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quinta-feira, 6 de julho de 2017

ORTODOXIA MAÇÔNICA

Ortodoxia Maçônica - A Preservação dos Símbolos e da Autêntica Doutrina Maçônica
Irm∴ André Otávio Assis Muniz
"A compreensão humana não é um exame desinteressado, mas recebe infusões da vontade e dos afetos; disso se originam ciências que podem ser chamadas 'ciências conforme nossa vontade'. Pois um homem acredita mais facilmente no que gostaria que fosse verdade. Assim, ele rejeita coisas difíceis pela impaciência de pesquisar, coisas sensatas, porque diminuem a esperança; as coisas mais profundas da natureza, por superstição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho; coisas que não são comumente aceitas, por deferência à opinião do vulgo. Em suma, inúmeras são as maneiras, e às vezes imperceptíveis, pelas quais os afetos colorem e contaminam o entendimento." (Francis Bacon)
Em nossos dias, é muito comum que cada maçom se ache no direito de interpretar como bem entender os símbolos da Ordem. É mais comum ainda, que cada maçom crie uma suposta "doutrina maçônica" ao seu bel prazer.

Sem grandes estudos em que se embasar, sem grandes fundamentos filosóficos, desprezando a história e a tradição vão se lançando ao ar milhões de "interpretações", "conceitos" e "instruções" que lançam uma espessa camada de "argila" sobre os verdadeiros fundamentos da Franco-Maçonaria.

Lê-se um livreco aqui, outro acolá, vão se juntando fragmentos de conceitos, frases soltas, idéias desconexas a um conceito, sentimentos, crenças pessoais e, em nome de uma falsa "tolerância", tudo se aceita e tudo é visto como uma "verdade pessoal" (?).

Em meio a esse turbilhão de "interpretações" e conceitos, em meio a tantos e tantos enxertos sofridos ao longo dos séculos, parece que estamos cercados por espessas sombras, e que o caminho que nos levaria ao autêntico conhecimento iniciático da Ordem perdeu-se entre as brumas... A quebra da unidade ideológica da Maçonaria representa o enfraquecimento de sua ação efetiva junto à sociedade e a perda progressiva de lideranças internas.

Poucos percebem a gravidade da situação. Estamos na mesma condição de arqueólogos que, pisando sobre um valioso sítio histórico, sentem-se desorientados com a ausência de evidências na superfície.

A Ordem, pouco a pouco, vai sendo descaracterizada pelos acréscimos, pelas misturas, pelo sincretismo sem critérios e pela falta de atenção e seriedade de muitos que querem modelá-la à sua "imagem e semelhança".

Como solucionar tal situação? Como frear esse processo nocivo que se instalou em nosso meio? Como resgatar a Doutrina Maçônica em todo o seu esplendor e conduzir os Irmãos ao conhecimento real da Sublime Arte?

Já que citamos como exemplo os arqueólogos, sigamos com esse exemplo e afirmemos que aqueles que realmente desejam conhecer a Ordem, devem agir de maneira semelhante aos desbravadores dos segredos da Antigüidade. Devem munir-se de "picaretas", "pás", "escavadeiras" e de muita disposição para o trabalho. Devem recurvar-se sobre o "solo maçônico" e principiarem o árduo trabalho de retirada das pesadas camadas de argila que foram lançadas sobre as preciosas tábuas que contém o âmago da Pura Maçonaria.

Em outras palavras, devem estudar sem descanso as obras dos grandes filósofos, a História Geral e a História da Ordem (que NÃO PODE ser dissociada NUNCA da História Profana, sob pena de criarmos uma mentira), as Leis das Nações, a Ética e seus fundamentos últimos, a Antropologia, a História das Religiões, a origem dos símbolos utilizados pela Ordem e os contextos em que surgiram, a Oratória, a língua pátria, as línguas estrangeiras, as línguas antigas como o grego e o latim, a Teologia e a Hermenêutica Bíblica (para que possam compreender a influência que tiveram sobre a Ordem), os documentos antigos das Obediências Maçônicas, os documentos que têm importância para o conhecimento de nossas origens e de nossos ideais, as ciências e sua história, enfim, devem trabalhar sem repouso para acessar o maior número de informações confiáveis e COMPROVÁVEIS para construir um edifício íntegro, uma formação sólida e robusta em Maçonaria.

O conhecimento da Ordem demandará toda uma vida de estudos. Quando somos iniciados, ninguém nos diz que tudo será fácil. Muito pelo contrário, somos lembrados a todo momento da "grandeza dos ideais que nos impusemos"... Ora, se queremos facilidades e conforto, melhor seria que tivéssemos permanecido profanos, pois afinal de contas, "polir a Pedra Bruta" é trabalho braçal pesado.

O conhecimento da Ordem é uma Ciência. E a Ciência Maçônica não é trabalho para preguiçosos, amadores ou crédulos. É trabalho para aqueles que REALMENTE estão comprometidos com os ideais da Ordem, para aqueles que DESEJAM com todas as suas forças que os ideais da Maçonaria sejam CONCRETIZADOS, isto é, que passem do papel para a vida real!

