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terça-feira, 10 de setembro de 2019

TRÊS VEZES TRÊS

TRÊS VEZES TRÊS
(republicação)

Em 05.01.2015 o Respeitável Irmão Nelson Neves Cardoso, Loja Luz e Harmonia, nº 140, Grande Oriente do Paraná (COMAB), sem declinar o nome do Rito e Oriente (Cidade), Estado do Paraná, formula a seguinte questão: 
nelsonnc53@gmail.com 

Estou escrevendo uma apresentação sobre Trolhamento. O significado filosófico de cada pergunta. E emperrei no que parecia mais fácil. No questionamento "O que mais trazeis?" Cuja resposta é: o V∴M∴ de minha Loja V∴S∴P∴T∴V∴T∴. Buscando entender melhor o que significava os Três vezes Três, pude entender que o mais fácil é um significado simples, o de se estar desejando um tríplice e fraternal abraço e não 3 T∴F∴A∴ como sugerem alguns Irmãos, pois em um simples T∴F∴A∴ eu já pratico o 3X3. Está é a minha primeira pergunta. Estou correto?

Continuando as minhas pesquisas verifiquei que não é em todos os países e nem em todos os ritos que se adota está saudação. No Brasil está saudação é praticada pelo R∴E∴A∴A∴ e foi levado para os outros ritos por influência deste. Nos Estados Unidos eles usam a expressão eu vos saúdo por Três Vezes Três. Ai eu fiquei confuso e fui tentar entender e penso que descobri. Que isto é uma uma influência do Real Arco, pois no questionamento deste Grau se faz a seguinte pergunta: Como um maçom do Arco Real é reconhecido? E a resposta é por três vezes três. Isto é claro é devido a seu ritual de iniciação, principalmente pela formação do arco, onde três Irmãos juntam os seus pés direitos, suas mãos esquerdas ao nível da cintura e suas mãos direitas, com o braço esticado acima da cabeça formando assim um arco em 3X3. Se formos também observar a joia do Real Arco (a estrela de Davi com um Delta no centro se verifica o três vezes três sem falar no triplo Tau). Mas isto não importa. O que eu imagino é que o Três vezes Três é muito antigo e provavelmente surgiu por influência do Real Arco que surgiu em meados do século XVIII e também provavelmente por Ramsay que era um grande simbolista. O que deve ter influenciado o R∴E∴A∴A∴. 

Minha segunda pergunta e as seguintes são: Estou certo? Se estiver, Isto não pertence a um grau superior? Grau de Mestre, pois o Real Arco na Inglaterra é um grau paralelo ao grau de Mestre. Se ainda estiver certo, porque usamos esta expressão no grau de Aprendiz. Caro Irmão me desculpe por estar lhe incomodando, mas gosto de pesquisar e acredito que só chegaremos à verdade se nos aprofundarmos. Sei também que o Irmão é um grande pesquisador e pode já ter pensado neste tema.

Considerações: 

Tenha certeza Mano que não existe incômodo algum no que concerne aos questionamentos. Esse é um dos meus ofícios mais prazerosos na Sublime Instituição. Apenas peço a compreensão devido às vezes à demora nas repostas, o que justifico (pelo menos eu tento) devido ao grande acúmulo de questões. 

Às considerações propriamente ditas. 

Antes, porém, entendo ser oportuno salientar que o termo “trolhamento” não se coaduna nem um pouco com o objetivo e a proposta da verificação de qualidade maçônica. 

Infelizmente, equivocadamente ainda confunde-se o tal “trolhamento” com a expressão apropriada de “telhamento”. Assim, o neologismo maçônico “telhamento” se relaciona à cobertura dos trabalhos e, por extensão, da qualidade do grau simbólico maçônico; já o termo “trolhamento” é a expressão usada para o reparo de eventuais rusgas (desentendimentos) que possam existir entre os Irmãos. A trolha alisa, enquanto que a telha cobre. Nesse sentido o ato de telhar se refere simbolicamente à verificação da qualidade de um maçom pelo examinador de ofício. Agora, trolhamento para o caso é inapropriado conforme mencionado. Afinal: cobre-se o Templo com trolhas ou com telhas? 

