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domingo, 15 de dezembro de 2019

TELHAMENTO OU TROLAMENTO?

TELHAMENTO OU TROLAMENTO?
(republicação)

Em 24.01.2015 o Respeitável Irmão Osnivaldo de Oliveira Simões, Loja Justiça de Maringá, nº 12, Grande Oriente do Paraná (COMAB), REAA, Oriente de Maringá, Estado do Paraná, através do Respeitável Irmão Hercule Spoladore da Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil ao Oriente de Londrina, Paraná, formula a seguinte questão: 
patto.simoes@hotmail.com 

Já li em vários rituais e livros lançados pelos melhores escritores Maçons sobre a prática do Telhamento e Trolhamento, até fiz um trabalho a respeito. Acho que ainda hoje há dúvidas a respeito, porque recebi um comunicado que as duas são corretas dependendo do Rito. Depois de algumas pesquisas apresentei um trabalho na Loja Duque de Caxias de Iporã que o correto é Telhamento. Hoje estou lotado na Loja Justiça 12 de Maringá. Obs.: Se tiver algum trabalho a respeito me mande, por favor. Agradecido.

Considerações:

Conforme o Novo Dicionário Aurélio – atualizado e versão eletrônica: 

Trolha - Substantivo feminino - 1. Espécie de pá na qual o pedreiro tem a argamassa que vai usando. 2. Brasil - Desempoladeira. Substantivo masculino. 3. Pedreiro ruim. 4. Servente de pedreiro. 

Telhar - Verbo transitivo direto - 1. Cobrir com telhas; atelhar. 

Telhador (De telhar + -dor) - Substantivo masculino - 1. Aquele que telha.

Telhadura (De telhar + -dura) - Substantivo feminino - 1. Ato ou efeito de telhar. 2. Lugar onde se fabricam telhas. 

Neologia – Substantivo feminino - 1. Emprego de palavras novas, ou de novas acepções. 

Neologismo - Substantivo masculino - 1. Palavra ou expressão nova numa língua. 2. Por extensão - Significado novo que uma palavra ou expressão de uma língua pode assumir. 

Ponderações sobre os termos “telhamento e trolhamento” em Maçonaria: 

A origem dos “trabalhos cobertos” vem dos canteiros medievais onde os planos da obra, contratos de trabalho e o ensinamento da “arte” eram sigilosos. Essa prática estendeu-se para a Maçonaria Especulativa e por extensão a Moderna Maçonaria. 

Nesse caso a referência feita à “cobertura” significa exatamente o sigilo no trato dos acontecimentos e assuntos maçônicos dentro da Loja. Assim o rótulo assumiu o neologismo maçônico de “telhamento” pela cobertura dos trabalhos – ninguém pode ver nem ouvir o que se passa no canteiro (Loja). 

Desse costume apareceria o cargo do Cobridor como aquele que figuradamente cobre os trabalhos na Loja. Dependendo da vertente maçônica existe o Guarda Externo (francesa) e o Tyler (inglesa), assim como os conhecidos Cobridores, ou Guardas Internos. 

Como o termo se refere ao sigilo, os Sinais, Toques e Palavras guardados como verdadeiros segredos da Ordem assumiram também as características de “cobridores do grau”, posto que além de afastar bisbilhoteiros, preserva os segredos de cada grau, dando o caráter de qualidade para o maçom participar ou não de uma sessão de acordo com o seu nível de aprendizado. 

Assim o termo “cobertura” identifica-se com “telha” que, por extensão dá o caráter de “telhamento” (neologismo – termo encontrado no idioma vernáculo é telhadura). 

Também dessa associação apareceria o uso da palavra “goteira” para um não iniciado (costume adquirido pela má cobertura do recinto). 

Acrescente-se aqui uma explanação em Maçonaria sobre o termo “goteira” e a sua relação com a “cobertura” do recinto (Loja). 

