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domingo, 27 de março de 2022

DISPOSIÇÃO DO ESQUADRO E DO COMPASSO NO GRAU 2

DISPOSIÇÃO DO ESQUADRO E DO COMPASSO NO GRAU 2
(republicação)

Questão apresentada pelo Respeitável Irmão José Aparecido dos Santos, Loja Justiça, Grande Oriente do Paraná (COMAB), Oriente de Maringá, Estado do Paraná. aparecido14@gmail.com

Surgiu uma dúvida e isto já vem em várias sessões de trabalho o qual solicito deste nobre amigo, irmão em efetuar um estudo e dar o seu retorno sobre o tema abaixo;

- Disposição do Esquadro e Compasso sob o Livro da Lei no Altar dos Juramentos, sendo no Grau de Companheiro (REAA).

Sempre tenho visto a colocação do Compasso e o Esquadro com um das hastes por baixo e a outra livre, sendo que a haste que fica do lado da Coluna Norte por baixo e a outra haste livre por cima do Compasso na Coluna Sul. Mas, tendo amigos, irmãos que citam que deve ser ao contrário e ficando a haste da Coluna Norte por cima e a haste da Coluna Sul por baixo e em pequena compreensão, o correto é a haste da Coluna Norte por baixo e a haste da Coluna Sul por cima do Compasso, devido o Companheiro já ter parte de sua compreensão e poder se dirigir para outra Coluna. Peço o vosso estudo e retorno.

CONSIDERAÇÕES:

Antes do comentário propriamente dito deixo aqui algumas ponderações que penso serem necessárias. Assim estas abordarão o tema de maneira tradicional e sustentada pela razão. Também não tenho a intenção de ferir ou desrespeitar esse ou aquele ritual legalmente aprovado e em vigências nas três Obediências brasileiras. Assim os rituais, mesmo que se desencontrem com os meus comentários, primeiro eles devem ser inquestionavelmente obedecidos na forma da Lei. Questioná-los é a questão e nunca os desobedecer.

A dúvida apresentada. A disposição entrelaçada entre as hastes do Compasso e os ramos do Esquadro tem o sentido de indicar a evolução do Obreiro, dada à consideração de que existe na Maçonaria Especulativa a intenção de preparar o Homem pelo aprimoramento moral e intelectual. 

Alguns Ritos, como é o caso do Escocês Antigo e Aceito ainda preceituam uma evolução que se embasa na tese de que a materialidade é apenas e tão somente uma manifestação de exterioridade, o que leva uma indicação simbólica para dois instrumentos imprescindíveis para a edificação de uma boa obra – o Esquadro, nesse caso como emblema representativo da matéria, enquanto que o Compasso, também nesse caso como insígnia da espiritualidade, respeitadas aqui quaisquer convicções e crenças do material humano. 

Dado a isso, os instrumentos imprescindíveis compõem junto com o Livro da Lei a importante tríade conhecida da Maçonaria francesa como as Três Grandes Luzes Emblemáticas e na inglesa como as Três Luzes Maiores.

No tocante a essa importância evolutiva, o Livro da Lei é o código de moral sobre o qual o Obreiro presta a sua obrigação para cumprir e respeitar o que nele está escrito, enquanto que o Esquadro e o Compasso tendem a representar essa compreensão ao longo da vida. É exatamente daí que a Moderna Maçonaria representa os seus universais três graus de evolução – Aprendiz, Companheiro e Mestre. Como? Dispondo os dois instrumentos em três posições distintas conforme o Grau.

Dadas essas breves considerações, o Esquadro e o Compasso como componentes das Luzes Emblemáticas não são os mesmos de cunho operativos, literalmente usados nas construções do passado. Há que se notar que o Esquadro e o Compasso dispostos sobre o Livro da Lei compreendem os Paramentos da Loja e indicam inclusive que a mesma está aberta, ou em trabalho. 

Não é dado a ninguém retirar qualquer desses instrumentos para uso em passagens ritualísticas, pois para isso, existem outros que suprem a necessidade, se for o caso, que representam o trabalho operativo. Assim o conjunto das Três Grandes Luzes Emblemáticas fica visível para observação de todos os ocupantes do Canteiro (Loja) como um código de moral e compromisso assistido.

Todo esse resumo acima descrito tem a intenção de chamar atenção para o seguinte:

O Esquadro e o Compasso como componentes das Luzes Emblemáticas não sugerem de maneira alguma o trabalho operativo, senão uma indicação de resultado obtido pelos obreiros. Conforme a evolução e o aperfeiçoamento do trabalho a disposição dos instrumentos simboliza a situação alcançada. No Rito Escocês Antigo e Aceito, o número de Luzes acesas sobre o Altar ocupado pelo Venerável e as mesas dos Vigilantes têm relação imediata com a disposição do Esquadro e o Compasso – mais Luzes, mais esclarecimento.

