presidido seria considerado o legítimo pela referida Quarta Conferência Internacional.

Paris, segunda feira, 29 de abril de 1929, eis o tão aguardado momento. Os I1r Mário Behring e Octávio Kelly não compareceram. O Supremo Conselho presidido pelo primeiro foi representado pelos IIr Joaquim Moreira Sampaio, Hugo Martins Ferreira e Esculápio César de Paiva. O Supremo Conselho presidido pelo segundo foi representado pelos IIr Lourival Jorge Mazaredo Souto, Hypolito Hermes de Vasconcelos e José Maria Moreira Guimarães.

Contrariando as esperanças do Ir Octávio Kelly, a Comissão de Verificação de Poderes reconheceu, por votação unânime, ser regular o Supremo Conselho presidido pelo Ir Mário Behring. Os três representantes do Supremo Conselho rejeitado enviaram um protesto à Conferência, no dia seguinte (30 de abril de 1929. Não obtiveram sucesso.

O assunto só foi laconicamente mencionado na Sessão Plenária de sexta feira, 3 de maio de 1929.

Apesar de não haver essa exigência nas três anteriores Conferências Internacionais do Rito Escocês Antigo e Aceito, pesou contra o Supremo Conselho do Grande Oriente do Brasil o fato de não ser soberano. Tal soberania só foi alcançada vinte e dois anos depois, em 23 de maio de 1951. No entanto, a efetiva separação contábil-financeira viria a ocorrer em 15 de junho de 1963. Ambas as datas foram extemporâneas. No último dia da Quarta Conferência Internacional (sábado, 4 de maio de 1929), o Ir Joaquim Moreira Sampaio (já vimos que ele era membro da Comissão do Supremo Conselho soberano) escreveu, de Paris, uma carta ao Ir∴ Mário Behring, contando-lhe, de modo insuspeito (obviamente), que o Ir René Raymond (já vimos que ele era o Soberano Grande Comendador da França e Presidente da referida Conferência) recusou-se a ouvir as explicações do Ir José Maria Moreira Guimarães (já vimos que ele era membro da Comissão do Supremo Conselho subordinado ao Grande Oriente do Brasil) e recusou-se a examinar os documentos que este último portava, de modo que ele e seus dois companheiros (cujos nomes já vimos) não puderam ingressar no plenário e, assim, não puderam apresentar suas razões aos congressistas. Essas razões, muito bem redigidas, haviam sido lavradas um pouco antes, em 27 de abril de 1929.

Porém, em sentido contrário ao daquelas razões, foi muito eficiente uma carta escrita pelo Ir Mário Behring, que o Ir∴ Joaquim Moreira Sampaio levou, daqui do Brasil, e entregou, em mãos, ao influente Ir∴ John Cowles (já vimos que ele era o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Jurisdição Sul e da Comissão da Regularidade dos Supremos Conselhos).

Só os Estados Unidos foram recepcionados, normalmente, com dois Supremos Conselhos, um da Jurisdição Sul, vanguardeiro, cujo Soberano Grande Comendador era o já citado John Cowles, e outro, da Jurisdição Norte, cujo Soberano Grande Comendador era o Ir∴Leon Abbott. Todos nós sabemos que ambos os Supremos Conselhos norte-americanos são regulares, escorados em fundamentos históricos.

Não é permitida outra duplicidade em todo o mundo. Cada país apenas pode ter um Supremo Conselho, com os válidos reconhecimentos internacionais.

Ao todo, compareceram à focalizada Conferência vinte oito Supremos Conselhos. Deveriam ser vinte e nove, se não houvesse a exclusão da Escócia (que ironia!).

Os Supremos Conselhos de Portugal e da Espanha enfrentaram problemas semelhantes ao do Brasil, na segunda feira, 29 de abril de 1929, diante da Comissão de Verificação de Poderes. No problema português, o IrAugusto Ferreira de Castro considerava-se, e foi reconhecido, Soberano Grande Comendador, em detrimento do Ir Gomes da Costa. No problema espanhol, o Ir José Bárcia, Soberano Grande Comendador, obteve êxito, ao contestar, com veemência, a acusação formulada pelo Ir Doucham Militchevitch, Lugar-Tenente Comendador do Supremo Conselho da Iugoslávia e, também, representante oficial do Supremo Conselho do Egito, no sentido de que o Supremo Conselho da Espanha não seria soberano, e sim subordinado ao Grande Oriente Espanhol.

Os pródromos, os corolários e todos os acontecimentos concernentes à referida Conferência Internacional comportam a elaboração de um atraente livro. Essa irrefragável possibilidade explica os óbices surgidos durante a feitura deste minúsculo trabalho, tornando angustiante selecionar os dados prioritários (porque, no caso, não os há desprovidos de saliência), dentro das expressivas fontes de pesquisa afiveladas no volumoso feixe documentativo que conseguimos reunir, gradativamente, ao longo de quarenta e dois anos de nossa vida maçônica.

Mas para o enriquecimento do nosso acervo, contribuíram, de maneira primacial, as inestimáveis doações do Ir Kurt Prober (nosso dedicado mestre, que, demais dessas doações, abriu e mantém abertas aos nossos estudos as portas de sua inaudita Biblioteca e as gavetas de seus surpreendentes Arquivos).

Passaram-se já setenta e três anos, desde o evento objeto da presente síntese.

O Supremo Conselho então presidido pelo Ir Octávio Kelly está hoje localizado no Campo de São Cristóvão, nº 114, São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ. Persiste a negativa que lhe foi imposta em 1929. O Supremo Conselho então presidido pelo Ir Mário Behring está hoje localizado na Rua Barão, nº 1.317, Praça Seca, Jacarepaguá, Rio de Janeiro, RJ. Ele é o único, no Brasil, que tem os reconhecimentos internacionais dos Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceito, seguidores do prestigioso Supremo Conselho da Jurisdição Sul dos Estados Unidos da América.

Seria uma indisfarçável deselegância encerrar este trabalho sem remeter, juntamente com o tríplice e fraternal abraço, os sinceros agradecimentos ao sempre fidalgo Ir João Guilherme da Cruz Ribeiro, que nos cedeu o valioso espaço gráfico de Engenho & Arte.

O Ir.’. Joaquim da Silva Pires é portador da Cruz da Perfeição Maçônica, do Grande Oriente do Brasil, e membro do Quatuor Coronati C. C., de Londres

Enviado por: Abtino Berlanda Costa

Um comentário:

  1. Texto esclarecedor, mas, ainda há que se esclarecer os motivos da negativa dos franceses em receber a delegação do GOB. O que havia por trás dessa negativa? Quais as motivações? Ou apenas se resumiu a questão da soberania do Supremo Conselho do GOB?

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