Páginas

sábado, 9 de fevereiro de 2019

DÚVIDAS NA DECORAÇÃO

DÚVIDAS NA DECORAÇÃO
(republicação)

Em 17.04.2014 o Respeitável Irmão Paulo Roberto Benez, membro da Loja Patriarca da Independência de Dracena, REAA, Grande Oriente Paulista (COMAB), Oriente de Dracena, Estado de São Paulo, solicita esclarecimentos abaixo descritos:
m.p.benez@uol.com.br

Existem algumas dúvidas contidas na primeira Instrução do Grau de Aprendiz Maçom do Grande Oriente Paulista - REAA, e todas às vezes, após o encerramento da Instrução são lembradas por alguns Irmãos e a resposta que se chega é sempre a mesma: "Pesquisar para trazer na próxima sessão". Peço a gentileza, se possível for, uma ajuda para esclarecimentos acerca dos seguintes assuntos. No final da primeira Instrução, consta desta forma no ritual:

1º A ESTRELA FLAMEJANTE representa a principal Luz da Loja. Simboliza o Sol, Glória do Criador, e nos dá o exemplo da maior e da melhor virtude, que deve encher o coração do Maçom: a CARIDADE.

2º Pendentes nos quatros cantos da Loja, vemos quatro borlas, colocadas nos pontos extremos da mesma, para nos lembrarem as quatro virtudes: TEMPERANÇA, JUSTIÇA, CORAGEM e PRUDÊNCIA, - que, diz nossa tradição, foram sempre praticadas por nossos antigos Irmãos.

3º Outra dúvida é com relação à decoração do trono do Venerável Mestre. No Compêndio Litúrgico do Grande Oriente Paulista é citado as joias do Venerável e dos Vigilantes, Esquadro, Nível e Prumo respectivamente, que devem estar pendentes em seus colares, sendo citado que deverá ser ornado os respectivos tronos também com a joia correspondente. Já no Ritual, mais precisamente, em Disposição e Decoração do Templo diz assim sobre o trono do Venerável Mestre “Na face frontal, deverão estar gravados, aplicados ou pintados um esquadro e um compasso entrelaçados”. Com relação à primeira e segunda dúvida, a meu ver Irmão, fizeram uma mistura entre o Painéis, ou seja, o Inglês e o Francês dando uma certa confusão para o entendimento. Em seu livro, Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom, explica de maneira bem clara as diferenças entre um e outro Painel.

Como também citado em seu livro, alguns Orientes acabam que adotando os dois Painéis e dai gera aquela confusão realmente.

Os Irmãos acabam perguntando onde estão às quatro borlas e fazendo uma confusão da Estrela com o Sol.

Sobre o esquadro e o compasso ou somente o esquadro ornando o Trono do Venerável, se pegarmos pelo aspecto simbólico, seria mais correto apenas o esquadro.

Querido Irmão, como o Grande Oriente Paulista, é uma Potencia nova, encontra-se pouco material para esclarecimentos acerca de dúvidas. Houve a tentativa, de se consultar o Grande Oriente via E-mail, mas até agora sem sucesso.

Portanto, gostaríamos de contar com sua sabedoria para elucidar estas questões elencadas.

Desde já, ficam aqui os nossos agradecimentos.

Considerações:
Independentemente das minhas considerações devo salientar que as respostas dadas aqui se prendem às tradições, usos e costumes do verdadeiro Rito Escocês Antigo e Aceito.

Assim também me reporto sempre ao cumprimento dos rituais legalmente aprovados pelas Obediências, sendo estes questionáveis ou não.

Não possuo os Rituais do Grande Oriente Paulista em vigência, nesse sentido as minhas contemplações aqui presentes vão de conformidade com as questões mencionadas pelo consulente.

1 – Estrela Flamejante – Introduzida na Maçonaria no século XVIII, a Estrela Hominal (pitagórica, ou de cinco pontas) é objeto de estudo do Companheiro no REAA∴. Como Luz intermediária ela se situa pendente do teto na banda Sul da Loja, mais precisamente sobre o lugar do Segundo Vigilante. A característica “intermediária” lhe é dada pela representação de um corpo iluminado representativo do Homem.

Com um dos ápices apontado para cima, tem no centro a letra “G”, cujo significado está na Geometria aplicada para o aperfeiçoamento humano (objetivo da Moderna Maçonaria).

O caráter “intermediário” também lhe é dado pela posição geográfica no Templo – entre o Sol do Oriente e a Lua no Ocidente. Alguns rituais escoceses na França muitas vezes também posicionam a Estrela no centro e frente do dossel, o que assume da mesma forma o caráter intermediário – entre o Sol e a Lua do Retábulo do Oriente. Da mesma forma alguns rituais têm a dita Estrela apenas como ornamento da Loja de Aprendiz, já que a sua verdadeira aplicação e estudo estaria no Segundo Grau.

É oportuno salientar que a Estrela Flamejante não é parte decorativa como os astros e estrelas que decoram a abóbada. Esta, embora pendente do teto, não possui nenhuma relação astronômica.

