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quarta-feira, 3 de julho de 2019

SÍMBOLOS

SÍMBOLOS - UM POUCO DE HISTÓRIA
Lucas Francisco Galdeano

O Grande Oriente do Brasil, com sede na Capital da República, é uma Federação constituída pelos Grandes Orientes dos Estados e do Distrito Federal, e de todas as Lojas Simbólicas espalhadas por todo País. Acha-se interligado com a Maçonaria Universal através de Tratados de Reconhecimento Mútuo, a partir da Grande Loja Unida da Inglaterra que, por razões históricas é considerada a Loja-Mãe da Maçonaria Internacional.

O Grande Oriente do Brasil era, até o ano de 2001, a única Obediência Maçônica neste país reconhecida oficialmente pela Grande Loja Unida da Inglaterra, partindo do princípio de que só pode existir uma obediência regular por país. Este princípio, considerado ideal, não é, contudo rígido. Nos EUA, por exemplo, existe uma potência regular por Estado. Já aqui no Brasil, o Grande Oriente do Brasil passou a reconhecer algumas das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras, a partir de 1999, e algumas destas, consequentemente, com o aval da Obediência Mãe da Maçonaria Brasileira - GOB, passaram a serem reconhecidas pela Grande Loja Unida da Inglaterra. Como exemplo, citamos as Grandes Lojas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.

A noção de regularidade é importante e fundamental. Ela pode ser definida como legitimidade maçônica. Recusar seu conceito seria negar a existência de tal legitimidade e, em consequência, entregar a Franco-Maçonaria ao capricho dos indivíduos.

A noção de regularidade aplica-se à indivíduos (IIr.·.), Lojas e Obediências. Um maçom é considerado regular se foi iniciado e devidamente admitido numa Loja Regular. Uma Loja é regular se fundada por vinte e um mestres maçons, originariamente membros de Lojas Regulares. Um Grande Oriente (ou Grande Loja) pode ser considerado (a) regular se foi formado (a) pela união de, no mínimo, três Lojas regulares. É o caso do Grande Oriente do Brasil que, em 1822, surgiu de três Lojas Regulares – Comércio e Artes, Esperança de Nicteroy e União e Tranquilidade.

A questão seguinte que deve ser colocada é indagar a respeito dos fundamentos históricos que faz da Grande Loja da Inglaterra a Loja Mãe da Maçonaria Universal. Segundo a tradição maçônica, o Imperador Augusto (63 A.C– 14 D.C) teria sido Grão-Mestre do Colégio Romano de Arquitetos e Pedreiros como, de resto, foi Patrono de todas as atividades econômicas. Essa sociedade estava organizada em colégios, com símbolos baseados nas ferramentas de seu ofício, como o fio de prumo, o esquadro, o compasso e o nível. O colégio tinha rituais iniciatórios envolvendo o mito pagão da morte e do renascimento. Um templo construído e usado pelo Colégio foi desenterrado em Pompéia, cidade destruída pela erupção vulcânica do Vesúvio em 71 D.C. Entre os símbolos descobertos no Templo, estava o triângulo, a prancha de decalque preta e branca, a caveira, o fio de prumo, o bastão de peregrino e o manto esfarrapado. Esses símbolos emergiram, mais tarde, na Maçonaria Medieval e, a seguir, na Maçonaria Especulativa.

As tradições do Colégio Romano parecem ter sido transmitidas para a Ordem dos Mestres de Comancini, que floresceu durante o regime dos Imperadores Constantino e Teodósio no Século IV D.C, quando o Cristianismo começava a emergir como a religião dominante do Império. Conforme a lenda, a Ordem foi fundada por antigos membros do Colégio Romano que se viram forçados a fugir dos bárbaros. Eles estabeleceram sua sede na Ilha de Comancini, no Lago Como e, em 643 D.C., obtiveram a proteção e o patrocínio do Rei da Lombardia, que lhes concedeu o controle sobre todos os pedreiros e arquitetos da Itália. A ordem achava-se dividida em Lojas governadas por mestres e seus membros usavam aventais e luvas brancas e se reconheciam mutuamente por sinais e senhas secretas.

A Ordem foi responsável pela criação dos estilos Lombardo e Românico de Arquitetura, podendo estes serem vistos como elos entre os arquitetos e pedreiros construtores dos templos pagãos e os mestres maçons construtores das Catedrais Góticas da Europa Ocidental, na Idade Média Cristã e, segundo o Venerável Beda (673 D.C), atingiram a Inglaterra anglo-saxônica onde foram responsáveis pela introdução do estilo gótico. Esses Construtores Medievais tinham também pontos de vista políticos avançados para a época. A exemplo de seus antecessores pagãos, os maçons foram os promotores de uma visão utópica do futuro da Humanidade. Numa época em que o Feudalismo não passava de uma escravidão disfarçada, os maçons operativos haviam-se organizado em grupos de ajuda mútua, pregando as virtudes de uma sociedade igualitária centenas de anos antes de essas metas políticas atingirem o povo comum.

