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terça-feira, 7 de novembro de 2017

A PALAVRA DE PASSE DO GRAU DE C⸫M⸫

Ir⸫ Vagner Fernandes 

Introdução
Ao libertar uma das pernas do compasso, o Comp⸫ Maçom, dominando seus impulsos e emoções e livre de preconceitos e vaidades, encontra-se no caminho da Verdade. Sua jóia é a P⸫C⸫, representando a estabilidade e a perfeição a qual deve chegar todo maçom na construção do Templo Ideal.

Sendo consagrado à exaltação do Trabalho, o grau de Comp⸫ prepara o maçom para usar a “alavanca” do conhecimento afim de vencer as dúvidas e dificuldades, tendo como meta a realização de um mundo melhor. Do Nível ao Prumo realiza as cinco viagens simbólicas e reafirma seu compromisso de fidelidade à Sublime Ordem e sua sinceridade com os Sin⸫ do Grau.

O Comp⸫ Maçom ocupa a coluna do meio-dia, unindo a Sabedoria à Força para a construção do edifício moral, sempre assistido pelo Ir.·. 1º Vig⸫ e Mestres da Loja.

Contemplando a Estrela Flamejante o Comp⸫ é levado a pesquisar profundamente sobre seu simbolismo, correspondente ao “pentagramaton”, distintivo dos pitagóricos. Designadora do Homem Espiritual, dotado da fagulha interna que lhe concedeu o G⸫A⸫D⸫U⸫ Tem a finalidade de lembrar ao maçom que o homem deve criar e trabalhar com Sabedoria e Conhecimento. Dentro da Estrela vislumbra-se a letra G, significando Geometria, Geração, Gravidade, Gênio, Gnose. No Or⸫ contemplamos o Delta Luminoso, emblema da Divindade, símbolo da Suprema Sabedoria, que evoca também a Trindade(1) .

O Grau de Comp⸫ leva o maçom definitivamente à evolução. Nas pequenas citações feitas até aqui repousa apenas uma tênue Luz sobre o significado de todo o conteúdo que o Comp⸫ pode apreender.

Nos ensinamentos ministrados em Loja ao maçom que ascende ao grau de Comp⸫ aparece um novo simbolismo que deve ser guardado na memória com atenção e permanentemente. Além da Pal⸫ Sagr⸫ do Grau, o R.·.E.·.A.·.A.·. nos apresenta uma outra que se chama “de passe”.

A Palavra de Passe
Diante do farto simbolismo que o Comp⸫ maçom defronta ao ser elevado ao Grau II, a Palavra de Passe é, sem dúvida, um dos mais profícuos a serem explorados, o que se constata quando estudamos seu valor histórico e significado simbólico e ritualístico.

Encontramo-la na Bíblia em Juízes Cap. 12:
1 Eis que porém se levantou uma sedição em Efraim. Porque os dessa tribo passando para a banda do Setentrião, disseram a Jefté: Por que não nos chamou quando ias pelejar contra os filhos de Amon, para irmos contigo? Queimaremos a fogo a tua casa. 
2 Disse-lhes Jefté: Eu e o meu povo tivemos grande contenda com os amonitas; Pedi-vos que me désseis socorro, e vós não o quisestes fazer. 
3 Vendo eu que não me livráveis, pus a minha alma nas minhas mãos e passei aos amonitas, e o Senhor mos entregou nas mãos; Que fiz eu nisto para que vós vos levanteis contra mim? 
4 E tendo convocado todos os de Galaad, pelejou contra os de Efraim, e os de Galaad derrotaram a Efraim; porque este tinha dito: Fugitivos sois de Efraim, vós gileaditas que habitais entre Efraim e Manassés. 
5 E tomaram os gileaditas os vaus do rio Jordão, por onde os efraimitas haviam de voltar; e quando algum dos fugitivos de Efraim dizia: Peço-vos que me deixeis passar; então os homens de Galaad lhe perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não sou; 
6 Eles lhe replicavam: Dize, pois, Sch.·.; e quando o outro pronunciava: Sib.·., porque não o podia pronunciar bem, era imediatamente preso e o degolavam nos vaus do rio Jordão. E assim naquele tempo foram mortos quarenta e dois mil homens de Efraim. 
7 Assim Jefté, de Galaad, julgou a Israel seis anos; e morreu, e foi sepultado na sua cidade de Galaad.
O nono rei de Israel, Jefté, o gileadita, utilizou-se da verbalização da palavra para vencer as hordas de Efraim, os efraimitas. A razão mais aceita pelos estudiosos para a pronúncia errada dos efraimitas da palavra Sch.·. era causada pelo sotaque regional dos efraimitas.

