Páginas

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O LIVRO DA LEI E O SALMO 133

O LIVRO DA LEI E O SALMO 133
Sergio Pinheiro Fernandes 

 Considerações iniciais

A abordagem do tema deste trabalho nos impõe dividi-lo em dois tópicos principais, iniciando pelo Livro da Lei e ao final o Salmo 133. 

O Livro da Lei, também é conhecido como Livro Sagrado, Bíblia, e outras denominações. 

Muitos são os Livros Sagrados ou Livros da Lei, dependendo em que lugar do mundo esteja a localização da Loja. No Brasil, como em toda a parte ocidental do Mundo, o Livro Sagrado será a Bíblia. 

É evidente que poderá surgir uma Loja no Brasil composta de membros hindus e que coloquem sobre o Ara o “Bhagavad-Gita” (grandes livros espirituais da humanidade do Oriente), o Talmud que é o livro que contém todos os regulamentos de todas as cerimônias do culto israelita, ou como o Alcorão para os Muçulmanos, por exemplo e assim sucessivamente em relação às demais liturgias ou cultos. 

O L∴ da L∴

Segundo os pesquisadores, ele foi estabelecido em 1717, a partir da fundação da Grande Loja da Inglaterra. 

Existiam divergências quanto a apli­cação dos textos do Livro da Lei nos Trabalhos Maçônicos, pelo fato da liberdade de uso, através dos tempos. Na Inglaterra, é costume abrir o Livro da Lei no Salmo 133, quando a Loja estiver trabalhando em Grau de Aprendiz. 

As Lojas Simbólicas, obedecendo decisão da Assembléia Geral da Confede­ração da Maçonaria Simbólica do Brasil, de junho de 1952, seguem a mesma orien­tação, e utilizam abrir o Livro da Lei no Salmo 133, versículos 1, 2 e 3, proceden­do a Leitura pelo Orador, na abertura dos Trabalhos do Grau de Aprendiz. 

No nosso rito, REAA, a Bíblia é o L∴ da L∴ de uso nas lojas; no entanto como estabelecido no Ritual de Aprendiz, o Iniciado ou o Maçom tem o direito de prestar os juramentos que a ordem exige, sobre o livro Sagrado de sua crença. Nesse caso, no momento do compromisso, poderá ser usado outro Livro Sagrado, sem que a Bíblia seja retirada do altar. 

O Livro da Lei juntamente com o esquadro e o compasso significavam as Três Grandes Luzes da Maçonaria. 

Alguns autores classificam o L∴ da L∴ como sendo um paramento de loja, outros o classificam como ornamento. Ambas denominações teem o mesmo significado - vestes litúrgicas ou alfaias das igrejas, significando “roupas”; “utensílios”; paramentos de igreja. Logo, são portanto palavras sinônimas. 

O Livro da Lei integra os ornamentos da Loja Maçônica, símbolo da vontade suprema, que impõe as crenças espiritu­ais estabelecidas pelas religiões e não se traduz apenas pelo Velho e Novo Testa­mento, mas de acordo com a filosofia religiosa de cada povo. 

O L∴ da L∴ regula nossa conduta no lar, no trabalho e na sociedade, inspirando-nos a viver voltados para a pratica do Bem, representando a crença ou a mais alta expressão de fé. 

No sentido esotérico, quando se abre o L∴ da L∴ no início dos nossos trabalhos, e se faz a leitura do versículo apropriado, o Salmo 133, a partir deste momento passa a circular em Loja uma corrente de energia emanada do cosmo, que é receptada pela luz do altar dos juramentos e transmitida instantaneamente as luzes dos altares do Ven∴ Mestre e dos Vigilantes. Essa corrente de energia cósmica é que manterá em todo o tempo dos trabalhos, o equilíbrio das colunas que sustentam a nossa Loja. 

O Livro da Lei é considerado parte integrante dos utensílios maçônicos, sen­do indispensável nos trabalhos de uma Loja. 

SALMO 133

Para que possamos melhor compreender o significado desta oração em gênero poético, caracterizada por duplo ritmo, o das palavras e o das idéias, é necessário falar sobre cada um dos seus versículos: 

1- “ Oh ! quão bom e quão suave é que os Irmãos habitem em união” 

Para os hebreus de antigamente, a palavra “irmão’ apresentava significado bem definido. Jerusalém não era apenas a Capital civil, mas também uma entidade espiritual. Em algumas ocasiões, práticas religiosas eram celebradas no Templo de Salomão. Era um período feliz, pois todos os judeus reconheciam a sua comum irmandade e “habitavam em união” por di­versos dias, na Cidade Sagrada para onde todos convergiam. 