Alguns antigos fragmentos mencionam que havia o hábito na Grã-Bretanha medieval quando nos canteiros de obra um elemento espião ou intruso era pego espiando e vasculhando os planos da obra de uma oficina operativa - o fato também se aplicava para um “cowan” (do dialeto escocês para aquele que assentava pedras sem argamassa – o picareta ou aquele que não possuía qualificação) – o intruso, antes de ser expulso, era então amarrado e colocado sob as calhas que despejavam as águas pluviais geladas dos telhados, o que se resumia num belíssimo castigo, principalmente em se levando em conta à temperatura nada agradável que frequentemente ocorria, e ainda ocorre, sobre aquela região da banda boreal do nosso Planeta. 

Desse costume apareceria então à expressão “tem goteira”, que prevaleceu até na Moderna Maçonaria, quando porventura haja a possibilidade de existir a presença de um não iniciado nos ambientes maçônicos. 

Desse particular existe desde então a relação figurada da “goteira” com a cobertura com telhas de um ambiente e o respeito ao sigilo do que ali se passa – usa-se no mesmo sentido também a expressão “está chovendo”. 

Infelizmente, embora já exaustivamente explicado, alguns tratadistas ainda produzem o equívoco de confundir “telhamento” com “trolhamento”. Essa interpretação enganosa foi inserida nos rituais brasileiros de há muito tempo atrás e veio se reproduzindo como uma erva daninha, embora alguns autores ainda “tentem” achar uma justificativa para a mesma. 

O substantivo “trolha” rotula um instrumento usado pelo pedreiro no seu ofício. Ela pode ser a “colher de pedreiro”, ou a “desempoladeira, ou desempenadeira” donde o artífice se serve da argamassa e alisa a superfície para aparar arestas. Desse procedimento operativo, surgiria o termo figurado de “trolhamento” (outro neologismo maçônico) sugerindo a ação de aparar rusgas por eventuais desentendimentos entre os Irmãos. 

Existe ainda o equívoco por parte de alguns tratadistas quando confundem a “trolha” com o ato de verificação, porque alguns Ritos, por exemplo, revivem na Maçonaria através da joia distintiva do seu Cobridor, ou Guarda do Templo, também a figura de uma “trolha” (veja, por exemplo, a joia distintiva do Cobridor do Rito Schröeder). 

Esse costume simplesmente bastou para que alguns desavisados confundissem a “trolha” e “o trolhamento” como o ato de verificação do “telhamento”. A figura da trolha nesse caso - quando componente distintivo do Cobridor - significa simplesmente que ele tem o ofício de “vedar a passagem de alguém”, ou “ergue uma parede no caminho” no intuído de literalmente “não deixar passar” – obviamente àquele que não possua qualificação maçônica suficiente. Infelizmente nesse caso a falsa interpretação e uma atenção mais acurada do símbolo por parte de alguns, somente contribuiu com o mistifório que equivocadamente associou a “trolha” com o ato do “telhamento”.

Em verdade o ato do trolhamento significa sim apaziguar, enquanto que o de telhamento implica em cobrir. Afinal cobre-se um recinto com telhas ou com trolhas? 

O que não faz sentido é fazer analogia do trolhamento com o sigilo e o segredo maçônico, já que como Landmark específico o sigilo e o segredo fazem parte da “cobertura dos trabalhos maçônicos”, e nunca da digamos... “trolhadura dos trabalhos”. 

Definições maçônicas para os termos: 

Telha (do latim tegula) – substantivo feminino: designa uma peça, em geral de barro cozido, usada na cobertura de edifícios. 

Telhador – substantivo masculino: designa aquele que telha. 

Telhadura – substantivo feminino: designa o ato ou efeito de telhar. 

Telhamento – neologismo maçônico: designa o mesmo que telhadura. 

Trolha (do latim trullia, variação do latim trulla) – substantivo feminino: designa uma espécie de pá na qual o pedreiro tem a argamassa da cal que vai se servindo. Designa no Brasil, também a desempoladeira; a desempenadeira. 

Trolhamento – neologismo maçônico: designa o ato ou efeito de trolhar (neologismo). 

Telha – Na Maçonaria moderna como uma “construtora social”, os instrumentos de trabalho e materiais são simbolicamente os dos construtores de edifícios. Assim a cobertura do Templo também está em não permitir a presença de intrusos e bisbilhoteiros. Simbolicamente é feita a cobertura com telhas através do Telhador, por extensão o Cobridor, ou aquele que cobre. 

É a origem como aqui já mencionada do termo “goteira” que em Maçonaria significa o lugar descoberto, ou o bisbilhoteiro que espiona os trabalhos – para que isso não venha acontecer o Cobridor “cobre o Templo”. 

Telhador – Como oficio daquele que cobre de telhas. Em Maçonaria recebe também o título de Cobridor, ou o Guarda do Templo, a quem compete o ato de “telhar”, ou fazer o “telhamento” naqueles que se apresentam à porta do Templo para verificar a sua qualidade maçônica de iniciado, bem como o seu Grau conforme o trabalho da Loja. 

Telhar – verbo transitivo direto significa o ofício de cobrir com telhas. Em Maçonaria compete ao Cobridor, ou Telhador, o ofício de telhar, ou examinar nos toques, sinais e palavras, os visitantes que se apresentam à porta do Templo no intuito de verificar se os mesmos são realmente Maçons e posteriormente se certificar da qualidade maçônica conforme o Grau para ingressar nos trabalhos que estão sendo realizados. Infelizmente o termo tem ainda sido confundido com o ato de “trolhar”, que verdadeiramente significa o ato de “passar a trolha”. Assim, trolhar nesse caso é termo altamente incorreto para se designar o referido exame, já que telhar está ligado ao ato de cobertura e cobertura é feito com telhas, não com trolhas. Do mesmo modo o Cobridor, ou Telhador não possui o título de “trolhador” em qualquer Rito ou Trabalho maçônico. 

Trolha – a Moderna Maçonaria como construtora social, viria absorver inúmeros instrumentos da arte de construir. Sob esse prisma a trolha não deixaria de nela ter um importante significado simbólico. Alguns autores, provavelmente pela etimologia da palavra, defendem a tese de que a trolha seria a colher de pedreiro. Contudo seja ela a colher de pedreiro, seja ela a desempoladeira, ou desempenadeira, conforme a definição apontada por bons dicionaristas do idioma vernáculo, a verdade é que ela, dentro das suas funções, serve para alisar a argamassa aparando e preenchendo as rugosidades. 

Ratificando - a trolha e o ato de trolhar (neologismo maçônico) significam o meio que é usado para apaziguar os Obreiros que porventura estejam em litigio - aparar arestas. Esse apaziguamento, ou esse entendimento é rotulado pelo neologismo maçônico como “trolhamento”, já que trolhar designa o ato de passar a trolha. 

Como dito, lamentavelmente o termo “trolhamento” ainda tem sido equivocadamente usado em lugar do “telhamento” como se ambos tivessem o mesmo sentido e, o que é pior ainda é a capenga justificativa daqueles que buscando a lei do menor esforço traduzem enganosamente as expressões “por iguais conforme o rito!”. Quem usa essa afirmativa dá prova de completo desconhecimento sobre o fato. 

Finalizando: “telhamento” é um dos ofícios do Cobridor quando verifica a qualidade maçônica de um visitante. Já “trolhamento” significa o ato de apaziguar eventuais rusgas ou desentendimentos entre os Irmãos. 

O Cobridor Externo no Craft (inglês e norte-americano) é o “Tyler”. 

Perdão se eu abusei do “costume prolixo”, todavia penso que é uma das armas para combater carcaças de dinossauro, a exemplo daquelas que insistem no tal “trolhamento” em lugar do “telhamento” para o ato da verificação em Maçonaria. 

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.698 – Melbourne – domingo, 24 de maio de 2015

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