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terça-feira, 9 de abril de 2019

LUGAR DO APRENDIZ NUMA LOJA DO REAA

Em 19/11/2018 um Irmão que identifica apenas como Nil, Loja Aliança Curitibana, 176, REAA, GLP (CSMB), Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, apresenta a questão seguinte:

LUGAR DO APRENDIZ

Li sua Peça de Arquitetura sobre Aprendiz ter assento no Oriente. Gostaria de saber se tem alguma outra sobre a postura e local do Aprendiz em Loja, bem como orientações sobre o Aprendiz NÃO ter acesso ao Oriente.

CONSIDERAÇÕES:

Em se tratando do REAA, eu já escrevi bastante sobre o porquê de o Aprendiz e o Companheiro terem ingresso vetado no Oriente da Loja. Isso pode ser facilmente encontrado entre os meus escritos e respostas publicadas no meu blog em http://pedro-juk.blogspot.com.br

Tecendo ainda alguns comentários a respeito, nesse sentido existem dois aspectos a serem considerados. Um de razão histórica propriamente dita, e outro de viés iniciático.

Sob o ponto de vista histórico isso se deu no REAA desde a demarcação e elevação do Oriente do Templo por ocasião do aparecimento das hoje já extintas Lojas Capitulares ocorridas no primeiro quartel do século XIX em França, quando o Grande Oriente tinha sob a sua égide, além dos três graus simbólicos, também os graus de Perfeição e Capitulo do rito em questão (do 1º ao 18º). Nessa ocasião o Segundo Supremo Conselho ficava apenas com os Graus de Kadosh e do Consistório (do 19º ao 33º). 

As Lojas, por abrangerem graus do simbolismo ao capítulo ficariam então conhecidas como Lojas Capitulares, assim o Athersata era também o Venerável Mestre. Com isso foram feitas adaptações no Templo do simbolismo para suportar a liturgia capitular. É bom que se diga que esse sistema, misto de graus do simbolismo com graus superiores não demoraria muito a ser extinto, sobretudo pelo não reconhecimento e aversão da Grande Loja Unida da Inglaterra a sistema de graus além do franco-maçônico básico (Aprendiz, Companheiro e Mestre).

Embora essa anomalia tenha vingado apenas por um tempo restrito, voltando tudo logo à normalidade, ficando o simbolismo com o Grande Oriente e os demais graus com o Segundo Supremo Conselho na França, alguns costumes do Capítulo, entretanto, acabariam enraizados para sempre no simbolismo do REAA, dos quais esse do Oriente elevado e demarcado. Graças a isso, e de modo prático, é que o Oriente se tornou por primeiro num ambiente exclusivo para os detentores dos graus capitulares e, por segundo, após a extinção desse sistema, num espaço privativo daqueles que atingiram a plenitude maçônica (grau de Mestre) - o que se dá até os dias atuais. 

Já sob o ponto de vista iniciático, a doutrina do REAA, aperfeiçoada nos moldes do deísmo francês Homem-Natureza, o que se deu ao longo do século XIX, determinou literalmente no espaço da Sala da Loja a senda iniciática para o maçom alcançar o Terceiro Grau. Sob esse desiderato o misticismo maçônico francês trouxe para o escocesismo simbólico essa relação de aperfeiçoamento interligando-a as Leis Naturais onde a Natureza nasce, frutifica e morre para novamente renascer – ciclos naturais e a aplicação alquímica da purificação pelos elementos.

Com base nesse teatro místico e ao mesmo tempo natural, o Aprendiz no REAA segue simbolicamente esse preceito, ou seja, morrendo na Câmara de Reflexão (prova da Terra) para renascer na Luz da primavera. 

Isso, no sentido topográfico da senda no Templo, faz com que o Aprendiz ocupe lugar no topo do Norte (parede setentrional) em alusão ao espaço boreal que menos recebe luz solar no hemisfério setentrional (hemisfério onde nasceu a Maçonaria). Por óbvio, há que se entender que o Templo é simbolicamente um canteiro de obras decorado e estilizado; orientado do Ocidente para o Oriente, cujo segmento, representado pela superfície da Terra, ocupa um espaço sobre o equador terrestre entre os trópicos de Câncer e Capricórnio – observe-se que a Coluna Zodiacal inerente à constelação de Câncer se situa na parede Norte, enquanto que a de Capricórnio fica na parede Sul.
Na realidade, esse movimento aparente do Sol é o que institui sobre o Planeta inclinado as estações do ano, opostas em cada hemisfério, fazendo com que os ciclos da Natureza se apresentem num constante renascer e morrer, partindo da primavera, atingindo seu ápice no verão, o amadurecimento no outono e finalmente a morte no inverno.

Sob essa óptica a liturgia do simbolismo do REAA constrói esse teatro iniciático no seu Templo, onde os Aprendizes então ocupam o Norte, os Companheiros o Sul e os Mestres o Oriente. Esse caminho (senda) é representado pelas Colunas Zodiacais em número de seis situadas no topo (parede) do Norte aludindo às estações da primavera e do verão, e outras seis no topo (parede) do Sul mencionando as estações do outono e do inverno. Por oportuno se faz cogente comentar que devido a isso jamais as Colunas Zodiacais podem ocupar as paredes do Oriente (sob o ponto de vista do Ocidente, além da balaustrada).

Assim, filosófica e doutrinariamente esse caminho iniciático sintetiza a transformação do homem iniciado tal qual como ocorre com a Natureza no espaço de um ano. É daí que os Aprendizes ocupam o Norte, os Companheiros o Sul e os Mestres o Oriente, muito embora os Mestres, por já terem alcançado a sua plenitude, possam ocupar qualquer espaço no Templo, ou seja, além do Oriente, também o Ocidente – é por isso que se diz que se um Mestre vier a se perder, certamente ele será encontrado entre o Esquadro (lado ocidental) e o Compasso (lado oriental).

Seguindo a concepção da Ordem, da Harmonia e do Equilíbrio do Universo estabelecida pelos filósofos gregos, é que ninguém atingirá o ápice da sua caminhada sem antes ter passado pelas etapas obrigatórias do aperfeiçoamento. Se isso se dá com a Natureza que é Obra do Grande Arquiteto Criador, então o homem iniciado, como elemento partícipe dessa construção, deve seguir irrestritamente a ordem natural que constitui o caminho da sua vida – infância, juventude, maturidade e morte.

Uma das máximas a ser seguida pelo iniciado na Maçonaria é a de que ele percorre o caminho em direção da Luz, portanto para alcançá-la ele não pode se desviar e nem suprimir as etapas da sua existência. Em Maçonaria ninguém chega ao Oriente sem que antes tenha irremediavelmente passado pelo topo do Norte e do Sul respectivamente. Isso explica o porquê de os Aprendizes e Companheiros não ingressarem no Oriente numa Loja regularmente aberta.

Por fim, no que tange a postura de um Aprendiz em Loja, assim como a de um Companheiro e a de um Mestre, é de que todos aprendem conforme as exigências da Arte. Assim, só será um artífice capaz, aquele que tenha verdadeiramente compreendido como manusear com perfeição as “ferramentas” imprescindíveis para a construção de uma obra perfeita e duradoura, ou aquela que se refere ao seu Templo interior – a Grande Obra.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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