Páginas

quarta-feira, 13 de abril de 2022

DIFERENÇAS ENTRE OS RITUAIS DO REAA - GRANDE ORIENTE E GRANDE LOJA

DIFERENÇAS NO REAA
(republicação)

Em 08/08/2017 o Respeitável Irmão Cláudio Lúcio Fernandes Amaral, Loja Cavaleiros da Arte Real, 4.309, Rito de York (Emulação), GOB-PR, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, formula a seguinte questão:

Estou estudando comparações entre ritos e, se possível, gostaria que o valoroso irmão me esclarecesse sobre diferenças entre REAA da Grande Loja e do Grande Oriente. Desde já agradeço.

CONSIDERAÇÕES:

As ponderações seguintes não possuem o desiderato de tratar desse assunto como um libelo acusatório contra essa ou aquela Obediência pelas inúmeras contradições e procedimentos equivocados que povoam os rituais do escocesismo simbólico praticado pela Maçonaria brasileira.

Na realidade isso não deveria acontecer quando se trata de um mesmo Rito, todavia muitas questões fizeram com que essas diferenças acontecessem.
Dentre elas, no que diz respeito aos rituais do REAA⸫ praticado nas Grandes Lojas brasileiras, tomando por base o grau de Aprendiz, existem algumas dessas características que foram adquiridas principalmente por conta da busca de reconhecimento por Mário Béhring no segundo quartel do século passado junto às Grandes Lojas norte-americanas para a sua Obediência recém-nascida da cisão de 1927 que acontecera no seio do Grande Oriente do Brasil.

No que diz respeito aos rituais das Grandes Lojas brasileiras e o mencionado reconhecimento norte-americano, ele trouxe algumas alterações para REAA⸫ baseadas naquilo que se praticava ritualisticamente, aliás, e que ainda se pratica, nos Estados Unidos da América do Norte, cuja liturgia vem das Lojas Azuis do Craft, comumente também conhecido por aqui como Rito de York Americano. 

Explica-se, entretanto que a Maçonaria norte-americana é oriunda da Maçonaria inglesa, mais precisamente da Grande Loja dos Antigos de 1751 que fazia oposição à Grande Loja dos Modernos de 1717. Já o REAA⸫ que verdadeiramente não nasceu na Escócia, embora também possua influências anglo-saxônicas, é originário da França. Embora o Primeiro Supremo Conselho do REAA⸫ tenha nascido nos Estados Unidos da América do Norte, as suas raízes, a partir do Rito de Heredon, são francesas – a História, implacável e acadêmica e não tendenciosa sacramenta essa afirmativa.

Retomando o curso do comentário e da influência norte-americana nos rituais do escocesismo praticado no Brasil, é premente se compreender que por razões culturais e históricas a liturgia e a ritualística praticada nas Lojas Azuis (origem inglesa) não são iguais àquela praticada pelo verdadeiro simbolismo do REAA⸫, que é de origem francesa.

Isto posto, coloco então alguns tópicos que são originais da liturgia das Lojas Azuis (Rito de York Americano), mas que acabaram pelas circunstâncias do reconhecimento procurado por Béhring influenciando à posteriori alguns rituais escoceses praticados, principalmente pelas Obediências brasileiras e que se encontram presentes até a atualidade.

Assim, seguem enumeradas as principais práticas das Lojas Azuis acima mencionadas e que provavelmente influenciaram os rituais do REAA⸫ praticados no Brasil: 

1. Avental do Mestre Maçom orlado de matiz azul;

2. Diáconos e Mordomos[1] do Craft americano geralmente usam bastões (varas). Em algumas ocasiões ritualísticas os Diáconos cruzam os seus instrumentos no alto como que a formar um pórtico para passagem (isso ocorre inclusive no Craft inglês com as varas);

3. O Altar dos Juramentos é colocado no centro do Ocidente;

4. Contornando o Altar dos Juramentos, iluminando o Livro da Lei existem três candelabros, cada qual com uma luz (vela) – originários dos antigos tocheiros;