Na passagem da Idade Média para a Moderna, não se sabe exatamente como, a Simbologia Maçônica foi impregnada pela Lenda do Rei Salomão, o construtor do famoso Templo de Jerusalém. Alguns, como Cristoph-Friedrich Nicolai (1769-1815), queriam descobrir a origem da lenda na Nova Atlântica onde Sir Francis Bacon (1561-1626), chanceler de Elisabeth I e Grão-Mestre dos Rosa-Cruzes, descreve uma ilha mítica denominada Bensalem, cujo centro político e intelectual é a Casa de Salomão, morada de uma fraternidade de filósofos, cientistas e artistas. Segundo essa interpretação, a ilha de Bensalem seria a Inglaterra (que não esqueçamos é uma ilha) e a fraternidade em questão, a Ordem Rosa-Cruz, destinada a se transformar, mais adiante na Grande Loja de Londres.

De fato, alguns autores afirmam (outros negam) que teria sido Elias Ashmole (1617-1692) um dos grandes transformadores da Maçonaria Operativa em Especulativa. Todas as evidências falam a favor desta tese. Ashmole era Rosa-Cruz, maçom operativo e intelectual de enorme erudição. Foi ele o primeiro a falar do homem como o Templo do Espírito Santo que teria ser construído ao longo da vida e foi ainda ele que elaborou minuciosamente os Rituais dos três graus simbólicos da Maçonaria Especulativa que, 25 anos após sua morte, foram adotados pelas quatros Lojas de Londres: A Loja da Taberna do Ganso e a Grelha, que adotou, posteriormente, o título de Antiquity, a Loja da Taberna da Macieira, a Loja da Taberna da Coroa e a Loja da Taberna do Copo e as Uvas. Essas quatro Oficinas com a Antiquity à frente, constituíram a 24 de junho de 1717 um corpo superior, independente e soberano, sob a denominação de Grande Loja de Londres. Esta, considerada a 1ª Obediência Maçônica Regular do mundo, fundiu-se em 1813 com a Grande Loja dos Antigos Franco-Maçons da Inglaterra (Antigos de York que aderiram ao sistema obediencial em 1751) dando origem a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Esta prevalência da Grande Loja Unida da Inglaterra sobre as Lojas ou Grandes Orientes de todos os países do planeta decorre do fato de ser a única a descender de forma direta e legítima da maçonaria operativa medieval, e de assim ter-se mantido ao longo dos séculos numa admirável continuidade.

No ano seguinte – 1718 – o Grão-Mestre George Paynes manifestou o desejo de que cada Ir.·. levasse à Grande Loja quaisquer documentos referentes à Maçonaria Operativa a fim de que por eles se conhecerem os antigos usos. O Ir.·. James Anderson foi encarregado de compilá-los “por um nome e melhor método”.

O trabalho de Anderson, conquanto notável, tem sido criticado por alguns maçons ilustres, como Charles Sotheran e Michel de Ramsay, este último contemporâneo de Anderson, que o acusara de ter alterado e destruído muitos documentos históricos.

A respeito desses reparos, as Constituições de Anderson, como passou a ser chamada essa coleção de Normas, superaram essa barreira de antagonismos e contradições e, no perpassar do tempo, afirmaram-se como a “MAGNA CHARTA” da maçonaria regular.

Neste trabalho de compilação colaborou outro maçom ilustre – Jean-Theóphile Désaguliers – que, embora menos conhecido, pode ser considerado o verdadeiro fundador da Grande Loja de Londres. Homem de grande erudição e de forte personalidade foi ele, sem dúvida, quem abriu as portas das lojas aos judeus, muçulmanos e hindus. Até então, os ritos exclusivamente cristãos dos maçons operativos não permitiam essas adesões. É o que explica o aspecto agnóstico das Constituições de Anderson onde apenas se exige do postulante que “professe uma religião com a qual todos os homens concordem”.

Tendo-se afirmado em nível nacional e internacional como a Grande Loja-Mãe da Maçonaria Universal, a Grande Loja Unida da Inglaterra começou, no perpassar do tempo, a exercer esse papel não apenas teoricamente, mas, sobretudo, em termos de prática humana concreta, baixando normas, celebrando convênios e legislando para todos os ritos e obediências maçônicas.