Mais do que qualquer outro povo, os judeus davam importância à unidade familiar. Os filhos nunca deixavam a tenda do pai, mesmo quando nômades. Quando um rapaz casava, outra tenda era levanta­da. Somente as moças deixavam o lar, para se mudar para a tenda de seus mari­dos. Era o ideal da família, que “os Irmãos habitassem em união”. 

Assim como os irmãos de sangue sentiam a necessidade de unir-se em torno do Templo Familiar, entende-se que a filosofia maçônica tomou como exemplo essa experiência, para ensinar seus membros a estarem sempre juntos como única famí­lia, constituindo o seu Templo Espiritual. 

Quando são lidos os versículos do Salmo no momento do Ritual de Abertura da Loja, esse texto atua em todos os Irmãos presentes, como unificador das mentes em torno do grande objetivo comum, pois neste momento constitui-se uma obra de criação a Glória do G∴A∴D∴U∴

A interjeição “Oh !” designa admira­ção, surpresa, realça o espírito do texto ao relatar a “excelência do amor fraternal”, o grau máximo de bondade e de perfeição causado pelo encontro dos que se amam. 

2- “É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a bar­ba, a barba d’Aarão, e que desce a orla de suas vestes”. 

Era marca de distinção entre os ju­deus, o cabelo e a barba compridos. A barba era um sinal de veneração e virilida­de. Se um convidado fosse recebido para jantar, as boas vindas lhe eram dadas, derramando óleo sobre a cabeça. Se al­guém era bem vindo, o óleo era derrama­do em abundância e corria livremente da cabeça aos pés, passando pela barba, pescoço até o vestuário. O perfume do óleo dava da mesma maneira que queremos em nos­sas reuniões, um ambiente fraternal um sentimento de prazer entre todos os que estão presentes. 

Essa satisfa­ção esparge e infunde como o óleo, um perfume espiritual que transcende a nossa própria individualidade, uma vez que a união de todos constitui o somatório da força geradora da obra a que todos os Maçons se propõem. 

Era um acontecimento comum ao lar de cada família, ouso do azeite de oliva; foi usado, inclusive como meio de câmbio antes da adoção da cunhagem de moe­das. Possuía, também, grande importân­cia por suas propriedades medicinais. A referência a Aarão é porque ele foi ungido como Alto Sacerdote para Moisés, antes do povo escolhido deixar o Egito em direção à terra prometida. 

O óleo possuía um valor extraordiná­rio sobre todos os aspectos. Era o símbolo da unidade e do amor entre os Irmãos. Ungir da cabeça aos pés com óleo era sinal de grande respeito e amor entre os Judeus. 

3 - “Como o orvalho de Hermon e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre”. 

Este versículo é, segundo nosso en­tendimento, o mais belo e mais significativo, sob os aspectos espiritual, humano e natural. 

Esta ilustração nos leva da vida, do lado humano da Palestina, para uma con­sideração do aspecto geográfico, ou dos aspectos naturais. 

O Monte de Hermon está localizado ao longo da fronteira norte do pais; possui aproximadamente 3.000 metros de altitude, seu nome quer dizer “o que pode ser visto de longe”. Mesmo du­rante o calor do verão, quando o restante da região está ardendo em virtude do vento seco denominado “siroco”, a neve que cobre a montanha é visível há muitos quilômetros de distância. A terra pode es­tar seca e árida, mas a neve, “o orvalho de Hermon’, permanece brilhante e alva. 

O sistema do rio Jordão é alimenta­do por esse orvalho que se derrete, tem suas principais nascentes ao sopé do Monte Hermon. É uma bênção para a nação, pois o rio corre por um vale entre duas cordilheiras, que são ricas em ferro e cobre, com abundante suprimento de car­vão, fornecendo excelente base para a indústria. O solo é alimentado por esta água, e ali de cultivam em abundância azeitonas, uvas e outras frutas. O Jordão, tendo sua foz no Mar da Galiléia, torna possível uma intensa indústria pesqueira, colaborando para a produção de alimen­tos à população, como para exportação. 

