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sexta-feira, 26 de abril de 2024

SETE MESTRES PARA ABRIR UMA LOJA

(republicação)
Em 07.05.2018 o Respeitável Irmão Alveriano Dias, Loja Tomaz de Medeiros, REAA, Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba, Oriente de Picuí, Estado da Paraíba, envia através do Respeitável Irmão Hercule Spoladore a questão seguinte:

SETE MESTRES PARA ABRIR UMA LOJA

Em uma reunião foi questionado a possibilidade do Aprendiz ocupar cargos em Loja, principalmente no Oriente. Diante do exposto gostaria que você, se possível, respondesse o seguinte questionamento:

Para uma Loja funcionar é necessária a presença de sete obreiros, dos quais pelo menos três Mestres maçons. Então pergunto: se os outros quatro obreiros forem Aprendizes, nessa Loja pode funcionar os cargos de Orador e Secretário? Caso seja afirmativa a respostas, pergunto ainda: como pode um Aprendiz ocupar um cargo de Orador ou Secretário que tem assento no Oriente quando eles têm assento no Norte? Aguardo respostas, se possível dentro da filosofia maçônica.

CONSIDERAÇÕES:

O que tem ocorrido ainda em alguns rituais da atualidade é a incompleta orientação de que uma Loja para ser aberta precisa de no mínimo sete maçons. Digo incompleta porque o correto seria o de orientar que esse número de maçons careceria ser de “sete Mestres”. 

Isso acontece porque certos ritualistas modernos, desatentos e ainda baseados nas antigas lições do período operativo da Ordem, cometem esse equivoco por não levar em conta as diferenças existentes entre a Maçonaria de Ofício (século X) e a Maçonaria dos Aceitos (início do século XVII), que mais tarde seria identificada como Moderna Maçonaria - já no século XVIII.

Vale antes então comentar que nos primeiros catecismos, quando a Maçonaria ainda era exclusivamente de ofício, portanto operativa, não existiam graus especulativos como os que hoje conhecemos, porém “classes de construtores”, cujas quais se constituíam por Aprendizes Admitidos no Ofício e Companheiros da Arte (Craft). Assim, numa antiga guilda de construtores, quem presidia uma corporação operativa de Franco-maçons era o Companheiro tido entre os seus pares como o mais experiente. Esse Companheiro era então designado dirigente da guilda e empossado como o Mestre da Obra, sendo, portanto, um cargo meramente profissional que nada tinha a ver com o grau especulativo de Mestre Maçom da atual Moderna Maçonaria. Destaco que esse é um fato autêntico e bastante relevante na história da nossa Ordem.

Então, ainda sob a égide da Maçonaria de Ofício, uma organização de construtores (Loja Operativa) era constituída por no mínimo sete integrantes, ou seja, dois Aprendizes Admitidos mais cinco Companheiros da Arte, dos quais, um desses Companheiros era o escolhido como o Mestre profissional. Por certo era comum que uma guilda possuísse um número bem maior de operários, mas sete deles era o mínimo exigido para que ela fosse constituída.
Sob a proteção da igreja e do senhorio da época, essa era a condição para que uma guilda de construtores recebesse autorização para se deslocar livremente pelos rincões da Europa medieval e contratar serviços.

Foi com base nesse número mínimo de integrantes de outrora que a Moderna Maçonaria especulativamente, dentre outros, manteve o número mínimo de sete obreiros para a abertura de uma Loja Simbólica, onde os seus membros, agora maçons aceitos, não mais utilizam a pedra calcária para lhes servir de matéria prima, pois o elemento primário passou a ser o próprio homem.

A Moderna Maçonaria, constituída a partir da inauguração do primeiro sistema obediencial com a fundação da Primeira Grande Loja em Londres em 1717, não tardaria em adotar três graus especulativos, Aprendiz, Companheiro e Mestre, como franco-maçônico básico, destacando-se que o grau de Mestre Maçom somente apareceria no ano de 1725 e mencionado na segunda constituição inglesa datada de 1738. 

A Maçonaria, então não mais de ofício, passou a se dedicar à construção especulativa de um Templo à Virtude Universal, utilizando-se, no lugar da pedra calcária, agora o próprio homem como sua matéria prima – “consertai o homem e arrumarás o mundo”. 

Assim, doutrinariamente esse aperfeiçoamento passou a se dar por um processo iniciático com três etapas amparadas em uma jornada que, no REAA∴ sugere uma alegoria associando os ciclos da vida humana com a evolução anual da Natureza – revolução anual do Sol.

Deve-se a essa liturgia simbólica, de concepção deísta e às vezes teísta, a sala da Loja (Templo) no escocesismo representar um segmento sobre o equador terrestre, cujo comprimento se dá do Oriente para o Ocidente, a sua largura do Norte para o Sul e a sua altura da superfície ao céu. Alegoricamente é nesse espaço que em primeira análise significa a Terra, onde ocorrem os ciclos da Natureza, conhecidos pelas estações do ano. Objetivamente, esse teatro simbólico tem por desiderato construir uma doutrina iniciática que compara os ciclos naturais com os ciclos da vida humana – nascimento, infância e adolescência, a primavera; juventude, o verão; maturidade, o outono e por fim a morte no inverno. Sugere também o aperfeiçoamento do homem como elemento integrante das sucessivas mortes e renascimentos da Natureza.

Sob o aspecto iniciático, essa alegoria se processa ciclicamente em um caminho orientado simbolicamente no Templo pelas Colunas Zodiacais. Aliás, em se tratando do REAA∴, essa é a razão das suas existências nas paredes norte e sul do recinto da Loja.

