A CARIDADE MAÇÔNICA
Ir.'. Antônio Mantovani Filho
Quando éramos estudante (faz tanto tempo), nosso professor
de Filosofia sempre dizia: “Não adianta os senhores criarem teorias recheadas
de palavras difíceis ou pensamento profundamente elaborados: a Verdade
encontra-se na simplicidade”. Somente hoje entendemos a beleza desta
afirmação!
A Maçonaria é uma criação tão perfeita que somente
podemos compreendê-la se não quisermos complicar seu significado. Por outras
palavras: não devemos dar a esta sublime entidade conotações que somente a
desvirtuam.
Em minha Loja-mãe determinado irmão afirmou várias vezes:
“Maçonaria, para mim, é uma religião!”. E queria convencer a todos disto,
até que, num determinado dia, após ofender um irmão sem qualquer motivo
aparente, jogou o Avental no chão e retirou-se para nunca mais voltar. Mas,
que religião é esta que permite a ofensa gratuita? Somente porque nossa
sociedade assenta-se nos pilares da Fraternidade, do Perdão e do Amor Fraterno
devemos considerá-la uma religião?
Há muitos anos, quando representamos nossa Oficina na
Soberana Assembléia, umr irmão Deputado, apresentou maravilhosa explanação
a respeito de “Maçonaria e Política” terminando por exortar as Lojas para que
voltasse a ser uma entidade política como no passado. Sendo orador nato, suas
palavras vibrantes faziam os ideais aflorarem, entretanto uma dúvida nos
acometeu: será a Maçonaria uma entidade politico-partidária? Alguma vez, em
sua história, as leis maçônicas estruturaram uma sociedade
político-partidária? Deveriamos chamá-la de Partido Maçônico?
Recentemente, um irmão a quem respeitamos muito solicitou
seu Quite Placet, pois estaria insatisfeito em virtude da nossa Loja não
promover nenhuma campanha beneficente, nenhuma distribuição de cestas
básicas, e nem mostra para os profanos os trabalhos sociais que foram criados
ou as entidades sociais presididas por Maçons.
Oh! Grande Arquiteto do Universo! Como é difícil entender o
seu seja a Maçonaria!
Para tanto, devo ficar lendo Rituais e Leis? Devo pesquisar
sua história? É necessário pensar alguns meses na imensa biblioteca do Xico
Trolha? Ou devo seguir aquele ensinamento de meu professor e procurar a Verdade
na simplicidade?
Há alguns anos, após escrevermos um opúsculo sobre as
primeiras instruções aos Aprendizes-Maçons, procuramos algum tema para
escrever novo livro, pois nosso geriatra Irmão Maurílio José Pinto nos cobra
atividades intelectuais para podermos envelhecer com padrão de vida.
Discorrermos sobre ritualística ou liturgia, nem pensar: de
maneira alguma temos a pretensão de nos ombrearmos com os luminares Xico
Trolha, José Castellani e tantos outros pesquisadores!
Devassar a história maçônica? Sabemos que não somos
historiadores e não temos capacidade. Optamos, então, por um campo que
conhecemos e estudamos há muitas décadas: a Filosofia. Isto, porque a
Constituição de todas as Potências afirma peremptoriamente:a Maçonaria é
uma escola de Moral!
Se é uma escola deve
ensinar. E se deve ensinar princípios morais, é porque colima a reforma
espiritual do homem de modo que ele interaja na sociedade em que vive não só
através do trabalho comunitário mas, principalmente, através do exemplo.
Não é função da maçonaria promover campanhas sociais, mas ensinar aos seus
adeptos que eles devem, em sua vida profana, ser os criadores de campanhas
beneficentes.
Também não é função de nossa sociedade promover debates
políticos ou lutar por conquistas sociais, mas criar fomentadores de mudanças
sociais que promovam a Igualdade de oportunidades entre os homens e a
aplicação da Justiça. É por isto que não concordamos ser a Maçonaria uma
entidade filantrópica ou progressista.
Os clubes de serviço são inumeráveis, as entidades de
voluntários estão presentes em todos os hospitais, creches, Apaes e asilos.
Desta formas, a Maçonaria como entidade social torna-se desnecessária. Mas o
que falta no mundo são líderes imbuídos de sentimentos espirituais,
desligados dos interesses materiais, que se proponham lutar por uma sociedade
mais justa.
Nossa Sublime Ordem é uma instituição que surgiu em 1356,
calcada em Verdades morais e religiosas de luminares do passado, com a finalidade
de proteger seus afiliados e familiares. Numa época em que “o homem era o lobo
do homem”, a necessidade de se unir para proteção mutua deu ensejo à
formação das sociedades de trabalhadores. Sociedades fechadas dentro das
quais se praticava a solidariedade com base no amor fraterno.
Porém, em sua Perfeição, a Maçonaria sabe que os homens
são muito diferentes entre si, e que é mais eficaz tornar cada adepto num
líder que crie seu grupo de trabalho no mundo profano, do que constituir um
grupo de trabalho formado por Maçons.
Por outras palavras: a função primordial da Maçonaria é
selecionar e educar homens probos, ensinando-lhes os princípios de moral e
amor fraterno, para que eles possam agir no mundo profano como condutores de
homens, como Mestres das Verdades Eternas.
E, por entender a Maçonaria dentro destes parâmetros, é
que dou plena e total razão ao pensamento do querido e sempre presente Irmão
Xico Trolha: cabe à Maçonaria preparar moralmente homens para atuar no mundo
profano visando a construção de uma sociedade mais humana e justa,
principalmente através do exemplo mas, ao mesmo tempo, devem os Maçons
unirem-se cada vez mais para mútua ajuda e proteção.
Por outras palavras, o Tronco de Beneficência se constitui
num aprendizado e numa necessidade: é uma escola que ensina aos Maçons
praticar a Caridade dentro de sua casa, com seus irmãos, para depois aplicar
seus ensinamentos entre os profanos, ao mesmo tempo em que, segundo a
tradição, serve para suprir as carências da família maçônica, mormente
das cunhadas viúvas e dos sobrinhos órfãos. Jamais, de maneira alguma, a
Maçonaria é uma entidade filantrópica profana ou uma agremiação política!
Muito menos se constitui numa religião.
Fonte: JB News – Informativo
nr. 2.103
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