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domingo, 10 de setembro de 2017

AS LOJAS E SEUS RITOS

AS LOJAS E SEUS RITOS
João Anatalino Rodrigues

As Lojas 

O termo Loja, tal qual é empregado na Maçonaria, encerra uma variedade de significados. Tradicionalmente se refere ao conjunto de Irmãos reunidos em assembleia. Isso nos leva a fazer uma distinção entre os termos Loja e Templo, pois enquanto o primeiro se refere ao edifício onde os maçons se reúnem, o segundo identifica a própria reunião dos maçons em si mesma. Destarte, esta ultima pode ser realizada em qualquer lugar que ofereça condições para tanto, não precisando, obrigatoriamente, ser dentro de um Templo. Assim, o termo Loja assume um amplo leque de significados, que resumem a tradição que a assembleia de maçons pretende refletir.

São vários os títulos aplicáveis ás diversas Lojas dos maçons. Tradicionalmente elas se dividem em Lojas Simbólicas, Capitulares, Filosóficas e Administrativas, os quais, por sua vez se repartem em blocos de ensinamentos específicos, e estes em graus, titulados conforme cada tema neles referidos.

A Loja, portanto, é uma assembleia de maçons, reunidos para um determinado fim, e Templo é o local onde os Irmãos se reúnem, embora esse termo, Templo, em nossa opinião seja impróprio, já que a Maçonaria não é uma seita religiosa, e portanto, o local onde os maçons se reúnem não poderia invocar essa propriedade. 

Na chamada Loja Simbólica o que se pratica é a chamada Maçonaria básica, consagrada aos fundamentos comuns da tradição maçônica, que é o exercício da Fraternidade, fundamentada na Igualdade entre os Irmãos e na mais perfeita Liberdade de pensamento. Não cuida, a chamada Loja Simbólica, dos fundamentos mais profundos da doutrina maçônica, que são encontrados em temas mais avançados da chamada Arte Real. 

Assim, nos três graus que compõem sua estrutura, Aprendiz, Companheiro e Mestre, a proposta é a de divulgar os fundamentos da Maçonaria, enquanto tradição herdada dos antigos pedreiros medievais. Conquanto os ensinamentos da Loja Simbólica sejam todos transmitidos de forma iniciática, as assembleias dos maçons que se reúnem nessa estrutura, tratam principalmente, de assuntos referentes á Irmandade, nas suas relações com a sociedade, os problemas de cada Loja, os assuntos internos, as questões de interesse corporativo que afetam o grupo e a Ordem com um todo. Não se exige que um iniciado maçom, ao colar os três graus da Loja Simbólica, passe depois a frequentar os graus superiores. Todavia, para que ele seja um maçom completo, basta que ele seja elevado ao grau de Mestre. Porém, se o Irmão quiser conhecer, de fato, a Maçonaria, será preciso que ele suba todos os graus da chamada Escada de Jacó, alegoria que significa a passagem do maçom por todos os graus da escalada que o Rito adotado por sua Loja pratica. 

Os Ritos 

Dentro da estrutura sistêmica de cada Rito são adotados títulos diferentes para as assembleias que se reúnem nos mais variados graus. Assim é que os chamados graus Inefáveis do REAA, na Maçonaria do Arco Real correspondem aos Graus Capitulares; os graus Capitulares do REAA são os chamados graus crípticos do Arco Real; já os graus Administrativos do REAA correspondem aos graus de Cavalaria no Arco Real. Esses títulos, como os Irmãos poderão ver á medida que forem subindo a Escada de Jacó, em qualquer dos Ritos, têm a sua razão de ser, pois correspondem ao simbolismo que cada grau desenvolve. Porém, uma análise mais profunda nas raízes de cada um deles irá mostrar que todos se abeberam em uma fonte comum, que é a tradição bíblica, veiculada pelos cinco livros da Torá, interpretada e teatralizada conforme a visão de cada Rito, adaptada á ideia que o grupo praticante tem de uma Ordem mundial justa e perfeita. Porque, seja qual for o Rito praticado, o fundamento que une todos os irmãos da Arte Real é a construção de uma sociedade justa e perfeita. 

É verdade que a Maçonaria é uma tradição cujas origens se perdem no tempo, mas as suas vinculações são visíveis em cada período vivido pela humanidade, porque elas se fundamentam em arquétipos cultivados pelo espírito humano desde a formação dos primeiros grupamentos humanos. Esses arquétipos constituem um elo que liga as diferentes fases da civilização e permanece na psique do homem como elementos fundamentais para que a sua espécie seja preservada e a sua sociedade se conserve, sempre buscando um grau mais alto de aperfeiçoamento. E a base fundamental desse elo é a necessidade da preservação das conquistas espirituais feitas pelo homem em sua aventura terrestre. Por isso ele se une aos seus “iguais” e procura, através do corporativismo, da associação, da “Irmandade”, manter num círculo bem restrito a chave dessa cripta misteriosa. Desde os mais antigos tempos das sociedades humanas essa estratégia de preservação é praticada, e a Maçonaria nada mais é do uma corruptela dessa ideia arquetípica que sempre impressionou os espíritos mais sensíveis, em todos os tempos.1

O elo 

Destarte, a ideia que está na base da Maçonaria é a necessidade de os grupos humano de preservarem as suas conquistas civilizatórias através de um sistema corporativo que lhes sirva de defesa. De outro lado, essa estratégia permite aos seus membros o desenvolvimento de um sistema ético e moral que agrega sempre os novos valores que a sociedade elege como necessários á sua felicidade. E por fim tudo isso se organiza numa fórmula institucional que se conforma numa Organização. Se perseguirmos, no tempo e nas estruturas sociais que se formaram na história das sociedades humanas, sempre encontraremos associações mais ou menos identificadas com o que chamamos de Maçonaria. 

(1) Por isso a estranha evolução que se nota entre antigas tradições iniciáticas, como os Mistérios Egipcios e os Mistérios de Elêusis, por exemplo, que de simples festividades religiosas de caráter popular, destinadas a atrair a benevolência dos deuses, evoluiu para verdadeiras criptocracias, onde o poder político e religioso se concentrou, e de onde o vulgo era excluído. Essa evolução é mostrada de forma bastante visível na obra de Fustel de Coulanges “A Cidade Antiga” e no “Ramo de Ouro” de Sir James Fraser. Ver, nesse sentido, a nossa obra “ O Tesouro Arcano” publicado pela Ed. Madras, onde esse assunto é estudado com mais profundidade. 

Fonte: JB News – Informativo nr. 2.061

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