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domingo, 5 de agosto de 2018

O RITO BRASILEIRO, ASPECTOS HISTÓRICOS DO RITO

O RITO BRASILEIRO, ASPECTOS HISTÓRICOS DO RITO
João Carlos Borges Kuzze, 33°*
ARLS União e Prosperidade nº 3.316

O surgimento do Rito Brasileiro ocorreu em Pernambuco, em 1878, criado por Firmo Xavier. Além da condição de irregularidade, continha preceitos negativos, dentre eles a admissão só de brasileiros natos. O Rito não prosperou.

Foi em 1914, por iniciativa de Lauro Sodré, então Grão Mestre do GOB, pelo decreto nº 500 (que pode ser considerado como uma espécie de certidão de nascimento do Rito) de 23 de dezembro de 1914, que ocorreu, de fato, a fundação do Rito. A falta de rituais e de uma Oficina-Chefe, entre outros problemas, não permitiram a consolidação do Rito.

Em dois outros momentos ocorreram tentativas frustradas para implantação efetiva do Rito, em 1921 em São Paulo e em 1940 na Guanabara.

Somente em 1968, quando Álvaro Palmeira, então Grão Mestre Geral do GOB, pelo decreto nº 2.080, é que ocorreu a implantação vitoriosa do Rito.

PECULIARIDADES DO RITO

O Rito Brasileiro é teísta, tem posição amplamente favorável à pluralidade de ritos, pretende ser dinâmico, conciliando a tradição com a evolução, almeja conviver fraternalmente com os Ritos co-irmãos e é comprometido com todos os postulados universais da Maçonaria.

“Para o Rito Brasileiro, e na expressão de Álvaro Palmeira, a Maçonaria não fornece soluções concretas aos problemas presentes e futuros da coletividade humana: o que ela faz é dar ao mundo os Iniciados, que ela forma em seus Templos e que passam a atuar ao influxo da sua incomparável doutrina.” O trecho acima foi tirado do livro “O Rito Brasileiro”, de Carlos Simões (pg. 87).

O Rito Brasileiro adota, na sua ritualística, procedimentos próprios, tais como:

- sinal do Rito; 
- sinal de Obediência;
- badaladas argentinas;
- uso de bastões durante as sessões, em vez de espadas;
- saco de propostas e informações na Sala dos Passos Perdidos, antes da sessão;
- colunas B e J, posicionadas inversamente;
- ingresso e saída do Templo (formação do cortejo);
- circulação em Loja;
- colocação do altar dos juramentos;
- leitura do Salmo 133 (leitura do primeiro versículo do Salmo 133);
- canto, antes da abertura e após o encerramento da sessão;

- procedimentos na Ordem do Dia: a pauta deve ser de assuntos compatíveis a debate em sessão ritualística. A rigor, matérias controvertidas ou de caráter profano devem ser apreciadas em sessões administrativas. As sessões ritualísticas destinam-se à prática do Ritual e ao aprendizado do Rito. A palavra será concedida diretamente pelo Ven∴ Mestre durante cinco minutos, no máximo, a cada Irmão que tenha posição contra a proposta apresentada. O autor da proposta poderá falar em resposta a cada opositor. Encerrada a discussão, e após a manifestação do Irmão Orador, procede-se a votação.

O Pavimento Mosaico não tem Orla Denteada, as colunas B e J ficam coladas junto a Parede. No Templo do Rito Brasileiro não há colunas zodiacais.

ESTRUTURA DOUTRINÁRIA DO RITO

O Rito Brasileiro, conforme afirma o Irmão Fernando de Faria (atual Presidente do Conselho de Cultura do Supremo Conclave), distingue-se pela estrutura doutrinária dos graus filosóficos. A grande diferença está na abordagem direta, sem muito uso de simbologia e a não utilização de lendas como referencial doutrinário.

Em cinco segmentos se estrutura o Rito Brasileiro:

1 – as Lojas simbólicas, inteiramente dedicadas ao Simbolismo – consagrando-se o Grau 1 à Fraternidade humana; o Grau 2 a exaltação ao Trabalho construtivo e ao estímulo da solidariedade maçônica; e o Grau 3, consagrando o princípio de que a vida nasce da morte;

2 – os Capítulos promovem o aprimoramento do caráter, os ideais maçônicos, as virtudes e os valores morais, distribuído em 15 Graus, cada um com um tópico especial, 14 virtudes, admitindo vastas considerações (discrição, lealdade, franqueza, verdade, coragem, justiça, tolerância, prudência, temperança, probidade, perseverança, liberdade, igualdade e fraternidade) e culminando com grau Rosa Cruz, de elevado conteúdo espiritual, degrau capitular máximo;

3 – os Grandes Conselhos, dedicados aos estudos dos magnos problemas nacionais e da Humanidade, são 12 Graus abordando, em uma classe inicial (grau 19 ao 22) aspectos ligados à economia, em segunda classe (grau 23 ao 26) aspectos ligados à organização da sociedade e, em terceira classe (grau 27 ao 30) dedicando-se à Arte, à Ciência, à Religião e à Filosofia;

4 – os Altos Colégios dedicados ao Bem Público e ao Civismo – estudando aquilo que Álvaro Palmeira denominou de Política Perene, abordagem de assuntos políticos, tratados elevadamente, sem injunções partidárias;

5 – o Sumo Grau 33 (Servidor da Ordem, da Pátria e da Humanidade), de responsabilidade do Supremo Conclave (câmara do Grau 33), responde pelos princípios e pelos arcanos do Rito.

O Supremo Conclave exerce soberanamente os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Rito. Compõe-se de todos os Maçons portadores do Grau 33 do Rito Brasileiro distribuídos nas categorias que se seguem:

1 – Efetivos – em número de 33. São indicados e nomeados pelo Grande Primaz, com a aprovação de, no mínimo, 17 Membros Efetivos;

2 – Eméritos – em número ilimitado. São os que, tendo pertencido ao Quadro de Efetivos, dele se afastaram por motivo relevante;

3 – Extranumerários – em número ilimitado. São os que colaram o Grau 33, mas não integram o Quadro de Efetivos.

Obs.: Todo Membro do Supremo Conclave – Efetivo, Emérito ou Extranumerário - tem o direito de participar das reuniões do órgão, expor idéias e opinar. Mas, o direito de voto, cabe exclusivamente aos Membros Efetivos. 

Fernando de Faria, em suas considerações finais sobre a estrutura do Rito, diz o seguinte: “há, pois, uma estrutura muito bem estabelecida, com um fim todo especial: o aperfeiçoamento dos Maçons”. Esse o grande objetivo do Rito: aperfeiçoar-nos.

CONCLUSÃO

Proposições e conceitos não alinhados com a estrutura doutrinária do Rito, são entendimentos de cunho pessoal, que devem ser compreendidos, apenas, como o exercício da liberdade de pensamento. Por não refletirem com fidelidade a filosofia e a doutrina da instituição, não é salutar que sejam assimilados.

Maçonaria é coisa séria (não é fantasia), portanto, não deve ficar ao sabor da afoiteza de inovadores imprudentes, sob pena de facilitarmos danosas distorções das linhas fundamentais do aprendizado maçônico e dificultando, sobremaneira, a verdadeira missão da Ordem.Ao contrário de ser uma posição de rejeição às inovações, o que se pretende, sem atacar reputações ou ferir suscetibilidades, é abrandar a impetuosidade do “achismo”para alcançarmos a prosperidade maçônica. Mas, para que isso aconteça, se faz imprescindível não deixar que a ordem das coisas seja subvertida, ou seja, evitando que, em detrimento do essencial, se priorize o secundário e o inadequado.

A maior e melhor contribuição que a Maçonaria pode dar a Humanidade é cumprir a sua verdadeira missão, qual seja, formar Maçons.

Ainda é tempo de a Maçonaria parar de “bater cabeças e fazer o dever de casa”.

Para finalizar, apresento mais um trecho, tirado do livro do Irmão Carlos Simões (pg. 134), referente à estrutura doutrinária do Rito: “Um obreiro deve ter essa estrutura em conta, sempre. Em especial aqueles que presidem as diversas Oficinas Simbólicas ou Filosóficas. Conforme afirmado – nosso Rito distingue-se dos Ritos Irmãos justamente por possuir essa estruturação – cada segmento dedicado a um campo especial, com um fim específico: o aperfeiçoamento do Maçom.Não nos cabe salvar ou modificar a Humanidade, nem a Pátria. Cabe-nos o aperfeiçoamento pessoal que, ocorrendo, sem dúvida alguma significará também progresso para a Pátria e para a humanidade.”.

BIBLIOGRAFIA:

- Name, Mario – Rito Brasileiro de Maçons Antigos e Aceitos – A Trolha – Londrina – 1992.
- Simões, Carlos – O Rito Brasileiro – A Gazeta Maçônica – São Paulo – 1999.
- Aslan, Nicola – Uma Radioscopia da Maçonaria – A Trolha – Londrina – 1997.
- Constituição do GOB – Brasília – 2007.
- Constituição do Rito Brasileiro – Supremo Conclave – Rio de Janeiro – 2001.
- Ritual do Grau de Aprendiz do Rito Brasileiro – GOB – Brasília – 2002.
- Ritual do Grau de Aprendiz do REAA – GOB – Brasília – 2002.
- Ritual do Grau de Aprendiz do Rito Adonhiramita – GOB – Brasília 2005.
- Ritual do Grau de Aprendiz do Rito Moderno – GOB – Brasília – 1999.

* Ir∴ Carlos Antônio Koerich - M∴I∴, 33°; Gr∴ Secr∴ da GOI-MDS - "Grande Oficina Integrada "Mário Deserto da Silva"; Gr∴ Chanceler da PAEL/SC - Poderosa Assembléia Estadual Legislativa; Membro Ativo da A∴R∴L∴S∴ União e Prosperidade n. 3.316 e Orador Adrede da A∴R∴L∴S∴ Perfeição Biguaçú n. 3.156, GOB/SC - Oriente de Florianópolis - SC - Rito Brasileiro.

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