Deste modo, o Aprendiz percorre sua senda pelo topo da Coluna Norte (parede setentrional), o Companheiro seguindo a evolução atravessa de um para o outro hemisfério atingindo o topo da Coluna do Sul (parede meridional) e por fim o ciclo se completa com o Mestre que morre no inverno para novamente renascer na primavera. No caso, o Mestre ao reviver ingressa no Oriente da Loja que é o lugar da Luz. 

Em síntese esse teatro representa de modo velado todo o processo ordenado de aprimoramento ético, moral e intelectual do homem proposto na senda iniciática. 

Seguindo a ordem natural dessa jornada, por primeiro os Aprendizes representando o nascimento, a infância e a adolescência ocupam o Norte; os Companheiros em seguida representando a juventude ocupam o Sul e, por fim, os Mestres, simbolizando a maturidade ingressam no Oriente.

Ainda, os Mestres, pela plenitude maçônica alcançada, são também senhores de todos os caminhos, o que significa em primeira analise que eles, além do Oriente, podem transitar e ocupar indistintamente qualquer um dos quadrantes da Loja (norte, sul, leste e oeste).
Assim, sob a égide dessa estrutura simbólica é que se dá a liturgia iniciática do REAA∴, cabendo para a organização dessa estrutura um número mínimo de obreiros para que se possam abrir e encerrar os trabalhos. 

Nesse sentido, levando-se em consideração o que representa a plenitude maçônica é que só podem exercer cargos em Loja aqueles que já tenham alcançado o Terceiro Grau. Afinal, a regra da vida maçônica é a de que a cada um é dado conforme as suas aptidões e a cada um se paga conforme os seus méritos. 

Sob essa óptica é que não cabe a um Aprendiz ou a um Companheiro assumir cargos em Loja. Para tal é preciso primeiro que o obreiro tenha completado todo o ciclo iniciático, o que só acontece na sua Exaltação. 

O significado esotérico dessa alegoria é a de que no Oriente só podem ingressar aqueles que já tenham vencido as agruras do inverno, ciclo esse em que a Terra ficara viúva do Sol. A Lei da Natureza é invariável na sua ordem natural. Nesse relógio, o “Relojoeiro” previu que a primavera antecede o verão e assim todos os ciclos se darão na sua ordem sucessivamente. A contagem da vida é feita a partir do nascimento (ao meio-dia) e só cessa com a morte (à meia-noite). O Aprendiz (infância) e o Companheiro (juventude) não ingressam no Oriente porque ali só ingressam simbolicamente aqueles que alcançaram a senilidade da vida.

Foi para dar sentido a essa alegoria que a Moderna Maçonaria, respeitando o número mínimo de sete obreiros haurido dos tempos operativos, estabeleceu - pelas razões até aqui expostas - que esse número mínimo passasse a ser constituído por sete Mestres Maçons. O número “sete” é objeto de estudo do Mestre especulativo como o número da criação - s∴aa∴ e m∴.

Obviamente que para esse número mínimo de obreiros, todos devem ser Mestres e corresponder com os cargos inerentes ao Rito, como abaixo será descrito.

Assim, no caso do REAA∴, quando oportunamente estiverem presentes apenas sete Mestres, a Loja deve se distribuir da seguinte forma: três Luzes (Venerável, Primeiro e Segundo Vigilantes), somados às Dignidades do Orador e do Secretário, mais o Cobridor Interno e o Mestre de Cerimônias. Dessa forma, três Mestres governam a Loja, cinco Mestres a compõe e sete Mestres a completam. Destaque-se que para a liturgia da transmissão da Palavra numa Loja com apenas sete Mestres, o Secretário e o Mestre de Cerimônias preenchem momentaneamente os cargos dos Diáconos. 

Infelizmente, como é o caso mencionado na sua questão, ainda existem situações anacrônicas sugerindo que os três que governam sejam Mestres, acrescidos de mais dois Companheiros e mais dois Aprendizes. Ora, essa foi uma assertiva dos tempos operativos quando ainda não existia grau de Mestre especulativo, senão o Mestre profissional que era um Companheiro experimentado e que se servia de mais dois Companheiros imediatos conhecidos como “wardens” (zeladores). Mais tarde, já na Maçonaria dos Aceitos, eles ficariam conhecidos como as Luzes Menores da Loja, ou seja, o Venerável Mestre auxiliado pelos dois Vigilantes. 

Há que se distinguirem essas diferenças, pois no período operativo, as cinco primeiras classes eram profissionais conhecidos como Companheiros da Arte e servidos ainda por no mínimo mais dois Aprendizes Admitidos (sete operários). Atualmente, já na Moderna Maçonaria, as cinco Dignidades, no caso do REAA∴, se constituem pelas Três Luzes acrescidas do Orador e do Secretário. Para completar o número mínimo de sete Mestres necessários para abertura e encerramento dos trabalhos de uma Loja Simbólica, somam-se a eles ainda os cargos do Cobridor Interno (imprescindível para guardar a Loja) e do Mestre de Cerimônias (indispensável no desenvolvimento ritualístico).

As considerações sobre os motivos históricos e iniciáticos inerentes ao número mínimo de sete Mestres estão aí expostas. A questão é a de que determinados ritualistas, se despindo de acrônimos, possam compreendê-las. 

Sob o ponto de vista autêntico, eram esses os meus comentários, destacando que procurei abordar sinteticamente sob a óptica iniciática e histórica.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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