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domingo, 1 de setembro de 2019

MARCHA DO APRENDIZ

MARCHA DO APRENDIZ
(republicação)

Em 10.12.2014 o Respeitável Irmão Eduardo Muzzolon, Loja Pensamento e Luz, 2.700, REAA, GOSP-GOB, Oriente de São Paulo, Capital, formula a seguinte questão: 
emuzzolon@gmail.com 

Marcha do Aprendiz: 

É uma grande satisfação poder escrever-lhe novamente, passados mais de dez anos de nosso último contato, em 2001 quando eu ainda pertencia ao quadro da Loja Vigilantes do Oeste, nº 2713, Oriente de Cascavel - PR. Mudei-me para Osasco/SP, e filiei-me à Loja Pensamento e Luz, nº 2700 onde percebi o mesmo erro que havia na minha Loja mãe, em se tratando da Marcha do Aprendiz, que está sendo praticado em desconformidade ao Ritual: arrastando-se o pé esquerdo, e também o pé direito até encontrarem-se. O Irmão havia respondido sobre esse questionamento à época, porém os arquivos ficaram prejudicados pelo inexorável passar do tempo. Como estou "chegando agora" nesta nova Loja, não me sinto confortável em solicitar ao Venerável que proceda à correção do erro, entendendo que erros anteriores na formação dos antigos Mestres é que causaram essa interpretação equivocada, e percebo que os vícios da prática equivocada superaram a leitura atenta.

Poderia me sugerir uma abordagem não traumática para tratar do assunto, ou mesmo se o Irmão pudesse publicar artigo visando corrigir essa desatenção - não obstante o já claramente descrito no Manual de Dinâmica Ritualística - já que várias Lojas que visitei também incorrem no mesmo erro?

CONSIDERAÇÕES:

Em se tratando do Rito Escocês Antigo e Aceito que no Brasil infelizmente tem sofrido de há muito um processo de descaracterização, essa questão dos passos da Marcha de Aprendiz é mais uma das que se soma como costume equivocado no tocante a sua execução tal como o do “arrastar dos pés”, cujas justificativas assim apresentadas nunca se coadunam com a verdadeira razão do fato e da prática.

Assim, os passos da Marcha são tradicionalmente dados normalmente e para frente por t∴ vv∴ começando com o pé esquerdo e a cada um dos movimentos junta-se o direito de modo a unir ambos os pés pelos calcanhares em alusão à formação de uma esquadria – o Pavimento Mosaico disposto de modo oblíquo no Rito em questão serve para orientar pela junção das linhas a orientação dos passos e a disposição dos pés.

O que verdadeiramente não existe é esse costume inventado de se arrastar os pés confundido o aspecto figurado dos passos claudicantes (um pé calçado e o outro descalço) como se claudicar fosse o mesmo que arrastar.

Ora, o verbo intransitivo “claudicar” designa o que não tem firmeza nos pés; coxear; manquejar, fato que nada tem a ver com o verbo arrastar.

O ato de claudicar está de acordo com a senda iniciática do Aprendiz na primeira viagem simbólica que sugere iniciaticamente a alegoria da infância e os primeiros passos no Pavimento. Assim a viagem iniciática claudicante mencionada, nada tem a ver com a Marcha do Grau, muito menos essa de se praticar o ato arrastando os pés como se o Aprendiz estivesse enclausurado em uma colônia penal tendo preso ao seu tornozelo direito uma amarra ligada a uma bola pesada de ferro.

À bem da verdade os passos são normais e em linha reta, cujos pés juntam-se um ao outro na forma de costume (vereda dos justos) – o Aprendiz ainda com os olhos ofuscados pela Luz não pode se desviar da vereda, já que simbolicamente pela sua pouca instrução, um desvio ser-lhe-ia fatal caso viesse a se perder (não encontraria o caminho do retorno). Nesse sentido essa alegoria está muito distante de qualquer explicação que porventura viesse a mencionar o equívoco de se “arrastar os pés”. 

Há então que se notar que o próprio ritual em vigência no GOB na sua página quarenta in o Cobridor do Grau não menciona nenhum ato de se “arrastar os pés” durante a execução da Marcha. Então que “estória” seria essa de se insistir em executar a Marcha de Aprendiz arrastando os pés?

A título de ilustração, nem mesmo o primeiro Ritual simbólico do Rito em questão datado de 1.804 na França aludia a qualquer ato de se arrastar os pés – no princípio a Marcha do Aprendiz era simplesmente descrita por “oito passos normais para frente”. Com aperfeiçoamento e a evolução dos rituais ainda no século XIX e a extinção das Lojas Capitulares, a Marcha permaneceria, porém então dividida cada uma de acordo com os três graus simbólicos. Insisto: sem arrastar os pés.

Infelizmente ainda há a contumácia por parte de alguns em continuar despertando práticas alienígenas no Rito Escocês, provavelmente haurido dos enxertos ditados por rituais escoceses anacrônicos que ainda teimam em povoar a as estantes da liturgia maçônica – é o caso do tal “arrastar os pés”.

T.F.A. 
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.674 - Florianópolis (SC) – quinta-feira, 30 de abril de 2015

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