No R⸫E⸫A⸫A⸫ o grau de Comp⸫ é o segundo da escala e o primeiro que possui, em seu cobridor, palavra “de passe”. O seu emprego, no simbolismo maçônico é traduzido como “numerosos como a espiga de trigo”, e é representada por uma espiga de trigo.

Nossa Sublime Ordem assim interpreta simbolicamente em razão de seu significado e origem histórica. Com a enunciação da Pal⸫ de Pas⸫ conforme o ritual, o maçom obtém acesso ao recinto onde se reúne a categoria dos que passaram pela segunda iniciação.

Na Grécia antiga, a deusa Deméter e sua filha, Perséfone, eram cultuadas nos mistérios de Elêusis, rituais secretos em que se agradeciam a fecundidade da terra e as colheitas.

Deméter, deusa grega da agricultura, era filha de Crono e Réia e mãe de Perséfone, que a ajudava nos cuidados da terra, e de Pluto, deus da riqueza. Perséfone foi raptada por Hades, que a levou para os Infernos e a esposou. Desesperada com o desaparecimento da filha, Deméter saiu a sua procura e, durante a viagem, passou pela cidade de Elêusis, onde foi hospitaleiramente recebida. Em agradecimento, revelou aos habitantes seus ritos secretos.

A terra abandonada, entretanto, tornava-se estéril e os alimentos começavam a escassear. Preocupado com a difícil situação dos mortais, Zeus convenceu Hades a permitir que Perséfone passasse o outono e o inverno nos Infernos e regressasse para junto da mãe na primavera. Assim, Deméter simbolizou a terra cultivável, produtora da semente - Perséfone - que há de fecundá-la periodicamente.

Em Elêusis celebravam-se os mistérios, ou ritos secretos, em que Deméter figurava como deusa da fertilidade e Perséfone como encarnação do ciclo das estações.

A deusa cultuada pelos romanos sob o nome de Ceres é a mesma Deméter dos gregos, divindade identificada com a agricultura e a fecundidade da Terra. Deusa do trigo, que dá o pão, e de todos os outros cereais, Ceres é também, por extensão, a deusa do casamento.

Filha de Saturno e de Cibeles, irmã de Júpiter e mãe de Prosérpina, Ceres tem seu nome, de provável origem itálica, relacionado ao verbo creare ou, talvez, ao substantivo cereal, principal riqueza das regiões agrícolas na antiguidade.

A espiga, que se acha representada também no céu, como a luminosa estrela Spica (do latim espiga) da constelação de Virgem, é o símbolo comum a todos os Mistérios da Antigüidade. Nos Mistérios de Eleusis, se comparava o iniciado com a espiga de trigo, produto fecundo do esforço vertical e da atividade laboriosa que impulsionou o grão escondido na terra a germinar, abrindo seu caminho no sentido oposto a força de gravidade, em direção dos raios benéficos do sol, até que chega o momento em que este esforço ascendente termina e amadurece num fruto que sempre foi emblema de utilidade e fecundidade: formosa imagem da vida humana, do homem que cresce por seus próprios esforços, com o objetivo de amadurecer numa atividade sempre útil e fecunda para seus semelhantes. O estado de crescimento da planta corresponde ao estado de Apr⸫, que se transforma em Comp⸫, quando se estabelece na altura alcançada, para amadurecer e frutificar.

