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terça-feira, 15 de agosto de 2023

SINAL DE ABSTENÇÃO

(republicação)
O Irmão Eduardo Costi, Aprendiz Maçom da Loja Igualdade Criciumense, 66, Grande Loja de Santa Catarina, REAA∴, Oriente de Criciúma, Estado de Santa Catarina, apresenta a seguinte questão: 
educosti@terra.com.br 

No Informativo nº 820 do JB NEWS, em Perguntas e Respostas, o irmão escreve que a maneira correta no REAA de se abster quando da aprovação do Balaústre, é se colocar em pé e a ordem, porém no manual de aprendiz consta que devemos colocar a mão direita espalmada sobre a cabeça; agradeço ao irmão se puder me esclarecer sobre isto. 

CONSIDERAÇÕES:

Bem meu Irmão, eu não quero me insurgir contra o manual editado pela Respeitável Grande Loja de Santa Catarina.

As minhas respostas são sempre fundamentadas na autenticidade e quando as emito, não posso ficar preso ao que exara este ou aquele escrito se ele não estiver de acordo com a verdadeira tradição. 

Assim, para o seu conhecimento e nunca para descumprir o que está legalmente escrito, esteja ele certo ou errado, devo salientar que essa prática disposta no manual a que o Irmão se refere não é verdadeira no Rito Escocês Antigo e Aceito. 

Esse posicionamento ritualístico citado pela sua pessoa é tradicional no Rito Adonhiramita como Sinal de Abstenção. No Rito Escocês não existe rigorosamente Sinal de Abstenção, senão um procedimento que indica abstenção. 

Deste modo no Rito em questão, o obreiro que durante uma votação quiser exercer o direito de se abster, simplesmente se posiciona à Ordem. 

No Brasil particularmente ainda existe a cultura de se copiar o que está escrito sem uma criteriosa observação. Infelizmente para alguns ritualistas e suas comissões, antiguidade parece autenticidade, todavia no campo da pesquisa acadêmica as coisas não são bem assim.

Veja. No caso do Sinal de Abstenção - próprio do Rito Adonhiramita - este campeia os nossos manuais e até rituais em uma autêntica miscelânea de procedimentos ritualísticos e litúrgicos que assolam a nossa Maçonaria desde o Século XIX. 

Na verdade o Rito Escocês é tido geralmente como o terceiro Rito que ingressou no Brasil. Embora até existisse uma Loja com o nome de Educação e Moral que já praticava o Rito Escocês no Brasil, o fato é que oficialmente esse Rito só chegou ao Brasil através de Francisco Gê Acayaba de Montezuma, o Visconde de Jequitinhonha em 1.832. A Maçonaria regular no Brasil oficialmente se apresenta no ano de 1.800, com as Lojas União (posteriormente Reunião), Constância e Filantropia. 

A prática dos Ritos por essas era o Adonhiramita (Grande Oriente Lusitano) e o Rito Moderno, ou Francês (Grande Oriente da “Ilhe de France”). O Grande Oriente do Brasil, ou Brasílico, por exemplo, fundado em 17 de junho de 1.822 pelo desmembramento da Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro, dando origem a mais duas outras, a Esperança de Niterói e a União e Tranquilidade teve como seu rito oficial o Rito dos Sete Graos (grafia da época), que na verdade era (e ainda é) o Rito Moderno, ou Francês. 

Imagine-se então que os fatos aconteciam no Brasil ainda colônia. Havia uma grande dificuldade de comunicação tanto interna como entre o Brasil e a Europa. As notícias demoravam meses para chegarem ao destino. Dentro desse contexto, imagine-se a troca de informações ritualísticas e a confecção de rituais. Cada novidade que chegava - certa ou não - era em muitas vezes admitida e aí começava o “mix-ritualístico”. Em princípio entre os dois Ritos conhecidos (Adonhiramita e Moderno), posteriormente, em 1.832 chegava o Rito Escocês Antigo e Aceito, relativamente novo pela sua fundação em 31 de maio de 1.801 em solo norte-americano. Esse Rito embora de origem francesa na oportunidade do se estabelecimento não possuía nem mesmo os graus simbólicos, já que o seu primeiro ritual do simbolismo só viria aparecer em 1.804 através do Segundo Supremo Conselho e o Grande Oriente da França. Durma-se então com um barulho destes. 

Agora imagine se o mistifório já era grande com dois ritos nos primórdios da maçonaria brasileira, então como ficaria com a chegada de um terceiro que viria agradar substancialmente os maçons brasileiros (latinos por excelência) pelo número de graus. Daí por diante, se solidificaria a completa enxertia de procedimentos de um para outro rito. O resultado de tudo isso, ainda se abeira de nós em pleno Século XXI. 

Dentre tantas misturas que confundem o ideário doutrinário de cada Rito, uma delas está patente aos vossos olhos. Assim, esse uso desacertado de um “sinal de abstenção” originário de um Rito em outro é ainda a reminiscência do nosso passado. 

Sabe meu Irmão, eu poderia aqui elencar um imenso número dessas enxertias no Rito Escocês. Não só dos dois ritos citados, mas também do Craft inglês através das Lojas Azuis norte-americanas, tornando-o uma verdadeira colcha de retalhos, todavia penso que o momento não seja oportuno. 

Talvez vossa pessoa, ainda como um digníssimo Aprendiz Maçom, já tenha observado as diferenças entre o mesmo Rito em visitas às Lojas de Obediências distintas. Saiba que esse é o resultado dos enxertos que comentei nesse despretensioso escrito. 

As coisas acontecem não por falta de aviso. Se muitos maçons há mais de trinta anos aqui no Brasil tem se debruçado sobre a verdadeira história de maneira acadêmica, também muitos ainda teimam em promover rituais rançosos, inverídicos e ultrapassados como se nesse caso a idade fosse sinônima de verdade. Ledo engano. Nem tudo que reluz é ouro. Isso ainda sem comentar certas bibliografias que no meu modo de entender ao contrário de trazer conhecimento, estão aí mesmo é para poluir e incentivar a contra cultura. 

Nesse sentido é que abomino leviandades como partícipe da corrente autêntica da Sublime Instituição. Eu mesmo tenho lutado ferrenhamente para que o Maçom saiba o que é Maçonaria e, por conseguinte saiba o que está fazendo dentro da Loja. 

Penso que um Homem que busca seu aperfeiçoamento não pode simplesmente se comparar ao que foi dito pelo maravilhoso poeta popular Adoniran Barbosa quando compôs a música “As Mariposas”. Na arte do aperfeiçoamento nós maçons não podemos ficar simplesmente como as mariposas do poeta dando a volta em volta da “lâmpida”. 

Esse desabafo não tem o intuito de promover o desrespeito ao que está legalmente escrito. Contudo, se faz cogente também compreender que discutir o que está certo ou errado é ação eivada de boa geometria pelo Maçom. 

T.F.A. 
PEDRO JUK  - jukirm@hotmail.com 
Fonte: JB News – Informativo nr. 0981, Florianópolis (SC) – sábado, 11 de maio de 2013

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