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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O PADROEIRO DA MAÇONARIA

O PADROEIRO DA MAÇONARIA
Charles Evaldo Boller, Mestr⸫ Maç⸫

A Maçonaria em relação a sua linguagem simbólica não é autêntica, já que a maior parte dela é adaptação de diversas linhas de pensamento e influência. Sua imensa riqueza cultural está alicerçada na ampla flexibilidade e tolerância a pensamentos e crenças diversas, admitindo as mais variadas linhas filosóficas que venham ao encontro da construção de homens morais, éticos e espiritualizados. Cada Maç⸫ é induzido em buscar se auto-conhecer, se auto-construir fundamentado em seus próprios referenciais, respeitar a crença de seus IIrm⸫ e buscar o crescimento espiritual sem intermediação de ninguém.

Mas existe algo que de início choca o Maç⸫ que não é católico é a presença de São João nos rituais. Fica-lhe a impressão de o haverem enganado com respeito à propalada neutralidade religiosa da Maçonaria. Sente-se até vítima de proselitismo religioso. Com o tempo ele percebe que o Velho Testamento, ou Escrituras Hebraicas, serve de base para grande parte das instruções e lendas maçônicas e que isto não torna a Maçonaria uma religião de confissão judaica. Observa também que, pelo fato de ocorrerem referências a passagens do Novo Testamento, isto também não a torna instituição de confissão exclusivamente cristã. Descobre que, independente da Bíblia judaico-cristã ser usada como Livr⸫ da L⸫ nos TTempl⸫, existe prática de Maçonaria em países de confissão predominantemente islamita, budista, confucionista, taoista, e tantas outras, e que nestas usam-se os LLivr⸫ da L⸫ de suas próprias religiões majoritárias. Mesmo usando de livros de religiões diversas, mesmo desenvolvendo a espiritualidade dos MMaç⸫, a Maçonaria se propõe em não ser uma religião. Então, como explicar São João nos rituais maçônicos, tido até como patrono das LLoj⸫ que praticam os três primeiros graus do R⸫ E⸫ A⸫ A⸫?

O véu que encobre a intenção da mensagem simbólica da Maçonaria só é revelado para aquele que tem os olhos bem abertos, e com denodo, perspicácia e isenção a estuda. A cada passo um mesmo símbolo ou personagem se transforma em idéia totalmente diferente da primeira intuição. Concorrente com uma mudança fundamental de visão de universo, a mensagem da Ord⸫ maçônica é dinâmica no tempo e implica numa nova visão de realidade a cada passo da transformação cultural. Os símbolos são os mesmos ao longo do tempo, sua interpretação é diferente. As mudanças são obtidas pela prática de transmitir informações de uma pessoa para a outra, algo só possível pela convivência pacífica, disciplinada, ordeira e tolerante que a Maçonaria proporciona em suas LLoj⸫ É da convivência constante, pela camaradagem e com o passar dos dias que o Maç⸫ forma um juízo aceitável de toda a sua simbologia. Mesmo a respeito da presença de um incerto São João nos rituais. Devido a constante e renovada realidade, como entender a presença de São João na figura de padroeiro da Maçonaria simbólica? Existem diversos santos com o mesmo nome na história da Igreja Católica. É impossível determinar exatamente a qual destes homens santificados o ritual se refere. São inúmeras as tentativas dos especialistas MMaç⸫ em obter a verdade. Uns especulam que pode ser influência de organizações de cavalaria que cederam seus santos. Outros especulam que os maçons operativos, os pedreiros que construíram as catedrais da idade média, podem ter contribuído com os seus santos. Especula-se também que da astrologia pode ter ocorrida a escolha de santos cujo dia de comemoração no calendário de santos católicos quase coincide com os dois solstícios, haja vista existir um São João perto do solstício de verão e outro no de inverno.

Porque a Maçonaria especulativa, a dos MMaç⸫ aceitos nas confrarias de pedreiros, iria escolher um santo como padroeiro? Sabe-se que na época da criação da Ord⸫ ocorria uma gradual separação entre a opressiva religião católica e os homens de ciência e filosofia, que gradativamente iam formando maioria nas LLoj⸫ da época. Qual a razão dos criadores das leis básicas que regem a Maçonaria simbólica, alguns até clérigos, introduzirem um santo católico como padroeiro? E porque aqueles vetustos MMaç⸫, de orientação cristã, não definiram exatamente a qual São João eles se referiam? Perfecionistas que tentavam ser, certamente não nos deixariam na dúvida. Eles escolheriam o mais notável, o maior de todos os santos. Porque apenas São João?

Considerando a incerteza em determinar a qual santo a honra se refere, e como na época da criação da Maçonaria a Igreja Católica Apostólica Romana tinha grande poder no mundo político, este santo indeterminado pode ter sido sabiamente introduzido, até com intenção dúbia, para não afrontar tal poder ou ferir suscetibilidades dos poderes políticos, que de sua parte deviam completa submissão ao Papa. O certo é que o padroeiro da Maçonaria é aceito por tradição, e não é possível determinar com certeza a qual dos mais de trinta santos católicos com mesmo nome se refere. Definir São João na Maçonaria é pura especulação.

Especulando também, será que o São João citado no ritual pode ter outro significado? Seria porventura apenas um atributo ou qualidade de Deus? Porque tomando por base a tradução do nome João, "Jehohannam", que significa "o favor de Jeová" e unindo-a ao verbete "santo", faz o texto do ritual verter o seguinte: "À G⸫ D⸫ G⸫ A⸫ D⸫ U⸫, sob Seu Santo Favor...", ao invés de "em honra a São João". Desta forma invoca-se o G⸫ A⸫ D⸫ U⸫ e complementa-se com um pedido de remissão de culpa concedida por indulgência ou uma graça. Isto tornaria correto invocar a proteção de São João para todo Maç⸫, em qualquer país ou fé religiosa. Satisfaz ao Obr⸫ que professa outra confissão religiosa e satisfaz ao católico que adora o santo, que a ele se dirige em oração por intermediação. Os MMaç⸫ de confissão religiosa diferente da católica não se sentiriam enganados quando entrassem na Maçonaria. Isto confirmaria a figura do Apr⸫ Maç⸫ a se esculpir da P⸫ B⸫, e que indica que o homem Maç⸫ dispensa qualquer intermediação de exegetas, padres, pastores, bispos e outros clérigos para, com auxílio das ferramentas da Maçonaria, esculpir sua característica moral, ética e espiritual, pois se dirige diretamente a sua própria interpretação de Senhor dos Mundos, conceito que denominamos G⸫ A⸫ D⸫ U⸫ Também propiciaria ao Maç⸫ invocar unicamente o mais eminente de todos os santos, o G⸫ A⸫ D⸫ U⸫ e Seu Santo Favor!

Bibliografia:

ALENCAR, Renato de, Enciclopédia Histórica do Mundo Maçônico, Editora Maçônica, 1980. 
ANATALINO, João, Conhecendo a Arte Real, Editora Madras, 2007. 
ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, Editora Maçônica a Trolha, 2003. 
BECK, Ralph t., a Maçonaria e Outras Sociedades Secretas, Editora Planeta, 2004. 
Bíblia de Jerusalém, a, Edições Paulinas, 1973. 
CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, Editora Madras, 2001. 
CAPRA, Fritjof, as Conexões Ocultas, Editora Cultrix, 2002. 
CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, Editora Maçônica A Trolha, 2003. 
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain, Dicionário de Símbolos, Editora José Olimpio, 20ª Edição, 2006. 
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Editora Pensamento,1990. 
PAIVA, Alfredo, História da Maçonaria.

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