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sexta-feira, 8 de março de 2019

SAUDAÇÃO AO DELTA

SAUDAÇÃO AO DELTA
(republicação)

Em 21.05.2014 o Respeitável Irmão Thiers Antonio Penalva Ribeiro, membro da Loja Antônio Lafetá Rebelo, REAA, COMAB, Oriente de Montes Claros, Estado de Minas Gerais, apresenta a questão seguinte: t.penalva@uol.com.br

Prezado e Ilustre Irmão Pedro Juk.

Preciso mais uma vez do seu esclarecimento: no nosso ritual, diz que o Irmão Mestre de Cerimônias ao circular em Loja para ir ao Oriente, sai da coluna do sul, passa em frente do Painel, vai a coluna do Norte, (não fala que ao cruzar a linha do equador, tem de fazer o sinal ao DELTA), antes de subir ao Oriente, faz sinal ao Delta, entra no Oriente e antes de sair pela coluna do sul, faz novamente sinal ao DELTA. Não consegui entender, pois, o Mestre de Cerimônias não cruzou a linha do Equador (ou passou em frente ao DELTA), por que fazer o Sinal? Por que não é dito que andando no Oriente, ao passar em frente ao Delta (sem o seu instrumento de trabalho), é obrigado a fazer o Sinal? Por favor, traduza esse "grego" para que eu possa entender.

Considerações:
Essa saudação que geralmente era identificada ao Delta toda vez que um Obreiro em circulação de uma para outra Coluna viesse cruzar o Equador, na grande maioria dos rituais não mais é praticado há muito tempo. Esse costume está relacionado historicamente as hoje já extintas Lojas Capitulares. 

Antes desse evento, portanto na oportunidade em que apareceriam os primeiros rituais escoceses no ano de 1.804 para o simbolismo escocês na França, a disposição do Templo e a sua decoração se diferenciavam em alguns procedimentos e costumes dos que hoje conhecemos. 

Então antes das já mencionadas Lojas Capitulares, não existia no simbolismo do Rito Escocês, dentre outros, o Oriente de modo elevado e demarcado (essa origem está no Capítulo). 

Assim, naquela primeira configuração (sem oriente delimitado e elevado) quando porventura existisse uma circulação, o protagonista ao passar em frente e próximo ao Altar ocupado pelo Venerável, saudava pelo Sinal Penal (de Ordem) o Delta como símbolo do Poder Criador. 

Naqueles tempos o Oriente, de nível igual ao de todo o recinto, era identificado apenas pela parede Oriental (retábulo) que geralmente era construída de modo semicircular (meio círculo). Nesse particular o Oriente era então identificado apenas pela a parede dos fundos, bem como aqueles que porventura ocupassem lugar nessa parede encostados. 

Assim à época a circulação se desenvolvia no espaço entre o Altar dos Juramentos, este localizado imediatamente à frente do Altar ocupado pelo Venerável, e a porta de entrada do recinto, tendo como baliza central ao centro do recinto o Painel da Loja, ancestral do tradicional tapete que anteriormente era estendido no centro da Loja (evolução dos painéis no século XIX). 

Assim, esta é a razão da existência naquele período da mencionada saudação ao Delta durante a circulação em Loja (antes das Lojas Capitulares). 

Todavia, com o aparecimento das Lojas Capitulares no Grande Oriente da França, cuja característica era a de incorporar ao simbolismo os Graus Inefáveis, de Perfeição e Capitulares (até o 18º) é que apareceria então, por necessidade do Capítulo, um Oriente dividido pela balaustrada e elevado em relação ao Ocidente - lugar do Venerável, ou do Athersata junto às demais Dignidades que tanto serviam ao Capítulo e ao Simbolismo, destacadas as diferenças entre os respectivos cargos e títulos que se diferenciavam conforme os trabalhos (capitulares ou simbólicos). 

É então a partir desse acontecimento que a circulação começaria a ser praticada apenas no Ocidente, isto é, fora do Oriente, porém ainda com a particularidade de que o protagonista ao cruzar o eixo imaginário (equador), manteria o mesmo costume de saudar o Delta. 

Posteriormente, ainda no século XIX, apenas o Simbolismo voltaria a ficar sob a tutela do Grande Oriente da França, enquanto que os demais (Inefáveis, de Perfeição e Capitulares) voltariam a se integrar ao sistema de altos graus juntamente com o Kadosh e com o Consistório sob a égide do Segundo Supremo Conselho do Rito na França – enfim as coisas voltavam a se posicionar no seu devido lugar. 

Dado ao resultado desses acontecimentos em França, consuetudinariamente alguns costumes capitulares acabariam permanecendo sistematicamente também no simbolismo escocês e, talvez um dos mais marcantes, além do matiz encarnado (vermelho) do Rito haurido também da cor capitular, seria a permanência do Oriente elevado em relação ao Ocidente, bem como a sua respectiva divisão pela balaustrada como até hoje conhecemos. 

Nesse particular também pegaria carona a permanência do costume de se saudar o Delta quando da passagem de uma para outra Coluna. Entretanto, ao longo do irremediável teatro evolucionista concernente aos rituais escoceses, o costume de saudação ao Delta inadvertidamente passaria gradualmente, à moda latina, de uma importante reverência à Luz para uma simples saudação ao Venerável. 

Daí em diante não tardaria muito a abolição quase que completa do costume durante a circulação oriunda da passagem de uma para outra Coluna, destarte o aparecimento de outro costume: o da prática de saudação apenas ao Venerável Mestre durante o ingresso e saída do Oriente em Loja aberta. 

De modo, praticamente generalizado e paulatino, a grande maioria dos rituais passaria a adotar essa prática - é o caso, por exemplo, daqueles inerentes aos três Graus simbólicos em vigência (desde 2.009) no Grande Oriente do Brasil. 

No caso do Ritual mencionado da COMAB, o costume de saudação ao Delta ainda prevalece de modo correto e autêntico e ao mesmo tempo já adaptado para o Oriente elevado e dividido, consuetudinário no Rito. 

Assim me parece que se manteve a saudação ao Delta no ingresso e saída do Oriente, o que está corretíssimo, já que no Oriente não existe circulação e nem saudação ao Delta em se transitando nesse quadrante, senão quando do seu ingresso e saída. 

Nesse particular a saudação prescrita ficaria condicionada apenas ao Ocidente ao se cruzar a linha equatorial, entre a retaguarda do Painel e o limite do Oriente (no Ocidente o mais próximo do Delta). 

O que é irrelevante é o exagero de saudação, daí condicionou-se a mesma apenas quando da passagem em frente (o mais próximo da Luz) do Oriente – do Norte para o Sul.

Outro pormenor a ser considerado é que a saudação ao Delta não está condicionada apenas ao momento em que se cruze o Equador, porém como visto, também ao se ingressar e sair do Oriente, isso porque simbolicamente todo o nascente é o lugar da Luz. 

Finalizando: essas considerações estão amparadas na tradição do Rito, o que não incentiva qualquer desrespeito a qualquer ritual legalmente aprovado. Em primeiro lugar cumpra-se o que está escrito.

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.460 Málaga (Espanha), sábado, 13 de setembro de 2014.

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