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domingo, 7 de outubro de 2018

PAINEL ALEGÓRICO DO APRENDIZ - RITO ADONHIRAMITA

Em 03.07.2018 o Respeitável Irmão William Reis, Grande Oriente de Santa Catarina, COMAB, Rito Adonhiramita, Oriente de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, apresenta a seguinte questão:

PAINEL ALEGÓRICO DO APRENDIZ – RITO ADONHIRAMITA

Após conversa que tivemos, hoje à noite por telefone, solicito que me envie um parágrafo, ou uma frase, que contenha sua opinião explícita de estudo, sobre a Maçonaria brasileira, a respeito do “Painel Alegórico” (Tracing Boards) de Vertente Inglesa. Que começou a ser utilizado na Maçonaria Brasileira os dois Painéis oficialmente em 1928, com a edição dos Rituais baseados nos editados por Mário Behring (GOB), o qual utilizou as duas vertentes (Francesa e Inglesa), em diversos Ritos.

Sabemos que aconteceram reformulações, a partir de 1981, em outras potências como GOB e GGLL, significando que, adotaram os painéis de John Harris (Vertente Inglesa) e o Painel Simbólico de Vertente Francesa.

Tendo em vista a situação descrita, o Painel Alegórico continua sendo utilizado, mesmo não tendo sido encontrado nenhum fundamento de sua origem no Rito Adonhiramita. Encontra-se respaldado pela antiguidade dos usos e costumes, sendo o mesmo adotado, desde o momento em que as Lojas passaram a expor um painel, no decorrer das sessões, além de ser aceito por todas as Lojas Adonhiramitas.

Portanto, solicito a opinião do Irmão, pois a meu ver, o Painel Alegórico não deve ser alterado, não deve ter nada incluído, muito menos deve haver trocas nas três colunas (Dórica, Jônica e Coríntia). Mesmo que a localização dos Vigilantes do Rito Adonhiramita seja diferente dos outros Ritos, não se deve mexer nas particularidades do painel.

As instruções para o aprendiz devem conter que o Painel Alegórico não é originalmente do Rito Adonhiramita, pois é de Vertente Inglesa e que os símbolos, poderão ser explicados, sem modificar o painel original.

Na minha opinião, o Painel Alegórico, deve permanecer idêntico ao de John Harris. Continuando do mesmo modo, sem mudanças. Deve ficar exatamente do mesmo jeito.
Segue anexo o Painel alegórico (Tracing Boards) – 1876.

Agradeço imensamente a sua atenção.

COMENTÁRIOS:

Antes alguns aspectos que merecem consideração.

Quando Mário Marinho Béhring buscou reconhecimento nos Estados Unidos da América do Norte para a sua recém-criada Obediência, acabou trazendo costumes do Craft Norte-americano que reconhecidamente é de raiz inglesa. Assim, Béhring ao trazer para a Maçonaria brasileira algumas práticas ritualísticas comuns às Lojas Azuis (Rito de York Americano), ele não o fez para o GOB, porém para as suas Grandes Lojas Estaduais Brasileiras (CMSB), cujas quais foram criadas por uma dissidência ocorrida no próprio GOB em 1927. Obviamente que essas práticas enxertadas acabariam mais tarde se espalhando por toda a Maçonaria praticada no solo brasileiro, mas esse não é o mote dessa questão.

Um desses enxertos que por aqui aportou foi o da Tábua de Delinear do Craft sendo que esse objeto simbólico acabou se incorporando em alguns ritos praticados no Brasil que não o possuem, fazendo com que inadvertidamente houvesse duplicidade de painéis, pois esse painel alienígena (a Tábua de Delinear) adquiriu nesse caso o nome inventivo de “painel alegórico” para se distinguir do verdadeiro Painel da Loja (Painel do Grau) de ritos de origem francesa. 

Destaque-se também que no GOB, dentre outros, nem o REAA∴ e particularmente nem o Rito Adonhiramita utilizam-se de outro painel que não o da Loja - esse painel é de origem francesa devida a inquestionável origem desses Ritos.

No caso do Rito Adonhiramita, assunto dessa questão, no seu ritual em vigência praticado no GOB não há nele nenhuma referência ao tal “painel alegórico”. Portanto se existe duplicidade de painéis num mesmo rito - um inglês e outro francês – esse não é o caso do GOB∴.

No tocante ao Rito Adonhiramita praticado na COMAB em Santa Catarina, essa duplicidade de painéis me causa estranheza, pois na Coleção da Maçonaria Simbólica do Rito Adonhiramita – Ritual de Aprendiz, 1987, selado pelo Grande Capítulo Adonhiramita de Santa Catarina, criado em setembro de 1991, coleção essa que recebi do Amado Irmão Lúcio por indicação do Irmão José Castellani, não aparece nenhum “painel alegórico”, senão apenas um painel de origem francesa – o Painel da Loja. Agora, se atualmente a COMAB catarinense resolveu adotar mais um painel e chama-lo de “painel alegórico” no Rito Adonhiramita, com toda certeza tenho a dizer que é lamentável. Mas; se foi legalmente aprovado... Fazer o quê?

