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terça-feira, 2 de julho de 2019

CONDUTAS RITUALÍSTICAS

CONDUTAS RITUALÍSTICAS
(republicação)

Em 04.11.2014 o Respeitável Irmão Ricardo Lóes, Secretário da Loja Estrela Uberabense, 0941, GOB-MG, REAA, Oriente de Uberaba, Estado de Minas Gerais, solicita os seguintes esclarecimentos. 
estrelauberabense@gmail.com 

Condutas Ritualísticas. 

a) Sobre a composição prévia feita pelo Experto daquele que será iniciado, elevado e exaltado no REAA, tenho as seguintes dúvidas: 

1. Qual o real significado do iniciando estar com pé direito descalço (ou calçado com chinelo)? 

2. Qual o real significado do iniciando estar com a perna da calça direita estar arregaçada acima do joelho? 

3. Somente na exaltação é que se usa uma corda na composição do exaltando. Nas demais cerimônias (iniciação e elevação) ela historicamente no REAA nunca se faz presente? 

Esses questionamentos se devem ao fato de que já ter lido, não sei onde, que o estar descalço relembraria a necessária humildade e a perna à mostra relembraria a suposta tradição de se verificar se iniciando não foi escravo, cujos grilhões deixam marcas, logo seria "livre"... Já quanto à corda, se não me engano, algum Craft da vertente inglesa as usa nas três cerimônias...

b) Sobre o toque dos dois primeiros graus (principalmente analisando-os comparativamente) tenho dúvida se o do 2º Grau que consta no Ritual em vigor não estaria incorreto, devendo ser dado sobre a primeira falange "de tal dedo" e não "entre" as falanges de dois dedos. É que imaginei, utilizando uma análise comparada entre o REAA e o Ritual de Emulação, um enxerto no REAA, já que naquele ritual de vertente inglesa há um toque de Aprendiz, um toque de passagem do Aprendiz para o Companheiro, um toque de Companheiro, um toque de passagem do Companheiro para o de Mestre e finalmente um toque de Mestre, e justamente o toque de passagem lá é igual ao toque do 2º grau que consta no vigente Ritual do REAA. 

Considerações: 

- Questão “a”, números 01 e 02: 

O pé direito descalço com a respectiva perna desnuda até o joelho, o braço esquerdo e o lado esquerdo do peito despido, figuradamente representam a humildade e respeito pela Instituição. O pé desnudo acentua o caminhar claudicante na infância simbolizando os primeiros passos na senda iniciática. O lado esquerdo do peito se relaciona com o coração e a sede visualizada dos bons sentimentos humanos. O peito desnudo sugere ainda o cumprimento literal de um dos Landmarks da Ordem no que assevera ser a Iniciação maçônica privativa do sexo masculino. 

Agora essa “fantasia” do escravo e dos grilhões não merece nem mesmo comentários. O termo “livre” na Moderna Maçonaria se refere à liberdade dos preconceitos sociais, dos vícios e dos maus costumes; também a liberdade de expressão e de consciência.

Outrora, nos tempos operativos, o “ser livre maçônico” não só se referia aos bens que escapavam às tributações e tutelas senhoriais (servis), todavia igualmente à “liberdade” de locomoção dos Canteiros que se deslocavam livremente sob a proteção da Igreja “estado” para as construções de catedrais, de obras públicas, de arte na pedra, etc. 

- Questão “a”, número 03: 

No REAA, rito de vertente francesa, diferente da inglesa, usa apenas a corda como objeto na cerimônia de Exaltação. Para melhor esclarecimento segue um texto objeto de uma resposta que dei no ano de 2.008 que ajuda em linhas gerais, a elucidar a questão:

No tocante às Tradições, Usos e Costumes da Maçonaria, a corda sempre esteve presente no ideário maçônico considerado à origem dos “Canteiros Medievais” quando a Franco-Maçonaria demarcava os limites dos canteiros da obra com uma corda presa às paliçadas e que dava um sentido de proteção aos limites dos trabalhos operativos - esse antigo costume se apresenta atualmente, no caso do escocesismo, com a Corda de 81 nós que contorna as paredes da Loja simbólica do Rito Escocês Antigo e Aceito. 

