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quarta-feira, 7 de setembro de 2022

QUEM INSTRUI OS APRENDIZES

(republicação)
Questão que faz o Irmão Perílio Barbosa Leite da Silva, Aprendiz Maçom, Obreiro da Loja Arte e Virtude, 4.376, REAA⸫, GOB-MG, Oriente de Lajinha, Estado de Minas Gerais.
perilio.adv@gmail.com

Praticamos o R⸫E⸫A⸫A⸫, e no ritual datado de 2009 diz que o Irmão Segundo Vigilante é o responsável pela orientação dos Aprendizes, entretanto, em uma breve pesquisa, pude verificar que antes o Irmão Segundo Vigilante era responsável pela orientação dos Companheiros. Poderia me dizer se realmente ocorreu essa mudança. Se sim, poderia me explicar à razão de tal mudança?

CONSIDERAÇÕES:

Na verdade não houve mudanças, todavia uma volta à tradição que envolve muitos anos da história. Nesse sentido, segue o texto abaixo que dei como resposta em outra ocasião, pelo que espero lhe seja útil e possa auxiliá-lo no entendimento do fato, inclusive o escrito aborda práticas da Iniciação onde pode parecer que aparentemente haja existência de contradição. 

A pergunta na ocasião:

Em nosso ritual (REAA), na página 18 informa que o Primeiro Vigilante é responsável pela instrução e orientação dos Companheiros, e o Segundo Vigilante a dos Aprendizes.

Primeira pergunta: por que então que na iniciação o Venerável manda o Aprendiz ir até o Primeiro Vigilante e pede que ele o ensine a trabalhar na Pedra Bruta?

Tenho o Instrucional Maçônico do GOB edição 1996 (Tito Alves), e na pág. 22 (2.8 aprendizagem), ele fala que o responsável pela instrução dos Aprendizes é o Primeiro Vigilante.

A resposta naquela oportunidade:

Quem instrui os Aprendizes e Companheiros.

Em síntese, pelo aspecto tradicional, no passado operativo, quando não existiam ritos, era o 2° Vigilante que recebia o candidato, instruía-o nos procedimentos e o encaminhava para o 1° Vigilante para que esse procedesse a uma oração em favor do iniciando. 

Posteriormente o Mestre da Loja trazia o Livro da Lei e, auxiliado pelo 2° Vigilante, fazia com que o candidato se ajoelhasse para prestar a obrigação, receber a Luz, assim como as vestimentas de ofício que consistiam em um avental de pele e um par de luvas para trabalhar no desbaste da pedra.

Terminado o juramento, o 2° Vigilante instruía o Aprendiz recém-iniciado nas antigas obrigações do ofício (Old Charges).

Guardando essa tradição, o Rito Escocês Antigo e Aceito revive essas reminiscências conservando o 2° Vigilante na instrução dos Aprendizes e do 1° na dos Companheiros, mantendo tradicionalmente o 2° Vigilante na Coluna do Sul e o 1° na Coluna do Norte, fato que não implica em qualquer desordem já que quem dirige à Loja, portanto todos os Obreiros presentes é o Venerável Mestre, auxiliado pelos Vigilantes. 

É falsa a obrigatoriedade de que o obreiro precise tomar assento na respectiva Coluna do Vigilante para ser por ele instruído, daí no Rito Escocês Antigo e Aceito o 2° Vigilante do meridiano do Meio-Dia, ou Sul instrui os Aprendizes que se localizam no topo da Coluna do Norte e o 1° Vigilante do Ocidente, na Coluna do Norte instrui os Companheiros que ocupam o topo da Coluna do Sul.

A questão controversa da Iniciação. 

Com o surgimento dos Ritos a partir do século XVIII, não raras vezes estes acabariam por assumir feitios próprios urdidos de costumes e conceitos regionais e que daria origem a dois formatos distintos de práticas litúrgicas e ritualísticas. 

Uma de vertente inglesa e outra de ilharga francesa. Além desses propósitos apareceriam as “revelações”, ou “obras espúrias” que delatavam os trabalhos maçônicos daquela época. 

No intuito de enfrentar esses acontecimentos, houve por parte do grupo intitulado como “modernos” a tentativa de se inverter palavras de passe, sinais, colunas, etc., para confundir os delatores.

Isso até prevaleceu na Inglaterra o que geraria as escaramuças entre os “modernos” (da Primeira Grande Loja – 1.717) e os rotulados como “antigos” (Segunda Grande Loja – 1.751). Da união dessas duas Grandes Lojas em 1.813 resultaria a Grande Loja Unida da Inglaterra acomodando a maioria das antigas tradições e costumes.

Já na França, o formato “moderno” acabaria influenciando como base (Rito Francês, ou Moderno). Os franceses decidiam então por optar pelo formato da primeira Grande Loja, com as colunas invertidas, inversão dos Vigilantes, palavras sagradas inversas, etc. (embora essas mudanças, os Aprendizes se manteriam sempre no Norte, assim como os Companheiros no Sul). 

No Rito Escocês Antigo e Aceito que embora de origem francesa não aderisse esse costume, conservou-se no formato antigo (daí o nome “antigo” incluso no seu título), prevalecendo assim as Colunas dispostas na forma inglesa antiga, palavras sagradas conforme a tradição, 1° Vigilante no Norte e o 2° no Sul, etc. (na Europa o Rito Escocês é mais conhecido como Rito Antigo e Aceito).

