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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

OUTRA VEZ: TELHAMENTO OU TROLHAMENTO?

TELHAMENTO OU TROLHAMENTO
(republicação)

Em 12/05/2017 o Respeitável Irmão Ronaldo Neris Batistas, Loja Fé Equilíbrio e Amor, 317, REAA, GLESP, Oriente de São Paulo, Capital, formula a seguinte questão:

Inicialmente quero lhe parabenizar pelo trabalho no blog e dizer que tem sido de muita valia para aprimoramento de meus estudos.Li com muita calma a seus esclarecimentos sobre o correto uso do termo “telhamento ou trolhamento” e apesar de ter feito todo sentido para mim, me encontro em um grande dilema.

Comentei a respeito do assunto no copo d´água da última loja e fomos a pesquisa no ritual:

Especificamente no ritual REAA (Aprendiz e Companheiro) na parte de visitação a abreviação aparece como Trolhamento. “...outras potências reconhecidas, sujeitando-se, porém, às prescrições do Trolhamento e às disposições...”

Isso, a meu ver, a não ser que o ritual esteja com algum erro, coloca em mais um ponto de interrogação na minha cabeça.

Não sei no ritual de Mestre porque serei exaltado na terça feira da semana que vem.

Agradeço antecipadamente aos esclarecimentos e novamente lhe parabenizo pelo valoroso trabalho realizado.

CONSIDERAÇÕES:

Como eu tenho dito meu Irmão, um Templo se cobre com telhas e não com trolhas.

Infelizmente alguns autores ajudaram a disseminar esse equívoco (inclusive bons autores) ficando ele adotado em alguns rituais, e como, para não fugir do costume, a ordem é copiar e não questionar, o processo segue seu curso com força e vigor. Se existem rituais que adotam esse termo e o associam à trolha, nada podemos fazer, senão apontar que esse uso é incorreto quando usado como expressão de verificação e cobertura nos jargões maçônicos.

O substantivo telha e o neologismo maçônico telhamento só faz sentido se for relacionado ao Cobridor ou ao Tiler (Guarda Externo na Maçonaria inglesa). Note que nem existe o cargo de “trolhador” na Maçonaria. Ora, então por que usar o a expressão trolhamento? Só mesmo se for por pura teimosia.

Em relação à trolha e o termo trolhamento ele é plausível quando relacionado àquilo que alisa, ou o ato de alisar aparando arestas. Nesse sentido e de modo figurado, trolhar significa em maçonaria sanar rusgas ou trazer novamente harmonia entre irmãos que tenham porventura entrado em desentendimento. O objeto trolha, tanto como a colher de pedreiro ou como a desempoladeira, é o que se adapta nessa serventia, mas nunca como um ato de examinar a qualidade de alguém.

Desafortunadamente no perfil latino de Maçonaria, o seu modus operandi tem colaborado para esses desacertos, sobretudo porque nele se diz “cumprir o que está escrito”, não importando se o que está escrito faz sentido ou não dentro do contexto, nesse caso o do simbolismo e o da liturgia maçônica.

Existe, entretanto, outra possibilidade pela qual possa ter surgido esse desacerto e falsa interpretação generalizada adquirida pela mistura de procedimentos de uns em outros ritos. Ela é a seguinte: o Rito Schröder, por exemplo, usa tradicionalmente uma pequena trolha (geralmente sobre um triângulo equilátero) como joia do Guarda do Templo (Wachhabende ou Türhüter). Nesse caso a trolha representa que esse oficial, em nome do sigilo, pode lacrar o recinto das vistas e ouvidos dos bisbilhoteiros, isto é, simbolicamente seria como se ele elevasse uma parede no local da porta assentando pedras ou tijolos com argamassa impedindo acesso aos cowans.

Obviamente que isso tem apenas um sentido figurado para representar a obstrução de passagem para alguém que não esteja qualificado para ingressar nos trabalhos. Devido ao uso da trolha como joia do cargo nesse rito é que pseudos ritualistas, ao tempo de procurar a interpretação correta pela presença da trolha como símbolo do Guarda do Templo, simplesmente associaram a joia com o ato de trolhar (sic), criando inclusive esse verbo que é inexistente no nosso idioma vernáculo.

