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domingo, 13 de novembro de 2022

TRANSMISSÃO DA PALAVRA

(republicação)
Questão apresentada pelo Respeitável Irmão Benedito Gonçalves da Silva, Venerável Mestre da Loja Caminho das Oliveiras, 3.694, REAA⸫, GOB, Oriente de Alpinópolis, Estado de Minas Gerais.
beneditogsilva@hotmail.com

Há alguns dias, um nosso Irmão que ainda é Companheiro, mas muito estudioso de nosso ritual, alertou-nos sobre a transmissão da Palavra Sagrada. Pois a transmitia ao Irmão Primeiro Diácono da seguinte forma: letra por letra e silaba por silaba. Mas nosso ritual, edição 2009, pag. 39 é bem claro, pois ali consta que a transmissão se dá somente letra por letra. Sei que a transmissão da Palavra Sagrada somente se dá em dois momentos, isto é: como sinal de reconhecimento maçônico e durante a abertura e fechamento de uma sessão maçônica, correto? Entretanto, um nosso Irmão protestou veementemente, dizendo que deveríamos passar letra por letra e silaba por silaba. Contradizendo, na minha humilde opinião, o nosso ritual. Daí, portanto a razão da consulta que ora faço ao Poderoso Irmão, pois preciso dirimir está dúvida e esclarecer aquele Irmão com as luzes da sabedoria. Se possível, gostaria de ter uma resposta o mais breve, pois preciso transmitir vosso parecer na próxima segunda-feira.

CONSIDERAÇÕES:

A página 39 do ritual trata do Cobridor do Grau de Aprendiz, já a transmissão da Palavra na abertura é tratada na página 49.

Bem, o nosso Irmão Companheiro está equivocado em dois sentidos. Primeiro é preciso cumprir o que está escrito. Segundo, ele está confundindo “telhamento”, com “transmissão” e ai o pensamento do Venerável está rigorosamente correto.

A transmissão da Palavra que envolve o Venerável, Diáconos e Vigilantes é feita entre Mestres Maçons e revive simbolicamente através dessa alegoria os antigos Canteiros Medievais quando do início operativo da obra, literalmente. 

No imenso canteiro do passado para se iniciar o trabalho, primeiro a obra era esquadrejava-se os cantos, nivelava-se e se aprumava. Dado isso e estando tudo correto, era comunicado ao Mestre da Obra que tudo estava Justo e Perfeito.

Assim dava-se então o início dos trabalhos. Ao final de cada etapa da construção, procedia-se da mesma forma para conferir a qualidade dos trabalhos e pagar os obreiros despedindo-os contentes e satisfeitos. 

Aliás, até hoje o início de uma construção depende de esquadrejamento, nivelamento e aprumada. É no esquadrejamento dos cantos que se faz o uso da 47ª Proposição de Euclides, ou o Teorema de Pitágoras.

De maneira especulativa o Rito Escocês que possui no seu título à palavra “Antigo”, revive essa tradição. Como na Moderna Maçonaria a Loja que representa o Canteiro de Obras do passado não possui mais a matéria prima da pedra calcária e sim o Homem como elemento primário, a alegoria trata então de uma Palavra que, se transmitida corretamente, significa que a obra está pronta para iniciar (abertura dos trabalhos e o termo Justo e Perfeito), assim como ao seu término estando os trabalhos também Justos e Perfeitos, o Primeiro Vigilante encerra o labor relativo ao período.

Os Diáconos, que viriam adquirir esse nome por influência da Igreja, representam atualmente os antigos oficiais de chão que auxiliavam e transmitiam ordens como mensageiros entre o Mestre da Obra e os Wardens (atuais - Veneráveis e Vigilantes).

Assim o ritual revivendo esse momento de maneira simbólica procede ao ato entre Mestres Maçons o que está longe de ser um telhamento. Ainda nessa questão, não existe entre os protagonistas a troca de letras ou sílabas. Há que se notar que quem a transmite o faz por inteiro, seja ela soletrada ou silabada.

Já o telhamento tem por finalidade a verificação da qualidade maçônica de alguém, o que é feito para se verificar o Obreiro e não uma transmissão de Palavra. Nesse sentido obviamente existe uma diferença significativa no ato entre os protagonistas, já que quem pede dá primeiro para receber depois.

A questão de se silabar ao final a Palavra do Aprendiz no telhamento. É lamentável que isso aconteça, porém está escrito no ritual somos obrigados a cumprir. Indubitavelmente esse não é um procedimento correto na vertente francesa do Rito em questão. Essa anomalia vem de há muito incomodando as explicações racionais. O que deveria acontecer de maneira correta é que quem soletra, apenas soletra e quem profere por sílabas, profere apenas e tão somente por sílabas (a diferença de modo de transmitir entre os dois primeiros graus). 

Na doutrina francesa (o Rito Escocês é filho espiritual da França) o soletrar do Aprendiz evoca a primeira etapa da vida, enquanto que o Companheiro por representar a segunda etapa, soletra a palavra.

Essa contradição de se dar por sílaba uma palavra que tradicionalmente soletrada está ligada a copia enganosa do sistema inglês que no caso do Aprendiz, em linhas gerais transmite a palavra de trás para frente e de maneira diferente, ou partida ao meio.

Essa miscelânea acabou pegando carona nos ritos franceses ao ponto de ficar arraigada como tradição, porém quando se pede uma explicação, ela simplesmente não existe.

Finalizando, fica aqui a ratificação ao Irmão Companheiro que questiona os procedimentos – transmissão da Palavra não é o mesmo que telhamento, embora para ambos os casos, a palavra seja a mesma conforme o Grau de trabalho.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 0847 Florianópolis (SC) 21 de dezembro de 2012.

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