O telhamento e a expressão T∴VV∴T∴. 

Segundo alguns autores essa declaração advém dos antigos canteiros medievais da Francomaçonaria que saudavam pelo Sinal o Mestre da Obra por nove vezes – “Eu vos saúdo, eu vos saúdo, eu vos”... (repetia-se o procedimento por nove vezes). O número nove associava-se à unidade de proporção do cubo poliédrico – três partes para a largura somadas as três para a profundidade e ainda mais três partes para a altura. 

Três desses cubos compostos por três partes iguais na sua largura, profundidade e altura quando sequencialmente unidos nessa proporção perfaziam geralmente o volume do edifício ou o quadrilongo. Essa harmonia proporcional construtiva mais tarde seria muito usada para determinar os limites simbólicos da Loja (Oficina ou Canteiro) da Moderna Maçonaria – um cubo para o Oriente e dois cubos para o Ocidente, ou ainda, um para o Oriente, um e meio para o Ocidente e meio para o Átrio. 

Outro provável aspecto originário do termo T∴VV∴T∴ está na saudação oriunda das Lojas maçônicas inglesas no que se refere ao cumprimento às Três Luzes Maiores, às Três Luzes Menores e aos três principais Oficiais, a saber: o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso; O Sol, a Lua e o Venerável (o Sol para governar o dia, a Lua para governar a noite e o Venerável para governar a Loja); os dois Vigilantes e o Guarda do Templo. Assim, o termo T∴VV∴T∴ se reportava também à saudação aos componentes de uma Oficina maçônica daquela época, anterior ao século XVIII e da profusão e aparecimento de Ritos e Trabalhos maçônicos. 

Cabe nesse particular uma importante observação: essa conduta não pode ser tomada como exclusividade deste ou daquele Rito, já que a expressão comentada antecede a existência desses na Maçonaria. 

Assim o termo T∴VV∴T∴ pela sua importância histórica e dos seus usos e costumes ficaria fazendo parte do complexo ideário maçônico. 

Ainda, em se tratando da vertente deísta da Moderna Maçonaria francesa, o termo também se reporta à evolução e aperfeiçoamento da Natureza onde T∴ corresponde a cada ciclo natural (estação do ano) que somados por T∴VV∴ corresponde ao número nove (meses) – a primavera, o verão e o outono. Os três meses de inverno não aparecem por se reportarem a estação em que a Terra fica viúva da Luz. Daí o quadrado de T∴ ou T∴VV∴T∴. 

Nesse sentido as tríades se apresentam na Maçonaria em vários aspectos simbólicos, todavia apenas como tríades e não como origem da expressão usada especificamente no telhamento maçônico. 

No Real Arco, Arco Real, o Tríplice Tau, Selo de David, etc., são tríades que revelam verdades e lições de ética e moral, entretanto nunca como origem específica da declaração T∴VV∴T∴ no examinador maçônico. 

Também nem mesmo Ramsay teria influenciado o REAA∴ nesse particular. O escocesismo simbólico somente tomaria forma a partir de 1.804 na França por influência das Lojas Azuis norte-americanas. 

Embora essa influência anglo-saxônica no simbolismo do Rito Escocês, este pela sua origem francesa adotaria em seu arcabouço doutrinário a alegoria da evolução da Natureza acima mencionada – note as nove luzes dispostas em grupo de três em três sobre o Altar ocupado pelo Venerável Mestre e as mesas dos Vigilantes. 

Concluindo. Nunca é demais lembrar que entre as duas vertentes principais da Maçonaria – a inglesa e a francesa – as práticas litúrgicas e ritualísticas dos Ritos e Trabalhos (working do Craft) não raras vezes se diferenciam entre eles, principalmente pelos seus costumes culturais, daí práticas como a do Tríplice Abraço e do próprio Telhamento latino (questionário tal qual conhecemos no Brasil) aplicado no REAA, por exemplo, não podem ser generalizados como artifício único para toda a Maçonaria universal. Como dito, há entre eles práticas diferenciadas e muitas vezes desconhecidas conforme a sua vertente maçônica – anglo-saxônica ou latina. 

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.684 – Melbourne – domingo, 10 de maio de 2015

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