A despeito de tantos acontecimentos que compõem o mosaico da história da Ordem, está o de que ao longo dos anos, dezenas e dezenas de rituais foram escritos conforme a contemporaneidade dos fatos, não fugindo à regra resultante de inúmeras contradições, como é o caso da instrução do 1° Vigilante durante a Iniciação. 

À bem da verdade, no ato da cerimônia iniciática, em se tratando do Rito Escocês, não é propriamente o Vigilante que ensina o primeiro trabalho, porém o Mestre de Cerimônias que conduz o iniciando até a Pedra Bruta para nela ele exercer o seu primeiro trabalho simbólico – isso pode ser comprovado mais tarde durante Elevação quando o Aprendiz pratica seu último trabalho sob o comando do Mestre de Cerimônias. 

Para reforçar a tese, há que se notar quem ensina ao Aprendiz a Marcha do Grau é também o Mestre de Cerimônias.

A rigor, assim também deveria exarar o ritual do Grau de Companheiro quando da cerimônia de Elevação, pois também tradicionalmente é o Mestre de Cerimônias que ensina a Marcha do Grau ao Companheiro e não o 2° Vigilante. 

Um fato importante também a ser considerado e que corrobora com esse arrazoado é que o Venerável durante a Iniciação e Elevação tem como seu auxiliar imediato para ensinar os segredos do Grau o Mestre de Cerimônias e, em raras vezes, o Experto. 

Já os Vigilantes normalmente conferem o que fora ensinado para dar o devido reconhecimento. É bem verdade que os rituais não esclarecem esses fatos e se enforquilham em instruções e procedimentos que resultam às vezes mais em dúvida do que esclarecimento.

Antes de finalizar esse tópico, seguem outros aspectos importantes que, antes de se emitir uma opinião laudatória, deve ser levada em consideração:

a) Na antiga tradição e nos arremedos dos primeiros catecismos que dariam origem aos rituais, a Pedra Bruta era colocada da Coluna do Sul junto ao 2° Vigilante;

b) Mesmo estando a Pedra Bruta tradicionalmente no Sul, os Aprendizes sempre tomam assento no lado Norte – se bem observado, por exemplo, os Trabalhos de Emulação (inglês), a Pedra Bruta está no Sul e os Aprendizes no canto Nordeste da sala da Loja. A inversão das pedras (bruta e cúbica) teve origem nos ditos “modernos”, o que acabou influenciando também o Rito Escocês.

c) As Instruções ministradas pelos Vigilantes estão diretamente ligadas à Tábua de Delinear (sistema inglês) e ao Painel do Grau (sistema francês).

d) A dialética aplicada durante as Instruções entre o Venerável e os Vigilantes deveria estar de acordo com o Grau. O 2° Vigilante para o Aprendiz e 1° Vigilante para o Companheiro.

e) Na Moderna Maçonaria as instruções ministradas no Ritual implicam no período de aprendizagem. Dentre outras, a solicitação de peças de arquitetura, explanações sobre o conteúdo do Painel do Grau, verificação do entendimento dos segredos do Grau, etc. Sintetiza a intuição para o Aprendiz e a análise para o Companheiro.

f) Ao longo dos tempos as instruções inseridas nos rituais têm sido acompanhadas de enxertos oriundos dos dois principais sistemas doutrinários (inglês e francês). No caso do Rito Escocês que é de origem francesa, não raras vezes encontramos doutrinas hauridas das Lições Prestonianas da Tábua de Delinear Inglesa (Tracing Board). Exemplo: a alegoria das Colunas Jônica, Dórica e Coríntia; visualização do Volume da Lei Sagrada, do Esquadro e do Compasso no instante do “Fiat Lux”; a alegoria da Escada de Jacó; virtudes teologais, etc.

Embora essas situações possam até parecer sem importância elas são inquestionavelmente conflitantes no tocante às suas explicações, como é o caso de quem ministra instrução para os Aprendizes e Companheiros. 

Obviamente e embora o objetivo da Moderna Maçonaria seja o mesmo independente do sistema doutrinário, se faz cogente o conhecimento de que as mensagens se diferem uma da outra. A questão é: reconstruir um novo Homem.

Finalizando esse tópico, a referência feita ao Livro da Lei no primeiro parágrafo dessas considerações na época da Maçonaria Operativa, a Bíblia sob a influência da Igreja aparecia nas Guildas dos Construtores Medievais. 

Nesse sentido antes da reforma protestante os exemplares dos Livros Sagrados ficavam sob a tutela da Igreja. Também é motivo de consideração o fato de que não existia imprensa e os textos eram escritos à mão sobre um papel de gramatura grosseira, o que impunha à Bíblia um volume bastante avantajado e incômodo, inclusive para o seu manuseio e transporte. 

É por esse feitio que o uso do Livro Santo era partilhado (bíblia é um conjunto de livros) e, no caso das confrarias de construtores que usualmente se reuniam nos períodos solsticiais, destacava-se apenas o Evangelho de São João, relativo ao solstício de verão no hemisfério Norte, o que seria um dos motivos de se rotular mais tarde as Oficinas como as Lojas de São João.

Em sendo essa resposta útil, 

Fonte: JBNews n. 804, 08/11/2012

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