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quinta-feira, 7 de março de 2019

MARCHA DO APRENDIZ - ARRASTAR OS PÉS

MARCHA DO APRENDIZ - ARRASTAR OS PÉS
(republicação)

Em 20.05.2014 o Respeitável Irmão Gleidson Macanhão, GOB, Loja O Samaritano, GOB-RO, Oriente de Cacoal, Estado de Rondônia apresenta a questão abaixo:
gleidson_macanhao@yahoo.com.br

Onde posso encontrar ou solicitar o Manual de Práticas Ritualísticas do GOB (REAA), pois o Manual de Primeiro Grau fica muito vaga as explicações da ritualística.

Um detalhe que não sabia e li no Informativo nº 1.348 (provavelmente o JB NEWS – o grifo é meu – Pedro Juk) sobre a Marcha de Aprendiz Maçom onde o Irmão Charles descreve que se deve arrastar o pé sem tira-lo do chão. Em minha Loja quando era Aprendiz uns Irmãos falavam que tinha que arrastar outros que não, ficando ensinado a mim e a outros Irmãos que deve-se dar passos normais. (Levantando o pé).

Por causa destes detalhes que não são bem descritos no Manual de Aprendiz gostaria de saber se tem a disposição um Manual com explicações mais detalhadas sobre a ritualística do REAA do GOB?

Considerações:
Todos os manuais inerentes às práticas ritualísticas estão suspensos pelo Soberano. Provavelmente aguarda-se a correção por provimentos dos rituais para uma posterior publicação de um manual único no GOB. Ocorre que já enviei para Brasília em setembro próximo passado como Secretário Geral do Rito mais de duzentos provimentos para correção do Ritual de Aprendiz – REAA. Estou ainda aguardando a competente manifestação para dar prosseguimento ao trabalho.

No tocante a Marcha de Aprendiz no Rito Escocês, eu lamento discordar dos defensores do “arrastar o pé”. O passo é simplesmente normal desde que sempre se avance primeiro o pé esquerdo e juntando-se a ele pelos respectivos calcanhares o pé direito formando a esquadria. Essa “estória” de se arrastar os pés não condiz com a realidade racional da Ordem, assim como não se sustenta em interpretações pessoais hauridas de conclusões suspeitas. Digo isso porque desde o primeiro ritual simbólico datado de 1.804 na França, este genuinamente indicava “passos normais”.

Mesmo para aqueles que sustentam que o pé arrastado sugere a idade infantil essa tese não se sustenta, já que um bebê primeiro engatinha e posteriormente titubeia os passos até a sua afirmação, direção e equilíbrio.

Penso que o problema são as consultas embasadas em muitos rituais ultrapassados que não raras vezes são tomados por uma falsa autenticidade.

Vou aproveitar o ensejo para reproduzir uma resposta dada em julho de 2.012 a um consulente do Rio Grande do Sul que serve como reforço para essa questão:

Existem duas correntes de autores que no meu entender tentam justificar o rompimento da Marcha com o pé esquerdo, pelo que posso lhe afirmar que nenhuma delas é da minha concordância. Para alguns o ato de romper a marcha dessa forma pode estar ligada às marchas militares que normalmente o fazem com o pé esquerdo. No meu humilde ponto de vista essa sustentação carece ainda de elementos que possam justificar qual o elo existente entre os “pedreiros” e os “guerreiros”.

Quando me refiro a essa ligação não estou propondo nenhuma tese que possa envolver o equivocado pensamento que sugere a origem da Maçonaria na Ordem Templária e nem mesmo estou fazendo apologia aos “Collegiati” (Collegia Fabrorum) e Numa Pompílio, Imperador Romano no Século VI a.C. cuja associação organizada de ofício era composta por construtores que acompanhavam as campanhas das legiões romanas, reconstruído o que havia sido destruído pelas atividades bélicas.

A outra vertente, mais espessa, é aquela ligada ao ocultismo, cujos adeptos já derramaram rios de tintas tentando justificar dentre outras, essa atitude, com o positivo e o negativo, lado do coração, rompimento das trevas, cabala mística, etc. Eu prefiro ficar longe dessas conjecturas, pois qualquer análise acadêmica não encontrará qualquer guarida nessas afirmativas, sobretudo se a busca possuir elo com a pura Maçonaria, que dentre outros, jamais aplicou ensinamentos sustentados pela aparência e pela imaginação. 

Interpretações desse quilate somente viriam aparecer em meados do Século XVII e Século XVIII com o ingresso especulativo dessas vertentes na Maçonaria. Talvez essas conjecturas possam fazer parte do pensamento desses adeptos, fato que não os torna unânimes, imemoriais ou universalmente aceitos.

Infelizmente, uma boa parte dos Maçons ainda não compreendeu que a Maçonaria possui características próprias regionais, portanto culturais. Esse fato notório deve ser considerado para que haja a salutar compreensão de que nem todos os ritos maçônicos possuem, por exemplo, a Marcha e por aí concepções místicas e ocultas a ela ligadas não são apanágios da Sublime Instituição. Se bem compreendia a Arte fica bem mais fácil se separar o joio do trigo.

Em se tratando do Rito Escocês Antigo e Aceito, o interessante a se notar é que na organização do seu primeiro ritual simbólico (1.804 na França), não existia essa Marcha tão propalada que em muito tem servido de alicerce para conceitos próprios e imaginativos. No ritual citado, davam-se simplesmente oito passos normais. Essa aplicação seria mais tarde dividida entre os três graus simbólicos – três para o Aprendiz; acrescidos de mais dois para o Companheiro, mais três pontos pedestais para o Mestre. A soma desses passos resulta no total de oito que se baseia no número de passos indicados no primeiro ritual. Não quero aqui nem falar na posição dos pés e a sua relação com a esquadria que é outro mote e tem causado severas discussões.

No tocante a qual pé rompe a marcha, prefiro pensar que no esteio racional da Maçonaria este foi instituído apenas para regular um procedimento dando a ele um caráter unificado e universal do ato no Rito em questão (padronização).

Por fim, acredito que enchi bastante de linguiça no tema, deixando ainda vaga à objetividade da resposta. Penso que não devo fazer afirmativas temerárias quando o tema sugere muita pesquisa. Prometo que dentro das minhas possibilidades de tempo farei uma incursão nesse campo, buscando uma bibliografia documental primária que possa auxiliar o remonte desse mosaico. 

É oportuno também salientar que quando faço referência à história da Ordem, busco essa relação nos documentos que compõem os seus quase oitocentos anos da narração metódica ocorridos na existência da Sublime Instituição. 

Afirmar somente porque está escrito nesse ou naquele livro não faz parte das minhas concepções, até porque a Maçonaria me ensinou que a prudência tem sido a mãe de todas as virtudes (a) Pedro Juk – julho de 2.012.

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.458 Los Barrios (Espanha), quinta-feira, 11 de setembro de 2014.

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