TRANSMISSÃO DA PALAVRA NA ABERTURA E ENCERRAMENTO - REAA
(republicação
Em 18/07/2017 o Eminente Irmão Luis Carlos de Castro Coelho, Grão-Mestre Estadual do Grande Oriente do Brasil – Goiás, a pedido de um Respeitável Irmão do Estado de Goiás, formula a seguinte questão pertinente ao REAA:
Meu amado irmão.
Estou sendo questionado no seguinte teor abaixo e gostaria de obter do mano a orientação devida que sei será cabível e precisa como sempre vem realizando para o engrandecimento de nossa Ordem.
"Eminente irmão Luis Carlos. Uma pergunta que sempre faço e até o momento não recebi uma resposta lógica. Se a Palavra Sagrada na abertura dos trabalhos sai do Venerável, por que no encerramento ela não volta a ele? No mundo inteiro no REAA a ritualística é essa?"
Desde já agradeço ao amado irmão pelo carinho sempre a nós demonstrado e externado.
É um grande erro imaginar que a Palavra Sagrada ao ser transmitida na abertura dos trabalhos, no seu encerramento ela tenha que voltar.
Esse não é um simbolismo de partida e de retorno, mas sim de uma Palavra que dá sustentação a uma alegoria comum ao REAA.
Em síntese, essa não é uma questão de “se ela partiu do Venerável”, tenha que ao final para ele voltar.
A alegoria da transmissão da Palavra, por comparação, simboliza o costume operativo antigo de se nivelar a base e aprumar os cantos da obra como condição primordial para que os trabalhos pudessem ser iniciados e também ao final da jornada, ou da etapa da construção, com a conferência dos serviços para se certificar se os trabalhos haviam transcorrido nos conformes.
Nos canteiros de obras medievais, antes do início dos trabalhos o Mestre da Obra (atual Venerável Mestre) solicitava através dos seus oficiais de chão (mais tarde, os Diáconos mensageiros) que transmitissem sua ordem aos seus auxiliares imediatos (Vigilantes, antigos wardens) para que eles, usando o nível e o prumo, nivelassem e aprumassem os cantos da obra (vide atualmente as joias dos Vigilantes). Aprumado e nivelado, estando tudo “justo e perfeito”, os Vigilantes comunicavam via oficiais de chão ao Mestre da Obra que então ordenava que os trabalhos fossem iniciados.
Do mesmo modo isso acontecia ao final da etapa contratada da construção, quando então o Mestre, antes de pagar os seus obreiros, mandava os oficiais de chão transmitir ordens aos Vigilantes para que eles fizessem a conferência do trabalho executado. Se tudo estivesse de acordo com as exigências da arte, eles informavam que os trabalhos foram executados justos e perfeitos. Ao receber essa comunicação, o Mestre da Obra então mandava o Primeiro Vigilante fechar a Loja (canteiro de trabalho), pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos para o justo e merecido repouso, não sem antes recomendar que em breve (depois do inverno) deveriam retornar para o início de uma nova jornada de trabalho.
Em síntese, note que é isso que exara o ritual de modo especulativo.
Como a Moderna Maçonaria não é mais uma construtora operativa, mas sim uma construtora social e nela o elemento primário (matéria prima) é o homem, o REAA⸫ adotou simbolicamente nos seus trabalhos a transmissão da Palavra Sagrada como elemento representativo da etapa inicial e final de um ciclo da construção (sessão da Loja).
Assim, essa alegoria demonstra na Maçonaria Especulativa e do Rito Escocês Antigo e Aceito em particular que se a Palavra for transmitida conforme as exigências e costumes significa que tudo no canteiro (Loja) está apropriado para o trabalho e para a sua conclusão. Obviamente que tudo é simbólico e os Vigilantes não aprumam e nem nivelam literalmente cada um dos obreiros construtores do seu próprio interior, porém se a Palavra estiver correta, essa alegoria já satisfaz o objetivo. De modo especulativo a palavra correta significa uma base nivelada e um canto aprumado, mais especificamente uma pedra desbastada e esquadrejada pronta para ser utilizada na construção do edifício social.
Há que se notar então que é exatamente isso que o ritual procura demonstrar na transmissão conforme prevê a liturgia e a ritualística da Palavra Sagrada. Aliás, é oportuno mencionar que essa transmissão nada tem a ver com procedimentos de telhamento, assim como também nada tem a ver com ida e volta da Palavra no REAA. No ato de transmitir a Palavra pelos Diáconos para os Vigilantes, ela sempre se inicia pelo Venerável Mestre, tanto para a verificação inicial como para a verificação conclusiva – não existe “volta da palavra”.
É esse o significado simbólico da transmissão da Palavra Sagrada na abertura e encerramento dos trabalhos que ocorre no simbolismo do REAA.
Cabe mencionar que a liturgia da transmissão da Palavra só passou a ganhar forma gradativamente no REAA⸫ a partir do último quartel do século XIX e início do XX com a evolução dos seus rituais na França. Os primeiros rituais escoceses (a partir de 1804) não mencionavam a transmissão da Palavra.
Figuradamente o que dessa alegoria depende para estar “justo e perfeito” na Loja não é a eventual partida ou o retorno da Palavra, mas sim da forma como ela é transmitida, lembrando que essa transmissão sempre se dá entre Mestres Maçons (detentores de cargos em Loja), não importando o grau em que porventura a Loja esteja trabalhando. Ratifico: essa transmissão não é telhamento.
Como eu costumo publicar as respostas no meu blog, penso que é oportuno mencionar aos meus leitores que pesquisas sobre a história da Ordem e em particular a respeito da origem desse tema, devem ser direcionadas ao período operativo da Maçonaria, onde podem ser encontradas diversas informações fragmentadas nas antigas obrigações. Lembro ao pesquisador que nada se encontra pronto sobre a mesa. O historiador maçônico deve saber juntar as peças uma a uma para que as conclusões apareçam. Quem quiser pesquisar que o faça por esse caminho e não fique por ai cobrando uma obra pronta sobre o tema, ou o maldito peripatético “onde está escrito”. Muitas das definições da história estão nas entrelinhas dos registros documentais (hermenêutica).
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br
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