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sábado, 11 de junho de 2022

TRIÂNGULOS DAS COLUNAS ZODIACAIS

TRIÂNGULOS DAS COLUNAS ZODIACAIS
(republicação)

O Irmão Felipe Leite, membro da Loja União Sertaneja, 8, Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Oriente de Sete Lagoas, Estado de Minas Gerais apresenta a seguinte dúvida:
felipe@onetradeseguros.com.br

Gostaríamos que nos esclarecesse uma dúvida se possível. Conversando com o nosso Irmão Guilherme, que nos lê em cópia, surgiu uma dúvida do porque os triângulos do Zodíaco se encontram intermitentemente um com a base para cima e um com a base para baixo. Estamos fazendo o estudo, mas ainda não obtivemos um ponto comum. Talvez a explicação estará mais na frente, que não poderá ser respondido a um Aprendiz. Porém outros irmãos não souberam explicar esse significado ao Irmão Guilherme. Como você tem muitos artigos e é um grande estudioso dessa magnífica Ordem, talvez até já tenha uma resposta para esse questionamento e se me for possível, gostaria de aprender e se não, peço gentileza de repassar ao Irmão Guilherme, para que no momento oportuno me seja ensinado.

CONSIDERAÇÕES:

Tenho tratado exaustivamente do simbolismo das Colunas Zodiacais, próprias do Rito Escocês Antigo e Aceito. Em resumo as doze Colunas dispostas em grupos de seis em cada uma das paredes Norte e Sul (topos) representam a senda iniciática do maçom.

Divididas em grupos de três elas representam a partir do canto norte no Ocidente a Primavera (as três primeiras) e o Verão (as outras três). Já na parede Sul, partindo da grade do Oriente o primeiro grupo de três representa o Outono, enquanto que o último grupo, o Inverno. Essa alegoria reportada à Lei da Natureza sugere as etapas da vida do iniciado – infância, adolescência (Aprendiz), juventude (Companheiro) e maturidade (Mestre). 

Esses ciclos naturais se reportam ao ponto de vista do Hemisfério Norte do globo terrestre, cujo alinhamento com as constelações em numero de doze determina a faixa do zodíaco. O primeiro ciclo que principia em março parte do equinócio de primavera, enquanto que o segundo se inicia em junho no solstício de verão. Assim segue o terceiro ciclo que se inicia em setembro no equinócio de outono e por fim o quarto ciclo que começa no solstício de inverno. Essa é na verdade a alegoria do renascimento e morte da Natureza. Nesse ínterim a Maçonaria francesa associa alegoricamente a interpretação da morte e o renascimento do Iniciado (Lenda do Terceiro Grau). 

Resumos à parte formou-se o conceito duodenário zodiacal na Maçonaria que, diga-se de passagem, nada tem a ver com as previsões e adivinhações do horóscopo.

Nesta alegoria maçônica o espaço de um ano sugere uma espécie de protótipo dos ciclos naturais que emblematicamente se liga às fases da vida humana assim como àquelas inerentes à Iniciação.

Quanto aos triângulos estes estão dispostos com associação às constelações (signos) e os ciclos naturais terrenos. Os cultos solares são à base das principais religiões terrenas. Assim ainda existe o misticismo dessa ligação com os quatro Elementos Alquímicos da Antiguidade – Terra, Ar, Água e Fogo.

As provas da Iniciação no Rito Escocês possuem elo com os Elementos. A prova da Terra (Câmara de Reflexão), a prova do Ar (Primeira Viagem), prova da Água (Segunda Viagem) e a prova do Fogo (Terceira Viagem).

Em sendo as doze Colunas a representação desses ciclos iniciáticos seguem algumas concepções para cada um desses alinhamentos, porém senão antes especificar que os triângulos como símbolos alquímicos com ápice apontado para cima representam o Fogo e o Ar, enquanto que os apontados para baixo representam a Terra e a Água.

Colunas Zodiacais localizadas na parede Norte (sentido de leitura – do extremo Ocidente para a grade do Oriente):

1 – Constelação de Áries (Primavera), Fogo (ápice para cima). Nesse sentido se trata do fogo que constrói no interior, cujo estímulo se traduz no crescimento e no desenvolvimento. Afastado pelas trevas do inverno, este revive na primavera provocando o reavivamento da Natureza (ressurreição). O Equinócio e a passagem do Sol para o hemisfério norte. Os dias são iguais às noites na sua duração. Simboliza o ardor iniciático em direção à Iniciação.