Quero deixar bem claro que não vai aqui nenhuma crítica ao uso da trolha como joia do Guarda do Templo no rito Schröder, pois nele ela é tradicional. Equivocados mesmo estão os desatentos que associaram um objeto sem o conhecimento do seu verdadeiro significado na Maçonaria, enxertando-o nos ritos que tem como oficial o Cobridor, cuja joia do cargo é composta por duas espadas cruzadas. Independente da joia, do título do oficial, ou do rito, verificar a qualidade maçônica de alguém significa “telhamento”. Assim, o Cobridor ou o Guarda do Templo são aqueles que têm por ofício “cobrir o templo”. Afinal, cobrir evita o aparecimento de “goteiras”.

A gíria profissional maçônica “goteira” teve origem na Grã-Bretanha à época dos Canteiros Medievais. Quando um bisbilhoteiro era surpreendido espionando os planos de trabalho da guilda construtora, o intruso como castigo era então amarrado sob as calhas que recebiam as aguas pluviais, especialmente dos telhados, recebendo assim um belo banho de água gelada, destacando-se que as temperaturas naquelas latitudes terrenas geralmente eram (e são ainda) baixas durante o ano.

Assim meu Irmão, eu tentei mostrar a origem e os fatos que corrompem expressões tradicionais no meio maçônico. Se para alguns é difícil entender isso, sinceramente eu não sei o que mais há de se fazer.

No meu blog, o Blog do Pedro Juk, em Peças de Arquitetura – Pedro Juk, o Irmão encontrará um escrito de minha lavra sob o título de Telhar ou Trolhar. Ele poderá lhe dar mais alguns subsídios para entender esse mote.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Querido Irm∴!
    Muito tenho lido a respeito da questão "Trolhamento ou Telhamento".
    Gostaria de contribuir com a minha visão como filho de construtor (pedreiro)!
    Não há duvidas que a trolha (colher-de-pedreiro) se presta a alisar a massa utilizada para o emboço em paredes e aparar arestas nas mesmas.
    Gostaria de salientar um uso que parece esquecido.
    Quando chamamos um “bom pedreiro” (os da antiga escola – os mestres) para examinar, por exemplo, o emboço em parede ou uma pintura na mesma, ele utiliza como ferramenta inicial para a análise a sua colher (inseparável amiga). Ele bate com a quina mais grossa na parede para verificar se está oca, bate com a ponta do cabo, usa a ponta da colher para escavar, etc. O pintor usa a espátula, que é uma variante da colher, mais apropriada para a pintura.
    Da mesma forma, quando iam analisar um telhado, aqueles mais antigos, do tempo das telhas de barro que eram muitas vezes presas com massa nos cantos dos telhados e junções com paredes adjacentes, pontos onde eram comuns as infiltrações, usavam a mesma colher (trolha) para verificar o estado dessa massa (“massa pobre”), pois martelos, marretas, cinzéis, etc não eram recomendáveis, pois quebravam as telhas.
    Eles não estavam telhando, mas examinando onde estava o problema – a origem do vazamento. O porquê da goteira!
    Portanto, mais do que a raiz das palavras e suas origens, devemos ver como os pedreiros antigos utilizavam a ferramenta.
    A trolha, ou a colher, era a ferramenta mais importante do pedreiro. Servia para quebrar tijolos, por os tijolos, colocar a massa para o reboco, misturar a massa e prepará-la, alisar a massa, remover reboco antigo, raspar superfícies, fazer análise em paredes e telhados, etc
    Para concluir, dada a nossa colonização portuguesa, e a tradição herdada dos mesmos nas primeiras construções erguidas no Brasil ainda colônia, o exposta acima me leva a crer que o termo Trolhamento é coerente, pois os primeiros pedreiros faziam seu exame com a Trolha (ainda hoje muitos o fazem).

    TFA!
    Wilson batista
    CIM 286846
    ARBLS Universo – 2110
    Ilha do Governador - RJ

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