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quinta-feira, 28 de março de 2019

O USO DO CHAPÉU COMO INDUMENTÁRIA MAÇÔNICA

Em 16/11/2018 o Amado Irmão Márcio Andrade, Loja Ouroboros, 4.093, Rito Adonhiramita, GOB-SC, Oriente de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, solicita atenção para o que segue:

USO DO CHAPÉU NA MAÇONARIA

Primeiro, uma honra fazer este contato com você, pelos inúmeros trabalhos oferecidos a todos os obreiros e por sua trajetória em nossa Ordem. Sou obreiro da Loja Ouroboros 4093, para melhor me aperfeiçoar peço sua ajuda no sentido de instruir com relação "O Chapéu na Maçonaria" ou "O chapéu na Maçonaria Adonhiramita". Caso tenha artigos ou algo, fico extremamente agradecido. Agradeço também pela sua atenção, pois sabemos de seus inúmeros compromissos. Quando vier a Florianópolis, gostaria que viesse nos visitar.

CONSIDERAÇÕES:
Chapéu – (do francês arcaico: chapel, contemporâneo chapeau). É a cobertura para cabeça confeccionada de materiais diversos, com copa e, geralmente com abas.

Pela influência hebraica na Maçonaria e sob o ponto de vista místico, alguns ritos maçônicos, assim como no judaísmo, a cobertura da cabeça tem o desiderato de divulgar a crença de que acima da cabeça do Homem existe a Divindade transcendental, onisciente, onividente e onipresente, o que em linhas gerais alude à presença de “Deus”.

Nesse sentido, o chapéu representa a pequenez humana do homem perante o “Criador”. Simboliza a incapacidade humana de entender a Divindade. Essa concepção resume, em última análise, a prova de submissão do Homem a “Deus”. Para os ortodoxos do judaísmo, por exemplo, a cobertura da cabeça deve estar presente desde o “brit-milá” (circuncisão), o que ocorre no oitavo dia de vida e simboliza a aliança abraâmica com “Deus”.

Destaque-se que na prática judaica essa cobertura é geralmente feita como o “kipá”, que é o solidéu (do latim soli Deo – só a Deus), sendo obrigatória a sua presença nas cerimônias litúrgicas.

Do ponto de vista histórico, em Maçonaria o costume do uso do da cobertura na cabeça, geralmente com um chapéu negro desabado, deveria ser obrigatório para todos os Mestres Maçons em sessão de Grau 03, embora até existam ritos, como o Adonhiramita, por exemplo, que tornam seu uso indispensável em todos os Graus e em qualquer sessão. No caso do Rito Escocês Antigo e Aceito, em se levando em conta a sua pureza ritualística e litúrgica, além da obrigatoriedade do uso do chapéu por todos em Câmara do Meio, nas demais sessões ele é obrigatório apenas para o Venerável Mestre (infelizmente não é bem isso que acontece).

Fora do aspecto transcendental, em linhas gerais esse costume remonta às cortes europeias do Século XVIII, quando o rei em cerimônia na presença de inferiores hierárquicos, cobria a cabeça como sinal da sua superioridade (é o caso do Venerável em sessões do primeiro e segundo Graus). Já em reunião com seus pares (de igual hierarquia) todos tinham a cabeça coberta (como em Câmara do Meio).

Em resumo, e de modo prático, o costume indica que em Lojas do primeiro e segundo Graus, apenas o Venerável se apresenta com a cabeça coberta como sinal de superioridade e de autoridade. Já em Câmara do Meio, como sinal de igualdade entre os Mestres, todos deveriam permanecem com a cabeça coberta.

Desafortunadamente, na atualidade, o uso do chapéu em Loja tem sido um vestígio de caráter um tanto quanto anacrônico, já que muitos rituais nem mesmo preconizam o seu uso, alguns inclusive, deixando a prática a critério do Venerável, o que é lamentável, pois diferente do terno, tão defendido ferrenhamente por muitos e que é apenas uma vestimenta, o chapéu é um símbolo passível de interpretação embasada, tanto pelo seu caráter esotérico quanto pelo seu caráter figurado.

O costume do uso do chapéu na Maçonaria pode se distinguir entre as tradições, ritos e trabalhos. Por exemplo, nas Lojas Azuis norte-americanas o Venerável permanece em Loja usando um chapéu alto e de abas curtas (cartola). Nas Lojas alemãs é frequente o uso da cartola como cobertura, enquanto que nos trabalhos da Maçonaria inglesa (embora por tradição) o chapéu é praticamente ignorado. No Rito Escocês Antigo e Aceito (que é de origem francesa), como já mencionado, tem sido usado e às vezes, apenas no terceiro Grau. No rito Adonhiramita, que praticamente só é exercitado no Brasil e em poucos outros países, todos usam a cobertura, independente do grau simbólico.

Há ainda a questão de o chapéu ser desabado, o que pode ser relativo à moda e de tendência regional haurida principalmente da Maçonaria praticada na França, ou ainda como artifício para camuflar (esconder) a face visando preservar a identidade do usuário numa época em que a Maçonaria, em alguns lugares era ferrenhamente perseguida.

O adjetivo “desabado”, nesse caso, é o chapéu de abas largas (sem excesso) direitas ou caídas. É oportuno mencionar que atualmente esse chapéu tem sido usado, em não raras vezes, com certo exagero em relação às suas abas (às vezes mais parecido com o chapéu da vovó Donalda). Abstraindo-se os exageros, o chapéu negro pode ter aba de tamanho normal e caída – do tipo Ramenzoni, por exemplo. 

De tudo, e pela importância do seu simbolismo, o chapéu na Maçonaria deve ser o convencional (geralmente de feltro) e de cor negra, nunca de outros tipos que não condigam com a sua tradição na Sublime Instituição. À exceção é o Rito Escocês Retificado que utiliza um chapéu tricórnio negro como símbolo de igualdade perante o “GADU”.

Por oportuno, também é bom comentar que o uso e costume que envolve o chapéu e o seu simbolismo na Maçonaria apenas é parte da Moderna Maçonaria e nunca da conhecida Maçonaria de Ofício, ancestral dos maçons especulativos.

Dando por concluído, eram essas as minhas considerações, destacando que elas possuem apenas caráter elucidativo, sobretudo sob o ponto de vista histórico e nunca com o objetivo de interferir em rituais em vigência. Acredito que elas lhe darão subsídios pra uma pesquisa mais ampla.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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