A inserção paulatina de símbolos e alegorias que viria se consolidar, principalmente na Maçonaria francesa, no século XVIII e a transformação operativa para especulativa desde o princípio do século XVII conduziria o aparecimento de ritos, bem como costumes herdados das civilizações – ecletismo maçônico. 

Sob essa óptica surgiria na Inglaterra entre 1.724 e 1.725 através do Duque de Richmond na “Philo Musicae et Arquitetureae Societa Apollini” um grau que daria origem ao Terceiro Grau na Moderna Maçonaria, já que anteriormente não existia o Grau de Mestre Maçom, dado o sentido que o dirigente do Canteiro era um Companheiro experiente intitulado o MESTRE DA LOJA, ou DA OBRA. 

Dadas essas breves considerações é então inserida na Moderna Maçonaria a “Lenda do Terceiro Grau” como um ícone na passagem e transformação do homem, cujo conteúdo moral, ético, filosófico e social ensina grandes lições àquele que atinge a plenitude maçônica. Em consonância com esse propósito a Corda se apresenta sobre três aspectos: figurado, esotérico e místico. 

- Aspecto figurado – A corda em volta da cintura representa em linhas gerais a proteção para o canteiro contra os intrusos, dado o sentido de que os três maus companheiros assassinaram o Mestre e pedem entrada. Capturados, darão conta no pagamento dos seus atos – Há que se verificar se o que pede entrada não é um dos assassinos – conduzido e seguro pela Corda amarrada à sua cintura. 

- Aspecto esotérico – As três voltas representam exatamente os t∴ mm∴ CC∴ que, por ambição, inveja e orgulho (J∴J∴J∴) assassinaram o Mestre no intuito de obter conhecimentos sem o devido tempo e respeito. O orgulho, a inveja e a ambição podem golpear o Operário na condução dos trabalhos, o que em resumo significa o assassinato do “seu eu interior” por atitudes contrárias à Moral e a Ética (Vede a sua Obra? Acaso tomaste parte neste infame episódio?). Por extensão, cada volta representa o número de penas simbólicas aplicadas e simuladas pelos Sinais Penais alusivos aos três Graus.

- Aspecto místico – As três voltas também representam os três meses de inverno, ou a prevalência das trevas (ignorância) quando a Terra fica viúva do Sol. Infelizmente a “Lenda” no escocesismo, produzida provavelmente por equivocada tradução ou incompreensão do arcabouço doutrinário da vertente latina, acabou por se incluir nela quinze Companheiros dos quais doze se arrependeram. Ora, verdadeiramente nessa doutrina seriam mesmo apenas e tão somente “doze” Companheiros dos quais NOVE se arrependeram (o ano tem doze meses e nunca quinze) representados pelas nove luzes dispostas nos lugares do Venerável e dos Vigilantes, enquanto que às três faltantes são os meses de inverno. O Ciclo da Natureza é uma importante alegoria maçônica que sugere a transformação e a renovação (morrer para renascer) na vertente latina de Maçonaria. 

O Sol como a Sabedoria e os seus efeitos, enquanto que as trevas aludem à ignorância – é mote em Maçonaria a prevalência da Luz sobre as trevas (aperfeiçoamento moral e espiritual) – (a) Pedro Juk – Fevereiro de 2.008. 

- Questão “b”: 

Não existe nenhuma confusão. Não há qualquer mistura nos procedimentos ritualísticos do REAA com o Trabalho de Emulação. 

No caso do REAA o ritual em vigência no GOB∴ está corretíssimo – o Toque é dado com o d∴ i∴ da m∴ d∴ entre as duas ff∴ da m∴ d∴ do outro interlocutor – no escocesismo simbólico não existe toda a complexidade de SS∴ e TT∴ bem comuns à tradicional Maçonaria Inglesa. 

Geralmente nos Trabalhos maçônicos ingleses o título mais corriqueiro se refere à “junta” e não à “falange”. Vale a pena ainda relembrar que o REAA é de origem francesa, porém com forte influência anglo-saxônica no seu simbolismo, alcance esse haurido desde as Lojas Azuis norte-americanas no século XIX (1.804). Esse particular pode inclusive explicar muitos procedimentos semelhados entre os dois sistemas (o inglês e o francês). 

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com - 
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.635 - Florianópolis (SC) – sábado, 21 de março de 2015

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