Agora, a Estrela representar a principal Luz da Loja, o Sol e a Caridade, é mero enxerto, provavelmente copiado de antigos rituais ultrapassados, muito embora alguns ritualistas tenham feito ainda verdadeira ginástica mental e inventiva para justificar esse grave equívoco. Obviamente embasados nas literaturas anacrônicas.

A título de curiosidade, alguns “rituais” chegaram até a colocar a Estrela dentro do Delta e lhe deram a conotação de “Deus”. Durma-se com um barulho destes.

2 – Justiça, Prudência, Temperança e Coragem (essa é a sequência correta). As duas primeiras ao Oriente da Loja e as duas últimas ao Ocidente da Loja, estando geralmente representados por quatro borlas que decoram os quatro cantos da frisa do Painel da Loja junto à representação da Orla, ou Borla Denteada (veem-se as ditas apenas no Painel).

Essa simbologia não é tradicional no REAA∴, entretanto pelo seu caráter “antigo” acabou se adaptando consuetudinariamente no Rito pela influência anglo-saxônica. A origem dessa simbologia especulativa provavelmente fora inserida na Maçonaria inglesa através das Lições Prestonianas (Willian Preston) e as instruções da Tábua de Delinear. No painel inglês do Primeiro Grau existe a alegoria de uma escada encimada por uma estrela de sete pontas (não é a Flamejante). O número sete representa a soma das Três Virtudes Teologais (Fé, Esperança e Caridade) representadas sobre os degraus da escada que, somados às quatro virtudes da Justiça, Prudência, Temperança e Coragem perfazem o número sete como um objeto da Criação, ou o Homem aperfeiçoado pela prática dessas virtudes. Muitos Painéis também idealizaram a representação das últimas quatro virtudes através das borlas junto à Orla Denteada, ou Marchetada (costume inglês).

É justamente esse Painel inglês que em não raras vezes o vemos também inserido em certos rituais escoceses no Brasil. Como não havia como justificar essa aterrisagem alienígena num rito de origem francesa, acabaram os autores desses rituais por dar-lhe o nome de “Painel Alegórico”, que é inquestionavelmente inexistente do verdadeiro REAA∴. Trocando em miúdos: inventaram mais um Painel para o Rito Escocês que, além da prática equivocada, ainda enxertaram o dito que é, ainda por cima, de outra vertente maçônica.

3 – Joias – O importante é que fiquem bem definidas as Joias distintivas das três Luzes da Loja (Venerável, Primeiro e Segundo Vigilantes) que apensas aos respectivos colares (Esquadro, Nível e Prumo) no Rito em questão, sejam douradas.

Agora a decoração dos móveis com a representação desses símbolos distintivos não é obrigatória, portanto opcional. Geralmente o Esquadro decora a frente do Altar ocupado pelo Venerável, o Nível na parte frontal da mesa ocupada pelo Primeiro Vigilante e o Prumo de modo análogo na do Segundo Vigilante.

Já os símbolos do Esquadro e do Compasso unidos nada têm a ver com Joia distintiva. Quando usados de modo decorativo, geralmente aparecem no alto dos espaldares do trono e das cadeiras dispostas na sala da Loja. Do mesmo modo, esse não é um elemento obrigatório como decoração de mobiliário. Esse conjunto simbólico importantíssimo para a Maçonaria é sim parte integrante das Três Grandes Luzes Emblemáticas (vertente francesa), ou das Três Luzes Maiores (sistema inglês), cuja forma disposta sobre o Livro da Lei identifica inclusive o Grau de trabalho da Loja.

Como ilustração: a Joia do Venerável é um Esquadro operativo, portanto representa uma ferramenta com cabo e ramos desiguais. Já aquele que representa uma das Três Grandes Luzes, não é operativo, portando de ramos iguais, sem representação do cabo ou qualquer graduação. Esse é um detalhe muito importante e que tem passado despercebido por uma imensa quantidade dos nossos Irmãos.

Bem meu Irmão, eu procurei mostrar muitos aspectos no me livro “Exegese Simbólica” como é do seu conhecimento. Tenho dito que essa mania de dourar a pílula por certos ritualistas tem tirado o foco do verdadeiro objetivo da Moderna Maçonaria. Penso que já está mais do que na hora das nossas Obediências darem-se ao trabalho de rever certos conceitos rançosos e ultrapassados que às vezes compromete a Sublime Instituição arrastando-a para o ridículo. 

Urge a necessidade de estimular a busca da autenticidade, livrando os Irmãos das fantasias herdadas de obras e autores incultos, ou arrastados por paixões sectárias. 

Há também que se combaterem certos escritos anacrônicos e o “papagaiar” de textos de autores suspeitos que desprezam a verdade com pretextos de liberdade de pensamento e que não passam de desculpas para o cultivo da erva daninha da licenciosidade. 

Ainda muitas instruções sem qualquer merecimento de crédito povoam os nossos rituais, cujas fantasias hauridas de um passado obscuro, não encontram atualmente guarida na escola maçônica que objetiva acima de tudo também investigar a Verdade.

Sempre ao seu particular dispor como também ao respeitável Grande Oriente Paulista, 

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.422 Florianópolis(SC) quarta-feira, 6 de agosto de 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário