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terça-feira, 14 de setembro de 2021

TRANSMISSÃO DA PALAVRA E DA PALAVRA DE PASSE

TRANSMISSÃO DA PALAVRA E DA PALAVRA DE PASSE
(republicação)

Questão apresentada pelo Respeitável IrmãoAntonio Raia, sem declinar o nome da Loja e do Oriente.
antonio_raia@hotmail.com

Na página 165/166 no Ritual de Aprendiz, as palavras são; Sagrada e Semestral. A Palavra Sagrada dá-se letra por letra e, depois sílaba por sílaba, visto que oAprendiz só sabe soletrar - Quando vos disserem: Dai-me a Palavra Sagrada deveis responder: Não v∴ p∴ d∴s∴n∴sol∴, dai-me a p∴ let∴ que eu vos darei a seg∴. Quem pergunta dá a primeira letra e quem é interrogado dá a segunda e assim sucessivamente. Dada à última letra, dão-se, também alternadamente, as sílabas.

No mesmo ritual na página 49, Venerável: Em pé meus Irmãos, (O 1º Diácono, sobe os degraus do Trono, pelo norte, com passos normais e coloca-se em frente ao Venerável Mestre). O Venerável Mestre dá-lhe, no ouvido direito a Palavra Sagrada, letra por letra.

O fato ocorreu ontem em uma Loja, que não gostaria de identificar e um Respeitável Irmão Mestre Instalado, questionou presente e ouvindo as devidas explicações ao Irmão Aprendiz, questionou: Por que ao transmitir no momento da abertura dos trabalhos a transmissão da Palavra Sagrada, a forma não é igual à dada na instrução? Ao qual respondi que no momento de Instrução é dada ao Aprendiz, que não sabe ler nem escrever e, na transmissão da Palavra Sagrada é transmitida do Venerável Mestre para um Irmão Mestre que sabe ler e escrever. E o Respeitável Irmão Mestre Instalado, não se deu por satisfeito, continuando indignado por ninguém saber responder. Qual a resposta que poderei dar ao Respeitável Irmão que aproveitou o momento para também questionar? Por que o Irmão Aprendiz não tem a palavra de passe?

CONSIDERAÇÕES:

Como bem dito pelo Irmão, a transmissão da Palavra Sagrada no início e encerramento dos trabalhos do Rito Escocês Antigo e Aceito nos graus simbólicos é dada entre Mestres letra por letra apenas por aquele que a comunica. Essa transmissão é uma reminiscência dos antigos Canteiros Medievais quando no início da jornada de trabalho as primeiras providências tomadas eram as de marcar o local da obra de tal maneira que ela viesse ficar esquadrejada, nivelada e aprumada. Ao término da jornada de trabalho o seu produto era verificado e conferido na sua aprumada, nivelamento e esquadrejamento para bem pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos.

Na Moderna Maçonaria que é dotada do aspecto especulativo, no canteiro (Loja), constrói-se um novo Homem ao invés de literalmente se elevar uma construção. Assim, no Rito em questão, transmite-se a palavra do Grau que se simbolicamente for transmitida de forma correta, o ato estará “justo e perfeito”, tanto para começar a jornada de trabalho quanto para encerrá-la.

Em assim sendo, esse procedimento ritualístico não pode ser comparado com o telhamento maçônico que é outro fato e que tem por objetivo verificar a qualidade (grau) e regularidade do Obreiro. Nesse caso, as letras no Grau de Aprendiz, após o Toque, são dadas soletradas de tal maneira que cada um transmita uma letra por sua vez.

Ainda em relação à palavra soletrada e silabada no final é, infelizmente, um equívoco que vem de há muito tempo enraizado nos nossos rituais.

Esse procedimento de soletrar e silabar a palavra não são próprios da Maçonaria latina, porém da anglo-saxônica (inglesa) que a dá de forma diferente, inclusive usando o termo de “partida ao meio” quando cada coadjuvante dá soletradas duas letras e ao final dão-se intercaladas as sílabas.