Discordo, respeitosamente, dos pesquisadores maçônicos que, no simbolismo, associam a Pal⸫ de Pas⸫ com “Corrente de Água”, por figurar no painel alegórico do grau junto ao pé de trigo. A queda d’água no painel alegórico associa-se à Fonte ou Manancial da Vida(2) , citada em diversas passagens bíblicas, no Velho e no novo Testamento, embora um dos significados de Sch⸫ seja “rio”. Já o pé de trigo com suas espigas está associado ao Trabalho, já que o Grau de Comp⸫ é dedicado ao trabalho.

Ao traduzir a Pal⸫ de Pas⸫ no simbolismo como: “Numerosos como a espiga de trigo” faz-se uma conexão com a história e seu significado. Na antiguidade, o trigo era considerado como a planta sagrada, visto ser indispensável à subsistência humana, símbolo de fartura e abundância. Até hoje os agricultores apontam-no como o produto que a natureza mais tem produzido, de alto valor nutritivo e vivificador. Utilizado desde a idade da pedra, o trigo foi sempre o principal produto na alimentação humana ao longo de cinco milênios.

Conclusão
Acrescenta-se à simbologia da Pal⸫ de Pas⸫ Sch⸫ o dinamismo de germinação ou geração e multiplicação, estabelecendo-se também o dualismo entre o fato natural da reprodução e a lenda transcendental da Fênix, que renasce das próprias cinzas. A espiga se decompõe, prepara-se o Comp⸫ para o Grau de Mestre e lembra-se que o Grão do Trigo lançado à terra passa também a transformar-se. O germe lhe destrói a substância para fazer brotar a nova planta. Destruição para renovar. A mitológica ave Fênix, que vivia no deserto da Arábia era possuidora do dom de viver por muitos séculos, graças à própria ressurreição. Quando pressentia a própria morte construía um ninho com ervas mágicas e aromáticas. Pousava nesse ninho que se incendiava ao sol do deserto. Desse modo deixava-se queimar, confiante e a espera da própria ressurreição, eis que o fogo que a consumia não lograva matá-la, pois, da combustão de seus ossos emergia uma larva de cujo crescimento nas cinzas resultava, novamente, a mesma Fênix.

Percebe-se na decomposição do Grão de Trigo e na lenda da Fênix as idéias gerais de Geração e Eternidade, e por analogia, a concepção Daquele que pode gerar a si mesmo, Senhor Absoluto, Princípio Criador ou Triangulo Uno, que reúne criação, destruição(renovação) e conservação. Criador que concede às suas criaturas o poder de Geração. Sugere, ainda, o ser criado à semelhança do Criador e a idéia que o corpo se reduz às cinzas, enquanto a alma é eterna.

Com apenas uma das hastes liberta, o compasso pode descrever uma infinidade de círculos em torno de um ponto. Assim, o Comp⸫ passa a trabalhar na P⸫ Cub⸫ com liberdade, firmeza e dedicação.

Bibliografia:
Bíblia Sagrada
Prado, Luiz Fanal do Comp.·. Maçom Editora Mandarino
Filho, Theobaldo Varoli. Curso de Maçonaria Simbólica - Companheiro - Editora A Gazeta Maçônica
Grande Oriente do Brasil. Ritual 2º Grau - Companheiro - Gráfica e Editora Grande Oriente do Brasil
Loja Fênix de Brasília – Nº 1959 - Instruções Grau II
Boucher, Jules - A Simbólica Maçônica. Editora Pensamento
Botelho, Heitor - O Companheiro Maçom - Editora A Trolha

Nota 1:
Para os cristãos: Pai, Filho e Espírito Santo
No Egito: Osíris, Ísis e Hórus
Para os Hindus: Brahma, Vischnu e Shiva
Ou ainda na Maçonaria:
Liberdade, Igualdade e Fraternidade;
Sal, Enxofre e Mercúrio, princípios da obra de Deus.

Nota 2:
Provérbios 16
22. O entendimento, para aquele que o possui, é uma fonte de vida, porém a estultícia é o castigo dos insensatos.
Apocalipse 21
6. Disse-me ainda: está cumprido: Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim. A quem tiver sede, de graça lhe darei a beber da fonte da água da vida.

Ir⸫ Vagner Fernandes
Loja Fênix de Brasília - DF

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