2 – Constelação de Touro (Primavera), Terra (ápice para baixo). Implica na matéria receptiva da luz solar, cujo efeito é a fecundação. Os dias começam prevalecer mais que as noites. Esse conceito se coaduna com preparação interior. Simboliza que o recipiendário, posteriormente a uma criteriosa preparação será admitido nas provas.

3 – Constelação de Gêmeos (Primavera), Ar (ápice para cima). A Terra já fecundada pelo fogo se apresenta com vitalidade construtiva no elemento etéreo. Sublime e puro acentua a sublimação da Natureza. As noites se encurtam ainda mais e os dias aumentam em sua intensidade. Simboliza o Neófito que recebe a Luz.

4 – Constelação de Câncer (Verão), Água (ápice para baixo). A Natureza atinge a plenitude. Estação em que a força e a robustez da vegetação são resplandecentes, porém não há ainda propriedade para a colheita, pois os frutos estão por enquanto verdes. Solstício de Verão (João, o Batista) - os dias são longos em sua duração. Implica que o iniciado busca a judiciosa instrução e assimila os ensinamentos iniciático adquiridos.

5 - Constelação de Leão (Verão), Fogo (ápice para cima). A ação tórrida do fogo exterior intervém para ressecar e matar a constituição aquosa. Os frutos começam a amadurecer. Os dias são ainda longos prevalecendo à intensidade da Luz. Simboliza o Iniciado que começa adquirir a capacidade do julgamento das ações e ideias que porventura puderem seduzi-lo.

6 – Constelação de Virgem (Verão), Terra (ápice para baixo). A substância fecundada como esposa fertilizada pelo Fogo. A colheita está madura no momento em que o calor é agora menos tórrido. Os dias começam a encurtar para se aproximar do equilíbrio. É final de verão e aproxima-se a próxima estação. Simboliza o Iniciado que agora reúne os materiais e ferramentas. Do desbaste e preparação, aproxima-se o momento da elevação da Obra. Fica aqui a observação sobre Câncer. Este símbolo está situado no Norte e também corresponde a Coluna Solsticial “B” que marca a passagem do Trópico de Câncer como limite astronômico boreal da revolução anual do Sol. Daí Câncer estará sempre no Norte.

Colunas Zodiacais localizadas na parede Sul (sentido de leitura - da grade do Oriente para o extremo do Ocidente):

1 – Constelação de Libra, ou Balança (Outono), Ar (ápice para cima). É o equilíbrio das forças naturais construtoras e destrutivas. O fruto no ponto máximo da colheita e do sabor. Equinócio de Outono e os dias e noites são iguais em sua duração. O Sol se prepara para passar para o outro hemisfério. Simboliza agora o Companheiro e a juventude no estado máximo da atividade. A obra começa a ser elevada. A juventude, a ação e o trabalho são as pragmáticas do Grau. O trabalho começa ao Meio-Dia (puberdade).

2 – Constelação de Escorpião (Outono), Água (ápice para baixo). O aproveitamento do fruto e a preparação da semente que se apronta para morrer. Significa a base da construção vital e a combinação do elemento primário. O Sol se precipita para o outro hemisfério e as noites começam a prevalecer sobre os dias na sua duração. Simboliza um grau de maior de experiência, porém o Mestre é ferido de morte. O iniciado mata o iniciador.

3 – Constelação de Sagitário (Outono), Fogo (ápice para cima). A Natureza moribunda pela existência de pouca Luz assume um aspecto desolador e destaca o espírito do cadáver do Mestre. É o fim do outono que inexoravelmente encontrará a estação das trevas. Simboliza que o Companheiro se despede da juventude para ingressar na maturidade - “Eis que chegarão os dias em que tu dirás: essa idade não me agrada”.

4 – Constelação de Capricórnio (Inverno), Terra (ápice para baixo). A Natureza está morta. Nada mais vive. Os frondosos ramos verdes agora exibem os galhos desnudos. A substância terrena, embora inerte e passiva, permanece no aguardo de uma renovação e fecundação. A Terra fica viúva do Sol que atingiu o seu ápice no deslocamento para o outro hemisfério (há a prevalência das trevas – dias curtos e noites longas). É o solstício de inverno obedecendo a Lei Natural de morrer para renascer (João, o Evangelista). A semente que morreu, no futuro certamente produzirá bons frutos. Simboliza a idade madura e o Mestre. O túmulo é descoberto na certeza de que a semente (Sabedoria) um dia reviverá da escuridão – Natalis Invicti Solis.