Excepcionalmente essa regra invadiu os procedimentos latinos e de maneira incoerente acabaram por dar ao final, a palavra silabada que, mal interpretada fora copiada do costume inglês - aquele de se partir ao meio que, diga-se de passagem, não é o mesmo que silabar.

Agora, se está escrito no ritual em vigor, ter-se-á que cumprir a regra, embora seja um tanto quanto difícil de explica-la.

Quanto à inexistência da palavra de passe para o Aprendiz é devido a sua fase de aprendizado que está relegada a infância simbólica. É óbvio que aquele que ainda não sabe pronunciar a palavra por inteiro e que depende de soletra-la para se fizer entender não poderia possuir uma senha dotada de uma palavra de passe. Se ao menos ele pudesse silabá-la..., talvez.

Na alegoria da vida proposta na senda iniciática da Maçonaria, o Aprendiz ainda ofuscado pela Luz carece de um guia permanente na sua jornada, já que a intuição é ainda a sua ferramenta principal.

É com base nesse costume que o Aprendiz no Rito em questão executa a sua Marcha em linha reta com a tônica que dela não deve se desviar, posto que pela sua etapa iniciática, simbolicamente ele ainda não detém esclarecimento necessário para se desviar do percurso retilíneo, pois se assim o fizesse, fatalmente não saberia voltar. Assim não haveria sentido algum de que o Obreiro ainda presente nessa etapa viesse a ter uma Palavra de Passe.

O termo “passe” está diretamente ligado à passagem para o grau subsequente, quando na jornada cíclica da evolução o protagonista passa para a perpendicular ao nível*, isto é atravessa o equador no sentido do Norte (lugar do Aprendiz) para o Sul (lugar do Companheiro).

Essa passagem na Maçonaria latina (francesa) recebe o título de Elevação, enquanto que na inglesa é mesmo “Passagem”.

Enfim, aquele que estiver apto para passar de um para o outro hemisfério (Norte para o Sul – mudança de Grau) só o fará se comprovar essa aptidão. Como não vivemos mais na Maçonaria Operativa, comprova-se essa habilidade por uma Palavra de Passe, dada a consideração de que essa é restrita apenas ao Obreiro que cumpriu devidamente a primeira etapa da escalada iniciática.

Não obstante a essas considerações, embora até possa existir correlação, o assunto aqui tratado não visou abordar a circulação em Loja ou deslocamento de Obreiros no cumprimento formal da ritualística.

(*) Passagem para a perpendicular ao nível – significa que uma linha perpendicular ao nível (horizontal) é o prumo que na sua interseção (entre corte) com uma linha horizontal determina o ângulo de 90º (se não possuir ângulo reto não é perpendicular, porém oblíqua). O Nível está no Norte com o Primeiro Vigilante, enquanto que o Prumo está no Sul de posse do Segundo Vigilante. Esse caráter assume o significado simbólico da passagem do Norte (Grau de Aprendiz) para o Sul (Grau de Companheiro). De maneira enganada, muitos tratadistas pronunciam e escrevem inadvertidamente o termo como “da perpendicular ao nível” ao invés da forma correta que seria, “para a perpendicular ao nível”. Isso acaba trazendo uma falsa interpretação de que as ferramentas estão invertidas, ou tratando absurdamente o nível como perpendicular e o prumo como horizonte. O símbolo correto está visível no avental do Venerável Mestre onde existem três conjuntos compostos por uma linha horizontal e outra vertical – o Nível (horizontal) e o Prumo (a perpendicular). Como muitos inventores não conhecem a exegese simbólica do símbolo, talvez pela lei no menor esforço, preferem chama-lo de “tau invertido”, letra grega que além de estar de cabeça para baixo, o que não faz sentido algum, também nunca fez parte da tradição, uso e costume da verdadeira Maçonaria.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 566, Florianópolis (SC) 16 de Março de 2012.

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