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sábado, 3 de agosto de 2019

VELÓRIO NO ÁTRIO

VELÓRIO NO ÁTRIO
Autor: Aildo Carolino
Secretário Estadual do Gabinete do GOB/RJ

Determinada Loja Maçônica estava em uma situação muito difícil, era uma fase realmente crítica. Suas reuniões não traziam nada de novo e até as tradições estavam se perdendo. Era sempre a mesma coisa, ou seja, ar pesado e poluído, a energia sempre negativa, os Obreiros apáticos e desmotivados, bem como a descrença em possíveis soluções imperava e os balanços financeiros, um horror, não saíam do vermelho.

A bem da verdade, tanto a sua administração como as contas retratavam muito bem alguns países do Terceiro Mundo. Era uma verdadeira calamidade, levando muitos valorosos Irmãos a se afastarem assustados e, ao mesmo tempo, tristes por não poderem contribuir para a solução dos problemas existentes, até porque nem sequer eram ouvidos.
Efetivamente, esta situação não podia mais continuar como estava. Era preciso fazer alguma coisa para reverter o caos ali instalado. Todavia, nenhum Irmão estava disposto a reagir contra aquele estado de coisas; não queria assumir sua parcela de culpa, muito menos oferecer soluções viáveis, que talvez poderiam melindrar alguns Irmãos que insistiam em não buscar solução alguma.

Desta forma, a maioria dos Obreiros apenas reclamava e dizia que tudo estava ruim. Não havendo qualquer perspectiva para melhorar o astral ou a harmonia da Loja consequentemente o progresso maçônico dos Irmãos ficava cada vez mais distante de ser alcançado.

Acontece que, para uns poucos e valorosos Obreiros, nem tudo estava perdido. Todavia, era necessário abrir o coração e deixar a Luz do Amor Divino entrar e nele fazer sua morada. Acreditavam que a administração da Loja, ou mesmo qualquer Irmão do Quadro, que fosse mais habilidoso e equilibrado, deveria tomar a iniciativa no sentido de reverter todo processo de Decadência Fraternal, Espiritual e até mesmo Material, que abateu sobre os Irmãos e vinha contribuindo para o afastamento de grande parte dos membros da Loja.

É também verdade que muitos deles, talvez inconscientemente, estivessem esquecendo os verdadeiros princípios nos quais se assenta a Maçonaria, tais como: prevalência do espírito sobre a matéria, a busca do aperfeiçoamento moral e ético, a prática da fraternidade, a tolerância, a solidariedade e tantos outros importantes à virtude do Maçom.

Contudo, a grande surpresa estava para chegar e com ela, o desejo de alcançar novos progressos. O fato é que, certo dia, quando os Obreiros chegaram para o “trabalho”, encontraram na Sala dos Passos Perdidos, um imenso cartaz, todo colorido e chamativo no qual estava escrito um comunicado, redigido da seguinte forma:

“Acabou de passar para o Oriente Eterno, o Irmão que impedia a evolução e o progresso da Loja, bem como o crescimento de todos os Obreiros. Ele foi atingido por um grande mal, ou seja, pelo seu próprio veneno, mas nem por isso deixou de ser considerado um Irmão. Agora você está convidado a prestar a sua última homenagem àquele que na sua ascensão maçônica não passou da Pedra Bruta; permaneceu nela até a sua passagem para o Oriente Eterno.”

Todos se mostraram muito tristes por causa do falecimento de um Irmão. Após algum tempo, já refeitos do choque inicial, os Irmãos ficaram ansiosos e impacientes para descobrirem quem era o Obreiro que há muito tempo vinha impedindo que o equilíbrio e a harmonia fossem alcançados na Loja. A especulação também esteve presente e até o mais sereno de todos os Irmãos perguntaria:

– Quem será o dito cujo? Era um Irmão antigo ou novo?

A agitação e a curiosidade eram demais no recinto, gerando até certa confusão, uma vez que todos queriam entrar ao mesmo tempo para ver o defunto. Foi preciso que alguns Irmãos mais sensatos interviessem para organizar uma pequena fila à entrada do Átrio, onde estava sendo feito o velório. Assim, conforme os Irmãos iam se aproximando da urna funerária, a excitação aumentava cada vez mais.

Registra-se que o momento mais constrangedor do velório ocorreu quando um ilustre Irmão do quadro, muito exaltado, talvez tomado pela emoção, interrogava de forma contundente: “Quem seria o Irmão que estava atravancando o meu progresso maçônico? Quem foi esse infeliz? Ainda bem que a Justiça Divina foi feita e agora vamos poder progredir.”

Foi nesse clima que, um a um, os Obreiros aproximaram-se da urna, olhavam o “morto” através do visor e em seguida, geralmente pálido, engoliam em seco e se afastavam. Após essa dura realidade, os Irmãos ficavam no mais profundo e absoluto silêncio, dando a impressão de que o mais fundo de suas almas fora atingido e marcado para sempre.


Meus prezados Irmãos, certamente, depois dessa trágica narrativa, todos vocês já perceberam que, no visor da urna, havia um espelho a refletir a mais pura e verdadeira imagem daquele que vinha emperrando, mesmo que inconscientemente, o tão necessário e desejado progresso maçônico.

Bem, vocês já perceberam também que só existe uma pessoa capaz de limitar nossa evolução e nosso crescimento, seja maçônico ou profano, seja interior ou exterior. Essa pessoa, em verdade, é você mesmo.

Na verdade, a única pessoa que realmente pode fazer a revolução de sua vida pessoal, material e espiritual ou mesmo prejudicar a sua própria evolução é você mesmo. Você é a única pessoa que pode se autoajudar. Até porque é dentro do seu coração ou no mais profundo do seu subconsciente que você vai encontrar a força e a energia necessárias para se transformar no artesão da sua própria vida, seja ela maçônica ou profana.

Além do mais, o Irmão que desejar construir um verdadeiro Templo deve visitar a si mesmo, no mais profundo do seu ser e, aí então, executar um trabalho oculto e misterioso.

Tal como a boa semente que deve ser plantada no seio da Terra para que seja possível colher os melhores grãos ou frutos, da mesma forma quem ouve o chamado da sua consciência ou do G∴ A∴D∴U∴ liga o seu canal e fica sintonizado com Ele e, certamente obterá a mais sublime transformação, ou seja, poderá encontrar a Pedra Filosofal que está oculta em seu próprio interior, e que lhe possibilitará fazer do carvão o diamante mais brilhante, do chumbo o puro ouro, da escuridão a luz mais reluzente e, por que não dizer, do ódio o amor.

Esta crônica se destina à nossa reflexão e qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência, mas cabe ressaltar que o momento é propício ao cultivo de bons hábitos…

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