5 – Constelação de Aquário (Inverno), Ar (ápice para cima). Na terra adormecida os elementos constitutivos da Natureza começam a se preparar para a nova geração que se aproxima. O Sol reinicia sua jornada de retorno e as noites começam a se encurtar. Simboliza que a vitalidade inerte começa a acordar. O cadáver do Mestre é desenterrado e uma cadeia de esforços é formada para ressuscitá-lo.

6 – Constelação de Peixes (Inverno), Água (ápice para baixo). O inverno chega ao seu fim. A neve se derrete impregnando o solo de fluídos imprescindíveis para a renovação e revitalização da Natureza. Os dias aumentam na sua duração anunciando a nova estação que virá com a passagem de retorno do Sol pelo equador. A época da ressurreição se avizinha. Enfim a Natureza reviverá pelos bens (frutos e sementes) produzidos pelas estações. Simboliza que o Mestre é levantado e revivido. Assim se despede o “caos”, pois a ressurreição traz consigo a Palavra Perdida. Fica aqui outra observação, agora sobre Capricórnio. Este símbolo estásituado no Sul e também corresponde a Coluna Solsticial “J” que marca a passagem do Trópico de Capricórnio como limite astronômico austral na revolução anual do Sol. Daí Capricórnio estará sempre no Sul.

Esse é um resumo da contingência iniciática do Rito Escocês Antigo e Aceito no tocante às doze Colunas Zodiacais. É dentro desse princípio iniciático que se configura muito a disposição de certos elementos na Sala da Loja. Um deles, por exemplo, é à disposição das três luzes sobre o Altar ocupado pelo Venerável Mestre e das três sobre cada mesa dos Vigilantes.

Em contraposição as Colunas Zodiacais em número de doze, as luzes são apenas nove, o que implica na falta de três. Essa contraposição está nos meses de inverno que simbolicamente possuem pouca, ou quase nada de luz. Daí na chave da iniciação (Exaltação), a Lenda no sistema latino apregoa lições de moral, ética e sociabilidade em um teatro que tem como elemento principal a busca da Luz.

Assim se pode compreender que a Terra fica viúva do Sol uma vez a cada ciclo completo (ano). Os Maçons, tomados no canteiro de aperfeiçoamento como elementos integrantes da Mãe Natureza, ao investiga-la são também conhecidos como os “Filhos da Viúva”. A verdadeira eternidade está na semente plantada, ou a obra deixada. Estas certamente permanecerão para sempre na mente dos pósteros.

Só não me aprofundo mais no tema, por duas simples razões: uma pela falta de espaço e outra devida os puristas de plantão que certamente me crucificariam - se ainda assim não me crucificarem - por revelar segredos (argh!) que só dizem respeito aos Mestres. Durma-se com um barulho desses!

Finalizando, devo aqui ratificar que toda essa conotação representativa às estações do ano como base doutrinária está relegada à meia esfera norte do planeta Terra. Isso é de assaz importância para a compreensão do Rito em questão que nasceu no hemisfério boreal. Inversões de colunas, bancos, lugares, etc., como vislumbram alguns tratadistas, nada mais é do que um mero desconhecimento da doutrina do Rito Escocês. É sempre bom lembrar que vivemos em uma sociedade iniciática simbólica que aperfeiçoa e investiga a Verdade, porém nunca com elucubrações tendenciosas que possam suprir as crenças pessoais, sejam elas, místicas, ocultas ou religiosas.

E.T. – Essas considerações se destacam na vertente francesa da Maçonaria (deísta). Aspectos doutrinários da vertente inglesa não tratam desses conceitos, embora o objetivo da Sublime Instituição seja apenas e tão somente um só independente da vertente a que pertença: Nas Lojas (Oficinas) por seus métodos particulares (ritos, ou trabalhos), ou pelas ilhargas culturais, objetiva-se forjar e aperfeiçoar um novo Homem que, tal qual a Natureza, morre para renascer. Já dizia o Irmão Voltaire, Iniciado já com seus oitenta anos, quando se referiu à Natureza: “Para esse relógio, certamente há de existir um relojoeiro”.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 768 Florianópolis (SC) – 03 de outubro de 2012

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