Como exemplo, transcrevemos aqui o texto dos 8 Pontos de Regularidade, adotados, em 1929, pela Grande Loja Unida da Inglaterra para, como Obediência originária e tradicional, conferir regularidade a Potências e Lojas. Esses 8 pontos, foram publicadas em 1929, sob o título geral de “Princípios Fundamentais para o Reconhecimento de Grandes Lojas”.

Princípios Fundamentais para o Reconhecimento de Grandes Lojas, constituídos de oito
pontos de regularidade.

1º -  Uma Grande Loja deverá ser Regularmente fundada por uma Grande Loja devidamente reconhecida, ou por, pelo menos, três Lojas Regularmente constituídas;

2º -  A Crença no G.·.A.·.D.·.U.·. e em sua Vontade revelada são condições essenciais para a admissão de novos membros;

3º - Todos os iniciados devem prestar sua Obrigação sobre o Livro Sagrado;

4º - A Grande Loja e as suas Lojas, particularmente, serão compostas apenas por homens; também não poderão manter relações com Lojas mistas ou femininas;
5º -  A Grande Loja exercerá seu poder soberano sobre as Lojas de sua jurisdição, possuindo autoridade incontestável sobre os três graus simbólicos, sem qualquer subordinação a um Supremo Conselho;
6º - As três Grandes Luzes (Livro da Lei, Esquadro e Compasso) serão sempre expostas nos trabalhos da Grande Loja e das Lojas de sua jurisdição; a principal Luz é o Livro da Lei Sagrada;
7º - As discussões de Ordem Política e Religiosa são interditadas nas Lojas;
8º - Os Antigos Landmarks, costumes e usos da Maçonaria, serão estritamente observados.

Tendo passado, em nível nacional, por um processo de afirmação semelhante, o Grande Oriente do Brasil começou a interligar-se mediante Tratados de Reconhecimento Mútuo, com outros Orientes e, em especial com a Grande Loja Unida da Inglaterra.

O Grande Oriente do Brasil foi reconhecido, pela primeira vez, pela Grande Loja Unida da Inglaterra em 1880, isto é, há mais de 131 anos, quando, através de carta datada de 10 de janeiro de 1880, foi feito um pedido de reconhecimento pelo então Contra-Almirante Arthur Silveira da Motta, representante do Grande Oriente e do Supremo Conselho junto as Potências Maçônicas do mundo. O pedido foi dirigido a Sua Alteza Real, o Príncipe de Gales Charles Edward, Grão-Mestre da Grande Loja Unida da Inglaterra (anexo I).

A referida carta foi então respondida pelo Grande Secretário da Grande Loja Unida da Inglaterra, Tenente Coronel Shadwell Clark, a 30 de janeiro de 1880, informando que o pedido havia sido aprovado pelo Grão-Mestre da Inglaterra.

Este foi o 1º Reconhecimento Oficial, não configurando ainda um Convênio ou Tratado.

Como vinha surgindo na jurisdição do Grande Oriente do Brasil um número considerável de Lojas do Rito de York, trabalhando no idioma inglês, foi assinado, a 21 de dezembro de 1912, durante o Grão-Mestrado de Lauro Sodré, um convênio com a Grande Loja Unida da Inglaterra (anexo II), que perdurou até a assinatura de um Tratado de Reconhecimento Mútuo em 1935 (anexo III). Este Tratado estabeleceria uma íntima e indissolúvel Aliança entre o Grande Oriente do Brasil e a United Grand Lodge of England. Ao Ir.·. José Moreira Guimarães, eleito Grão-Mestre a 24 de junho de 1934, caberia assinar importante Tratado de Aliança Fraternal, com a Grande Loja Unida da Inglaterra no dia 26 de maio de 1935.

Uma das metas procuradas pela administração do Grande Oriente do Brasil, sob a liderança esclarecida do, então, Soberano Grão-Mestre Irmão Francisco Murilo Pinto (1929–2001), era a de incentivar o bom relacionamento mantido com a Grande Loja Inglesa. Assim é que o nosso Grão-Mestre Geral compareceu a um dos Encontros Maçônicos Anuais da Grande Loja Unida da Inglaterra em junho de 1994, em Londres, onde foi recebido, no “Freemasons Hall”, como Chefe de Estado, cabendo ao Grão-Mestre do Brasil lugar de honra, o mais destacado entre os estrangeiros.

O reconhecimento do Grande Oriente do Brasil pela Grande Loja Unida da Inglaterra, como Obediência Maçônica Nacional, é para nós um fato sobremodo animador e significativo.

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