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sábado, 23 de dezembro de 2017

A FRATERNIDADE

A FRATERNIDADE
José Maria Silva - 31⸫

Há um clamor geral que se tem tornado muito persistente. Perdura há séculos, e, ainda hoje, se manifesta entre nós. Este clamor se chama Fraternidade.

A Fraternidade significa que todos os homens são, interiormente iguais. Sugere, em verdade, que todos estão unidos. Significa, ainda, que é apenas necessário que os homens aceitem este parentesco para que se manifeste a cessação de suas diferenças.

Um eminente marechal europeu disse, certa vez: "Dêem-me um Exército que saiba pelo que está lutando e que deseje por isto lutar, e jamais serei derrotado". Para que a Fraternidade se torne realidade, a expressão terá de ser compreendida por todos os povos. Não deverá ser, apenas, um clichê, falado por aqueles que a aspiram. A Fraternidade deve ser um princípio inteligentemente analisado. O homem deverá saber o que, com relação a ela (a Fraternidade), é possível e o que não é.

Uma análise do princípio da Fraternidade, revelaria o que a humanidade tem em comum. A parte física e orgânica do ser humano é uma característica que parece a mais comum. Estruturalmente, em outras palavras, parecemos todos, mais ou menos iguais.

O ser humano, no sentido físico, é um animal multicelular; também o são muitas outras coisas vivas.

O ser humano possui determinadas características comuns a todos os animais que pertencem à classe chamada de mamíferos.

As raças humanas são, apenas, distinções insignificantes de sua espécie. Sempre que os membros semelhantes de uma comunidade se tornam numerosos, constituem um tipo. Se um desses tipos for capaz de se segregar e de manter suas características, será, então, considerado como uma raça. Mais tarde, se houver variações do tipo, para outras mais, estes constituirão novas raças. De modo geral, a antropologia reconhece três grandes raças que ocupavam os três principais continentes do mundo antigo - Europa, Ásia e África. Depois, elas emigraram para o Novo Mundo.

Estas três grandes raças são: a branca, a amarela e a negra. Embora haja variações de tipo físico representado pelas raças, a qualidade essencial da espécie humana é a mesma. As variações representam, apenas, particularidades, e estas não podem superar a classe de que fazem parte. Percebe-se, entretanto, que não há separação completa das variações física e mental. A diferença se manifesta, unicamente, em suas funções e fenômenos gerais.

Na natureza física e mental do ser humano há duas (02) condições que tornam irmãos todos os homens. A primeira delas se relaciona com os organismos ativos, seus órgãos e suas funções. Todos os seres humanos, em outras palavras, têm o cérebro como a sede das sensações. Todos eles são dotados de órgãos receptores. No campo mental, também, todos eles pensam, percebem e imaginam, até certo ponto. Na verdade, não é possível ao ser humano deixar de fazer parte dessa associação de fenômenos mentais e, não obstante, continuar a ser o que chamamos de Humano

Os homens não estão, realmente, buscando a unidade absoluta de sua espécie, muito embora, continuamente, muito falem a seu respeito."

A segunda condição que estabelece a fraternidade, no campo mental, é a concordância de pensamento. É o encontro de mentes. Este poderá se traduzir na interpretação similar das experiências. Poderá, por outro lado, consistir na aceitação de uma noção ou conceito que, também, seja auto evidente a uma outra pessoa. Compreendem que há milhões de seres de nossa espécie que são, estrutural e fisicamente, mais ou menos iguais a nós.

Sempre que duas ou mais coisas assumem a natureza de uma, concebemos, então, uma unidade. A concepção de unidade surge da diversidade. Quando uma coisa é percebida como um todo, ela não nos transmite a idéia de unidade. Nada há, em seu todo, para sugerir que ela jamais tivesse sido completa.

Sabemos que duas ou mais mentes podem reagir, diferentemente, a mesma impressão. Quando concordamos com o pensamento de uma outra pessoa, compreendemos as diferenças potenciais que poderiam ter ocorrido entre nós. A concordância propicia a percepção das personalidades distintas que se mesclam na idéia comum. A unidade se torna, então, aparente pela contribuição dos elementos que a compõem.

O ser humano prefere a unidade de pensamento, porque esta fraternidade mental lhe permite conservar sua individualidade. Ele não é obrigado, pela concordância do pensamento, a submergir sua própria entidade. Ele não perde sua individualidade, como acontece no caso da similaridade corpórea.

Na unidade de pensamento, o Eu é preservado. As idéias expressas, pertencem ao Eu. Elas estão postas em harmonia com o pensamento de um outro indivíduo.

Os homens não estão, realmente, buscando a unidade absoluta de sua espécie, muito embora, continua-mente, muito falem a seu respeito. Não desejam, na verdade, se tomar uma fraternidade de seres estimulados por um impulso comum, porque, nessas condições, a humanidade nada mais seria que uma série de autômatos. Eles não estariam unidos, no verdadeiro sentido da palavra. Não teriam feito qualquer contribuição isolada de pensamento, daquela espécie de concordância ou harmonia, de que consiste a unidade.

O que os homens realmente aspiram com a fraternidade, é uma concordância de pensamento que promova a segurança pessoal. Esta segurança constitui o direito à expressão individual do pensamento, da ação e da experiência.

Os seres humanos desejam um encontro de mentes que garanta, ao mesmo tempo, integridade a si mesmos.

Embora os homens desejem preservar o Eu, qualquer liberdade absoluta do Eu se tomaria caótica. Não haveria ação coordenada. Cada indivíduo estaria, de alguma forma, em conflito com todos os outros.

É necessário que os homens reconheçam que têm dependências comuns às leis do universo e naturais. Devem reconhecer, humildemente, sua relação com as substâncias inanimadas chamadas de "as coisas materiais do mundo", e suas afinidades com todas as coisas vivas, a despeito de sua simplicidade. Nenhum homem ou grupo de homens, é tão puro ao ponto de se situar fora dos limites de operação da Natureza.

Todo ser humano deve participar daquilo que ele é, ao máximo de sua compreensão e nas circunstâncias em que se encontra.

Todo conhecimento humano provém da consciência que o ser humano tem do Universo. A soma da experiência humana representa, portanto, apenas, a compreensão parcial do Universo. Se os seres humanos são considerados sábios, quão onisciente deve ser o Universo, do qual se compõe a essência do nosso conhecimento. Teremos, então, fatores eternos como a infinidade, a onipotência, a eqüidade. Essas não são as coisas que os homens atribuem à natureza de um deus ou de um ser divino? Desde que essas caricaturas são reconhecidas, fundamentalmente, elas têm muito em comum.

Quando os homens chegam a concepções universais tão irrefutáveis quanto estas, as aceitam como tendo, para com eles, verdadeira afinidade. Eles não se inclinarão a se opor a sua própria maneira de agir, como aros de uma roda, conseguirão para o eixo de sua concordância, a unidade de pensamento. Nisto reside a fraternidade entre os homens.

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