Dadas essas considerações, o Esquadro componente das Três Luzes Emblemáticas, não é operativo, portanto não possui cabo e é de ramos iguais. A sua relação simbólica, nesse caso identifica a materialidade humana.

Apenas a título de esclarecimento, o Esquadro de ramos desiguais, ou com cabo, é aquele preso ao colar do Venerável e tido como a joia do Mestre que dirige os trabalhos. Esse tipo de Esquadro (operativo, ou com cabo) no rigor da tradição não deveria ser usado sobre o Livro da Lei. Infelizmente, não é isso que se vê na unanimidade dos rituais, onde muitos ritualistas não se aperceberam a existência de diferença simbólica entre ambos.

Esses equívocos acabam por trazer dúvidas onde muitos Irmãos perguntam se o lado menor fica a direita ou à esquerda na armação simbólica da Loja. Ora, se bem compreendida a Arte, esse Esquadro não tem cabo, é de ramos iguais, portanto, não faz qualquer sentido a questão.

Agora vem o caso do Compasso e o entrelaçamento com o Esquadro sobre o Livro da Lei no Grau em questão. Da mesma forma como o lado do inexistente cabo do Esquadro nesse caso, não existe qualquer regra racional que indique qual haste do Compasso fique por sobre o ramo do Esquadro. Isso tanto faz. Basta que os instrumentos sejam entrelaçados no Segundo Grau, já que essa indicação representa o equilíbrio e tanto para à direita como para à esquerda não altera essa concepção.

Teses que indicam que deve ser para o Sul por ser o lado do Companheiro em Loja são meras especulações. Esquadro e Compasso com integrantes dos Paramentos da Loja não representam Aprendizes e Companheiros, todavia um conjunto emblemático sugerindo que os trabalhos da Loja estão mais aprimorados.

Outro aspecto: No Rito Escocês original o Altar dos Juramentos fica no Oriente diante do Altar ocupado pelo Venerável Mestre. Pois bem o Oriente é o Leste e no Leste não tem nem Norte nem Sul, o quadrante é simplesmente o Oriente. Para quem ainda possa sustentar a tese de que a ponta da haste aponte para o Sul, então os ramos do Esquadro apontam para onde?

Tem mais. E os formatos de trabalho como é o caso do Inglês (Emulação, por exemplo) que o Livro fica voltado para o Mestre da Loja (Venerável). Como ficaria a tese de para onde estaria a ponta livre do Compasso, já que este fica voltado para o Oriente?

Mesmo o Rito Americano (York) onde o Altar dos Juramentos é colocado no centro do Templo. Nesse caso para a ponta livre apontar verdadeiramente para o Sul, ter-se-ia que abrir o Compasso a cento e oitenta graus? Não menos interessante seria a de se achar uma maneira pela qual um dos ramos do Esquadro apontasse diretamente para o Norte.

Finalizando, penso que em não raras vezes muitos Irmãos procuram dourar a pílula sem que antes observassem o sentido racional da proposta doutrinária maçônica.

Nada está disposto na Loja por mero acaso, todavia para quaisquer considerações a respeito, devemos antes deixar de lado a licenciosidade, bem como o fator do que “se acha”. 

Também fica aqui o alerta de que pesquisar não o ato puro e simples de se ler escritos em livros e já se imaginar que aquilo é Verdade. Pela própria constituição da Maçonaria, tanto pelo seu sincretismo como pelo caráter sigiloso, não se encontram conclusões claras e objetivas. Para tanto existem métodos que nos conduzem a aproximarmo-nos da Verdade, não sem antes percorrermos um longo caminho espinhoso e paciencioso.

Todo aquele que se envereda pela pesquisa e historiografia da Ordem, fará o seu primeiro progresso quando compreender que em Maçonaria, raramente se encontram conceitos prontos. Até pode acontecer, porém a questão é a arte de perscrutar a sua veracidade.

T.F.A. 
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JBNews n. 723, 19/08/2012

4 comentários:

  1. Boa tarde! Prezado Irmão, seria possível informar a bibliografia de referência sobre o texto "DISPOSIÇÃO DO ESQUADRO E DO COMPASSO NO GRAU 2"??

    Desde já agradeço!
    Fraternalmente,
    Marcos Soares

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  2. Perguntas podem ser endereçadas ao Ir.´. PEDRO JUK, através do seguinte email: jukirm@hotmail.com

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  3. Melhor que qualquer manual é a absorção dos fundamentos da Arte. Ir. Pedro está sendo muito humilde e polido em dizer que dar importância a essa questão específica é mera especulação. Eu já não seria tão polido e diria que é sem sentido mesmo. Mas esqueço de que os olhos enxergam melhor a medida em que a luz brilha.

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  4. Ir. Pedro, seu artigo chegou bem na hora para mim. Pois estava justamente com esta dúvida, que foi bem dirimida com o seu valoroso escrito. TFA>

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