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segunda-feira, 12 de agosto de 2019

LUGAR DO SUBSTITUTO DO VENERÁVEL MESTRE DIRIGINDO OS TRABALHOS

Em 17/04/2019 o Respeitável Irmão Lúcio Neves, Loja Novos Caminhos, 118, REAA, Grande Loja do Paraná, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, solicita o seguinte esclarecimento:

ONDE DEVE SENTAR O 1º VIGILANTE, NÃO INSTALADO, QUANDO PRESIDIR SESSÃO, EM SUBSTITUIÇÃO AO VENERÁVEL MESTRE

Fui Iniciado na A∴R∴B∴L∴S∴ Mestre Higino Cunha, nº 01, Teresina-PI, Grande Loja Maçônica do Piauí, REAA, permanecendo nela de dez/1984 até dez/1997, tendo exercido o Veneralato da Loja por dois períodos alternados.

Lá aprendi que o Irmão 1º Vigilante, não tendo sido ainda Instalado na Cadeira do Rei Salomão, na eventualidade de ter que dirigir os trabalhos, não pode sentar no Trono, o fazendo na cadeira à direita desse.

Isto porque somente quem foi instalado tem o direito de sentar no Trono e, originariamente, as cadeiras que ladeiam este, seriam destinadas ao 1º e 2º VVig∴, respectivamente as da direita e esquerda.

Na atual Loja que faço parte, ocorreu a situação de o 1º Vigilante substituir o Venerável e eu comentei com aquele de que deveria sentar à direita e não no Trono. O Irmão contestou o que eu afirmara e disse que iria presidir os trabalhos sentado no Trono, o que de fato fez (na sessão que ocorreu o fato, eu não pude comparecer).

Bom, isto faz algum tempo e eu já tentei de todas as formas encontrar onde obtive o ensinamento e não consigo encontrar, tampouco lembrar qual a fonte, se livro, revista, ensinamento verbal.

Diante disso, prezaria muito da parte do preclaro Irmão esclarecimentos a respeito deste assunto. Se correto, ou não, o que aprendi. Caso positivo, se tem conhecimento de onde eu poderia buscar a informação.

CONSIDERAÇÕES:

Todos esses procedimentos confusos se dão exatamente porque no verdadeiro REAA, onde ele não foi ainda deturpado, a Instalação e o Mestre Instalado não existem (não é o que ocorre aqui no Brasil).

Como bem se sabe, o REAA tem suas raízes em solo francês, e na França, nos lugares onde ainda não houve deturpação, “instalação” significa simplesmente “posse”. A posse do dirigente. O primeiro ritual simbólico somente surgiu em 1804 França.

Para isso, é bom que se diga que no Brasil, antes da primeira grande cisão, a de 1927, não existia Instalação no REAA. Isso veio aparecer nas Grandes Lojas, por cópia do sistema americano, este oriundo dos Antigos ingleses, fato esse que não merece aqui comentário. A partir de 1968 esse enxerto também aportou nas lides do Grande Oriente do Brasil que acabou adotando a instalação para Veneráveis por influência de Irmãos oriundos das Grandes Lojas Estaduais.

Como toda cópia malfeita e mal estruturada, esse enxerto também trouxe consigo controvérsias e práticas que até hoje não encontramos para elas explicações.

Diferente do sistema inglês (Maçonaria anglo-saxônica) onde é original a figura do Mestre Instalado e da Instalação, nela só pode assumir o cargo de Venerável aquele que seja possuidor do título de Mestre Instalado. Assim, nesse sistema (no Craft Inglês) as coisas funcionam até hoje a contento, isso porque as práticas não foram inventadas em nome do acaso ou do bonito, mas planejadas e amparadas por explicações convincentes – a de instalação do Rei no Trono.

Agora, instalação em ritos de origem francesa em pleno século XVIII e pós revolução francesa, por certo nunca existiram. 

Desse modo, por não ser esse costume de raiz francesa, quando ele acabou copiado por ritos que nunca o detiveram, deu no que deu, isto é, trouxeram consigo inventivas parafernálias esotéricas com sinais, toques e palavras, coisas que são suspeitas na verdadeira instalação anglo-saxônica.

É bom que se diga que o puro REAA – muito criticado por alguns grupos que pouco conhecem da sua história - segue as tradições, usos e costumes da antiga Maçonaria de Ofício (Operativa) onde nela, em qualquer situação, sempre foi o Primeiro Vigilante o substituto do Venerável na sua ausência precária – nos primórdios do Ofício, os Vigilantes eram os Wardens (Zeladores) e o Venerável Mestre era o Mestre do Ofício, ou da Obra. Esse é um fato tão importante para a História da Ordem que ele se tornaria um verdadeiro Landmark, ou seja, espontâneo, imemorial e universalmente aceito – o Landmark de que uma Loja é sempre dirigida por três Luzes.

Nunca se teve notícia de que à época dos canteiros medievais (nossos ancestrais no ofício) um Vigilante, suprindo a falta do Mestre da Obra por motivos de força-maior, precisasse se submeter a caprichos e regras de “instalação”. Nem templos e ritos existiam na época. Nossos antepassados se reuniam nos adros das igrejas ou nas tabernas e estalagens.

Como se pode observar, não há como se criar uma regra simplesmente embasado no achismo. Desses devaneios de Instalação, onde ela com veracidade não existe, apareceram até gestos cognominados de sinais, onde um deles, por exemplo, traz o prumo sendo gestualmente demonstrado ao contrário, de baixo para cima, isto é, como se o centro de gravidade tivesse mudado do centro da Terra para o zênite (quem é Mestre Instalado por aqui sabe do que eu estou falando).

A prudência nos revela que a História tem que conservar a sua essência, não cabendo nela opiniões tendenciosas e apaixonadas. A História é o conjunto das obras referente à história. Ela é a narrativa de fatos notáveis não cabendo a outrem utiliza-la como vetor da imaginação e da opinião.

Dados os comentários, é fato que consuetudinariamente no Brasil a Instalação em ritos que não a possuem é uma realidade. Com isso, à moda do “jeitinho” convivemos com a Instalação de Venerável Mestre no REAA aqui. 

Considerando ser essa uma prática irremediavelmente cimentada nos costumes brasileiros, portanto real, quando da substituição precária de um Venerável Mestre, o seu substituto legal, sendo ou não instalado, ocupa sim o trono no Altar. É equivocado pensar que o substituto legal e tradicional do Venerável não possa ocupar o trono por não ter sido ainda nele instalado. Baseado na tradição e na história, isso é uma inverdade. Seria inadmissível que alguém ao dirigir os trabalhos de uma Loja, na condição de substituto precário, o fizesse a partir de uma das cadeiras de honra que ladeiam o trono. O dirigente ocupa o lugar do condutor, mesmo que em caráter precário.

Em síntese o que precisamos é desmistificar esse amontodo de ideias anacrônicas que ainda campeiam as nossas lides - a começar pelo recinto de trabalho maçônico, cujo espaço digno representa um canteiro de obras especulativo.

É isso meu Irmão. A boa geometria nos ensina que todo o ato praticado no canteiro é merecedor de uma justificativa. Quando a ela não se faz presente é porque alguma coisa no alistão (pedra de cantaria) está deixando a desejar. Parece que o encaixe não está justo e perfeito.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br - 08/08/2019

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