A Maçonaria tem uma Doutrina cujo objetivo é polir o caráter do homem e fazer com que ele deseje ardentemente o estabelecimento de uma sociedade livre, justa, que proporcione todos os meios de desenvolvimento aos seus membros. Como dizem nossos formulários, a Maçonaria "tem por fim estabelecer a JUSTIÇA na Humanidade e fazer imperar a FRATERNIDADE".

Os nossos símbolos têm por objetivo formar "homens livres e de bons costumes que preferem à todas as coisas a JUSTIÇA E A VERDADE e que, desprendidos dos preconceitos do vulgo, são igualmente amigos do rico e do pobre, se são virtuosos"... em resumo, o que queremos dizer é: DEVEMOS IR AO ENCONTRO DAQUILO QUE NOS PROPUSEMOS !

Abandonemos as invencionices, os tolos e infundados conceitos estranhos ao espírito autêntico da Ordem, abandonemos a inércia deletéria, a preguiça, as MENTIRAS (por mais agradáveis que nos pareçam), lancemos para longe os autores mistificadores, os falsos historiadores, os que querem transformar a Ordem em uma seita ou culto esotérico, busquemos com denodo a autenticidade, doa a quem doer, busquemos um "grand retour", um retorno triunfante de nossa Doutrina que a faça resplandecer por toda a superfície da Terra.

Cada Loja deveria ser uma universidade de líderes, com uma exigente grade de matérias, um local onde a mente fosse forçada ao máximo de sua capacidade, onde cada ato suscitasse profundas reflexões, onde as discussões fossem levadas ao ápice da argumentação lógica, onde o homem, REALMENTE, desbastasse a Pedra Bruta e fizesse a cada sessão "novos progressos na Maçonaria".

Não é possível que aceitemos tudo quanto nos apresentam como maçônico se tais coisas não se sustentam em fatos. Devemos estabelecer critérios, uma rigorosa metodologia, uma busca incessante por fatos que comprovem quaisquer teorias que nos apresentem. Lembremo-nos que a Maçonaria é uma instituição progressiva e evolucionista, não um recanto de dogmas e crendices !

O maçom deve esquadrinhar cada questão, deve questionar, duvidar, analisar, buscar provas, confrontar com os fatos cada idéia, sistematizar em uma cadeia lógica cada indagação, contextualizar cada evidência, olhar sem preconceitos todas as afirmações e só então concluir... e mesmo concluindo, deve estar aberto às contradições vindouras, deve estar pronto a mudar tudo novamente se as provas em contrário forem fortes o suficiente. Nenhum apego egoísta ou egolátrico deve impedi-lo de mudar suas opiniões; no entanto, deve defendê-las vigorosamente se, embasado em sólida pesquisa, não encontrar evidências que as contradigam. Essa é a atitude de um Livre-Pensador.

Mantendo-nos em estrita vigilância interior e obedecendo com fidelidade aos imperativos da honestidade intelectual, pouco a pouco nos aproximaremos da tão desejada ortodoxia maçônica e toda heterodoxia será varrida, toda treva banida, todo erro sanado. A Luz da Verdade surgirá radiosa, invadindo cada canto sombrio de nosso ser.

A Verdade é encontrada nos fatos. Não depende de nossa vontade e nem se curva aos nossos sentimentos. Gostemos ou não, queiramos ou não, ela sempre prevalecerá. Podemos fechar os olhos e tentar não enxergá-la, podemos tentar viver em um mundo nosso, ilusório, fechado às "invasões" indesejáveis dos desconfortáveis encontros com ela. Podemos fingir que ela não existe, podemos até lutar contra ela em nome de nossos "bons sentimentos" ou de nossos "valores pessoais", mas mesmo assim, a bela senhora Verdade estará lá, impassível, imortal, tão antiga quanto o tempo, a observar a luta vã dos homens que tentam encobri-la com lendas e crendices.

Ao lado da Verdade, está a Liberdade... Liberdade tão desejada, cantada em prosa e verso, e ao mesmo tempo, tão temida... O medo do desconhecido, o medo de se estar livre de amarras, o medo de se dar o passo em direção ao vasto abismo da existência ! A maioria prefere as amarras da escravidão, prefere continuar amarrado ao que conhece, prefere simplesmente esquecer que as algemas ali estão, prefere a ilusão de uma liberdade fictícia. A Verdade e a Liberdade andam juntas, de mãos dadas.

O Verdadeiro Segredo de nossa instituição será alcançado quando, depois de uma vida inteira de esforços contínuos e de lutas, alcançarmos aquela certeza de que nossos ideais não foram em vão. Esse segredo é intransmissível. É o modo como cada um cooperou para colocar mais uma pedra cúbica no imenso edifício social e o modo pelo qual conseguimos fazer de nossa vida a transformação que desejamos para a Humanidade, tornando-nos pedras-vivas.

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