Rui Bandeira
Por vezes, esquecemo-nos que o
que é simples e básico para quem já conhece e está habituado a determinado tema
pode não ser assim tão facilmente entendido por quem esteja a iniciar o seu
contacto com o assunto.
Veio-me este pensamento à tona há
alguns dias quando li o texto do José Ruah Música no blogue - uma nova etapa,
vi as alterações que efetuou e, sobretudo, assisti a um comentário brincalhão,
com água no bico de "futebolês", do simple e à resposta, a sério, do
Ruah à "provocação futebolesa" do simple sobre o uso da cor azul para
uma das listas de músicas colocadas no blogue pelo Ruah. Este respondeu, muito
a sério, repito:
As Lojas são Azuis e o REAA é
Vermelho. Não pense o meu caro amigo que as cores foram escolhidas por acaso.
Os maçons entenderam
perfeitamente o alcance da resposta do Ruah. Mas interroguei-me sobre se um
profano que deparasse com este comentário o entenderia. E concluí que, embora
porventura muitos profanos o entendessem ou pudessem perceber com uma simples
busca num motor de busca, certamente haveria alguns que teriam dificuldade em
perceber a alusão.
Portanto, vamos lá esclarecer,
porque o facto de ser básico para uns não significa que o seja pra todos.
Em Maçonaria, designam-se por
Lojas azuis as Lojas que trabalham nos três graus essenciais da Maçonaria:
Aprendiz, Companheiro e Mestre. Porquê azuis? Simplesmente porque, na sua
origem, essa foi a cor escolhida pelos maçons que, no século XVIII, criaram, em
Inglaterra, a Grande Loja de Londres. Nesse tempo, havia apenas um rito
praticado e a cor que o identificava, a cor principalmente usada nos artefatos
dos maçons, era o azul.
E assim permaneceu,
designadamente nos países anglo-saxónicos, que, praticamente em exclusivo,
praticam apenas o Rito de York ou suas variantes. A cor deste rito é o azul.
Como nos países anglo-saxónicos a
tendência é para a prática de um único rito, e sendo a cor associada a esse
rito, passou a designar-se por Lojas Azuis as lojas dos três graus essenciais
da Maçonaria.
Com efeito, outras cores são
associadas a outras situações em Maçonaria. Por exemplo, os Grandes Oficiais
das Grandes Lojas anglo-saxónicas usam, normalmente, colares e aventais orlados
na cor púrpura.
Após a implantação da Maçonaria,
seguiu-se um período de criação e proliferação de ritos. Cada rito era, pelos
que o criavam, associado a uma cor. Das dezenas de ritos que apareceram, como é
natural só uns poucos subsistiram. De entre estes, o Rito Escocês Antigo e
Aceite, cuja cor é o vermelho.
Na Maçonaria anglo-saxónica, os
três graus básicos são, quase exclusivamente (existe uma exceção célebre, que
adiante referirei) trabalhados no rito de York ou suas variantes, cuja cor,
como acima referi, é o azul. Existem, para além dos três graus básicos e
essenciais da maçonaria, sistemas de Altos Graus, que prolongam o caminho
iniciado nesses três graus básicos. Mas todos os maçons, nos países
anglo-saxónicos, trabalham na Maçonaria Azul (os três graus básicos, no Rito de
York ou suas variantes). Os que o pretendem e a tal são admitidos, podem ainda
trabalhar em Altos Graus, seja do Rito de York, seja do Rito Escocês Antigo e
Aceite. Nos países anglo-saxónicos (ressalvada a tal exceção...) não se
trabalha no Rito Escocês Antigo e Aceite nos três primeiros graus. Só a partir
do quarto grau.
Na Maçonaria Continental
Europeia, em África e na América Latina, pelo contrário, as Lojas que trabalham
no Rito Escocês Antigo e Aceite utilizam-no desde o primeiro grau. Aqui, o Rito
não é exclusivamente um rito de Altos Graus, antes é um sistema coerente, que
vai desde a iniciação até ao último dos Graus Filosóficos. Apesar de a cor do
rito ser a vermelha, continua-se a designar as Lojas dos três primeiros graus
do Rito Escocês Antigo e Aceite como Lojas Azuis, em uniformidade com o
estabelecido no resto do mundo maçónico.
Consequentemente, embora a
designação de Loja Azul tivesse originalmente decorrido da cor do rito que no
século XVIII se praticava, hoje em dia essa designação aponta as Lojas dos três
primeiros graus da Maçonaria, qualquer que seja o rito praticado.
Quanto à tal exceção, que é,
afinal, uma mera curiosidade. Presentemente, nos EUA, toda a Maçonaria Regular
trabalha num único rito, a variante norte-americana do Rito de York, fixada por
Preston e Webb (normalmente denominada por Rito Preston-Webb). À exceção de uns
irredutíveis gauleses... Não propriamente a aldeia de Astérix, mas algo de
parecido. A Louisiana foi originalmente colonizada por franceses e foi
território colonial francês. Foi durante esse período que ali foi introduzida a
Maçonaria, segundo o rito mais praticado em França, o Rito Escocês Antigo e
Aceite. Ulteriormente, a Louisiana foi vendida pela França aos Estados Unidos e
passou a Estado integrante dos Estados Unidos da América. Quando ali se
organizou, ao estilo continental norte-americano, a Maçonaria, sob a égide da
Grande Loja da Louisiana, todas as Lojas a partir daí criadas passaram a
utilizar a variante local do Rito de York. Mas as Lojas pré-existentes que
manifestaram o desejo de continuar a trabalhar segundo o Rito Escocês Antigo e Aceite,
mesmo nos três primeiros graus, foram autorizadas a assim continuar a fazer.
Até hoje! Subsiste presentemente cerca de uma dúzia dessas Lojas. Os maçons
americanos chamam-lhe "Maçonaria Vermelha" e... são um polo de
curiosidade...
Fonte: http://www.rlmad.net
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