5. Durante a Iniciação o Marechal (cargo do Rito de York Americano) lê durante a perambulação do Aprendiz Admitido o Salmo 133;

6. Em algumas Grandes Lojas o Rito de York Americano usa-se o mesmo painel inglês (Tábua de Delinear).

Dados esses tópicos e circunstâncias mencionadas, é que provavelmente essas práticas litúrgicas das Lojas Azuis, no intuito de agradar os reconhecedores norte-americanos, acabaram sendo implantadas nos rituais escoceses das Grandes Lojas Estaduais brasileiras como, por exemplo, as que seguem abaixo enumeradas:

1. Aventais orlados em azul para os Mestres no REAA⸫, quando verdadeiramente deveriam ser encarnados; 

2. Os Diáconos portando bastão, quando no REAA⸫ eles originalmente não os utilizam; 

3. Do cruzamento dos bastões, comuns algumas vezes nas Lojas Azuis, mas não no REAA⸫ Equivocadamente ainda com relação aos bastões cruzados, juntados a eles o bastão do Mestre de Cerimônias, o pálio sobre o Livro da Lei durante a abertura e encerramento dos trabalhos[2];

4. Altar dos Juramentos colocado no centro do Ocidente, o que no REAA⸫ originalmente fica no Oriente;

5. Leitura do Salmo 133 inserido na abertura do Livro da Lei, quando no original do REAA⸫ é feito em João, 1, 1-5.

6. Colocação de um Painel inglês no Oriente dando-lhe o nome de Painel Alegórico, mobiliário esse inexistente no verdadeiro REAA⸫ Essa inserção equivocada acabou dando para os rituais das Grandes Lojas o aparecimento de dois Painéis se somado com o outro que é o verdadeiro e original (francês) que fica corretamente posicionado no Ocidente. Além desse tal Painel Alegórico não existir no REAA⸫ ele ainda traz um conteúdo simbólico que não condiz com o arcabouço doutrinário deísta francês.

7. Embora nada tenha a ver com a liturgia das Lojas Azuis, ainda aparecem nos rituais escoceses das Grandes Lojas equivocadamente as colunetas nas mesas dos Vigilantes que se posicionam (em pé ou deitada) conforme o período de trabalho. Essas colunetas são originárias do Craft inglês a exemplo dos Trabalhos de Emulação. Essas miniaturas de colunas também nada têm a ver com o REAA⸫

É bem verdade que outros enxertos acabaram aparecendo nos rituais escoceses, não só nos da Grande Loja, mas também nos do GOB e, por extensão, nos da COMAB.

É verdade que o GOB, por influência de Irmãos oriundos das Grandes Lojas também acabou adotando deles alguns costumes trazidos - é o caso dos aventais azuis adotados para os Mestres do escocesismo, embora de tonalidade mais clara (à moda inglesa). Do mesmo modo, também a leitura do Salmo 133 durante a abertura do Livro da Lei.

Conquanto possam existir ainda outras tantas controvérsias, o que foi aqui mencionado já dá uma ideia da ancestralidade dessas diferenças.

De tudo o que foi dito, o que se pode lamentar é que, independente das Obediências brasileiras, o Rito Escocês Antigo e Aceito acabou se tornando um elemento desfigurado. Uma colcha de retalhos. Obviamente por ter recebido influências não só do Craft norte-americano, mas também de outros ritos e costumes.

Além do mais aqui nem mesmo se mencionou os adeptos do invencionismo e os colecionadores de rituais anacrônicos que tanto mal fizeram e ainda fazem à Maçonaria Tupiniquim.

Concluindo meu Irmão, são esses os paradoxos que alimentam concepções anacrônicas e diferenciais que existem entre os rituais de um mesmo Rito, principalmente aqui no Brasil. Expus apenas alguns aspectos para estimulá-lo a refletir, porém nunca com a intenção de criticar pontualmente esse ou aquele rito ou ritual, ou ainda essa ou aquela Obediência. Entendo que em se tratando de originalidade, todos contribuíram para a construção da colcha de retalhos “made in Brasil” que se tornou o REAA⸫ É para se lamentar.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário