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terça-feira, 5 de novembro de 2019

QUEM É UM PROFESSOR

QUEM É UM PROFESSOR
Luis A. Jalfen

Ao longo de nossas vidas conhecemos alguns mestres (professores). Os vimos na professora dos primeiros anos escolares, quiçá em algum professor do secundário, em algum poeta ou em um homem qualquer que nos tocou profundamente com suas atitudes e suas palavras. Por que os recordamos? O que nos transmitiram? O que nos faz guardá-los em nossa memória? Podemos dizer bem objetivamente: nos incitaram a crescer.

O que significa um professor que incite a crescer? O que quer dizer crescer? Crescer significa adquirir complexidade, quebrar as linearidades. Uma mulher ou um homem crescem paralelamente ao enriquecimento do mundo e professor é aquele que nos desperta a curiosidade de assomarmos a essa constante abertura da realidade. Professor é aquele que deixa aprender, diz o pensador Martin Heidegger. É mais: o verdadeiro professor não deixa aprender mais que o aprender, agrega. E isto tem que ver com a liberdade.

Se até agora – por viver na modernidade – considerávamos a liberdade como atributo do ser humano, agora se exige uma extensão da liberdade às coisas mesmo; é a realidade que exige um estado de disponibilidade que chama ao progresso de professores. Por isso professor é quem põe em condições de aprender e não quem ensina. Porém antes de tudo, aquilo que o professor deve aprender é converter-se ele mesmo em discípulo; é por isso que o professor tem muito mais dúvidas que os alunos.

Como é o ser humano que se educa para o futuro? É o que desenvolve uma fina sensibilidade para as trocas, o que não se aferra a sistemas de explicações, o que sabe que as razões são faliveis. Não se trata de abandonar a compreensão das coisas; se trata de abrir-se a outro tupo de inteligibilidade. Creio que os seres humanos que conservam a juventude em suas almas apreciam mais a quem lhes permite aprender ao invés daqueles que pretendem fechar a realidade em explicações. Como num jogo, a estratégia deve ser o essencial; a partir de certas exigências mínimas, a realidade em geral e a vida humana em particular, são um desafio constante à modernidade – verdade é a essência de toda realidade que, ao apresentar-se em forma de jogo, nos permite jogar, jogar a viver, jogar a trabalhar, jogar a saber, jogar a amar, jogar a saber morrer. Só ele fixa nossa esperança de liberdade e professores são os que ajudam a ser livres.

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