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segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

OBREIROS EM RECREAÇÃO

Em 04.09.2018 o Respeitável Irmão Marcos Vinicius Tavares Oliveira, Secretário Estadual de Orientação Ritualística do GOB-SE, Oriente de Aracajú, Estado de Sergipe, apresenta a questão seguinte:

OBREIROS EM RECREAÇÃO

No Ritual do REAA de 1804 lemos o que diz o Segundo Vigilante quando inquirido pelo Venerável Mestre na abertura dos trabalhos. “Para melhor observar o sol em seu meridiano, chamar os obreiros do trabalho à recreação, chamá-los de volta da recreação ao trabalho, a fim de que ao Venerável resulte honra e proveito”.

Dessa forma vemos que no REAA é possível colocar a Loja "em recreação" durante, por exemplo, o momento de numa iniciação quando os candidatos vão se recompor no Átrio da Loja... Estou correto nisso?

Caso afirmativo, entendo que isso não caracteriza o que hoje ouvimos dos Veneráveis Mestres: "meus Irmãos os trabalhos estão suspensos", e sim que o Venerável Mestre deve pedir ao 2° Vigilante para cumprir seu dever de Oficio e por a Loja em Recreação... Concordas?

CONSIDERAÇÕES:

Sem dúvida meu Irmão, essa seria forma correta, mas infelizmente muitos costumes tradicionais acabaram sendo abandonados e perdidos. Ou em nome da preguiça, ou mesmo em nome do próprio desconhecimento de causa das verdadeiras coisas e práticas maçônicas. 

Muito provavelmente essas abreviações se deram pela preocupação de alguns pseudos ritualistas em arrumar tempo na liturgia maçônica para satisfazer os ingressos pomposos de comitivas e personagens que parecem assaltar a Sublime Instituição como fosse ela um aparato para massagear “egos”.
Deixando os trocadilhos e as metáforas de lado, em se falando de pureza e tradição, historicamente, desde a Maçonaria de Ofício uma das funções do Segundo Vigilante era a de fiscalizar os obreiros nos trabalhos do canteiro e, no momento apropriado dispensá-los para a recreação. É dessa premissa que alguns ritos mantêm a Régua de 24 Polegadas como um dos objetos simbólicos que ficam junto ao lugar do Segundo Vigilante. É sob essa conotação que a Régua, dentre outros, traz o simbolismo especulativo da divisão do tempo do operário, ou seja, tempo de laborar, de recrear, de agradecer a Deus e de repousar.

Na Moderna Maçonaria (especulativa por excelência) alguns ritos como é o caso do REAA, posicionam o seu Segundo Vigilante, à moda inglesa, sobre o meridiano do Meio-Dia. Isso se dá para que ele, simbolicamente do Sul, possa observar a passagem do Sol pelo zênite. Em síntese, sob a óptica dessa alegoria é que o Segundo Vigilante, à sua frente, vê o movimento diário do Sol no firmamento (vide as três janelas no Painel do REAA – alvorecer, meio-dia e ocaso).

Assim, pela tradição dos tempos operativos, mais a liturgia iniciática de inspiração especulativa inerente à Moderna Maçonaria, tradicionalmente também é missão do Segundo Vigilante enviar os obreiros do trabalho para a recreação e da recreação trazê-los de volta para o trabalho. É dado a isso que rituais puros e isentos de abreviações temerárias mencionam essa nobre missão como um dos ofícios do Segundo Vigilante.

Destaque-se que infelizmente isso não mais acontece na maioria dos rituais, provavelmente pela intenção de se economizar tempo para depois doá-lo inescrupulosamente às filigranas e outros blá, blá, blás sem essência maçônica.

Também não há como se esquecer daqueles que se “acham” ritualistas, principalmente aqui no Brasil, mas que colecionam rituais antigos e anacrônicos, completamente deturpados, cujos quais nunca trouxeram a prática original de como se suspender os trabalhos. Esses colecionadores, em nome do “não existe nos rituais que eu possuo” abominam ferozmente qualquer menção de práticas que, mesmo corretas, não constem nos seus relicários ritualísticos deturpados. 

Como a boca vai se entortando conforme o uso do cachimbo, na maioria dos rituais do REAA∴ da atualidade, definitivamente a prática tradicional desapareceu por completo para dar lugar a tal “suspensão dos trabalhos por um golpe de malhete” que, diga-se de passagem, além de equivocada é irregular, inclusive nem mesmo consta no ritual em vigência do GOB.

Desse modo, desafortunadamente a beleza de uma prática ritualística tradicional acabou desaparecendo ao ponto de atualmente ela nem ser conhecida de muitos Irmãos.

Por oportuno vou deixar aqui um resumo da prática original que nunca deveria estar ausente dos nossos rituais. Em síntese as coisas deveriam acontecer da seguinte forma: 
“O Venerável Mestre durante os trabalhos e em momento que ele achar apropriado pergunta ao Segundo Vigilante a posição do Sol. Esse, por sua vez, informa que o Sol já passa do zênite. Com isso, o Venerável Mestre, dialogando ritualisticamente, solicita aos Vigilantes que eles informem às Colunas que os trabalhos serão suspensos para a recreação. Feita a comunicação na forma do ritual, o Segundo Vigilante então comunica à Loja que os trabalhos estarão, a partir dali, suspensos para recreação, mas não sem antes recomendar a todos que se retirem em ordem e que por perto permaneçam até que ele os chame de volta. Decorrido o tempo estipulado para o lazer, o Segundo Vigilante então retoma o seu lugar e percutindo continuamente o seu malhete solicita o retorno dos obreiros ao trabalho. Assim que todos tenham regressado e em pé aguardam nos seus respectivos lugares, auxiliado pelo Mestre de Cerimônias o Segundo Vigilante informa ao Venerável Mestre do retorno de todos. Dá-se então novamente a dialética ritualística prevista quando ao termino o Venerável informa que os trabalhos voltam a tomar força e vigor. Todos imediatamente se colocam à Ordem e recebem o comando para sentar. Desse modo os trabalhos prosseguem na forma de costume”.
Essa é então uma síntese dos procedimentos corretos para a suspensão e retorno dos trabalhos da Loja conforme as nossas tradições, usos e costumes. Lamentavelmente, como mencionado, essa prática anda de há muito esquecida nos rituais. Aqui no Brasil, são raríssimos os que ousaram trazer essa prática original – eu pelo menos conheço apenas dois.

Como a esperança é a última que morre, notadamente espera-se que num futuro não muito distante, quando da revisão dos rituais do GOB prevista para o ano de 2019, essa prática tome força e vigor.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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