Quanto ao seu comentário na questão, o “painel alegórico” que o Irmão apresenta é de fato a Tábua de Delinear (Tracing Board) do Primeiro Grau utilizado pela Maçonaria inglesa, destacando-se que originalmente ela não deveria estar presente no Rito Adonhiramita, até porque a Maçonaria inglesa é teísta por excelência e a sua simbologia não condiz com um rito de vertente deísta. 

A utilização indevida desse “painel alegórico” no Rito Adonhiramita pode ter uma explicação. Atente-se para tal que o Rito Moderno, ou Francês, nascido na França do século XVIII originalmente utilizava, com poucas variações, um Painel do Grau decalcado da Tábua de Delinear inglesa, isso porque naquela época a França desconhecia completamente outra Maçonaria que não aquela praticada pelos “modernos” nascidos da Primeira Grande Loja inglesa de 1717. Graças a isso o Rito Francês ficaria também conhecido como “ou Moderno”. Nesse sentido, o painel do Rito Francês, ou Moderno se aproximou muito da tábua de delinear inglesa – contendo as três colunas (Jônica, Dórica e Coríntia), a escada (de Jacó) em direção ao céu, as três virtudes teologais, etc.

Muitos dos seus rituais ainda mantêm essa tradição, embora muitos outros já o tenham substituído pelo painel de origem francesa (com as Colunas J e B), comuns aos ritos nascidos dessa vertente e, em especial o Rito Francês ou Moderno que busca se afastar de qualquer simbologia que detenha feições teístas ou deístas no intento de se coadunar com as suas próprias características – a de liberdade de consciência religiosa do homem.

Sem que esse seja um comentário laudatório, existe a probabilidade de que alguns ritualistas do Rito Adonhiramita, rito que também é de origem francesa, tenham equivocadamente adotado em algum momento da sua história também esse painel do Rito Moderno, cujo qual, como já explicado, fora decalcado da Maçonaria inglesa.

Assim, com a indevida adesão de mais um painel no Rito e, como a boca se entorta conforme o hábito do cachimbo, o mesmo, à moda Béhring, acabou por ser conhecido como “painel alegórico”. Destaque-se que essa é apenas uma possibilidade, não uma afirmativa.

Infelizmente, o que essas inserções indevidas trazem são contradições, já que elas não se explicam pela sua presença no arcabouço doutrinário do rito, colaborando fatalmente com invenções e fantasias que só fazem por disseminar ainda mais a semente da dúvida.

Sem dúvida, é devido a isso que as instruções muitas vezes acabam por não fazer sentido e se tornam contraditórias. Muitas vezes, inadvertidamente, alguns, em busca da solução pelo menor esforço, preferem alterar conceitos da simbologia a enfrentar a causa. É bom que se diga que um símbolo sempre traz uma mensagem velada, portando deve estar sempre afastado da interpretação licenciosa.
Se, como é o caso do “painel alegórico”, um símbolo, ou um conjunto de símbolos se faz presente, em respeito a sua tradição ele, ou eles, não podem ser alterados ou desordenados na intenção de se acomodarem ideias. Particularmente, o caso do “painel alegórico”, mesmo de inserção duvidosa, é preferível que ele permaneça sem alteração. Em respeito a sua originalidade, nele não cabem acomodações. Em não sendo ele apropriado para o Rito, o ideal é que ele ali não permaneça, entretanto, se não for possível a sua remoção, então que ele permaneça como está.

Nesse sentido, esse “painel alegórico” é constituído por um conjunto de símbolos que formam a senda iniciática do grau de um rito. Se ele não está no lugar certo, não é invertendo seu conteúdo ou retirando algumas das suas peças que ele fará sentido. Na realidade ele só faz sentido no rito a ele apropriado.

Não se conserta um erro acrescentando outro maior. O melhor mesmo é se utilizar do bom senso. A liturgia maçônica tem para cada rito uma disposição simbólica. Alterá-la para adequações ou “jeitinhos” são atos de péssima geometria.

No tocante ao que comenta o Irmão na sua questão, eu só tenho a lamentar que o belo Rito Adonhiramita praticado na COMAB de Santa Catarina, tenha adotado outro painel, além do seu original, intitulando-o de “painel alegórico”. 

Sobre a questão em si, entendo que dos males o menor. Penso que não se faz a rolha para depois se fazer a garrafa. Se há um equívoco, o ideal é extirpá-lo por completo antes de aumenta-lo ainda mais. Assim, se o tal painel alegórico foi adotado no Rito Adonhiramita e, em nome da duvidosa justificativa “usos e costumes” ele não pode ser erradicado, então que pelo menos ele permaneça inalterado, pois não é de bom alvitre modificar o conteúdo de um painel para adequá-lo a um sistema para o qual ele não foi criado. 

Objetivamente a questão é a seguinte: se o “painel” mesmo inapropriado constar no ritual do em vigência do Rito e não puder ser retirado, então que ele permaneça como está. Descaracterizá-lo para “arrumar jeitinhos” não é a solução. O ideal seria um debate legal para a retirada desse painel por não ser ele original no rito em questão.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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