Esse local foi o ideal para a constru­ção do Templo, e antes foi o Palácio de Davi, que tornou-se uma fortaleza, parte pela construção de suas muralhas e parte em virtude da natureza da rocha, onde se localizam os Montes de Sião. 

O “orvalho de Hermon” é físico, ex­terior e visível a olho nu. O que desce da montanha de Sião é escondido, interno, brotando em fontes por debaixo do solo. O primeiro é simbólico, terreno; o outro é espi­ritual, eterno. O homem apresenta os aspec­tos material, temporal, ao lado da manifes­tação invisível, espiritual. Assim o “orvalho de Hermon” foi de grande significado para a existência da Palestina. “Montes de Sião” era um lugar sagrado, o local do Templo, a Casa do Senhor, onde se ordena “a bên­ção e a vida para sempre”, o que nos induz a pensar na imortalidade da alma. 

A irmandade ou a fraternidade, é uma graça interna e algo que brota de dentro do coração. Seus frutos são facil­mente vistos, assim como a cevada, o trigo, as uvas, os figos, que crescem resul­tantes da neve derretida de Hermon. Essas frutas, embora não eternas, por sua importância para o povo, são símbolo de paz, harmonia, amor. 

Montes de Sião, brota de dentro, move-se da natureza interna para fora. E mais duradoura, do que aquilo que é apenas físico. 

Costumamos ficar impressionados com o que é visto, o físico, o tangível, mas o que não é visto, o espiritual, o intangível nem damos importância. Estamos tão acostumados a viver em função das coi­sas materiais, que muitas vezes esquece­mos que o que é material é transitório. A bênção que todos devemos procurar, é o fruto da união fraternal, é a dádiva espiri­tual, é a vida eterna. 

É fácil compreender a razão por que foi escolhido este Salmo para representar nossa união, quando da abertura dos Tra­balhos no Grau de Aprendiz. 

Ele encerra o símbolo do “AMOR FRATERNAL”. 

A Ritualística 

A vocatória do Ven∴ Mestre, ao Mestre de Cerimônia para que conduza o Ir∴ Orador ao Altar dos Juramentos, inicia o ritual da abertura do Livro Sagrado, dando início os trabalhos de loja, com todos os irmãos colocados de pé e à ordem. 

Compete ao Ir∴ Orador oficiar esta cerimônia. 

O Ir∴ Orador abre o Livro sagrado, simbolizando a abertura do Universo e ao ler em voz alta o Salmo, inicia com a sua vibração, os mistérios ocultos da maçonaria, espiritualizando os símbolos que o cercam. 

Todos devem acompanhar o cerimonial com atenção porque participam dos resultados, desaparecendo o homem profano. Para numa perfeita união, passam as palavras do Ir∴ Orador penetrar no íntimo de cada um dos Irr... transformando as dificuldades da vida, em momentos de rara paz. 

O homem necessita de momentos de recolhimento onde possa encontrar misticismo, religiosidade, compreensão, amor fraterno, fugindo ao cada vez mais cruel contato com os semelhantes na competição do quotidiano. 

Idêntico ritual observa-se quando do encerramento dos trabalhos, excetuando-se a leitura do Salmo. 

Conclusão 

Para este Ir∴ Aprendiz, o momento de abertura do Livro Sagrado e a leitura do Salmo 133, é um momento de grande concentração espiritual, o momento de busca do máximo de energia, porque é neste momento que eu elevo o pensamento ao Grande Arquiteto do Universo e peço a ele por mim, pela minha família, pelos meus irmãos e por toda a nossa humanidade, tudo aquilo que ele possa e tenha a nós reservado. 

Obrigado meus IIr∴ 

Rio de janeiro, 16 de maio de 2002 

Bibliografia 
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda - Novo Dicionário Aurélio – Século XXI – 
Pesquisa em Sites Maçônicos – mai/2002 - Internet. 
Rizzardo Da Camino, Simbolismo do Primeiro Grau – Aprendiz, Literatura Maçônica, Editora Aurora. 
Jornal "3 pontos", Buenos Aires - Argentina 
Rizzardo Da Camino, Introdução à Maçonaria, 1º. Vol., 1972, Editora Aurora. 
Cláudio Roque Buono Ferreira, em parceria com - Manual Heráldico do Rito Escocês Antigo e Aceito, Volume I - graus 1 a 18 - Editora A Gazeta Maçônica – 1995 
Dicionário Maçônico. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário