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quarta-feira, 20 de março de 2024

SÓ MESTRES PODEM OCUPAR O ORIENTE - REAA

(republicação)
Em 19/04/2018 o Respeitável Irmão José Tonete Sobrinho, Loja Guaicurus, 4.317, sem mencionar o nome do Rito, GOB-MS, Oriente de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul, apresenta a seguinte questão:

MESTRES E A OCUPAÇÃO DO ORIENTE

Pergunto: Somente Mestres podem ocupar lugares no Oriente. Não é incoerente o ritual na iniciação Aprendiz prestar seu juramento no Oriente. Não seria correto que o mesmo o fizesse no ocidente, ou que o Altar dos Juramentos localizasse no Ocidente em frente Venerável Mestre, pois a prerrogativa do Oriente são somente de Mestres. Se tal formalidade e excepcional por se tratar de Iniciação, não seria correto o Aprendiz aprender trabalhar em Loja acompanhado do Mestre de Cerimônias?

CONSIDERAÇÕES:
Essa tem sido uma das contradições que aparecem desde a demarcação e erguimento do Oriente por ocasião do aparecimento no século XIX das hoje já extintas Lojas Capitulares do REAA. 

Para tanto é preciso antes se compreender que originalmente no escocesismo simbólico não existia Oriente demarcado, senão identificava-se o mesmo como o lugar do Venerável Mestre e os que ocupavam assentos à sua direita e à sua esquerda. Em síntese, o Oriente era tudo o que estivesse encostado e mais próximo da parede Oriental, sem que existisse uma referência limítrofe como o desnível e a balaustrada atualmente conhecidos. 

Isso pode ser ainda constatado, por exemplo, nas Lojas da vertente inglesa de Maçonaria, a exemplo do Rito de York, que não possuem essa demarcação, sendo toda a topografia da sala da Loja no mesmo nível, excedo o pedestal do Mestre da Loja que fica elevado.

Embora o Rito Escocês seja de origem francesa, é incontestável que ele possui forte influência anglo-saxônica no seu simbolismo, esse adquirido desde o nascimento dos seus primeiros rituais simbólicos a partir de 1804 na França, cujos quais foram influenciados pelas práticas das Lojas Azuis do Craft norte-americano e trazidos por maçons franceses de retorno dos Estados Unidos da América do Norte para a França (vide essa história).

Então, quando apareceram particularmente no Grande Oriente da França as Lojas Capitulares, cujas quais envolviam desde o simbolismo até os graus capitulares, o Oriente dessas Lojas seria demarcado em relação ao Ocidente por uma balaustrada. Esse espaço também se distinguia do restante do recinto por possuir o seu nível um pouco mais elevado, o que se dava por apenas um pequeno degrau.

Houve tempo (parte do século XIX) em que na França, o Grande Oriente se ocupou dos graus simbólicos até os graus capitulares (do Primeiro Grau até o Grau 18). Nesse sistema o Athersata do Capítulo era o mesmo Venerável Mestre do simbolismo. Ficava naquela oportunidade com o Segundo Supremo Conselho do REAA apenas os graus superiores que se davam a partir do Kadosh (do 19º ao 30º Grau) até o Consistório (do 31º ao 33º Grau).

Assim, uma das características de disposição topográfica das Lojas Capitulares era a de que se subia ao Oriente por um pequeno degrau e ao sólio (lugar do Venerável) por mais três.

Seguindo o curso da história, essas Lojas num futuro próximo seriam extintas, ficando apenas o simbolismo com o Grande Oriente da França e os demais com o Segundo Supremo Conselho - o que na verdade nada mais era do que colocar as coisas nos seus devidos lugares. Entretanto, desafortunadamente e a moda latina, as Lojas simbólicas do escocesismo acabaram não se livrando de alguns costumes capitulares, dentre os quais o de se manter o Oriente demarcado e elevado, o que ia completamente contra o que previa o primeiro ritual simbólico do REAA datado de 1804 e que havia surgido antes das Lojas Capitulares.

Como o Oriente elevado no simbolismo, provavelmente para atender determinados interesses, acabou se enraizando ao ponto de se tornar tradicional no REAA, também o Altar dos Juramentos, por ser uma extensão do Altar utilizado pelo Venerável Mestre, inquestionavelmente permaneceu dentro dos limites do Oriente da Loja em lugar próximo e à frente, mas abaixo do sólio. 

Devido a isso, algumas práticas da liturgia maçônica no escocesismo acabaram assumindo um aspecto contraditório em algumas situações. É o caso, por exemplo, da tomada das obrigações dos Aprendizes e dos Companheiros que acontecem no Oriente durante as Iniciações e Elevações, o que é contra toda a doutrina de ascensão iniciática do Rito. Note que antes da demarcação do Oriente, à moda capitular, isso não acontecia, pois a referência oriental era a partir do Venerável em direção ao Retábulo do Oriente (parede geralmente arredondada à sua retaguarda).

Explica-se essa contradição iniciática porque sob nenhuma hipótese um Aprendiz ou um Companheiro podem ingressar no Oriente em Loja aberta, pois esse local representa o final da escalada e com isso, simbolicamente, somente ali ingressam ou permanecem aqueles que alcançaram o Terceiro Grau.

Iniciaticamente a doutrina do REAA constrói uma alegoria baseada nas Leis da Natureza associando-as aos três ciclos do aprendizado maçônico. Sob essa óptica, os Aprendizes ocupam o Norte como ponto de partida iniciática, os Companheiros o Sul como ciclo intermediário e os Mestres, por concluírem o período, indistintamente ocupam, a partir do Oriente, todos os quadrantes da sala da Loja para levar o conhecimento (experiência) adquirido. 

Nesse sentido, também vale a pena mencionar que a partir do século XIX paulatinamente ingressam no REAA a simbologia das constelações zodiacais que vão demarcadas ao Norte e ao Sul da abóbada ocidental da Loja, ou representadas por doze Colunas Zodiacais que vão situadas nas paredes Norte e Sul ocidental. Essas Colunas representam a escalada iniciática completa do simbolismo, comparando a vida do iniciado aos ciclos naturais – o Norte para os Aprendizes, o Sul para os Companheiros e o Oriente para os Mestres. Dada a essa disposição, não existem Colunas Zodiacais, além da balaustrada, isto é, elas não ocupam as paredes do Oriente demarcado. Assim por elas representarem principalmente a senda dos Aprendizes e Companheiros, sua localização corrobora com a não presença de detentores dos dois primeiros graus no Oriente da Loja – a alegoria iniciática significa que a Natureza morre para renascer na Luz, o que se dá pela representação teatral da Lenda Hirâmica durante a Exaltação – só aquele que passa por essa representação pode ingressar no Oriente.

Como o Oriente elevado e demarcado no simbolismo do REAA passou a ser elemento consuetudinário a partir do século XIX, os rituais, entretanto não acompanharam essa mudança para solucionar a presença no Oriente de Aprendizes e Companheiros nas respectivas Iniciações e Elevações. A imensa maioria dos nossos rituais ainda hoje não solucionou esse equívoco que contradiz toda a escalada iniciática ao colocar, mesmo temporariamente, o Aprendiz (infância) ou o Companheiro (juventude) num lugar onde só ingressam aqueles que alcançaram a maturidade (senilidade) da vida – a primavera sempre antecede o verão; nunca o sucede imediatamente.

Na verdade, a solução para esse caso não seria simplesmente a de trazer o Altar dos Juramentos para o Ocidente como alguns desatentos apregoam, pois isso seria mais contraditório ainda em se tratando do simbolismo do REAA. Nesse Rito é inquestionável que o Altar dos Juramentos se situe no Oriente, portanto não adianta se desvestir um santo para se vestir o outro. 

Assim, muitas Lojas preocupadas com o cumprimento da doutrina iniciática, o que é primordial para a instrução e para a razão dos fatos, têm solucionado essa questão adequando o Altar dos Juramentos (que deve ser móvel) para a liturgia do juramento e da consagração. Para tanto, o móvel que serve como Altar dos Juramentos é simplesmente deslocado um pouco para trás e colocado rente ao degrau que separa o Oriente do Ocidente. Assim o Altar, mesmo que no limite entre os dois ambientes ainda permanece a contento no Oriente.

Nesse sentido, com boa vontade e uma simples, mais prática solução, os Aprendizes e o Companheiros, diante do Altar deslocado, mas no Oriente, se postam no Ocidente durante o juramento e a consagração.

Já quanto ao revestimento das insígnias, primeiras instruções, entrega de rituais e outros procedimentos litúrgicos, são ações que podem perfeitamente ser executadas no Ocidente e próximas ao Oriente, bastando que para tal o Venerável e outros de direito para ali se desloquem na oportunidade.

Acredito que com essas orientações e com um pouco de boa vontade, certamente essa demanda se resolveria. Espera-se então que essa luz chegue um dia até os nossos ritualistas e eles adequem esse procedimento nos nossos rituais para o bem da liturgia do REAA. 

É bem verdade que mesmo assim ainda não faltarão críticas dos contemplativos plantonistas que nada entendem da doutrina maçônica e sempre se apegam ao “onde está escrito” para lhes servir de muleta.

Aproveitando esse momento, acho oportuno mencionar que essa adequação se daria melhor se outra tradição fosse também respeitada no escocesismo - a do desnível entre o Oriente e o Ocidente. Seria então necessário se acabar também com essa quantidade desmedida de degraus para se subir ao Oriente como tem sido geralmente demostrado nos nossos rituais. Na realidade para esse desnível bastaria apenas e tão somente “um pequeno degrau”.

Esse equívoco se dá porque num templo do escocesismo simbólico deve existir o número de sete degraus que vão assim distribuídos: um degrau para o Oriente, três para o sólio, dois para o Primeiro Vigilante e um para o Segundo. Mal interpretada essa alegoria que envolve o número da “criação”, os ritualistas, lançando mão do “que é mais fácil é mais barato”, simplesmente resolveram somar aos três degraus do sólio mais quatro para o Oriente. Assim, além de não resolver o problema, acabaram criando mais um.

Achei oportuno demonstrar mais esse erro, porque no caso da adequação do Altar dos Juramentos conforme anteriormente comentado, a existência de apenas um degrau para o Oriente seria, além de correto, o mais adequado para a colocação do Altar no limite com o Ocidente, inclusive sob o aspecto de conforto no ato da genuflexão.

Dando por concluído, eram esses os comentários que entendo pertinentes ao fato, destacando a importância que se deve dar à estrutura doutrinária do Rito. No mais agora é só esperar as críticas, mas também a boa vontade das autoridades competentes em se interessar pela solução desse elemento contraditório, destacando que além desse, muitos outros também existem. Afinal, se o Aprendiz só sabe simbolicamente soletrar, então que história é esse de ao final ele dar a palavra também por sílabas? Parece-me que alguma aí também não está nos conformes. Não acha?

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com.br
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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